quinta-feira, 5 de setembro de 2019

LIÇÕES TIRADAS DA VIOLÊNCIA NAS RUAS



LIÇÕES TIRADAS DA VIOLÊNCIA NAS RUAS

 Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                (O espaço físico e os personagens não são fictícios; assim como parte do enredo deriva de fato por nós presenciado).

Era por volta de meio-dia e meia. Ele acenara ao “motoqueiro” pedindo para passar sobre a faixa de pedestre. O sujeito, a princípio, simplesmente, ignorou o cidadão que, irritado, reclamou em voz alta: quanta falta de educação! Metros adiante da faixa, o indivíduo, não somente parou, como desceu da motocicleta em que trafegava com uma senhora, e se dirigiu ao pedestre, que, antes de ele falar, argumentou, com fino deboche: Ah! Antes da faixa, não, mas lá na frente, sim, e até desce. Ao que o sujeito redarguiu: - desci, sim, para, primeiramente, te perguntar do que me chamou inda há pouco, depois, decidir o que vou fazer contigo. Desligue a moto, por favor, e faça a gentileza de pedir à sua esposa para procurar uma sombra, que lhe respondo: apenas disse haver lhe faltado educação, e é verdade, amigo: faixa de pedestre existe para ser respeitada por aqueles que transitam em veículos automotores. E a motocicleta é um deles, ou não é, pessoal? Pedindo o aval de algumas pessoas que, sol a pique, já transformavam o espaço em uma pequena arena.

                - Pois tu vais ver que sova este mal-educado aqui te dará, no meio da rua, para quem quiser ver. Quer dizer que, além de mal-educado, também é bravo? Ele quer aplausos, senhores! Aplaudam o valentão do qual vou tomar uma surra logo, logo! Ironizando. A figura parecia bastante irritada, queria briga. Ameaçou partir para cima do pedestre.

                - Só um instante, meu chapa! Vai querer piorar as coisas? Fez uma bobagem, que até poderia esquecer, se pegasse sua senhora e se mandasse. Ou preferiria que lhe desse uma boa lição? Não vai querer apanhar na frente dela e de todo esse pessoal – que apontava, gestualmente -, ou vai?

                - Cara, tu és muito folgado! Estás pedindo, vais ver quem apanhará, agora mesmo. E partiu para cima do pedestre que, ignorando sua valentia e com a mão estendida à frente, em posição de defesa, questionou: sua esposa sabe pilotar? Sim, por quê? Respondeu, com outra pergunta, o irascível “motoqueiro”. Ainda bem, porque se você não mudar de opinião e se mandar agora – olhando para o relógio, acrescentou: ao meio dia e vinte e cinco minutos -, não somente levará uma instrutiva surra, nesse calorzão, como ela terá que o conduzir a um hospital daqui a pouco. E aí, que decide?

                - Para o hospital quem irá serás tu, idiota, tentando acertá-lo com um direto, cuja contrapartida foi um soco na altura das costelas que fez o “motociclista” gemer e se dobrar. O pedestre afastou-se e esperou a reação do esmurrado; e ela logo veio, com um soco no ar, respondido com um gancho que o levou ao asfalto, de costas, estateladamente.

                Àquela altura, a mulher pedia-lhes para pararem de brigar, o que não foi possível, porque o “motoqueiro”, antes da contagem chegar a dez, cego de raiva e humilhação, arrumou forças para arremeter-se, qual um touro, contra o pedestre, que o recebeu com um poderoso chute nas pernas, fazendo-o cair, dessa feita, de boca no solo quente.

                O pedestre, então, se dirigiu à mulher, quase tentando ser gentil: senhora, limpe seu marido com esta água – quase íamos esquecendo: ele atravessava a faixa bebendo uma garrafa de água mineral -, e o leve a um posto de saúde para examinarem se quebrou algum osso ou fazer curativo.

                Por pouco, ela não atira nele a garrafa d’água. -Você é um monstro, um covarde; pode ter aleijado meu marido - uma chorosa senhora se lamentando.

                - Que aleijou coisa nenhuma! Quem sabe ele, a partir de agora, aprende um pouco mais a se portar no trânsito como cidadão. Antes de seguir seu destino, notando que o maltratado “motoqueiro” já estava lúcido, arrematou: se tornar a cruzar com você nas mesmas condições em que nos encontramos hoje, dar-lhe-ei, aí, sim, uma sova como as que levei de meu pai para aprender a me comportar como gente, cidadão de bem, que respeita o direito dos outros: de cinturão, como este aqui, que apontou. Sem forças, o da motocicleta apenas resmungou: se houver uma próxima vez, eu te mato, cara.

                Com algum esforço e ajuda da mulher, levantou-se e ocupou a garupa da motocicleta, que foi por ela conduzida, sabe-se lá para onde; minutos antes da passagem de uma viatura policial que, não vendo nada de anormal, seguiu em frente.

                Fato é que a cena, violenta, claro, servira de divertimento, bochicho, para tantos que a presenciaram e, certamente, de lição ao mal-educado condutor que, até então, ainda não aprendera que as leis de trânsito existem para, em síntese, dar segurança a quem está na condição de condutor de veículo automotivo, e proteção ao pedestre.  

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