VOLTANDO AOS CLÁSSICOS
Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com
Um cidadão que, como ministro da área econômica,
permitiu que o governo a quem servia deixasse o poder com uma inflação acima
dos oitenta por cento, mensais, não pode se dar ao luxo, ou, melhor dizendo, ao
desplante de criticar governantes ou aqueles
que lhes sucederam, notadamente, se a economia, no geral, melhorou.
Um indivíduo que, enquanto auxiliar do gestor federal
de plantão, em uma época em que, para ele, já se fazia necessária a
privatização de nossas empresas estatais – como não, se a figura, invariavelmente,
quando escreve ou discursa, diz que o estado brasileiro jamais precisou delas?
–, não o propôs, nem aconselhou seu superior a fazê-lo, que moral teria para se
arvorar predador, alienador das estatais de que dispõe o país, sem que, antes,
um profundo, abrangente, sério e transparente estudo concluísse pela necessidade
de negociá-las? Privatizar por privatizar só os muito irresponsáveis, os demagogos,
ou os toleirões seriam favoráveis a tal decisão.
A respeito, ainda, de privatização, o mesmo senhor, certamente,
para corroborar sua ideia fixa e recorrente de sugerir aos hodiernos inquilinos
dos palácios governamentais e parlamentares que providenciem a imediata
alienação, basicamente, de todas as estatais nacionais - do Banco do Brasil, passando pelos Correios,
produtoras de energia e combustíveis, enfim, atuantes em diversas atividades
industriais e de serviços -, cita nações onde similares já teriam passado para
empreendedores privados – só não diz que muitas foram devolvidas aos estados
alienantes, que as receberam para evitar que fossem extintas de vez -, mas,
irônica e, hipocritamente, esquece-se de arrolar países ou estados nos quais
estatais funcionam e são referência econômica e em produtividade. Casos que poderiam
exemplificar essa assertiva, negada pelo falante ex-ministro, ocorrem em
Singapura, na Noruega, Hungria, Alemanha, França e, claro, nos Estados Unidos
da América. Sim, também os ianques possuem grandes empresas estatais no seu
organograma de administração pública, como estas: AMTRAK, estatal deficitária,
criada para operar no transporte de passageiros por trem, que ninguém queria
administrar em razão do alto custo e pouca, ou nenhuma, lucratividade. Até hoje
é subsidiada pelos americanos; Export-Import Bank of the United States, criada
para subsidiar exportações, inclusive com linhas especiais de crédito para
pequenas empresas. Quem critica o BNDES por tentar linhas de financiamento para
exportações, precisaria saber que os Estados Unidos têm um banco para isso;
Farm Credit System, que não é apenas um banco de incentivo à agricultura
ianque, mas um sistema integrado de crédito que destina bilhões de dólares a
agricultores. Quer a boquirrota figura a quem vimos nos referindo, que o Banco
do Brasil seja privatizado integralmente, inclusive a carteira agrícola;
Tennessee Valley Authority, uma das maiores geradoras e distribuidoras de
energia elétrica americana, tomada individualmente; se somadas as produções de
U.S. Army Corps of Engineers e U.S. Bureau of Reclamation, o governo/estado
seria o maior produtor de energia elétrica.
Ou o ex-ministro estaria desatualizado no que diz
respeito à ciência econômica, ao tentar vender, sabe-se lá a quem, a ideia de
que toda estatal precisa ser privatizada, ou sendo, deliberadamente, hipócrita
e demagogo, ao esquecer ou se omitir de colocar, entre as nações, países com
muitas e grandiosas estatais, como os supracitados Hungria, França, Noruega; ou
com poucas, mas enormes e poderosas, como as encontradas nos Estados Unidos da
América. Aliás, o Brasil, verdadeiramente, nem é o país com o maior número de
empresas estatais.
A propósito, após tomarmos conhecimento da recorrente
e reiterada recalcitrância de ex-ministro – certamente, não detentor de
credibilidade técnica e moral para tanto, uma vez que, enquanto auxiliar
governamental, sua principal colaboração econômica foi contribuir para que o
país amargasse a maior inflação de nossa história - em tentar nos fazer crer que parte da
salvação da economia brasileira passaria pela privatização de todas as nossas
estatais. Depois de muito lermos colunistas que, imaginávamos, discordarem da mesmice
dos meios de informação para os quais contribuem – invariavelmente, atazanando
os governantes de plantão -, quando concordavam com a justiça praticada pelo
Judiciário brasileiro em decorrência de crimes apurados, por exemplo, pela
Operação Lava Jato, e não que apenas estavam escamoteando suas ideias e
posições ideológicas, na verdade, as mesmas de uns maria vai com as outras que
viam e ainda veem como vítimas de injustiças, muitos daqueles que, um dia, tais
cronistas viram como criminosos devidamente apanhados pelas malhas da lei e, portanto, objeto, sim,
da devida e necessária aplicação de punições legais; em vista disso, estamos decidindo
diminuir ou pôr termo à leitura de assuntos em relação aos quais seus autores
ou discursistas não nos oferecerem a possibilidade de obtenção de quaisquer
ganhos intelectuais ou culturais. Vamos voltar aos clássicos. Aguardem-nos:
Tolstói, Machado de Assis, Carlos Drummond, O. G. Rego, Eça de Queirós, Graciliano
Ramos, Clarice Lispector, e tantas outras feras.
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