terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

DALILÍADA

Fonte: Google


DALILÍADA

(poema épico inspirado na vida e na obra de Dalí)

Elmar Carvalho


           XXXIII

Dalí menino,
transmudado em menina,
levanta a orla do mar
e contempla o cão adormecido
à sombra das águas.
Dalí adulto
suspendeu a borda do mar,
as fúrias das ondas aplacou,
a contemplar o ritmo das esferas
que o rosto da amada desenhavam.
O cão sonolento ainda dormia
sob o tapete das águas. 

           XXXIV

A cabeça de Rafael é
uma cúpula de catedral
estalando em fragmentos
com os quais seu gênio
construía as obras em
que seu crânio se refazia.

           XXXV

Nos justapostos cubos suspensos
em forma de cruz, um Cristo
dolorido retorcido pelos séculos
ainda sente as mesmas dores
dos cravos, da lança e da maldade
humanamente desumana.
Uma Madona solitária contempla
triste rainha em xeque –
mate no chão de xadrez
a agonia do “corpus hipercubicus”.

           XXXVI

Na natureza morta de Dalí
a morte ganhou vida
na rosa ceifada que levitava. 

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