OBVIEDADES SOBRE O VÍRUS
Antônio Francisco Sousa – Auditor
Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Começo
com aquele cidadão que chegou à sábia conclusão de que obviedade é algo que
todo mundo sabe, desde que saiba a resposta; graças a seu descortino literário,
escrevendo sobre isso, vendeu milhões de seu livro, tornando-se best-seller
aqui e alhures; foi também ele que disse, como se óbvio fosse, que não pensamos
como pensamos que pensamos.
Seria,
de fato, óbvia essa assertiva? Entendo que, por mais que estudos empíricos, não
axiomáticos, experimentais, mesmo filosóficos, auxiliados por estatísticas
sociológicas, encomendadas ou não, tentassem comprovar tal tese, não
conseguiriam, simplesmente porque resta quase impossível a qualquer indivíduo
saber a resposta exata que daria se alguém lhe questionasse sobre no que
aqueloutro estaria pensando. A não ser que o pensador estivesse hipnotizado ou,
de alguma forma, induzido a falar a respeito daquilo em que estivesse pensando,
somente seriam conhecidos seus pensamentos, a partir do momento em que ele os
publicasse ou verbalizasse; apenas e tão somente observando aspectos físicos ou
comportamentais do ser pensante, não se poderia ter certeza absoluta de que ele
pensou ou não como pensou que pensou.
E
se o escritor tivesse querido dizer, naquele pensamento que encerrou o primeiro
parágrafo, que não é o que penso que não é conhecido dos outros, mas o
resultado do meu modo de pensar, é que, obviamente, não resultaria no
pensamento-chave de um grupo, do qual fizesse parte e ao qual fosse dado pensar
sobre um tema ou situação comum a todos? E daí?
Continuando
com as filosofices, e ainda falando em pensamento, modo de pensar. Outro fato
que, por algum tempo, mesmo quem precisava dizer que era óbvio, já que, desde
sempre, ainda que negasse ou negaceasse, teimosa e inexplicavelmente essa
obviedade, não houve como esconder a verdade que lhe escancarava, foi sobre a
condição – digamos, existencial, ontológica, do vírus. A princípio diziam que
ele não era um ser vivo, apenas um aglomerado de material genético, que
precisava, para proliferar ou “procriar”, sair de seu estado de catalepsia,
hibernação, migrar em seu parasitismo zoótico (se o vírus não é vegetal nem
mineral, logo, seria animal?), de um hospedeiro.
Todos
os estudiosos e, mesmo, os curiosos que teimaram em considerá-lo um “ser” “não
vivo”, jamais deixaram de afirmar, tampouco, ousaram contrariar uma verdade
científica irrefutável: que ele, o vírus, é algo como um bolinho genético
composto de DNA ou RNA. E Genética, eu, a gramática e algumas obras
científicas, ao tempo em que descobrimos que, vocabular e etimologicamente,
deriva do termo grego génesis e do latim genese – formação dos seres, desde a
origem -, também soubemos que, enquanto ramo de estudo, é a parte da ciência
que trata da transmissão das características hereditárias dos seres vivos; ou
seja, cuida da hereditariedade, estrutura e função dos genes, além da variação
entre esses seres; enfim, busca compreender os mecanismos e leis de transmissão
das características através das gerações.
Para
a Ontologia, ser é aquilo que existe, tem vida, ocupa espaço existencial,
física, materialmente, ou de forma intangível ou imponderável; logo,
fortalecidos por essa tese filosófico-metafísica, conclui-se que o vírus é um
ser muito vivo.
Deixados
os arrazoados justificadores para trás, gostaria de encerrar o questionamento
sobre a condição de ser vivo do vírus, apelando, então, para os lugares-comuns
– havidos por retóricos e teólogos como fontes inesgotáveis de argumentos,
fundamentos e provas para qualquer assunto ou discussão – ditos e replicados
por tantos, hodiernamente: o interesse da ciência, o primeiro, não é
eliminá-lo, enquanto gênero ou espécie, empreitada improvável para qualquer
estudioso ativo, mas fragilizar, exterminar, acabar, enfim, tirar a vida –
obviamente, só se tira algo de quem o tem – dos que estejam vindo à tona para
incomodar, tolher a paz, precarizar a saúde, pôr fim à existência de tantos
seres humanos e/ou não.
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