domingo, 12 de abril de 2020

OBVIEDADES SOBRE O VÍRUS




OBVIEDADES SOBRE O VÍRUS

Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                Começo com aquele cidadão que chegou à sábia conclusão de que obviedade é algo que todo mundo sabe, desde que saiba a resposta; graças a seu descortino literário, escrevendo sobre isso, vendeu milhões de seu livro, tornando-se best-seller aqui e alhures; foi também ele que disse, como se óbvio fosse, que não pensamos como pensamos que pensamos.

                Seria, de fato, óbvia essa assertiva? Entendo que, por mais que estudos empíricos, não axiomáticos, experimentais, mesmo filosóficos, auxiliados por estatísticas sociológicas, encomendadas ou não, tentassem comprovar tal tese, não conseguiriam, simplesmente porque resta quase impossível a qualquer indivíduo saber a resposta exata que daria se alguém lhe questionasse sobre no que aqueloutro estaria pensando. A não ser que o pensador estivesse hipnotizado ou, de alguma forma, induzido a falar a respeito daquilo em que estivesse pensando, somente seriam conhecidos seus pensamentos, a partir do momento em que ele os publicasse ou verbalizasse; apenas e tão somente observando aspectos físicos ou comportamentais do ser pensante, não se poderia ter certeza absoluta de que ele pensou ou não como pensou que pensou.

                E se o escritor tivesse querido dizer, naquele pensamento que encerrou o primeiro parágrafo, que não é o que penso que não é conhecido dos outros, mas o resultado do meu modo de pensar, é que, obviamente, não resultaria no pensamento-chave de um grupo, do qual fizesse parte e ao qual fosse dado pensar sobre um tema ou situação comum a todos? E daí?

                Continuando com as filosofices, e ainda falando em pensamento, modo de pensar. Outro fato que, por algum tempo, mesmo quem precisava dizer que era óbvio, já que, desde sempre, ainda que negasse ou negaceasse, teimosa e inexplicavelmente essa obviedade, não houve como esconder a verdade que lhe escancarava, foi sobre a condição – digamos, existencial, ontológica, do vírus. A princípio diziam que ele não era um ser vivo, apenas um aglomerado de material genético, que precisava, para proliferar ou “procriar”, sair de seu estado de catalepsia, hibernação, migrar em seu parasitismo zoótico (se o vírus não é vegetal nem mineral, logo, seria animal?), de um hospedeiro.

                Todos os estudiosos e, mesmo, os curiosos que teimaram em considerá-lo um “ser” “não vivo”, jamais deixaram de afirmar, tampouco, ousaram contrariar uma verdade científica irrefutável: que ele, o vírus, é algo como um bolinho genético composto de DNA ou RNA. E Genética, eu, a gramática e algumas obras científicas, ao tempo em que descobrimos que, vocabular e etimologicamente, deriva do termo grego génesis e do latim genese – formação dos seres, desde a origem -, também soubemos que, enquanto ramo de estudo, é a parte da ciência que trata da transmissão das características hereditárias dos seres vivos; ou seja, cuida da hereditariedade, estrutura e função dos genes, além da variação entre esses seres; enfim, busca compreender os mecanismos e leis de transmissão das características através das gerações.

                Para a Ontologia, ser é aquilo que existe, tem vida, ocupa espaço existencial, física, materialmente, ou de forma intangível ou imponderável; logo, fortalecidos por essa tese filosófico-metafísica, conclui-se que o vírus é um ser muito vivo.

                Deixados os arrazoados justificadores para trás, gostaria de encerrar o questionamento sobre a condição de ser vivo do vírus, apelando, então, para os lugares-comuns – havidos por retóricos e teólogos como fontes inesgotáveis de argumentos, fundamentos e provas para qualquer assunto ou discussão – ditos e replicados por tantos, hodiernamente: o interesse da ciência, o primeiro, não é eliminá-lo, enquanto gênero ou espécie, empreitada improvável para qualquer estudioso ativo, mas fragilizar, exterminar, acabar, enfim, tirar a vida – obviamente, só se tira algo de quem o tem – dos que estejam vindo à tona para incomodar, tolher a paz, precarizar a saúde, pôr fim à existência de tantos seres humanos e/ou não.     

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