Moinho
Everaldo Moreira Veras (1937 –
2011)
Todos os dias me suicido,
invento dores e palavras
absurdas,
é a fórmula que escolhi para me
multiplicar.
Começo quando começa o dia,
estou eu sempre me recomeçando.
Faço assim porque tenho pressa,
pode ser que eu morra
antes do fim do mundo.
Além do mais,
a noite não espera
e guardo muito cuidado com ela
porque,
no seu silêncio extremo,
está a perdição que me alimenta.
Percorro os caminhos como um
navio,
desses que carregam fantasmas.
Vou repartindo o tempo,
ora estou na luz,
ora no escuro maior.
É assim a contradição que
estabeleço
para que ninguém me encontre
nem tampouco imite o meu sofrer.
Escondo,
dentro de mim,
no peito,
um moinho.
No centro dele sou duro como
ferro.
Fonte: Jornal de Poesia
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