sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

O CULPADO É O CRIADOR

 

Fonte: Google

O CULPADO É O CRIADOR


Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)


                 Principalmente, depois que a ideia filosófica do politicamente correto se instalou, com sua força cerceadora e crítica, notadamente, entre indivíduos mais radicais, por tudo que acontece sob a forma de mazela terrestre, envolvendo clima, meio ambiente, flora, fauna, e até mesmo algumas astronômicas, cósmicas ou cosmológicas, em razão do nosso discutível comportamento moral e existencial, enquanto seres humanos, somos acusados e, de antemão, considerados culpados.

                Para os extremistas, os maria vai com as outras, como são alguns defensores ferrenhos da ideia de que somos, naturalmente, destrutivistas, destrucionistas, não eles, mas outros de nós, por os trazermos para nosso meio, os centros urbanos ou mesmo rurícolas, tirando-os de seus habitats, seríamos responsáveis pela proliferação ou mutação de microrganismos como os vírus, as bactérias e os fungos; assim como, pela quase domesticação das capivaras que vimos, já nestes dias pandêmicos, graças à placidez e calmaria de algumas grandes cidades isoladas pelo coronavírus, enfileiradas, em passeios matinais e vespertinos pelas ruas, olhando as vitrines – talvez, nada comprando por falta de vendedores -; dos saguis, os macacos-prego, aves como as rolas (conheço-as por rolinhas), o canoro e bravo canário amarelo – sê bem-vindo, amigo! -, os bem-te-vis, os pombos, e tantos outros indivíduos da fauna, para dentro de nossos lares, a dividir conosco os alimentos; as cobras, também, já são de casa, ou nossas vizinhas, como os escorpiões e as lacraias. As baratas e os ratos, esses não nos largam nunca: somos unha e carne com eles, desde sempre. As abelhas, sou obrigado a admitir que, com elas, estamos, de fato, sendo deveras irresponsáveis, tratando-as muito mal, enxotando-as para o mais longe possível, levando-as ao caminho da extinção; se isso acontecer, aí, sim, vamos comer o pão que o diabo amassou, e que não vai ser suficiente para todos.

                Também somos acusados, graças à poluição que produzimos, de contribuir para esburacar a camada de ozônio; também por conta da danada poluição e outras coisinhas mais, como o assoreamento das margens dos mananciais fluviais, por levar esses a secarem; pelo degelo dos icebergs e de outras plataformas geladas, o que faz aumentar o nível dos oceanos e mares, que, por conseguinte, inundam regiões situadas abaixo de seu nível ideal. Pela loucura, enfim, do clima, temos uma participação absurda de culpa. Por conta de nossa busca desenfreada para ocupar espaço onde pretendemos instalar essas metáforas humanas que chamamos progresso e desenvolvimento, ainda que objetivando proporcionar melhoria existencial na vida de tantos, acusam-nos, contrariamente, de, com isso, levarmos males e perrengues a muitos irmãos.

                Para os que insistem em pensar assim, tão malevolamente, sobre o homem, melhor dizendo, a respeito das ideias e decisões que tomamos, e que causam tanta desgraça aos habitantes da terra, quiçá, não ao universo conhecido e por conhecer, possivelmente, somente não seríamos invasores, depredadores ou destruidores em poucos lugares terrestres. À África não deveríamos ter ido, eis que, antes de nossa chegada, já lá se encontravam o leão, o rinoceronte, a girafa, a zebra, os tigres, leopardos, gnus, hipopótamos, outros antílopes, os grandes macacos e as cobras famosas. Na Oceania, Austrália e/ou Nova Zelândia, nem pensar: quem defenderia de nós animais precursores como os ornitorrincos, os cangurus, o coala, o diabo da tasmânia, o elefante-marinho? Nas Américas, descobertas e habitadas depois dos outros continentes, na do Norte, cercados de cuidados, algumas porções territoriais do Canadá, Estados Unidos e México, habitadas ou pouco ocupadas por seus ursos, salmões, lobos, onças, os aligátores, poderíamos ocupar. Na Central, talvez desse para convivermos com papagaios, tucanos e outros pássaros, desde que não mexêssemos com peixes e anfíbios. Na América do Sul, como cá já estavam muito tempo antes de nós, os condores, as onças-pintadas, as sucuris, os búfalos, florestas gigantescas, intocadas, intocáveis, sagradas; índios, rãs minúsculas, salamandras, borboletas multicoloridas, pernilongos; honestamente? também não seria lugar para nós. A Europa, o velho continente, lá, provavelmente, fosse um bom habitat; tartarugas, veados, texugos, lontras, lobos, morcegos, existem em quase toda a terra; com uma logística adequada, poderíamos transportá-los ou os transplantarmos, por exemplo, na América do Sul: por aqui, há climas e ecossistemas parecidos com os europeus. Desculpem-me os que acharem que estou exagerando ou sendo irônico. Nem tanto, mestre. Ou será que toda essa perfumaria que somos obrigados a aspirar, tanta gororoba para engolir, tanto barulho para ouvir, somente a mim incomodam? 

                Ainda bem que o criador – para os crentes, aos evolucionistas, a natureza; para os céticos ou agnósticos, o que quiserem – não pensou sobre nós como muitos de nós pensam: que seríamos predadores, destruidores do tipo mais louco e demente: autofágicos. Deu-nos a Terra e o universo para cuidarmos e nos fez superiores às árvores, peixes e demais seres ao nos dotar de inteligência, raciocínio, livre-arbítrio, discernimento; obviamente, impôs-nos restrições ou cerceamentos: disse que deveríamos fazer tudo de forma a não o decepcionar. E quase concluiu: não matem nem se matem.              

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