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DIÁRIO
[Sobre saudade e Parnaíba revisitada]
Elmar Carvalho
20/02/2021
No dia 20 de fevereiro, sábado, participei da live Leituras Compartilhadas da Saudade em Poesia, que se encontra disponível no You Tube, realizada pelo Portal Entretextos e mediada pelo poeta Dílson Lages Monteiro. Vários intelectuais participaram, lendo e comentando poemas que tematizassem a saudade, ainda que apenas implicitamente. Escolhi o poema Saudade, de Da Costa e Silva, um de meus poetas preferidos. Discorri sobre esse belo texto, tanto levando em conta aspectos intrínsecos, como extrínsecos, bem como relatei fatos curiosos e interessantes da vida desse grande bardo brasileiro.
Contudo, bem no final da live, fui surpreendido com a notícia
de que o poeta e escritor Claucio Ciarlini havia escolhido um texto meu para
ler e comentar, no caso, o poema Parnaíba Revisitada, mas que, em virtude de
compromisso profissional no mesmo horário, ficara impedido de cumprir esse
mister. Diante desse impasse, segundo o apresentador Dílson Lages, o Claucio
lhe pedira para que ele o lesse e comentasse.
Como Dílson, além da apresentação e mediação da live, ainda
iria ler e comentar um texto um tanto longo, pediu para que o poeta Diego
Mendes Sousa o fizesse em seu lugar. Devo dizer que Diego, apesar de um tanto
surpreendido pelo convite, se saiu muito bem, pois o leu com alma, fazendo uma quase
performance teatral, e lhe fez uma bela interpretação, analisando com
pertinência os pontos que de fato importavam ser comentados, de modo que nenhum
reparo lhe poderia fazer, a não ser agradecer pela sua eficiência e percuciência.
Apenas expliquei que escrevi esse poema num tempo em que
estava muito saudoso de Parnaíba, pois havia me mudado para Teresina há pouco
tempo. Então, eu percorria as ruas, praças e logradouros de Parnaíba, em busca
de um tempo em que eu fora muito feliz e em que a poesia me sacudia a alma com
muita força e sofreguidão. Andava pelas ruas estreitas e um tanto tortuosas do
centro histórico e do entorno do Porto das Barcas, como se andasse em um
labirinto impregnado de saudade. Como se fora um Proust, cujo impulso memorialístico
fora desfechado por uma madeleine embebida em uma xícara de chá, o gatilho de
minha memória fora um pedaço de um azulejo desbotado.
No dia seguinte, por WhatsApp, conversei com Claucio Ciarlini
a respeito da live e da competência demonstrada pelo Diego, ao tempo em que lhe
agradeci por haver escolhido o meu poema, e pelo seu empenho junto ao Dílson
Lages Monteiro para que ele não deixasse de ser objeto de leitura e análise.
Ele, então, para honra e felicidade minha, disse que escreveria um texto sobre
Parnaíba Revisitada, mas que o faria sem me consultar, para que o texto
expressasse a sua opinião, sem influência de outras pessoas, o que me deixou
ainda mais contente.
Sem necessidade de mais explicações, segue abaixo o texto do
Claucio Ciarlini, grande agitador e promotor cultural de Parnaíba, editor do jornal
O Piaguí, organizador de várias coletâneas literárias de contos, poemas e
crônicas e de revista literária impressa e virtual:
Sobre o poema Parnaíba Revisitada, de Elmar Carvalho
A leitura de
Parnaíba Revisitada, poema do escritor e amigo Elmar Carvalho, se traduz num
convite/mergulho à nostalgia (no que gera saudade), onde logo nas primeiras
linhas o poeta nos fala:
Pelos labirintos
de antigas ruas perdidas
Creio eu, e
posso estar estupidamente errado, que estes labirintos podem muito bem se
configurar num emaranhando de lembranças que com o tempo vão caindo nos
recônditos mais escuros daquele vasto terreno entre o consciente e o
subconsciente, e que podem permanecer ocultas até que algum gatilho emocional,
fruto da visualização de algum objeto ou paisagem (dentre inúmeros outros
fatores) possa acionar uma rápida procura, havendo ao fim uma imersão,
fragmentada ou não, daquele tempo ou acontecimento.
Porém, antes
que haja essa imersão, a mente costuma se perder, enquanto realiza a
angustiante tarefa do procurar, como bem cita:
caminho sem destino
e mergulho no temporal
das cavernas inescrutáveis
do deus Cronos
Até que
chega o momento mais prazeroso, embora breve (antes que a melancolia se
instale), que é o de visualizar e até mesmo sentir, o passado em nossas mãos:
e o que se chama passado
intacto resgato
num pequeno pedaço de um
velho azulejo desbotado.
A partir
daí, dependendo do ser mergulhado em nostalgia, de seu humor e/ou maturidade,
ele terá a capacidade de fugir a tempo para que esta saudade seja apenas doce
sentimento e não se torne amargura, porque no presente é que está nossa
segurança.
O poema, apesar
de curto, é de uma grandeza sentimental que nos emociona, não apenas do
imaginar as inúmeras sensações que Elmar deve ter percorrido quando da
inspiração, da escrita e do depois, mas pelas nossas próprias lembranças que
acabam sendo acionadas quando da leitura de Parnaíba Revisitada.
Claucio Ciarlini (2021)
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