domingo, 15 de agosto de 2021

PASSEIO PELA CIDADE



PASSEIO PELA CIDADE


Alcione Pessoa Lima


Um passeio pelas ruas da cidade...

Após a chuva, raios e enxurrada...

Não existe mais a melancolia das tardes...

Somente mariposas sobre a jitirana do lixão colorido.

Um véu cinzento de monóxido de carbono...

E tantos zumbis a vagarem, sem asas. 


As buzinas e ruínas perturbando a sensatez...

E os becos empilhados de pessoas...

São rostos desconhecidos...

Uma cidade que se desconhece...

Até por mim, que entre rios fui gerado. 


Percebo uma divisão...

Entre arranha-céus e guetos...

A acomodação de um apartheid...

Um contraste entre os sonhos que se aglomeram...

E ao cruzar a praça da cultura...

Arde em mim um silêncio que perturba.


Onde está a liberdade de à sobra do oitizeiro poder amainar o ardor do sol...?

Talvez na velocidade da transformação...

A esconder um horizonte que ainda resiste...

E no encontro dos rios fétidos...

Um anzol traz apenas um arrastão esquecido...

E a natureza morta (aguapés) descendo pela correnteza...


Vejo-te, assim, cidade cosmopolita...

Em teu céu cruzarem pássaros de aço...

E sem saúde, amontoados de pedintes, em uma única fila...

Um olhar lacrimejante: o meu lamento.

E sobre uma serpente de concreto, arrastar-se o trem...

Que transporta a minha saudade...

E surfistas equilibrando a vida, até cruzarem a linha do destino...

Mas, ainda posso ver flores em teu caminho...

A se sobreporem aos espinhos da tua dor.   

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