PASSEIO PELA CIDADE
Alcione Pessoa Lima
Um passeio pelas ruas da cidade...
Após a chuva, raios e enxurrada...
Não existe mais a melancolia das tardes...
Somente mariposas sobre a jitirana do lixão colorido.
Um véu cinzento de monóxido de carbono...
E tantos zumbis a vagarem, sem asas.
As buzinas e ruínas perturbando a sensatez...
E os becos empilhados de pessoas...
São rostos desconhecidos...
Uma cidade que se desconhece...
Até por mim, que entre rios fui gerado.
Percebo uma divisão...
Entre arranha-céus e guetos...
A acomodação de um apartheid...
Um contraste entre os sonhos que se aglomeram...
E ao cruzar a praça da cultura...
Arde em mim um silêncio que perturba.
Onde está a liberdade de à sobra do oitizeiro poder amainar o ardor do sol...?
Talvez na velocidade da transformação...
A esconder um horizonte que ainda resiste...
E no encontro dos rios fétidos...
Um anzol traz apenas um arrastão esquecido...
E a natureza morta (aguapés) descendo pela correnteza...
Vejo-te, assim, cidade cosmopolita...
Em teu céu cruzarem pássaros de aço...
E sem saúde, amontoados de pedintes, em uma única fila...
Um olhar lacrimejante: o meu lamento.
E sobre uma serpente de concreto, arrastar-se o trem...
Que transporta a minha saudade...
E surfistas equilibrando a vida, até cruzarem a linha do destino...
Mas, ainda posso ver flores em teu caminho...
A se sobreporem aos espinhos da tua dor.
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