DIFERENÇA QUE AS PALAVRAS FAZEM...
Antônio de Pádua Seixas
Poeta, cronista e memorialista
Era primavera em Paris e a cidade estava linda com as flores que coloriam os jardins e o verde vibrante das árvores do parque Bois de Boulogne (Bosque de Bolonha). O dia estava maravilhoso, sol que não queima a pele, só acaricia, temperatura amena e uma suave brisa compunham o cenário.
A bela jovem caminhava tranquila para seu trabalho e quando chegou na esquina de um das ruas mais movimentadas da cidade notou que havia um senhor sentado num banquinho tosco com um cartaz que dizia : “SOU CEGO, POR FAVOR ME AJUDEM” e ao lado dele uma caixa de papelão onde eram depositados os donativos, naquela altura apenas com poucas moedas. A jovem parou colocou um donativo na caixa, se agachou pra pegar o cartaz e o senhor sentiu o perfume que emanava dela e o reconheceu “FLEUR DE ROCAILLE” o preferido de sua esposa recentemente falecida, seus olhos marejaram mas ele não falou nada. Por sua vez a jovem também sem falar nada pegou o cartaz, virou-o, escreveu algo no verso e seguiu seu caminho.
Pouco tempo depois o senhor percebeu que os donativos aumentavam continuamente e a caixa foi se enchendo de moedas, até notas surgiram e quase ao final do dia a jovem voltando do trabalho ao ver a caixa cheia de donativos esboçou um sorriso e o senhor sentindo novamente o perfume reconheceu a jovem que havia escrito algo no verso de seu cartaz e dirigiu-se a ela assim: Hoje pela manhã você passou aqui e escreveu alguma coisa no meu cartaz e eu acredito que por causa disso os donativos aumentaram muito.
Como o senhor sabe que fui eu que fiz isso? Ele respondeu, eu a reconheci por causa do perfume que está usando. Que era o preferido da minha esposa. Mas, me diga, o que você escreveu no meu cartaz?
A jovem se desculpou por ter alterado o que ele escrevera sem ter pedido a permissão dele e disse que apenas tinha escrito o mesmo que ele porém com outras palavras. Eu escrevi:
É PRIMAVERA EM PARIS, O DIA DEVE ESTAR LINDO MAS EU NÃO CONSIGO VER AS FLORES.
E ambos se deixaram dominar pela emoção e, em silêncio, se despediram e ela agradeceu a Deus por ter-lhe escolhido pra ser a protagonista desta história.
A magia do universo esteve no ar.
ResponderExcluirObrigado, Vicente, belo comentáriio.
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