domingo, 7 de janeiro de 2024

GUARITA

Fonte: Google


GUARITA


Elmar Carvalho

 

No bairro

           da Guarita

            sem guarita

            sem guarida

            e sem nada

fiquei sentindo

o cheiro de podre

de seu mercado

             marcado

            de bancas

             e pessoas

no trabalho

na luta/labuta

como formigas

em formigueiro.

            Vi peixes

            minguados

rodeados de

pessoas pobres

que esperavam

uma nova

multiplicação

            de peixes

oh! como tardas,

ó revolução.

            Vi tomates

            vermelhos

brilhando

ao sol

            refletidos

            nos olhos

            das pessoas

que espiavam com fome

que espiavam sem dinheiro.

            Vi expostas

            postas de

            carne

sangradas sangrando

borrifando vermelho

em estranha

            pintura

            surrealista.

            No bairro

            da Guarita

na zona do meretrício

vi profissionais

como mendigas

            porque a necessidade

            é bem maior

            que o ganho.

            Na praça

            da Guarita

num comício do povão

vi que o povo tem fome

mas o povo quer comer

vi que o povo

            tem sede

mas o povo quer beber.

            Na praça da

            Guarita

sem guarita e sem guarida

            a guarita

            é o povo

na guarita do poder. 

           Pba. 19.01.81 

7 comentários:

  1. Um retrato escrito da miséria de um povo a margem sociedade vítima da ausência dos nossos governantes.

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  2. Muito obrigado, caros amigos.

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  3. Um retrato fiel do bairro descrito com sensibilidade poetica

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  4. Bom dia amigo, morei no bairro e comprava mantimentos no Mercado da Guarita na época desse belo poema, meus ancentrais aportaram em um "pau de arara" na praça ao lado desse mercado nos anos 50 oriundos da Serra Grande.

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  5. Então, caro Everardo, você conheceu bem esse bairro na época a que me refiro, o seu lado mais humilde. Valeu!

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  6. O pior é que tudo continua como dantes no quartel de Abrantes.

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