terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO


23 de fevereiro 2010

Nesta segunda-feira, de manhã cedo, quando eu vinha de Teresina para Regeneração, resolvi, mais uma vez, dar uma olhada no cemitério campestre, que fica na beira da rodovia, um pouco antes da cidade de Angical. Três ou mais galpões, cobertos de telha, protegem os mortos desse bucólico cemitério. Dá a impressão de que parentes e amigos, zelosos, cuidadosos, desejavam proteger seus mortos da chuva e do sol. No adro de um desses telheiros, o cruzeiro estendia seus braços bem abertos, como se quisesse abraçá-los. Recordei-me de que, muitos anos atrás, quando eu estava na flor de minha adolescência emotiva e sentimental, fiz esse mesmo percurso, em ônibus da empresa Jurandi, que parava em quase todas as cidades do itinerário, em companhia de meu amigo Otaviano Furtado do Vale, que morara em Regeneração. Íamos, ali, passar um final de semana. Fomos antecedidos por uma carta dele, comunicando nossa viagem, e naturalmente solicitando hospedagem aos anfitriões. A missiva tinha uma propaganda enganosa a meu respeito, pois dizia, para a destinatária, filha dos donos da casa, que eu era parecido com famoso galã das telenovelas de então. De qualquer modo, cumprimos a nossa missão, pois tomamos umas boas talagadas de calibrina, dançamos no clube da cidade, onde hoje está instalada a Câmara Municipal, e terminei conseguindo uma namorada, que a névoa do tempo já esfumaça em minha memória. Nessa viagem, chamou-me a atenção um outro campo santo campesino, com túmulos em ruínas, cruzes decepadas, anjos de asas partidas... No retorno, fiz um poema que falava de um agre e agressivo agreste, de um cemitério abandonado, e da paisagem dos cerrados da Chapada Grande, de beleza ímpar, mas tão diferente dos planos tabuleiros de minha terra natal, respingados de corcovas de cupins e pontilhados de carnaubeiras, sobretudo no inverno, em que a terra se estende como um tapete de gramíneas e babugens.

2 comentários:

  1. Entre Parnaiba e Piracuruca existe um destes lugares que também gosto de visitar.Certa feita,vindo de Parnaiba a Teresina,resolvi parar e fazer uma visita.O lugar era sinistro, atmosfera pesada,o vento soprava de forma estranha e calma; os mortos que ali estavam pareciam me dizer que já não aguentavam tanta solidão. Lutei contra minha vontade, algo me dizia:" Saia depressa daí", diante do aviso,resolvi ir embora antes que me pedissem uma carona,cauteloso, saí correndo dali.

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  2. Caro Simão Pedro,
    Por coincidência ou não, já várias vezes parei nessa localidade a que você se refere. Numa delas, quando mirei, com minha máquina fotográfica, a cruz da capela, três passarinhos pousaram sobre a cruz, nos braços e no topo. Captei o flagrante. A casa de fazenda foi, aos poucos, ruindo, até desmoronar completamente, como símbolo da decadência de um passado próspero. Esse lugar se chama Chapada do Didoca, salvo engano.

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