sábado, 21 de agosto de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO

Meus pais, Rosália e Miguel, em viagem saudosista a Francinópolis, antigo povoado Papagaio, onde moraram em 1957/1958, no início do casamento.

21 de agosto

AINDA JOSÉLIA

Ontem, quando vinha a Parnaíba, com a missão de fazer a apresentação de Manuel Domingos Neto e de seu livro “O que os netos dos vaqueiros me contaram”, resolvi passar pela casa de meus pais em Campo Maior, sobretudo com o objetivo de lhes entregar cópia da crônica que publiquei neste Diário, datada do dia 17, sob o título “A morte de Josélia”, uma vez que eles não são navegantes da internet, na qual fora publicada. Talvez nisso tenha havido certa dose de recôndito e dissimulado sadismo sentimental e vaidade artística, que nem Freud saberia explicar. É que meu pai é muito emotivo e eu sabia que derramaria lágrimas. Enquanto esperava a refeição num restaurante de Piracuruca, liguei para minha mãe. Ela me informou que papai chorou copiosamente, e lhe leu, com voz embargada e entre lágrimas e soluços, a crônica elegíaca sobre a morte de minha irmã. Posteriormente, já em Parnaíba, após ter cumprido minha missão literária no SALIPA, verifiquei que no meu blog havia um comentário de minha filha Elmara sobre esse texto, em que ela se declarou emocionada, sobretudo na parte em que narrei o sofrimento de meus pais. Havia um outro, da lavra do escritor e professor Cunha e Silva Filho, do qual, algo cabotinamente, pinço o seguinte trecho: “A sua querida Josélia teve o destino dos que se vão cedo e têm sua biografia brutalmente interrompida (…) A poesia, ou a crônica poetizada, como esta que lhe dedicou de corpo e alma, tem suficiente poder de tornar sua irmãzinha sempre viva e doce, e bela e alegre junto de você e de sua família”. Com efeito, ela não é apenas uma fotografia na parede, como no poema de Drummond. Continua muito viva na memória e na saudade de nossos pais e de todos aqueles que a conheceram e lhe tinham estima e amizade.

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