José Maria Vasconcelos
josemaria001@hotmail.com
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O maior inimigo do ser humano é o mistério, os enigmas. A maior riqueza, porém, é a fé. Entre as duas fronteiras, a ciência tateia só o visível e experimental, em busca, quase sempre, das vãs e improváveis respostas.
O juiz João Batista Rios, residente em Teresina, atualmente assistindo em Picos, fervoroso católico, colaborador paroquial, meu amigo de longa data, desde o seminário capuchinho, em Messejana-CE, nas beiradas de Fortaleza. Um afeto que amadureceu, depois que nossos colegas de antanho resolvemos nos confraternizar anualmente. Em Fortaleza, ocupamos um ônibus alugado e partimos para a Serra do Estêvão, em Quixadá, e nos hospedamos no mosteiro de freiras, pousada barata e confortável, além de enorme e florido jardim. O clima serrano nos aproximou do céu, regado a vinho, seresta, recordações esticando as noites, 13, 14 e 15 de janeiro, 2012.
Coisas de Deus não se discutem, experimentam-se. Vivenciando a presença do Altíssimo, Ele nos revela seus mistérios e zomba da vã ciência. João Batista percorria, a pé, o centro de Teresina, à tarde, por trás do Colégio Sagrado Coração de Jesus, nas proximidades da Embratel. De repente, o juiz encontra Padre Geraldo Vale, virtuoso capitão e capelão da PM, diretor espiritual da Renovação Carismática. Batista emociona-se, depois de longa ausência amiga, abraça-o e lhe beija a mão, como de costume. Conversam demoradamente, meio ao barulho do trânsito. E se despedem. Logo mais, o juiz se dirige à residência da amiga, Célia, e lhe relata o encontro com o sacerdote. Célia estranha a revelação do amigo: "Batista, já faz um ano que o Padre Geraldo faleceu, agora você vem me dizer que o encontrou na rua?!" Quase o juiz cai para trás, e lhe conta o que aconteceu. Envergonhado, João Batista temia o episódio virar boataria, atingindo-lhe a dignidade profissional. Duvidando de Célia, o juiz procurou outra amiga, Ivanir, e lhe narrou o encontro com o padre. "Batista, é verdade, mesmo: faz um ano que o padre Geraldo morreu!"
Ouvindo história tão estranha e fotográfica, lembrei-me de Jesus Cristo, ressuscitado, aparecendo a dois discípulos, na estrada de Jerusalém a Emaús. Conversaram, depois jantaram, em seguida o Mestre desapareceu. Antes, tachou-os de retardados da fé.
Quem acredita em inumeráveis aparições de Maria, quem reza aos espíritos de Antônio, Francisco e centenas de "santos"- uns que nunca existiram - não deve questionar a experiência transcendental do juiz João Batista. Tem de aceitar o que ocorre longe dos altares, especialmente em territórios de outras crenças. Espíritos de índios, negros e cidadãos que marcaram a passagem pela terra com a prática do bem. O difícil é filtrar o misticismo psicopata da revelação sadia e divina.
Juiz João Batista, homem de espírito e conduta exemplar, perseguido por desbancar prefeitos do trono, conseguiu o privilégio de experimentar "coisas" de Deus que arrebentam a vã ciência. "Zé, pelo amor de Deus, não me leve no deboche e humor, ao relatar esse episódio." Prometo, Batista, inclusive de lhe dar um cheiro, se morrer primeiro. Bem no meio da Avenida Frei Serafim. De assombrar transeuntes.
(*) Neste blog, sob o título de No Reino do Surreal, contei essa narrativa, embora sem o brilho do mestre José Maria Vasconcelos. Minha crônica também foi publicada na revista Nossa Gente, nº 9, de dez./2011, editada pelo jornalista Belchior Neto, que prestou significativa homenagem ao padre, com mais duas matérias, uma de sua autoria, e outra, escrita pelo juiz João Batista Rios. As fotos foram extraídas da referida publicação.
(*) Neste blog, sob o título de No Reino do Surreal, contei essa narrativa, embora sem o brilho do mestre José Maria Vasconcelos. Minha crônica também foi publicada na revista Nossa Gente, nº 9, de dez./2011, editada pelo jornalista Belchior Neto, que prestou significativa homenagem ao padre, com mais duas matérias, uma de sua autoria, e outra, escrita pelo juiz João Batista Rios. As fotos foram extraídas da referida publicação.
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