quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Será o Fim do Mundo?


José Maria Vasconcelos 
josemaria001@hotmail.com

Se depender das produções cinematográficas, do Globo Repórter focalizando famílias recolhidas em refúgios paradisíacos, da apreensão dos ambientalistas, estou frito. Todos os seres vivos estamos fritos.
Ambientalistas e brigadas apocalípticas não podem assistir a um degelo ou fúria da natureza, logo apregoam o fim dos tempos. Apreensão tanta, ao ponto de atribuir peidos de vaca como provocadores do efeito estufa. Os mais apressados anunciam até a data da fatalidade planetária: dezembro de 2012, baseados no calendário maia. Fundam-se seitas religiosas só para aguardar os últimos dias.
Datas fatalísticas vêm de longas datas. Nos primeiros séculos do cristianismo, pensadores, como Tertuliano, anunciavam o fim do mundo antes do ano 1000, bem como Sto. Agostinho, em seu livro "A Cidade de Deus", apontava a segunda vinda de Cristo para final do primeiro milênio. Esses e outros visionários, chamados de quiliastas ou milenaristas, propunham atitudes radicais de abandono da vida material. Pregadores apaixonados, visionários de Maria e messias do sertão comovem multidões, indicando dia e hora do Juízo Final com risíveis premonições.
Como adepto de Cristo, só acredito nas informações apocalípticas que se encontram nos evangelhos. A profecia sobre o final dos tempos refere-se a dois períodos históricos bem distantes e distintos, que se compactam, provocando alguns mistérios e dúvidas: o primeiro estágio estabelece a destruição de Jerusalém, seguida da dispersão do povo judeu; o segundo, a agonia dos povos e do sistema solar, acompanhada de terríveis tragédias.
A primeira parte da profecia cumpriu-se à risca: Jerusalém foi totalmente destruída, ano 72, não ficando “pedra sobre pedra” - conforme predissera Jesus. Flávio Josefo, cronista das legiões romanas, durante o cerco e destruição de Jerusalém, relatou episódios que confirmam detalhes da profecia. O comandante Túlio, mais tarde imperador romano, exigiu que a cidade santa se entregasse, para não ocorrer derramamento de sangue. As forças israelenses não recuaram. Túlio, então, fechou todas as portas dos muros da cidade, não permitindo qualquer saída ou entrada de pessoas, de água e provimentos. Jesus predissera:"Quem estiver no campo não entre na cidade...E os da cidade fujam”(Lucas, 21, vers.20).
Após seis meses de cerco, as legiões romanas invadiram Jerusalém. Os judeus mal dispunham de alimentos para os seus soldados. Corpos apodreciam, gente faminta atacava as mulheres, chupava-lhes os seios em busca de líquido ou devorava-lhes os filhos. A profecia rezava: “Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentando, pois haverá grande angústia e ira contra o povo”(Lucas, 21). Quando li os relatos de Flávio, reunidos no livro "Destruição de Jerusalém", ainda na adolescência, estremeci, perdi o sono na batalha final.

Israelenses enfrentaram a última batalha dentro do templo, uma das mais belas arquiteturas da época. Pagãos romanos naquele lugar sagrado afrontavam a fé judaica: ”Quando virdes a abominação estabelecida no lugar santo...”( Mateus,24, vers.15). Um soldado romano tocou fogo na lenha destinada ao culto e imolação. Labaredas consumiam toda a estrutura do templo. Ouro derretido caía sobre guerreiros enfurecidos.
Derrotado, o povo judeu perdeu o direito ao solo pátrio, obrigado a indesejada e humilhante diáspora, por séculos, vivendo em comunidades mundo afora, perseguido pelos povos. “Serão levados cativos para todas as nações...” Lucas, 21).
O sionismo, isto é, o retorno dos judeus à pátria, só ocorreu muitos séculos depois, em 1948, tendo que conviver com árabes palestinos e rebeldes, que ocupavam o território durante a diáspora dos judeus.
A segunda parte da profecia de Cristo, sobre o final dos tempos, fica para depois. Permanece o consolo do Mestre aos apressados visionários:" Nem os anjos do céu sabem quando ocorrerá o fim." Portanto, bananas para psicopata com cara de profeta. 

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