José Maria Vasconcelos
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Orlando Torres, do Rio, habitual leitor desta coluna, envia um texto do jornalista Ricardo Noblat, que retrata a apreensão de quem se aventura a escrever, especialmente na hora H do concurso, quando, além dos costumeiros obstáculos emocionais, tem-se de contar o tempo. Acompanhe o texto de Noblat:
Escrever é um suplício para quem gosta de escrever. E para quem leva a sério o ofício de escrever. Não acreditem em quem diz o contrário.
Paris pode ser uma festa. Escrever não é uma festa. Não é, sequer, um ato prazeroso.
Dá prazer ler um texto bem escrito. Fazê-lo não dá prazer. Dá trabalho.
Escrever não é um dom que se tem. É uma habilidade que se adquire como qualquer outra habilidade.
Entrei em crise quando li o colombiano Gabriel García Márquez, pela primeira vez, ali pelos idos de 70. A leitura de “Cem Anos de Solidão”, o romance de estreia dele, deixou-me confuso.
Parei de escrever durante quase seis meses, depois de ter me deslumbrado com a descrição do momento em que o velho coronel Aureliano Buendia descobriu o gelo, e com o relato da ascensão aos céus de Remédios, a bela, envolta num imaculado lençol branco.
Se era possível ler com naturalidade que borboletas amarelas sempre precediam às aparições do namorado de uma das filhas de Buendia, e se era possível a um escritor extrair tanta beleza do simples ato de alguém tocar uma pedra de gelo pela primeira vez, bem... tudo que eu lera até então envelhecera de repente. Tudo.
E aqueles contos, ou esboços de conto, ou ainda fiapos de contos que guardava no fundo de um baú, herdado da minha bisavó, estavam condenados a permanecer ali, para sempre. Como de fato permanecem até hoje.
Não existe uma receita única para que se escreva bem. Na verdade, não existe receita alguma. Pode-se dizer, como disse Samuel Johnson, que “o que é escrito sem esforço geralmente é lido sem prazer”. Pode-se dizer também, como disse Miguel de Unamuno, que “só escreve claro quem concebe claro”.
De García Márquez, por exemplo, não se dirá que é um escritor econômico de palavras. Nem se dirá o mesmo de Jorge Amado.
Graciliano Ramos, autor de “Vidas Secas”, esse, sim, economizou todas as palavras que pôde economizar. Torturava-se sem piedade quando se debruçava sobre uma folha de papel em branco.
Graciliano reescrevia suas histórias de maneira obsessiva. Cortava parágrafos inteiros, amputava tudo que fosse dispensável, barrava a entrada no texto de qualquer adjetivo, até que sua prosa parecesse tão esquálida, tão enxuta, tão árida quanto os personagens que lhe davam vida.
O modelo de texto que pede o jornalismo está mais para o despojamento de Graciliano do que para o excesso de espuma e de fogos de artifício de Jorge Amado.
Enfim, coitados dos que se devotam a escrever e sonham em fazê-lo bem. Todos os pecados lhes deveriam ser perdoados.
COMENTÁRIO
Como você viu, não é fácil escrever, especialmente correto e apetitoso de se ler. Noblat classifica vários estilos para se produzir um texto, conforme alguns exemplares escritores: há os que são floridos(adjetivos), como Jorge Amado; os que extraem o máximo de uma bolota de gelo, como Garcia Márquez; ou contenção de palavras(adjetivos) em Graciliano Ramos, comum nos textos jornalísticos.
A melhor saída para quem deseja escrever bonito e correto é exatamente o que o jornalista Noblat desenvolve, desde a adolescência: Ler, descobrir virtudes de grandes nomes. Uma simples leitura semanal da revista Veja já abre um universo de informações e textos bem elaborados. Nada de copiá-los, mas imitá-los. Por aí, você vai longe, mesmo dominado pelo sacrifício e apreensão. Receber aulas de redação às vésperas de um concurso, você não vai a lugar nenhum. Vai só ficar sentado, mordendo a caneta, olhando pro céu, implorando uma graça, uma inspiração. Necas!
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