Na
sexta-feira,13 e no sábado, 14, passados estive em Campo Maior. Fiz
a viagem a propósito de assistir, no sábado pela manhã, a uma
palestra do renomado arquiteto Olavo Pereira da Silva Filho,
convidado, que fora, pessoalmente, por ele. A palestra
–fragmentariamente reproduzida abaixo – versou sobre o Centro
Histórico de Campo Maior do ponto de vista de sua preservação e
desenvolvimento.
A
Academia Campomaiorense de Artes e Letras - ACALE promoveu o evento
que contou com o apoio da Prefeitura de Campo Maior – o prefeito
Paulo Martins se fez presente – de lojas maçônicas, Lions Clube e
Sol Clube. A superintendente do IPHAN no Piauí, arquiteta Claudiana
Cruz dos Anjos também estava lá.Durante o evento foi passado
um abaixo-assinado dirigido ao IPHAN solicitando àquele Instituto
abertura de um processo para o tombamento do Centro Histórico de
Campo Maior, a exemplo do que já ocorreu em Oeiras, Parnaíba e
Piracuruca.
O
Olavo, de quem, por seu incansável trabalho preservacionista, o
Piauí (e não apenas o Piauí) é devedor, ficou surpreso com
a minha presença e declarou-se grato por ter-me deslocado de Oeiras
até a Terral dos Carnaubais apenas para vê-lo palestrar. Até
presenteou-me com o belo livroArquitetura Luso-Brasileira no
Maranhão.
Claro
que há um pouco de exagero nisso pois fiz um passeio bastante
agradável, saboreei a melhor carne de sol do nordeste brasileiro e é
sempre um prazer, para mim, visitar a simpática e acolhedora terra
dos Heróis do Jenipapo, independente de qualquer motivação para
tanto
Tratar da
preservação de uma paisagem histórica, especialmente de estruturas
arquitetônicas e urbanísticas é como tratar do próprio
corpo humano. Como um médico para prescrever um tratamento,
preventivo ou curativo, das doenças da mente, do corpo e da alma,
prescinde de um diagnóstico. Também no planejamento urbano
necessitamos de investigações, de reflexões e dessa visão
holística da saúde urbana, dos descuidos e intervenções que
acarretam seqüelas irremediáveis.
E
é nesse sentido precisamos evidenciar os impactos físicos e sociais
que contribuem para a perda de identidade de uma cidade. Em síntese,
esta é uma proposta de reflexão e de urgentíssimas ações de
salvaguarda.
Aqui
não cabe falar de culpados, mas, não podemos ignorar nossas
responsabilidades. Portanto, não se espantem com as imagens, um
tanto quanto agressivas, que vou projetar, mas isso é necessário
para uma apreensão mais ampla de uma paisagem cultural.
Campo
Maior há muito vem sendo louvado, sobremaneira por acadêmicos,
desta e de outras casas, alguns aqui presentes, outros que já não
se encontram entre nós, como H.Dobal e Odylo Costa,
f, campomaiorenses não nativos deste campo, mas, pelo
sentimento ecumênico e visceral, no dizer de Manuel Bandeira,
projetaram esse lugar ao mundo como uma das maiores provas de nossa
identidade cultural.
Nesse
complexo urbano, É esse equilíbrio entre os valores dos terrenos e
das edificações que consolida identidade e garante a
auto-sustentabilidade de um cenário. É com esse cenário de
sentimento integrado que podemos evitar o paternalismo patrimonial. A
perspectiva uniforme das casas perfiladas e agarradas umas às
outras, justapostas às testadas dos lotes, associadas à aplicação
de componentes estruturais, expressa uma interdependência
construtiva e confere uma unidade urbana embasada em
antigas Posturas, difundidas por todo o tempo colonial e
imperial e que ainda referência essa paisagem.
Nesses
telhados não há 2 telhas iguais. Nessas paredes não há 2 tijolos
de mesmo peso, 2 janelas de mesmo vão, 2 casas de mesmo volume. Mas,
as formas se espelham, os telhados se unificam, os vãos se
correspondem. Que paisagens, então podemos associar a essa
identidade? A de feituras imanentes do fenômeno plástico,
referências ao sentimento estético, substratos de uma arquitetura
de alma flamejante, filtrada numa paisagem elegíaca, sensível à
estética, ou de simbologias do pseudo progresso urbano? Ou a da
desconstrução de identidade? Cada vez mais, cenários tradicionais
vêm se tornando impossíveis de apreensão, frente às mutações
não de desenvolvimento planejado, mas de crescimento desordenado,
amparado na doutrina positivista de progresso e
desenvolvimento, arbitrado na inconseqüência social, que de
bom tempo estão anulando a identidade da cidade. Nesse cenário, que
antropólogo, pesquisador ou turista viria aqui para apreciar um
prédio de supermercado ou esse tipo de arquitetura?
Esse
é um vestíbulo, lugar de receber e que também reflete
hospitalidade e uma organização de uma época que em nada prejudica
o uso atual. Imaginem essa casa sem essa setorização
característica, sem essa antecâmara separando a área intima da
social. Sem essa cancela, provida de postigo vazado, que deixava o
interior reservado, sem maior exposição aos estranhos, e que
facilmente permitia a identificação de quem chegava. Imaginem essa
casa só com fachada. Quanto se perderia pela destruição dessa
configuração? Há nisso, uma coesão espacial ordenando as
frontarias e articulando o interior com os planos das fachadas,
coberturas e sistemas construtivos, confirmando a aplicação de
antigos esquemas reguladores. De frentes cerradas e formais, sem
alpendre e de fundos abertos e relaxados a casa da cidade é a casa
de campo. Desprendida de intenção alegórica, é a essência
artística de um tempo, mesclada no engenho português e na
conveniência do semi-árido. Forma que é a estrutura. A origem
rural dos primeiros núcleos urbanos do Piauí, aliada a um
parcelamento relaxado do solo, iria conferir um caráter rústico à
casa da cidade. Esses sistemas construtivos expressam formas e modos
do habitar e construir que formataram essa cidade. Numa rápida
comparação com as casas antigas de Minas, se destacam
peculiaridades locais de materiais e sistemas construtivos próprios.
Se ao clima frio, opulência e relações senhor - escravo se baliza
maior resguardo e desenho fechado daquela. Ao calor abrasivo,
despojamento e relações senhor - vaqueiro se formata aberta e
relaxada esta.
Uso
e conservação atuais refletem o potencial da cidade, como
um lugar muito especial para se viver, com o conforto e qualidade de
vida que a tecnologia atual proporciona. As varandas abertas para os
quintais e as fachadas fechadas para o exterior, com vãos protegidos
de guilhotinas, rótulas e calhas, não foram apenas uma preocupação
de acomodação às condições climáticas do sertão abrasivo. Mas,
ajustamento de posturas urbanísticas e dos recursos técnicos então
disponíveis. Os desaprumos acentuam a estética artesanal enquanto
arrojadas estruturas de carnaúba amarradas com relho cru
fazem a diferença. A religiosidade, presente na imaginária e
nesses singelos abrigos de devoção, e o zelo com os bens móveis
existentes são também expressões presentes no uso dessas moradias.
Ver,
passa por essa perspectiva ousada e profundamente perturbadora do
tecido urbano, em toda sua diversidade cultural. Por trás dessas
fachadas, recobertas de escórias, encontram-se os fundamentos
sociais, econômicos e culturais que alicerçaram essa cidade.
A
arquitetura não é apenas um prédio com determinada função de
uso, mas também o que agrega e ressoa em seu redor. Os
desequilíbrios entre os valores comerciais dos terrenos e das
edificações anteriores, é assim, fatal para a perda de estruturas
arquitetônicas.
A
responsabilidade dos educadores é muito grande e maior ainda a dos
gestores públicos, porque mais importante que saber desenhar o
alfabeto é saber ler uma paisagem.
Carnaúba,
pedra e barro na Capitania de São José do Piauhi recebeu,
em 2008, o prêmio Rodrigo Melo Franco conferido, anualmente, pelo
IPHAN, a iniciativas que se destaquem na defesa e preservação do
Patrimonio Cultural brasileiro
Fonte: site da Fundação Nogueira Tapety. Autor: Joca Oeiras.
Eu penso que: a falta de mecanismo legais que estimulem ou obriguem os proprietários a reformar os casarões abandonados se alia em grande parte dos casos a pendências jurídicas e familares.
ResponderExcluirsp,
É muito importante se preservar as antiguidades de uma cidade pois a historia de um povo vem das coisas antigas e que estão fazendo em Campo Maior é derrubar os prédios ou entao descaracterizar as suas fachadas. Caro Poeta ELMAR,E O ILUSTRE OLOVA PEREIRA vamos motivar a turma Campomaiorense para uma briga de preservação destes monumentos ou do contrario vamos cair no esquecimento (NA ESCURIDÃO DO ESQUECIMENTO), já derrrubaram varios pr´prédios e esta quase no chão o velho tirou, uma casa velha que tem na entrada da rua que leva a estação ao proximo ao açude nesta entrada bem perto do Valdir Fortes. ab João Antonio Aragao.
ResponderExcluir