26 de abril
VIÇOSA, SEMPRE VIÇOSA E CHEIA DE GRAÇA (2)
Elmar Carvalho
No domingo acordei cedo e acordei bem. Bem por isso, fui
ao centro de Viçosa escolher os locais onde iria fazer umas
fotografias. Em seguida aproveitei para tomar um delicioso caldo numa
lanchonete da Praça General Tibúrcio. Constatei que os preços eram
normais, sem nenhuma exploração de eventual turista. Voltei ao
sítio. Preparamos as bagagens e fomos novamente ao centro histórico
para tirar as fotografias, não sem antes irmos à lanchonete, de
cujo caldo eu fizera entusiasmada propaganda.
Na mira da câmera, enquadrei o general Tibúrcio, ereto
no topo de seu pedestal, em cujo lado frontal estão consignados
dados de sua biografia. Numa das faces laterais do monumento foram
estampados os nomes das principais batalhas de que ele participou,
sagrando-se herói da Guerra do Paraguai. Lá, encarapitado no alto
da coluna, o general parece ainda ditar suas ordens, pois a cidade me
pareceu ordeira, aconchegante, limpa e bem cuidada, porquanto não vi
papéis nem lixos espalhados nos logradouros. Aliás, observamos
garis trabalhando em plena manhã de domingo.
A seguir, fui me postar aos pés do monumento erigido em
homenagem ao grande jurista Clóvis Beviláqua, cuja esposa foi a
escritora piauiense Amélia de Freitas Beviláqua. Ainda hoje é ele
um nome respeitado da cultura jurídica nacional. Foi autor de
importante livro sobre a história da Faculdade de Direito de Olinda
e Recife. Esse grande jurista nacional foi o grande artífice do
Código Civil de 1916, que vigorou até o ano de 2002.
Da Comissão dos 21, encarregada da elaboração desse
Código, foi relator o piauiense Anísio Auto de Abreu. Ao que
parece, o trabalho de realização dessa obra provocou uma espécie
de ciúme em Rui Barbosa, que passou a atacar-lhe supostos erros,
mormente gramaticais. Anísio de Abreu, de forma altiva e firme,
retrucava, em defesa de seus pares, chegando a ironizar o excessivo
rigor da Águia de Haia. Rebatendo o mestre do vernáculo e do
Direito, Anísio de Abreu mostrou que Rui também errava, que Rui
também cochilava: “Na via dolorosa da publicidade a que nos
arrastaste, atrelados ao carro dos teus triunfos, permite que
digamos. Mestre! Tu também és humano, tu também és frágil, tu
também és mortal! Como nós – estás sujeito ao erro e também
erraste!” E apontava-lhe os equívocos, um a um.
Antônio José, Miguel Carvalho, Canindé Correia e Elmar, próximos à estátua de Clóvis Beviláqua |
Na estátua, Clóvis Beviláqua segurava um livro, como
símbolo de seu saber, de sua cultura e de sua dedicação aos
estudos. Conta-se que ele era um homem bom, envolto numa aura de
quase santidade. Li que pássaros revoavam no interior de sua casa,
talvez porque pressentissem que ali morava um homem que os amava, e
que jamais os maltrataria. O escultor, cujo nome não anotei, bem
parece ter captado essa faceta da personalidade do grande jurista,
visto que o semblante da escultura deixa transparecer certo ar de
paz, de tranquilidade, de beatitude mesmo. A desembargadora Águeda
Passos Rodrigues Martins, que foi presidente do Tribunal de Justiça
do Ceará, instalou em Viçosa o Memorial de Clóvis Beviláqua, que
bem merecia a homenagem.
Por fim, fui à Praça da Matriz, onde fotografei a
vetusta igreja de Nossa Senhora da Assunção, de coloniais linhas
sóbrias, austeras, exceto no frontispício, de discreta sinuosidade.
Sua inauguração data de 15 de agosto de 1700, porém o povoamento
de Viçosa do Ceará começou bem antes, remontando a 1590, quando
franceses provenientes do Maranhão tiveram contato com os índios da
região, até sua expulsão em 1604 por Pero Coelho de Sousa. Segundo
o padre Ascenso Gago, superior dos missionários ibiapabenses, a data
de fundação da urbe seria 1695. O fato é que nesse período
existia a missão dos padres jesuítas, que tentavam catequizar os
índios Tabajaras, dando origem à Aldeia da Ibiapaba.
Essa povoação, em 7 de julho de 1759, foi elevada à
categoria de vila, passando a chamar-se Vila Viçosa Real da América.
No adro do templo, após a missa, vi as pessoas envergando suas
fatiotas domingueiras. Aos poucos, sozinhas ou em pequenos grupos,
desceram as escadarias e seguiram pelas ruas, algumas estreitas e um
tanto sinuosas. No centro histórico ainda são conservados velhos
solares, vetustos casarões, testemunhas de um outro tempo, que ainda
se insinua das janelas e escorre pelos becos da imperial cidade
serrana.
Quando estive na lanchonete, num rompante de alegria e
entusiasmo pela bela cidade, pelos jardins bens cuidados de suas
praças, pelas encostas arborizadas de seus morros, inclusive com
plantas ornamentais, disse, em tom de discurso, uma frase de efeito,
feita ao sabor do improviso: “A nossa Viçosa está cada vez mais
viçosa!” Alguns circunstantes sorriram, parecendo gostar da
galanteria. A esse arroubo, talvez um tanto condoreiro, gostaria,
agora, de acrescentar: “Mais viçosa e mais cheia de graça”.
Observando as imagens acima, me fez lembrar a minha querida cidade natal Pedro II, mais precisamente na Serra dos Matões onde temos uma visão panorâmica da cidade, ao ir a Pedro II não deixe de visitar o Morro do Gritador.
ResponderExcluirsp,
Caro Horácio,
ResponderExcluirNo blog, há uma crônica sobre a cidade de Pedro II, cidade onde tive prazer de fazer um passeio turístico e saudosista.
Abraço,
Elmar