José
Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Cronista, josemaria001@hotmail.com
A Bíblia é uma fonte inesgotável de inspiração,
inclusive artística. Olhe só a bela metáfora extraída da epístola
de Paulo (capítulo 8) dirigida aos cristãos de Corinto:"...a
criação fica sujeita a vaidades e ambições, porém alimenta-se da
esperança de ser libertada do cativeiro da corrupção, para
participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Nesta busca,
toda a criação geme, em dores de parto..."
No Vaticano, trava-se uma guerra surda, imunda, cujos
petardos envolvem corrupção, disputa de poder, fraudes, sigilos
revelados, traição, crise de autoridade. Não se trata de uma
guerra de adversários da Igreja. É Igreja dentro da Igreja.
Frade capuchinho, dono de imensa cultura, fala
vários idiomas, reside em Roma. Frequentemente, envia notícias,
desta vez não muito frescas: "Vejo, preocupante, a situação
hodierna da Igreja. Por isso, me sentiria omisso, se nada dissesse,
pelo simples fato de responsabilidade cristã na ação
eclesiástica... Frise-se, eu não sou um contestador dissidente."
O frade pede que envie as informações, bastante divulgadas na
Europa, a amigos sacerdotes, bispos, sem alarde. Afinal, qual a
instituição humana livre de escândalos e embaraços? Ademais,
naturais conflitos não alteram o fervor do rebanho de Cristo, um
gigantesco exército de herois a serviço do bem, nas paróquias e
dioceses mundo afora. Inimigos da fé se aproveitam de vexames para
tripudiar nas fragilidades humanas.
As dores de parto a que apóstolo Paulo se refere é a
eterna luta das pessoas de bem contra a influência má do maligno,
na forma de soberba, desunião, corrupção, fuxicaria, ambição,
disputa desenfreada de poder, especialmente quando rola dinheiro e
prestígio. Nem na comunidade de doze apóstolos, houve unanimidade
moral. "Satanás tomou posse de Judas" (João, 13, 27),
ladrão das ofertas e traidor (João, cap. 12).
O Vaticano é um mini país do tamanho do Maracanã,
estrutura rígida e conservadora, dirigida por 43 autoridades e o
Papa. Fácil imaginar o tamanho das tensões entre cardeais, ao ponto
de o Papa, em fevereiro de 2010, pedir-lhes, em público, que evitem
dissensões. Ainda se referiu à "sporcizia"(imundície)
dentro da Igreja. Na época, o cardeal D. Tarcísio Bertoni,
secretário de Estado, por não ser carreirista diplomata, sofreu
perseguição até ser afastado. Acrescentem-se à crise do Vaticano
outros escândalos e milionárias indenizações, em vários países,
bem como o avanço dos evangélicos.
O Banco do Vaticano associou-se, na década de 70, ao
Banco Ambrosiano de Milão, onde pipocaram escândalos. Cardeais e
ordens religiosas são acusados de operações fraudulentas, "por
enquanto, não falo para não entristecer o Papa", segundo o
diretor do Banco, Gothi Tedeschi, afastado e respondendo a inquérito.
Cartas particulares do Vaticano, entre cardeais e o
Papa, foram surrupiadas e publicadas na imprensa. Um bispo e um
cardeal já estão presos em domicílio familiar.
Nas finanças, é difícil o controle do Papa. Devido a
rombos, ele nomeou o arcebispo D. Carlo, que enxugou as finanças e
denunciou culpados. Demorou pouco, criando ferozes inimigos, que lhe
ofereceram um "prêmio": nomearam-no núncio apostólico
nos EUA.
Da imagem dura de cardeal alemão, o Papa Bento XVI
transformou-se em cordeiro amável ao peso dos anos e das fadigas do
cargo, uma missão exigente e dolorosa como as dores de parto. As
dores de parto, na história humana, são acompanhadas de esperança
no sorriso de um novo e robusto rebento.
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