26
de abril Diário Incontínuo
SOLENIDADE
ACADÊMICA EM AMARANTE
Elmar Carvalho
Neste
domingo, por volta de sete horas da manhã, seguimos eu e o Reginaldo
Miranda, de carona em um automóvel dirigido por Márcio Freitas, com
destino à encantadora Amarante. Nós três somos formados em Direito
e pertencemos à Academia de Letras do Médio Parnaíba, promotora da
solenidade de posse a que iríamos assistir. Fomos tomar o café da
manhã na lanchonete dos irmãos Sales, na cidade de Água Branca, à
margem da BR, cujas paredes internas são cobertas por cartazes
eleitorais de políticos de todas as cores partidárias, sem
discriminação e preconceito por parte dos proprietários.
Logo
na entrada da amarantina cidade encontramos o poeta Neto Sambaíba,
que nos deu a notícia de que o helicóptero, que conduzira o
professor Manoel Paulo Nunes, pilotado por seu filho, o comandante
Raimundo Neiva, já sobrevoava a graciosa urbe. Ainda chegamos a
tempo de fazer uma visita ao Museu do Divino. Olhamos suas principais
peças, distribuídas em diferentes compartimentos do velho solar da
Avenida Desembargador Amaral. Perguntamos pelo seu fundador e
mantenedor, professor Marcelino Leal Barroso de Carvalho.
A
moça que nos atendeu, informou-nos que ele fora à missa. Quando
saímos, para irmos assistir à solenidade de posse do Dr. Olemar de
Castro na Academia de Letras do Médio Parnaíba, que aconteceria no
solar que pertenceu ao notável historiador Odilon Nunes, o
professor Marcelino vinha chegando com o seu irmão Melquíades,
intelectual e musicista de muito mérito, que me afirmou frequentar
meu blog, com certa assiduidade. Por feliz coincidência eu, o
Reginaldo e o Márcio fomos alunos de Marcelino, no curso de Direito
da Universidade Federal do Piauí.
O
mestre, além de haver criado o Museu do Divino – que foi feliz
inspiração para o poeta Olavo Brás Nunes instalar em Oeiras, sua
terra natal, outro Museu do Divino, dentro do qual existe a Galeria
dos Anjos Poetas e dos Poetas Anjos, na qual tenho a elevada honra de
ter o meu poema Noturno de Oeiras estampado em bela placa de vidro –
também reativou a Festa do Divino, com as ricas indumentárias do
imperador e da rainha, as belas flâmulas e estandartes, cujas
procissões percorrem as ruas, os becos e as ladeiras amarantinas.
Além
do aspecto religioso e devocional, Marcelino insere na festa eventos
culturais, mormente serenatas à moda antiga, tendo à frente seu
irmão Melquíades, mestre da música e de uma boa conversa. Meu
livro Lira dos Cinqüentanos foi lançado, alguns anos atrás,
através da programação cultural da Festa do Divino, num dos
históricos casarões da Avenida Des. Amaral. Fui honrado pela
presença de bons amigos, entre os quais os irmãos Cutrim, os
amarantinos Raimundo Luís e Álvaro.
Na
solenidade de posse do Dr. Olemar de Castro, encontramos importantes
figuras do mundo cultural e literário piauiense. Entre outras
personalidades emblemáticas dessa seara, lá encontramos a escritora
e empresária Nileide Soares, o escritor e ex-deputado Homero Castelo
Branco, o menestrel Neto Sambaíba, que na qualidade de presidente da
ALMP dirigiu o evento, o poeta e escritor Herculano Moraes, o poeta e
agitador cultural Virgílio Queiroz, meu amigo de várias décadas, a
professora Clara Leonor, esposa do escritor e conferencista Paulo
Nunes, o médico Francisco Almeida (Dr. Tatá) etc., além do
prefeito Luiz Neto, que garantiu construir o monumento do último
desejo do poeta Da Costa e Silva e um memorial em sua honra, que
certamente será da maior relevância para a cultura piauiense.
Antes
do início da solenidade, a amiga Nileide Soares teve a gentileza de
apor em minhas costas um manto acadêmico, dizendo-me, em amável
brincadeira, que não poderia deixar a descoberto o seu juiz. Pensei
tratar-se de uma veste sobressalente. No final da solenidade, ao
constar que ela me ornara com a sua própria insígnia acadêmica,
disse-lhe, retribuindo-lhe a lhaneza e devolvendo-lhe a capa:
– Se
eu soubesse que o manto era seu, não teria deixado que ele fosse
cobrir um pecador, deixando a descoberto uma santa!
Tive
a satisfação de ouvir duas brilhantes peças de oratória; uma da
lavra do professor Paulo Nunes, e outra, do novel acadêmico Olemar
de Castro. Nelas desfilaram figuras exponenciais da Academia de
Letras do Médio Parnaíba, que também ornaram a política e a
literatura do Piauí. Afrânio Nunes, antecessor de Olemar, foi
deputado estadual por várias legislaturas e dirigiu o Ríver durante
vários anos, além de haver ocupado outros cargos públicos de
relevo.
Luís
Mendes Ribeiro Gonçalves, o patrono da cadeira a ser preenchida na
solenidade, foi, por muitos anos, uma espécie de super secretário,
porquanto a sua pasta tinha atribuições que hoje estão delegadas a
várias secretárias, órgãos estatais e empresas de economia mista.
Na qualidade de engenheiro, projetou estradas importantes e os
magníficos prédios do Liceu Piauiense e da Escola Normal, que é
hoje o Palácio da Cidade de Teresina. Esse impoluto homem público,
conhecido carinhosamente como Dr. Lulu, foi ainda senador da
República e escritor de muito mérito. Exerceu também importantes
cargos da administração pública federal, entre os quais o de
secretário geral do Departamento Nacional de Correios e Telégrafos
– DCT e diretor geral do Departamento Nacional de Obras contra a
Seca – DNOCS.
Escrevia
esse notável membro da Academia Piauiense de Letras de forma
escorreita, clara e elegante, e detinha um alto poder de argumentação
e convencimento, em que a razão dominava. Suas interpretações,
fossem de caráter sociológico, histórico ou técnico, eram sempre
coerentes e pautadas por um raciocínio lógico e diamantino, talvez
adquirido em sua longa experiência de administrador público e de
engenheiro, mas também de intelectual amante das artes e da
literatura.
Os
dois discursos acadêmicos, de Paulo Nunes e de Olemar de Castro,
cujo pai, Olegário de Castro, na época em que foi prefeito de
Amarante, construiu a elegante escadaria do Morro do Pontal, que eu
chamo de Morro da Saudade, foram arrematados por um brilhante
pronunciamento do médico e acadêmico Tatá Almeida, em que foi
enaltecido o nunca assaz celebrado poeta Da Costa e Silva. Um opíparo
almoço, patrocinado pelo prefeito Luiz Neto, em sua residência,
coroou a magnífica festa de cultura e de letras.
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