Flagrante
da solenidade de lançamento, vendo-se Dílson Lages Monteiro,
Homero Castelo Branco, Elmar Carvalho, Reinaldo Torres e Antenor Rego
Filho
|
Elmar Carvalho, Antenor Rego Filho e Joaquim Neto |
14
de novembro Diário Incontínuo
O
INSONDÁVEL DESTINO DOS LIVROS
Elmar Carvalho
Desde
muito tempo, na medida do possível e sem radicalismo, tenho
procurado seguir o velho ditado: “boa romaria faz quem em sua casa
fica em paz”. Mormente nos dias de hoje, em que os ladrões agem,
muitas vezes, com desnecessária e descomedida violência (e em que o
trânsito se torna cada vez mais conturbado e perigoso). Mas até
quando o homem de bem deve ficar às ocultas e recluso, e o ladrão
solto e às claras?
Contudo,
mesmo estando sentindo incômodos efeitos colaterais da radioterapia,
resolvi atender convite do poeta, escritor e professor Dílson Lages
Monteiro, que relevantes serviços presta às letras piauienses,
através do magistério e de seu excelente portal Entretextos, e fui
assistir ao lançamento de seu livro O rato da roupa de ouro, que
além do ótimo texto ostenta as belas ilustrações de Ângela Rêgo.
O
evento aconteceu na livraria Entre Livros, na noite da última
sexta-feira. Logo à chegada, deparei-me com os velhos amigos Antenor
Rego Filho e Homero Castelo Branco, com os quais entretive agradável
palestra. Como o lançamento acontecia no interior de uma livraria,
em que eu me encontrava cercado de livros por todos os lados, caí em
tentação consumista e resolvi adquirir o livro A mística do
parentesco – uma genealogia inacabada (volume 5): Os Castello
Branco e seus entrelaçamentos familiares no Piauí e no Maranhão, da autoria de Edgardo Pires Ferreira.
Esse
livro não interessa apenas aos membros das famílias enfocadas, mas
a todos os interessados em história, porquanto todos os títulos em
que a obra se divide são iniciados por textos, que dizem respeito à
História do Piauí. Alguns membros da ilustre estirpe foram
contemplados com verbetes, alguns de mais alongado conteúdo,
mormente os que se destacaram no empreendedorismo, na política, nas
profissões liberais e nas artes, sobretudo a literária.
Fui
apresentado por Dílson Lages ao poeta Joaquim Neto, que não
conhecia. Revelou-me ele que já lera grande parte de meus poemas,
através de livros que se encontravam em poder de Maria, uma amiga
nossa, principalmente de meu filho João Miguel e da Fátima.
Disse-me ele que costumava se hospedar com os pais de Maria,
residentes na zona rural de Esperantina, quando de passagem por esse
município. Fiquei mais uma vez surpreendido com os caminhos
misteriosos pelos quais os livros chegam ao conhecimento de uma
pessoa, sobretudo se levarmos em consideração as pequenas tiragens
de nossas obras literárias, e a sua precária distribuição em
nosso estado, que quase sempre ocorre apenas entre amigos, familiares
e literatos.
Algumas
décadas atrás, o poeta Rubervam Du Nascimento me deu a notícia de
que encontrara uma socióloga em Paulistana, onde ele se encontrava
em serviço de fiscalização do Ministério do Trabalho, que havia
lido um livro de minha autoria em Recife, cidade onde ela estudara e
residia. Nunca enviei nenhum livro de minha autoria para a capital
pernambucana, de modo que fiquei deveras intrigado sobre como essa
socióloga, numa cidade de mais de um milhão de habitantes, fora ali
encontrar um livro deste modesto autor. Parecem ser insondáveis e
surpreendentes os caminhos de um livro.
Em
minha juventude, li um texto do escritor e historiador uruguaio
Eduardo Galeano em que ele dizia que escrever um livro seria como
colocar uma mensagem numa garrafa e atirá-la ao mar; a possibilidade
de que alguém a recolhesse e a lesse era muito remota. Pois a
socióloga, contactada pelo Rubervam em Paulistana, por cúmulo de
grande coincidência, porquanto muito raramente ele se deslocava a
essa cidade, realizou a façanha, algo milagrosa, de encontrar e ler
um livro de minha autoria na bela Veneza Brasileira, que cantei em
versos de minha adolescência, quando lá estudei durante o período
de três meses, nos idos de 1974.
E
o poeta Joaquim Neto, como se fosse o destinatário de uma mensagem
lançada ao oceano, encontrou os meus livros numa casa humilde da
zona rural de Esperantina. Fico feliz de, através desses encontros
improváveis, ter levado algo, que espero tenha sido bom e útil, a
alguém que não conhecia, e cujos fatos vieram a meu conhecimento
por inesperadas coincidências e circunstâncias.
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