CANÇÃO
MELANCÓLICA
Clóvis
Moura (1925 - 2003)
Nasci
coberto de luas.
Minha
mãe silenciou:
vai
ser poeta das ruas,
e
o vaticínio acertou.
Por
isto nas praças públicas
meu
verso se faz fumaça,
ama
o silêncio, a penumbra
que
os cadáveres fabricam
ou
o riso emurchecido
dos
vagabundos notívagos.
Dentro
da noite navego
no
meu barco sem comando
enquanto
o mundo transita
em
um mar feito de gritos.
Solto
nuvens sonolentas
com
o meu verso de fumaça:
que
importa se ele naufraga
se
sou poeta que passa?
A
Santa me olha solene:
será
Saudade ou tristeza?
Fico
perdido na dúvida
e
me duplico: incerteza.
Por
isto é que sou poeta
pois
a mãe sentenciou:
não
caminho em linha reta
e
fujo do que já sou.
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