COGITAÇÕES
Jacob Fortes
Há momentos em que a mente abandona o seu posto de vigilância
e, entre prostração e calundu, mergulha em profundos e silenciosos
devaneios. É uma circunstância
inesperada. Numa introversão indefinida se põe a ruminar sobre quase tudo: o
ontem, o hoje, o amanhã, enfim, um cortejo de vultos pardacentos dentre os
quais figuram as vitórias, que tonificam; as derrotas, que deixam o travo; a
desopressão pelos benefícios recebidos e concedidos; a compunção pelos atos
malévolos (quem nunca os cometeu, ainda que involuntariamente, que se professe
imaculado), mais das vezes acesos, martelando, fazendo o seu autor purgar em
arrependimentos. É o seu jeito paciencioso de vingar-se.
Enquanto perdura o alheamento letárgico, a mente se detém nas
suas escavações particulares fazendo desfilar o cortejo das legendas nevoentas:
saudades, de pessoas e coisas; lembranças: esquivas, desgastadas, memoráveis; a
carta fechada do porvir; o jardim da mocidade — que se dizia eterno,
imarcescível, — progressivamente emurchecido ante o escoamento incontornável
dos anos. E o filme segue exibindo legendas múltiplas que se alternam entre a
melancolia, a taciturnidade, a alacridade.
Mas, assim como desperta o corpo que se estira em sesta
dormitiva, os devaneios também acordam.
A mente, como que alfinetada, estremunha-se de súbito e dá-se por
encerrada a introspectividade.
Reativado o radar da mente o nauta, que se houve retido por
falta de bússola, dar prosseguimento à faina de navegar. Restabelece-se, então,
a rotina; o discernimento reassume o leme.
Este enunciado, ainda que exprima apenas o imaginário do
narrador, é factível; pode acometer a qualquer um. É o que sucede aos que
apascentam o olhar na pradaria do vago ou nas baforadas de um cigarro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário