Natal Sertanejo
José Pedro Araújo
Escritor e historiador
Se o Natal é uma festa cristã – e
essa deve ser a sua verdadeira essência -, não é menos verdade que é também a
festa do comércio, período em que os empresários vendem como em nenhuma outra
época, momento para troca de presentes e de grande felicidade. Atestam os
historiadores que o dia 25 de dezembro foi escolhido pelo Papa Júlio I, aí por
volta do Século IV, para comemorar o nascimento de Jesus Cristo, transformando
uma festa que nasceu pagã em um ato religioso. Inicialmente realizada para
coincidir com a Saturnália dos romanos e com as festas germânicas e célticas do
Solstício do Inverno, viu a igreja uma oportunidade de ouro para comemorar e
divulgar o nascimento do Filho de Deus. E a figura do Papai Noel recaiu sobre
uma personagem que, dizem, de fato existiu: o Bispo São Nicolau, nascido na
Grécia no século III.
Transitando um pouco pela
história, vamos encontrar que a fama de bom velhinho do bispo foi ganha quando
ele ficou sabendo que um certo cidadão da sua cidade, que possuía três filhas,
por não ter condições de pagar o dote do casamento delas, resolveu vendê-las à
medida que iam atingido a idade própria para o casamento. Constrangido e
penalizado com aquela situação, o tal velhinho foi até lá, incógnito, e
arremessou pela janela uma pequena bolsa de couro cheia de moedas de ouro que
caiu justamente sobre uma meia que havia sido posta para secar na lareira.
Procedeu da mesma forma com a segunda filha. E o pai das moças, profundamente
agradecido por aquele gesto humanitário, ficou na espreita para descobrir quem era o benfeitor que havia
impedido que ele praticasse aquele ato que tanto lhe feria o coração.
Descoberto a figura de São Nicolau, saiu ele a divulgar o nome desse generoso
bom velhinho. Assim, por esse tempo, a imagem que se tinha era a de um velhinho
vestido de bispo e não com as vestes em vermelho brilhante como hoje o
conhecemos.
Foram os holandeses, no século
XVII, que levaram para os Estados Unidos a tradição de distribuir presentes
para as crianças usando a lenda de São Nicolau(Sinter Klaas). Depois disso,
dois escritores americanos se encarregaram de impulsionar a fama do bom
velhinho, por eles chamado de Santa Claus. O primeiro, Washington Irving, em
1809, escreveu um livro em que enaltecia as qualidades de Papai Noel, um
velhinho bonachão, que montava um cavalo branco voador e arremessava presentes
pelas chaminés. O segundo escritor, poeta e professor, Clement Moore, em 1823,
além de enaltecer ainda mais a aura mágica descrita e popularizada por Irving,
trocou o cavalo de Papai Noel por um trenó puxado por renas voadoras.
Mas a figura de Papai Noel, só
foi de fato definida quando o desenhista, também americano, Thomas Nest, fez a
primeira ilustração do bondoso velhinho descendo pela chaminé, mas ainda do
tamanho de um duende, tal qual vinha sendo divulgado desde muito tempo. Somente
anos mais tarde, a imagem foi mudando, crescendo, e ficando mais barriguda, com
cabelo, barba e bigodes longos e brancos, e a aparecer no pólo norte. Mas, o
Papai Noel como nós conhecemos hoje, foi inspirado pelo artista Habdon
Sundblon, que se inspirou em um velho vendedor aposentado para realizar uma
campanha para a Coca-Cola em 1931.
Aqui em terras do Curador, o
nosso Natal começou a ser comemorado de maneira simples e sem muita pompa. À
falta de nozes e castanhas, do panetone e do peru de natal, as famílias se
serviam de iguarias simples baseadas em produtos da terra, como o porco e a
galinha caipira. Sem a iluminação feérica das grandes metrópoles, por nos
faltar lâmpadas e energia elétrica, tínhamos que nos contentar com a luz dos
candeeiros e, mais tarde, com a do potente Petromax. Assim, como realizar uma
autentica ceia de natal?
Lembro-me que quando criança, eu
ficava maravilhado com os cartões de natal enviados para a minha família por
alguns missionários americanos e canadenses. Mostravam paisagens belíssimas,
com a neve cobrindo as casas e os vastos pinheirais, e com Papai Noel voando em
seu trenó puxado por renas, cheio de presentes embrulhados em papel brilhante,
amarrados por belíssimos e multicoloridos laços de fita. Os cartões vinham com
mensagens impressas em inglês, com palavras para mim desconhecidas (Merry
Christmas, Santa Claus, Christmas Tree, Jingle Bell, Candle, Candy Cane,
Christmas Pudding, Stocking, Gift, Presents, Sleigh, Star, Light e Happy
Holydays – tudo escrito com letras em vermelho e verde brilhante).
Na minha casa não tínhamos o
hábito de realizar a ceia à meia noite. Seguíamos todos para a Igreja Cristã
para participar de um culto especial, com a apresentação de um auto de natal,
que muito nos emocionava. A árvore de natal, ao invés de um pinheiro, planta
inexistente em nossas florestas, era substituída por um frondoso galho de
pitombeira cheio de cachos com o fruto maduro (o enorme galho só era trazido no
dia da festa, para manter as suas folhas vivas e brilhantes). O galho trazido
era decorado com luzes e enfeites natalinos. Era uma festa belíssima, bem
ensaiada e que, com o tempo, virou atração para a cidade inteira, ocasião em
que a comunidade enchia o templo para assistir à linda apresentação que os
membros da Igreja Cristã Evangélica de Presidente Dutra dedicavam anualmente
aos seus concidadãos na noite de Natal.
O Natal continua a ser, sim, uma
festa cristã, onde as famílias se reúnem para louvar e festejar o nascimento de
Jesus Cristo, o Filho de Deus. É também um período para reflexões e de
redirecionamento das nossas vidas, substituindo tudo de ruim e mal feito que
fizemos no ano que passou, por coisas novas e voltadas para o bem. Tempo para
louvar Aquele que deu a Sua Própria vida para salvar nós pecadores e redirecionar
o nosso futuro. Tempo, enfim, de Paz, Amor e Alegria no seio das famílias.
Feliz Natal a todos e Um Ano Novo
Venturoso e Cheio de Grandes Realizações e Muita Paz no Coração!!!!!!!
Fonte: Blog Folhas Avulsas
Poeta,talvez já estejas navegando a bordo do seu Novo Tremembé para varar a barreira do tempo e alcançar primeiro que nós o novo ano que está para começar. Quero apenas desejar um Ano Novo repleto de felicidades e que o blog do Poeta Elmar possa continuar nos presenteando com a sua rica e fabulosa coletânea de textos. Happy New Year!
ResponderExcluirCaro JP Araújo,
ResponderExcluirConforme narrarei oportuno tempore, o motor do Novo Tremembé bateu catolé na pre-inauguração, ao que parece por imperícia do piloto, garoto bisonho e maroto, que acelerou na hora errada ou escacholou o motor de forma exagerada, mas depois em viagem experimental voltou a funcionar a contento. Curiosamente, embora o novo barco ou casco seja mais pesado que o anterior, que era inflável, o pequenino e bravo motor funcionou melhor com ele, creio que por causa de sua hidrodinâmica, que desliza com menos resistência sobre as águas do Velho Monge.
Quanto à velocidade, claro, é bem lenta, mas não pretendo apostar corrida com ninguém, de modo que ele cumpriu bem seu papel. Não chegamos e nem desejamos chegar jamais nem às quintas e nem aos bilinguinguins dos infernos, como dizia o nosso erudito Carlos Said, nos seus áureos tempos de comentarista esportivo, porquanto desejamos o paraíso.
Saúde e sucesso sempre, neste e nos vindouros anos.
Estimado José Pedro Araújo:
ResponderExcluirLi há pouco a sua crônica "Natal sertanejo." Ela me leva ao tempo em que, menino-adolescente, em tardes de Natal, gostava de ir, em companhia de amiguinhos que se me apagaram, infelizmente, da memória, visitar os presépio de Teresina. Que prazer, que alegria me dava visitar alguns presépios nas redondezas da Rua Arlindo Nogueira esquina com a São Pedro! Eram tudo alegrias Uma pequena peregrinação à busca dos belos presépios de residências em Teresina. Não eram residências luxuosas. Eram casas de classe média para baixo, mas aquelas caminhadas que dava para o encontro com o querido presépio era o que me importava. Conto, de resto, essa aventura no meu livro "As ideias no tempo," lançado há tempos aí em Teresina.
O seu texto natalino é bastante ilustrativo, traz informações que desconhecia e por isso me deu prazer de o ler.
Seu estilo é cuidadoso, fluente, qualidade não muito comum entre historiadores que, em geral, são um tanto pesados, com poucas exceções.
Posso lhe dizer que farei parte do grupo de seus leitores. Queria lhe fazer uma pergunta: "Você é piauiense?" Se não me engano, li, em algum lugar, que não é, porém, reside em Teresina há algum tempo.
Aproveito para renovar-lhe os votos de um Ano Novo de 2016 com muita paz, saúde e produção literária e histórica.
Um abraço neste primeiro dia de Ano Novo.
Cunha e Silva Filho
Meu caro Cunha e Silva Filho,
ExcluirComeçar o ano com um estímulo do tamanho do que me fazes acima, é fomento mais do que suficiente para ajudar este escriba a seguir morejando na confecção dos seus singelos e despretensiosos textos.Acredito ser essa uma das maiores vantagens de um ser humano quando entra na senectude: a carga de emoções pretéritas acumuladas e prontas a serem rememoradas. Por esta razão, sigo insistindo na incansável senda para resgatar o nosso passado, algo diferente de tudo o que está aí. Sou maranhense de nascimento, filho de família piauiense, e resido e constituí família nesta cidade desde os anos setenta, com pequeno intervalo de ausência para concluir meus estudos. Por esta razão, amo esta cidade como se houvesse aqui nascido. Por fim, quero dizer-te que sinto-me lisonjeado em tê-lo como leitor dos nossos pobres textos postados no Folhas Avulsas.
Feliz 2016 para todos da sua família.
Meu caro Poeta,
ExcluirTemo perder o convívio com o nobre amigo em decorrência desse instigante Tremembé. Não por conta de um naufrágio, ou coisa que o valha, pois sei que és um nadador de bom calibre, mas apenas e tão somente porque parece que estás se transformando rapidamente em um aficionado marinheiro e logo poderá obter estímulos para conhecer o mundo a bordo de um veleiro, como faz hoje a família Schurmann. De qualquer forma, tenho me deliciado com a sua aventura náutica a bordo do seu barco de estimação, e acredito que dele virão bons textos para nossa felicidade. Grande abraço.