A ARANHA
Da Costa e Silva (1885 - 1950)
Num ângulo do teto, ágil e
astuta, a aranha
Sobre invisível tear tecendo a tênue
teia,
Arma o artístico ardil em que as
moscas apanha
E, insidiosa e sutil, os insetos
enleia.
Faz do fluido que flui das
entranhas a estranha
E fina trama ideal de seda que a
rodeia
E, alargando o aronhol, os elos emaranha
Do alvo disco nupcial, que a luz
do sol prateia.
Em flóculos de espuma urde, borda
e desenha
O arabesco fatal, onde os palpos
apoia
E, tenaz, a caçar os insetos se
empenha.
Vive, mata e produz, nessa faina
enfadonha;
E, o fascinante olhar a arder
como uma joia,
Morre na própria teia, onde
trabalha e sonha.
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