O MOSQUITO
Pádua Santos – APAL, Cadeira nº
01
Há
um dito popular sertanejo que reza o seguinte: “Homem que bebe e joga; mulher
que erra uma vez; cachorro que come bode; são errados todos três”. Decorei isto
quando menino, e,se agora o relembro, é porque ficou na minha lembrança a
imagem de um fato trágico – uma triste cena do holocausto que infelizmente era
feito, à época, aos infelizes cachorros que aprendiam com as onças a mania de
comer bodes.
Foi na minha fazenda São Pedro da
Boa Sorte, mais conhecida por Alto dos Borges, localizada no município de
Caxingó, onde presenciei a aplicação desta draconiana e consuetudinária lei. E
lembro bem que na hora da execução, como se tratava de uma cadela simpática e
querida pelos moradores da localidade, tornou-se difícil a escolha do carrasco.
Mas o certo é que ela foi executada, e quem teve a coragem de aceitar friamente
o posto de algoz foi um elemento que pouco se sabia do seu nome, posto ser
conhecido apenas e simplesmente pela alcunha de “Mosquito”. Vê-se, portanto,
que ali naquela margem do Rio Longá, foi o “mosquito”o grande temor dos
cachorros delinquentes.
Mas
não se atribua somente aos cachorros tal temeridade. É atualmente de igual
modo aterrorizante o famoso mosquito “Aedes Agegyti” - o transmissor da Dengue, da
febre “Chikungunya” e do danoso vírus “Zica”- malvado pernilongo voador que
desde os anos cinquenta judia com as pessoas e, como se não bastasse, aparece
agora com a novidade de fazer com que as crianças venham ao mundo com
microcefalia. É ele atualmente a maior preocupação da saúde de vários países, por
ser o animal que mais provoca temor às mulheres, principalmente naquelas que se
encontram em estado interessante.
Por
outro lado, nem tudo é novidade. Já faz muito tempo que os mosquitos perseguem
os homens. O sempre festejado escritor Humberto de Campos, no seu excelente
livro de crônicas intitulado Lagartas e Libélulas, dá conta de que em prisca
era, mais precisamente no apogeu das grandiosas conquistas romanas, quando
triunfava a bravura do regime dos Césares, o glorioso Imperador Tito Flávio
Vespasiano Augusto morreu repentinamente por força de um insignificante
mosquito que penetrou em suas narinas.
Desse
modo, podemos conjeturar com larga margem de acerto:o aparentemente
mesquinho mosquito que vem atualmente, na sua qualidade de vetor biológico, preocupando
governos, provocando febres, dores, coceiras, conjuntivites, dengues e
microcefalia,pode muito bem ter sido o mesmo minúsculo inseto que no passado
remoto foi causador de considerável baixa no incontrastável Império Romano.
Eita bicho desalmado! O que tem de pequeno tem de perigoso.
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