O MINC E
OS OPORTUNISTAS
O Ministério da Cultura
(Minc) surgiu em 1985, no governo do
sr. José Sarney. Antes, as atribuições
dessa pasta eram da competência do Ministério da Educação, que se chamava
Ministério da Educação e Cultura (Mec). A ele, Minc, coube a responsabilidade
pelas letras, artes, folclore e outras formas de expressão da cultura nacional,
bem como pelo patrimônio histórico, arqueológico, artístico e cultural do
País.
Esse desmembramento, essa
retirada de uma costela do Ministério da Educação e Cultura para criação de
outro ministério, segundo Fernando Gabeira foi resultado de muitos esforços, a
fim de "recolher e preservar nosso patrimônio artístico e histórico". No entanto, esse propósito
acabou sendo desviado e corrompido pelos
desgovernos do lulopetismo, que transformaram o Minc num lupanário. Tal
a farra de distribuição de cargos e sinecuras entre petistas e seus apaniguados. Além da concessão
de verbas, bolsas, prêmios e viagens ao
exterior com hospedagens em hotéis de luxo aos
artistas e intelectuais amiguinhos. Houve até um ministro cantor, que
passava mais tempo fora do ministério, cuidando de sua cantoria e excursionando
pela África, mas no final do mês,
recebia seus vencimentos integralmente.
Daí a reação desses artistas e
intelectuais à fusão do Ministério da
Cultura com o Ministério da Educação. Ou melhor: da substituição do ministério
por uma Secretaria Cultural, com a mesma competência, as mesmas funções,
atividades e finalidades, porém,
vinculada ao Ministério da Educação.
Diga-se, reação de uma
minoria corporativista e patrimonialista, agindo em causa própria. Gente que não está nem aí
para a cultura, e sim, para defender seus interesses. Tanto que nunca reagiu contra o abandono de nossos museus nem de
nossas bibliotecas. Como é o caso, entre outros, do Museu do Índio, desativado e em ruínas. Do Museu Nacional de
História Natural da Quinta da Boa Vista, fechado e sem perspectiva de
reabertura. Também do Museu do Homem Americano, na Serra da Capivara, no Piauí,
que, sem verbas, ainda não fechou, graças à imbatível cientista Niéde Guidon. A
Biblioteca Nacional, a cada chuva, perde centenas de livros raros por causa das
goteiras e com uma obra paralisada há mais de ano. Tudo isso de conhecimento
público. E nunca mereceu desses intelectuais e artistas um mero protesto. Como
disse Merval Pereira, também não se insurgiram contra "a lista de salários
astronômicos pagos pela estatal Empresa Brasil de Comunicação (EBC), falida e
sem audiência". E finaliza o ilustre e destemido articulista do jornal
"O Globo": " Talvez explique a gana com que defendem um governo
criminoso".
Essa gente está acostumada a
fazer cinema, teatro e publicações de
livros à custa do Estado. Assim é fácil. Ora, que faça às suas expensas
e vá disputar o mercado. Se a obra for boa terá espectador. Se não tiver, como
normalmente acontece, é porque realizou uma porcaria. O que não é justo e
decente é a utilização do dinheiro
público para suas aventuras.
Cinema não é para
oportunistas, espertalhões, incompetentes, ou canastrões. Disse certa produtora
- uma das beneficiadas - que "a indústria criativa não pode ser
tratada como coisa de vagabundos", referindo-se a substituição do Minc
pela Secretaria Cultural. Ora, se ela se
julga industrial que proceda como
tal e aplique os próprios recursos nos
seus projetos, e vá competir no mercado. Só que isso exige competência e, sobretudo trabalho, o que não
é o seu forte - nem o de seus colegas.
Anselmo Duarte, por exemplo,
realizou o filme "O Pagador de Promessa" com dinheiro do próprio
bolso, sem qualquer ajuda oficial e arrebatou a Palma de Ouro, no festival de Cannes. Fato exclusivo, que até hoje a tal
"indústria criativa" não conseguiu repetir, apesar de todo apoio
governamental.
José Ribamar Garcia -
Membro da Academia Piauiense de Letras - E mail: jrg@jrgadvogados. com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário