sábado, 2 de julho de 2016

Universo na ponta de uma agulha


Universo na ponta de uma agulha 
(tema oportuno para levar aos jovens)

José Maria Vasconcelos 
Cronista, josemaria001@hotmail.com

         Minha neta Luizinha já se surpreende com os mistérios das coisas minúsculas, quase invisíveis. Correu para me mostrar uma florzinha branca, miudinha que um grão de arroz, colhida na beira da calçada: “Vô, olha que coisinha tão linda!” E aí me acendeu a crônica.

         Luizinha, só quatro aninhos, ainda não sabe o significado da palavra NANICO ou ANÃO, termos tão familiares ao cotidiano. Ou de seres e coisas infinitamente miúdas como caroço de arroz, moléculas e átomos, um mundo de infinitos mistérios quanto o universo sideral.

Luizinha vai demorar anos de estudos para entender a etimologia do radical grego, NANNOS, que, a partir de 1959, gerou o neologismo pouco conhecido, NANOTECNOLOGIA. A garotada, mesmo desconhecendo fascinantes princípios e descobertas, já desfruta, até mais que muitos adultos, os benefícios da NANOTECNOLOGIA. Basta observá-los manuseando computador, pendrive ou crivando um chip no celular.

O termo NANOTECNOLOGIA foi adotado 1974, na Universidade Científica de Tóquio, quando cientistas pesquisavam instrumentos tão minúsculos quanto promissores. Para entender um pouco desses mistérios científicos, basta olhar a evolução das gravações musicais: há 60 anos, botava-se um disco de cera, 78 rotações, na vitrola, que só concentrava uma música de cada lado, com imperfeições e ruídos. Final dos anos 50, a revolução do disco de vinil, 33 rotações, som estéreo, seis músicas de cada lado. De 2000 para cá, o nanico pendrive arquiva centenas de músicas ou uma biblioteca de toda a literatura brasileira. E lembrar que tudo começou com a ciência espacial: quando o homem pisou na Lua, o computador da Nasa ocupava uma sala inteira.

 A NANOTECNOLOGIA é como reduzir a Lua numa moeda. A vida por um chip vasculhando nossas esferas cerebrais, coração, primeiras batidas cardíacas no útero. Aparelhos médicos sofisticados para detectar doenças mais estranhas, que outra exame não corresponderia.

A florzinha encanta a Luizinha, com razões que a vã ciência nanotecnológica está a anos luz de descobrir. Porque os gênios se acham mais inteligentes que a inteligência divina. Nem precisa olhar pros céus, se na ponda do nariz existe um mistério. Basta observar o salto de uma pulga: enquanto atletas conquistam glórias e ouro com salto de três ou quatro metros, a pulga salta centenas de vezes seu peso e altura. A formiga carrega uma presa dezenas de vezes mais pesada, e  o homem se esfola para levantar uma barra de ferro de seu peso. A formiguinha vem de longe, sobe a perna da mesa e descobre partículas de alimento, por faro inimaginável nos humanos.

Confesso que não me seduzo com os assombros científicos, mesmo em minúsculas nanografias. Parece-me que quanto mais nos entupimos de remédios ou nos armamos de aparelhos, falta-nos a inocência e sabedoria de Luizinha: “Vô, olha que coisinha tão linda!” O reino dos céus começa por uma florzinha ou uma semente de mostarda. Não existe maior milagre do que a fé, “a certeza na esperança do impossível acontecer” – não é, Paulo apóstolo?    

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