domingo, 10 de setembro de 2017

GALO MAGRO


GALO MAGRO

Elmar Carvalho

Galo Magro
         não tinha
         penas multicores
         não tinha canto
         nem encanto
         não tinha crista
                  nem cristais de prata.
Sim, senhores, porque Galo Magro
        era apenas o apelido
        de um menino pobre,
        de um menino feio,
        de um menino com fome,
        de um menino sem nome,
como milhares de
outros meninos do Brasil.
        Galo Magro
        jogava bola
mas um dia
para driblar a fome
encravada no seu bucho
ainda menino foi ser
motorista de táxi.
        Um dia,
        um dia como
        outro qualquer,
        um dia simples
sem exuberância de sol
e sem adorno de nuvens
um homem mandou
que o Galo Magro
fizesse uma corrida
        à passagem do
        “Vai-não-Volta”.
        E o Galo Magro
        foi e não mais voltou.
Foi encontrado morto
        com o olhar de
        vidro absorto
        fitando o vazio
        do sem futuro.
Foi encontrado morto
        com os olhos tristes abertos
        fitando talvez a quimera
da vida perdida de quem nada espera
da vida perdida
de pobre diabo
completamente morto
morto ainda em vida
de morto morto e acabado.

                (Uma rosa rubra de sangue coagulado
                brilhava muito viva e linda em seu
                peito frágil de Galo Magro magro.)    

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