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O CANTAR DA FOGO - APAGOU
Antonio Gallas
Ao ler crônica do confrade Pádua
Marques (Academia Parnaibana de Letras) com o título "A morte suspeita do
bem-te-vi", lembrei-me de uma crônica que consta em meu livro
FRAGMENTOS sobre quando criança, juntamente
com outros meninos da época saíamos à caça de pequenos pássaros que
cantarolavam nos galhos das frondosas árvores dos nossos quintais. Transcrevo
a seguir a referida crônica por mim escrita no ano de 2008.
Acordei ouvindo o canto de uma rola
fogo – apagou. Veio-me à memória o tempo em que quando criança ia passar as
férias no lugar Itaperinha ou Taperinha onde meu pai possuía uma pequena
fazenda de gado. Hoje essa propriedade me foi deixada por herança.
Mal os primeiros raios de sol
iluminavam a manhã, pulávamos da rede, pegávamos armas e munição – baladeira
(estilingue), araçá verde, pitombas e
ganhávamos às matas para a matança de rolinhas, pipiras, bem-te-vis, colibris e
outros pequeninos seres da natureza que nenhum mal faz ao homem. Até mesmo os
inofensivos calangos que encontrávamos pelo caminho eram sacrificados com os
tiros de nossas baladeiras.
Em nossa mentalidade de criança e
no afã de mostrarmos quem matava mais pássaros ou quem era melhor na pontaria,
esses inofensivos pássaros eram sacrificados sem qualquer sentimento de culpa
de nossa parte.
Longe estávamos de imaginar que de certa forma contribuíamos para a
devastação da nossa natureza.
Eu nunca fui bom de pontaria,
pelo menos com baladeira, mas tinha um negro, o Sebastião do Badí, filho de um
agregado[1] de meu pai que era um verdadeiro “demônio”. Atirava com as duas
mãos e não errava um tiro. Disse-me para eu ter uma mão certeira eu teria que
comer cru, o coração de um beija-flor.
Matei um indefeso colibri,
arranquei-lhe o coração e o engoli de uma só vez, sem mastigá-lo. Meu estômago
“embrulhou” tal qual quando tomávamos óleo de rícino para expulsar as
lombrigas, coisa que todo menino no interior tem pra dar e vender.
De nada adiantou. Continuo não
tendo boa pontaria com estilingues.
Depois da experiência de comer cru, um coração
de beija-flor, o primeiro tiro que dei errou o alvo e acertou bem no olho
esquerdo da minha irmã Izabel, a Belinha. Quase fica cega, a pobrezinha! Ainda
hoje ela tem problemas na visão por causa desse tiro.
Ao rememorar essas lembranças de
infância fico pensando quão rude o homem é, quando desenfreadamente procura
destruir o que é de mais útil para sua existência - a natureza.
Por que isso? Que razões levam o
homem a poluir o meio ambiente, devastar as floresta e matar desenfreadamente
milhões de animais todos os anos?
É preciso parar para pensar, caso
contrário, em pouco tempo, animais, pássaros, peixes e insetos estarão
extintos.
E o que será então do próprio homem?
[1] Morador da fazenda
Professor Gallas, esse sentimento de culpa também carrego comigo. Menino interiorano, caçava sem dó nem piedade esses pequenos seres que hoje devolvem o malefício com doses grandiosas do seu melodioso canto nos nossos quintais.Pago a minha dívida diariamente alimentando cerca de cinquenta rolinhas livres todas as manhãs.Vou fazer isso enquanto forças eu tiver!
ResponderExcluirMeu caro José Pedro, fazíamos isso levados pela nossa inocência de criança interiorana, não por maldade. Também à época não tínhamos as informações e a consciência que temos hoje. Continue alimentando as rolinhas do seu quintal. Qualquer pequena atitude que fizermos em defesa desses pequeninos seres e de outros da natureza, estarmos contribuindo para salvar nosso planeta e nos redimindo de um pecado inconsciente que, com certeza Deus já nos perdoou. Um grande abraço,
ResponderExcluirAntonio Gallas
..."estaremos contribuindo..."
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