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OS POEMAS E OS PEIXES DE DOM RUBERVAM
Elmar Carvalho
Nesta madrugada sonhei que
participava de um encontro de literatos, sobretudo poetas. Só gravei do sonho o momento em que o poeta
Rubervam Du Nascimento discursava. Não recordo suas palavras. Eu o via em carne
e osso, mas era como se o visse através de um televisor. Meus olhos pareciam
ter uma espécie de zoom, pois o seu rosto parecia estar enquadrado em um close,
de modo que não lhe via o restante do corpo.
Conheço-o desde os idos de 1978,
quando ambos éramos colaboradores da página literária coordenada pelo vate
Menezes y Moraes, e quando houve uma forte interação cultural entre poetas
teresinenses e parnaibanos. Nessa época existiu uma forte aproximação literária
entre as duas cidades. Poetas da capital e litorâneos fizeram parte das mesmas
antologias e coletâneas. Foram partícipes dos mesmos eventos literários.
Certa vez, Rubervam foi a
Parnaíba a serviço de sua repartição. Fui visitá-lo no hotel em que se
hospedou. Trouxera uma pequena máquina de escrever portátil, e com todo o
entusiasmo de sua juventude produziu alguns poemas no apartamento. Depois, ao
longo da vida, mantivemos a amizade, mas nunca nos frequentamos com
assiduidade. Contudo, sempre mantivemos uma admiração e fraternidade
recíprocas. Quando nos encontramos, casualmente ou não, a conversa flui com
muito entusiasmo e alegria.
Embora não tenha ele se
transformado num ermitão, tornou-se um tanto arredio a certas instituições e
confrarias, sobretudo as de elogio recíproco e as de caráter corporativista. O
poeta nunca aceitou e nunca fez concessões espúrias. Sempre manteve a sua
postura um tanto reservada e arredia, embora seja cordial e de fácil convívio.
Manteve sempre a sua linha poética, comprometida com o novo e com a pesquisa,
buscando sempre as soluções inventivas, e não as de fácil apelo ao gosto
popular.
Mantém-se íntegro e fiel a si
mesmo. Ganhou dois importantes prêmios literários nacionais, com dois de seus
livros, um dos quais Os Cavalos de Dom Ruffato, mas, ao que parece, nunca fez
muita questão de divulgá-los na província. Casado, há muitos anos, com a poeta
Carmem Gonzales, que oficia na sua mesma linhagem poética, que busca a síntese,
o inusitado e a inventividade.
Seguindo na contramão do usual,
publica seu principal livro, A Profissão dos Peixes, a cada cinco anos, em edição
revista e diminuída, de modo que essa obra se torna cada vez mais magra, como
se passasse por radical lipoaspiração literária. Num paroxismo, poderíamos
dizer que o poeta poderia alcançar a síntese ou o símbolo do peixe, que seria
talvez a sua espinha, ou seu fóssil estampado em alguma pedra multimilenar. Dom
Rubervam é um bom amigo e um poeta visceral.
9 de fevereiro de
2010
Parabéns pelo esmerado texto, meu amigo. Tivesse tido a intenção de tecer críticas a toda a produção literária do poeta Du Nascimento, não teria ido tão fundo, chegado tão longe, na análise da sua produção e do seu eu, do caráter do artista, emfim.
ResponderExcluirMuito obrigado,caro José Pedro.
ResponderExcluirO Rubervam é agora um quatrocentão paulistano.