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CRIMES NA CATEDRAL : MIMETISMO
IANQUE?
Cunha e Silva Filho
Não é esta que lhe estou agora
escrevendo uma crônica-reportagem nem colhi tampouco dados mais consistentes e
de natureza policial-investigatória. O que me chamou a atenção de observador
para os crimes da Catedral em São Paulo pelo menos, duas coisas básicas: 1) o
inusitado do lugar do crime horripilante; 2) uma associação que faço no que diz
respeito à poderosa influência que os países hoje sofrem do mundo civilizado e
do mundo bárbaro.
Sempre tenho meditado muito sobre
assassínios cometidos, sobretudo no EUA, com matadores bem armados que, de
repente, chegam a um local e começam a atirar em pessoas inocentes, sejam
crianças, adultos, adolescentes, idosos, pouco importa. O palco do crime vira
uma tragédia sem proporções e ganha manchetes pelo mundo afora. O mais
terrível: o culpado comete suicídio e reduz todo poder de punição legal a nada.
Só restam mortos, inocentes e, geralmente, um culpado. O ato insano, abominável
vira metafísica para filósofos farta matéria investigações e pesquisas de
psiquiatras, psicólogos, sociólogos e antropólogos.
Óbvio que crimes hediondos sempre
houve na Humanidade. Os EUA nem se fala. Tanto assim que lá o cinema americano
é muitíssimo fértil na produção de filmes de horror, de crimes inimagináveis,
tanto por cineastas menores quanto por gênios como o emblemático Alfred
Hitchcock.
Uma hipótese minha e que venho há
algum tempo amadurecendo é que o fato de uma civilização centrada cada vez mais
no locus urbano e num mundo globalizado e virtualizado com crescente aumento de
tecnologia e sofisticação de modos de vida e de automatismos tende a exercer
uma forte influência deletéria na psique do ser humano, principalmente de
indivíduos muito inclinados, seja por tendência inata de desarranjo mental,
seja por outros motivos inconfessáveis, a partirem para maquinar atos
diabólicos contra inocentes e indefesos. O caso desse homem ainda moço em São
Paulo seria um paradigma desse tipo de gente com potencial para atitudes
brutais e letais. São verdadeiras armas humanas a serviço de um cérebro estiolado
e talvez até sem cura por parte da Medicina, porém que pelo mens poderiam ser
tratadas pelos órgãos de saúde do país. O que não pode é ficarem livres nas
ruas com um perfil desses de estranhos hábitos. Esse foi o caso do atirador da
Catedral.
Outra circunstância reveladora é
que o atirador que mato quatro ou cinco pessoas, consoante demonstraram as
investigações policias e divulgadas pela imprensa escrita televisa e nas redes
sociais, era um criminoso anunciado dado que, em casa e recluso no seu quarto,
usava como divertimento, ou não, jogos eletrônicas, desses que mostram ao
usuário como atirar em seres humanos aleatoriamente – é isso mesmo o que quero
dizer.
Ora, esse tipo de jogos, nas mãos
de psicopatas, pode ser uma prévia de futuros atos criminosos por parte de
doentes mentais não tratados. Cumpre repensar até que ponto esses jogos
eletrônicos podem estimular ações violentas e crimes macabros. No entanto, vejo
com preocupação esse tipo generalizado de brincadeiras virtuais de matança
indiscriminada. Os multimilionários fabricantes desses gadgets deveriam pensar
duas vezes com o que podem provocar de pernicioso e de deformação de
personalidades nessa meninada que se utiliza desses jogos banalizadores desse
valor inestimável e sem preço, que é a vida.
Observe-se, ademais, o fato
sinalizador de que o atirador em casa parecia ter o costume de fazer anotações,
formulando, na loucura de seu conturbado mundo interior, possíveis planos de
cometer uma agressão inaudita e trágica. Ele estava seguramente, por conta do
seus delírios alucinatórios, pronto a perpetrar um crime ominoso como o fez ao
final Tudo aponta nessa direção, nesse comportamento doentio nesse
ensimesmamento, nesse isolamento, nessa vida antissocial, reclusa, na solidão
trágica dos alienados.
Essa barbaridade não será
certamente a primeiro nem a última de que temos notícia aqui e no exterior,
sobretudo nos EUA. Mais uma vez, estou pronto a repensar os meus conceitos
sobre o uso indiscriminado de armas de fogo no meu país, porém deixarei para um
outra ocasião esta questão espinhosa e altamente polêmica.
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