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Marechal Henrique Dias Valadares
Reginaldo Miranda (*)
Nasceu em 15 de março de 1852, na
cidade de Oeiras, que então vivia os seus últimos momentos como capital do
Piauí, sendo esta mudada definitivamente para a nascente cidade de Teresina, em
16 de agosto do mesmo ano. Foram seus genitores José Bento Valadares e Luiza
Clara de Mello. Ainda na velhacap, na igreja matriz de N. Sra. da Vitória,
recebeu na pia batismal os santos óleos do Evangelho em 12 de abril, com apenas
um mês de nascido, sendo seus padrinhos Nossa Senhora da Vitória e o médico e
político Simplício de Sousa Mendes, um dos líderes do Partido Conservador.
Cedo mudou com a família para
Teresina, onde cursou as primeiras letras. Mais tarde, foi mandado para o Rio
de Janeiro, então Capital do Império, matriculando-se na Escola Militar, onde
destacou-se pela inteligência e pela aplicação aos estudos, ganhando grande
destaque ao ponto de tornar-se comandante do corpo de aluno.
Formou-se Engenheiro Militar,
mais tarde doutorando-se em Ciências Físicas e Matemáticas. Dada à sua invulgar
inteligência, logo depois de formado retornou como professor catedrático da
mesma Escola, onde por muito tempo pôde demonstrar a cultura de que era possuidor.
Ganhando fama como educador, foi,
também, chamado a exercer os cargos de comandante da Escola Militar do Rio
Grande do Sul e membro do Conselho de Instrução da Escola Prática do Rio de
Janeiro.
Embora sendo um homem de raro
talento, vivaz, arguto, inteligente, Henrique Valadares não teve oportunidade
de mostrar seu valor na Campanha do Paraguai(1864 – 1870), a exemplo de tantos
outros conterrâneos, porque ao concluir sua formação estava findando aquele
conflito bélico em que tantos pereceram no cumprimento do dever e muitos outros
retornaram, todos no honroso privilégio de servir à Pátria. Ainda assim,
construiu sólida carreira em tempos de paz, galgando todos os postos militares,
desde o mais baixo até o de General de Divisão, sendo reformado com honras de
Marechal do Exército pátrio.
Desde os bancos escolares, na
Escola Militar do Rio de Janeiro, fez-se discípulo de Benjamin Constant,
alistando-se nas fileiras das campanhas abolicionista e republicana. Foi, de
fato, um intelectual esclarecido e sintonizado com as principais correntes de
pensamento do seu tempo.
Com a proclamação da República em
novembro de 1889, e a assunção às novas posições por seus companheiros de
causa, não ficou esquecido, permanecendo pouco tempo no ostracismo. Em junho de
1893, foi indicado pelo novo presidente Floriano Peixoto, seu irmão de
maçonaria, para o cargo de prefeito do Rio de Janeiro, então Capital Federal,
tomando posse a 27 do mesmo mês. E poucos dias depois pôde demonstrar o acerto
da nomeação. É que eclodiu a Revolta da Armada, movimento de oposição ao
governo de Floriano Peixoto, chefiado pelo almirante Custódio de Melo. Diante
das ameaças à segurança da cidade, com sua experiência militar, Henrique
Valadares contribuiu à frente da prefeitura para a manutenção da ordem pública.
Em sua gestão administrativa se
houve com zelo e distinção, realizando profícua gestão. Foi ele quem iniciou, com o auxílio do
diretor geral de obras públicas Luís Rafael Vieira Souto, a construção da
Avenida Beira-Mar, obra essa interrompida ao final de seu governo e só retomada
dez anos depois, na administração de Francisco Pereira Passos. Inaugurada em
1906, hoje possui diferentes denominações de acordo com sua localização.
Segundo a pesquisadora Cláudia
Mesquitta, em sua gestão que findou-se em 31 de dezembro de 1894, Henrique
Valadares conseguiu promover mudanças positivas para a cidade, reorganizando as
repartições municipais, criando novos serviços, estabilizando as finanças da
prefeitura, construindo escolas, canalizando águas pluviais e expandindo o
serviço de bondes, para alcançar pontos distantes da cidade. Para implementar
essa última ação, teve de executar outras obras, tais como perfurar o primeiro
túnel para Copacabana, denominado Barroso, que ficaria conhecido como Túnel
Velho, sob a supervisão do engenheiro Coelho Cintra, gerente da Companhia
Jardim Botânico. Este túnel foi inaugurado em 15 de maio de 1892, entrando em
funcionamento a partir do ano seguinte, quando os bondes passaram a trafega-lo,
percorrendo a Rua Barroso (atual Rua Siqueira Campos) até atingir o ponto
terminal da Praça Coronel Malvino Reis (atual Serzedelo Correia).
Ainda como parte de seu dinamismo
administrativo, em janeiro de 1894, firmou contrato para a construção de dois
ramais na mesma linha do bonde, que partiriam da Praça Malvino Reis, um deles
em direção à igrejinha de Copacabana (onde se situa o Forte de Copacabana) e o
outro em direção ao Leme. Foi, portanto, muito proveitosa sua gestão
administrativa à frente do distrito federal.
No campo político ainda exerceu o
mandato de deputado federal pelo Piauí.
O Marechal Henrique Valadares é
também considerado um dos maiores maçons que o Brasil já teve, codinominado “O
Cayrú”, e sendo patrono da loja de mesmo nome, com larga folha de serviços prestados
à Pátria e a Ordem. Segundo registros divulgados pela Maçonaria, Valadares
iniciou na Loja “Cruzeiros do Sul II”, Oriente de Uruguaiana, no Rio Grande do
Sul, em 24 de junho de 1874, galgando os mais elevados postos maçônicos e
atingindo a dignidade de Grande Secretário Geral. Foi responsável pela direção
do periódico Boletim, do Grande Oriente, onde, por vários anos pulicou diversos
artigos e comentários, entre esses O Papa e a Maçonaria(1892). Em
reconhecimento a este trabalho, no Simbolismo e no Filosofismo, a Assembleia
Geral do Grande Oriente conferiu-lhe o título de Benemérito da ordem e, mais
tarde, o de Grão-Mestre Grande-Comendador Honorário, este por decreto n.º 147,
de 22 de janeiro de 1898. Também, ocupou os cargos de Grão-Mestre Adjunto e
Lugar-Tenente Comendador desde junho de 1901. Era Garante de Amizade do Grande
Oriente de França e do Supremo Conselho do Egito, junto ao Grande Oriente e
Supremo Conselho do Brasil. Grande, nobre, sereno e firme, segundo os próprios
registros da Maçonaria, fora trabalhador incansável, sendo disputado por todas
as lojas, recebendo de muitas os yítulos de membro honorário e filiado livre e
benemérito. Teve em vida a consagração de ver o seu nome civil e o seu nome
histórico adotados como títulos distintivos de três lojas maçônicas do Grande
Oriente do Brasil.
De sua lavra ainda publicou o
Projeto de lei administrativa do regulamento geral para a maçonaria
brasileira(1892).
Faleceu no Rio de Janeiro em 9 de
novembro de 1903. E seu óbito foi apressado pelo do cumprimento do dever para
com a pátria. Em razão da famosa Questão do Acre, em que o Brasil demandava com
a Bolívia pela posse do indicado território, foi ele para ali mandado em missão
especial, como Delegado Militar, pelo Barão do Rio Branco, em fevereiro de
1903, para ajudar a contornar a situação. Tendo em vista a fadiga do trabalho e
a aspereza do clima, adoeceu gravemente, retornando ao Rio, onde veio a
falecer, poucos dias antes da assinatura do Tratado de Petrópolis(17.11.1903),
que pôs fim ao conflito. E seu sepultamento foi um dos mais concorridos de
tantos quanto se viu na Capital da República, com a presença de representantes
da Presidência da República, do Ministério das Relações Exteriores, do ministro
da Guerra Marechal Argolo, de deputados, senadores, Oficias Generais e outras
autoridades civis e militares, que compareceram pessoalmente ao ato fúnebre.
Durante o cortejo e em momento de grande emoção, alunos da Escola Militar
fizeram parar o coche e à mão transportaram o corpo de seu ex-mestre até a
sepultura, no cemitério de São João Batista. Era o epílogo da vida exemplar de
um grande brasileiro, nascido nessa boa terra de Mafrense.
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* REGINALDO MIRANDA, autor de
diversos livros e artigos, é membro efetivo da Academia Piauiense de Letras, do
Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e do Tribunal de Ética e Disciplina
da OAB-PI. Atual presidente da Associação de Advogados Previdenciaristas do
Piauí Contato: reginaldomiranda2005@ig.com.br
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