sábado, 16 de maio de 2020

DEMAGOGIA EM TEMPOS DE PANDEMIA

Fonte: Google


DEMAGOGIA EM TEMPOS DE PANDEMIA

Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                Estava lendo o jornal do longo final de semana, quando cheguei ao artigo de um professor/historiador piauiense que tentava dar ares de suma importância à antecipação do feriado pelo dia do Piauí, de dezenove de outubro para quinze de maio, afirmando que, muito mais do que por conta da necessidade de manter dentro de casa, isolada, a população e, com isso, tentar diminuir a possibilidade de contágio pelo novo coronavírus, essa decisão governamental – que, possivelmente, nem ele queria tê-la feito – trouxe à baila a oportunidade de propor-se uma discussão sobre as causas que teriam levado os pensadores da efeméride à determinação de quando e porque deveria acontecer em dezenove de outubro e não quinze de maio: na primeira data, ainda lá em mil, oitocentos e vinte e dois, pouco mais de um mês após a ocorrência da mítico-histórica proclamação da independência do Brasil, o Piauí iniciaria um primeiro levante, um processo bélico de reconhecimento da separação nossa de Portugal, ocorrido na cidade de Parnaíba. Esse episódio, certamente, inusitado para estados do norte e nordeste brasileiros, não teria como ver transferida ou trocada, ainda que legalmente, sua comemoração para uma data aleatória qualquer.

Outras tantas nos remetem à luta pelo reconhecimento da independência: mas aquela foi a primeira. Portanto, não que se esteja dizendo que a legislativa antecipação não tivesse a importância que se lhe quiseram atribuir: do ponto de vista sanitário, sim. Afirmar-se ou lhe querer conferir valoração histórica, como a insinuação de que deveríamos aproveitar o fato para discutir o motivo da existência do feriado, é, ou não, fazer demagogia? Logo, logo, a se manter no ar o perigo causado pelo coronavírus e a necessidade de isolamento da população, não havendo sido descoberto nem encontrado medicamento ou tratamento para a virose, poderia ser de extrema importância, não somente sanitária, mas, principalmente, para que pudéssemos examiná-los sob ponto de vista didático-histórico ou religioso, a antecipação para vindouros finais de semana, dias santificados ou feriados como o sete de setembro, o doze de outubro, o dois e quinze de novembro, o oito e até mesmo o vinte e cinco de dezembro. Ainda bem que esses feriados ou suetos são nacionais e, a não ser que o presidente da república mexa com eles, o governador, certamente, não teria como fazê-lo; a menos que decidisse estatuir outros.

                Voltando um pouco no tempo. Coincidentemente, enquanto lia as últimas linhas do artigo do historiador mafrensino, o netinho, que comigo “curtia o confinamento”, perguntou-me: - ‘vô, hoje é feriado porque é o dia do Piauí? Temendo lhe dar resposta diferente de outra já obtida, devolvi-lhe a pergunta: você já perguntou isso a alguém? Como estava entretido com o celular, apenas acenou, negativamente. Então, lhe disse: - hoje não é feriado coisa nenhuma! – ele ficou bastante sério, mas não disse nada -, o governador determinou que assim fosse para proteger-nos da contaminação pelo coronavírus – nova perplexidade, não porque não soubesse sobre o vírus, talvez porque sim -, o dia do Piauí, no qual comemoramos nossa luta pela independência do Brasil, ocorre em dezenove de outubro. Vi um sorriso em seu rostinho inteligente, como a dizer: vá entender os adultos, e continuou com seu jogo eletrônico. Ainda bem, porque não sei se não teria de lhe dizer que tinha de dar razão a um outro governante piauiense, tido como excêntrico, que preferiu desconsiderar a antecipação do feriado e confiar no discernimento de seus governados, no sentido de que eles, e somente eles, não só seriam os maiores beneficiários pela redução de infecção e mortes pelo coronavírus, como os mais prejudicados, a depender do que, voluntariamente, decidiriam sobre a necessidade de isolamento.

                Outro caso de demagogia; ou eu é que estaria sendo hipócrita? Não parece difícil, preocupante, nem mesmo pode ser considerado um ato de irresponsabilidade, alguém como um leigo, um religioso, jurista ou um gestor público acossado pela urgência, sugerir, especular ou insistir que, ante tal ou qual situação, dever-se-ia utilizar ou adotar, por exemplo, certo procedimento fármaco-médico experimental não recomendado nem aprovado por organismos especializados, por ainda não estar pacificado o entendimento de que seria inquestionável sua eficácia contra sintomas, ou mesmo tratamento de  determinadas enfermidades ou patologias, em que, pretenderiam aqueles, fossem aplicados; notadamente, se ou porque saberiam, que essa recomendação, sugestão, de fato, prosperaria (ou não), após especialistas no assunto, depois de exaustivas análises e exames, darem parecer, laudo ou decisão conclusiva, na qual se embasariam aqueles que receberam ou foram cientificados da representação, sugestão, provocação, para agirem dali em diante; se é que no curso da demanda não já decidiram por conta e risco próprios, ou como lhes deu na telha.

No futebol, dizem que todo brasileiro é entendido, senão técnico; em tempo de pandemia, ao que parece, esse entendimento também pode ser aplicado ou aproveitado: não é incomum, até quem é de seara científica diferente meter-se a discutir ou agir como infectologista, microbiologista, virologista; ou a criticar todos eles.          

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