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UM DESESTRESSANTE ATO DE VANDALISMO
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Já à vontade, Sandoval me falou
sobre os episódios com os quais interagiu, no trânsito teresinense, em uma
tranquila tarde de sábado, entre dezesseis e dezoito horas, quando saía de casa
para assistir à tradicional peladinha sabática de velhos amigos – atualmente,
sem resenha, cassada, temporariamente, pela pandemia -, e no retorno, logo depois
do joguinho.
Seguia na via, no sentido leste
oeste quando o primeiro semáforo do percurso se abrira para ele. A quem vinha
em sentido contrário, naquele sinal, não era permitido entrar para a esquerda.
Quer dizer, a algumas pessoas, porque para motoqueiro, como aquele, a regra não
valia. A propósito, é possível que existam, dentre os que trabalham com
aplicativo, quem obedeça à sinalização de trânsito; confessou-me Sandoval,
porém, que, enquanto e, por onde tem transitado, não encontrou um só que
fizesse isso; até parece que são instruídos a arrepiá-la. O sujeito querendo
cruzar a via, perpendicularmente, a fim de entrar na outra avenida, cometeu o
acinte de sinalizar querendo avisá-lo de que sua intenção era cometer a irregular
conversão antes que Sandoval ultrapassasse, corretamente, o sinal. Como não
estava disposto a contribuir com tão irresponsável ato, piscou, alertando-o de que
não iria permitir que fizesse o que estava imaginando: ele iria, como fez,
completar seu deslocamento aproveitando o sinal aberto; do mesmo modo que o
motoqueiro, também estava com pressa. Por que o bonito não procurava o primeiro
retorno que lhe permitisse voltar e fazer a conversão correta? Após cruzar o
semáforo, viu que o teimoso, esquivando-se de um ou outro veículo,
ziguezagueando, fumaçando, correndo o risco de provocar perigoso acidente,
conseguiu seu intento: furou o sinal, invadiu as pistas contrárias e migrou
para a via na qual desejava prosseguir, sem nem olhar para trás. Afirmar-me-ia
Sandoval que até torcera para que a figura levasse um bom tombo e se arranhasse
um bocado; como o desejo não foi tão sincero, pelo menos naquele instante a
queda não aconteceu.
No retorno para casa, um
movimento executado também por um motoqueiro – para ele, motociclista é o que
costuma transitar obedecendo regras de trânsito válidas para todos -, e de
aplicativo – será que não são multados, já que não se preocupam em avançar
sinal vermelho, passar sobre canteiro ou meio-fio, circular entre veículos com
seus bagageiros riscando as latarias de alguns? -, apenas um pouco diferente do
primeiro, mas não menos irresponsável, deixou-o deveras irritado. Aos que pretendiam
continuar na via ou convergir, perpendicularmente, como era o caso de Sandoval,
para a outra, na qual circulava o sujeito, o sinal estava aberto; ainda que
fechado para ele, assim mesmo o apressadinho queria seguir em frente, de modo
que, sem parar, ficou se equilibrando na motocicleta, até que meu velho amigo fez
a conversão desejada; ato contínuo, o indivíduo, em meio a buzinaços e
palavrões, tanto dos que gostariam de fazer o mesmo que Sandoval, quanto dos
que pretendiam continuar na primeira transitando, invadiu o sinal, cruzou as
pistas contrárias, e se mandou com os produtos, certamente, quentes os que
precisavam estar frios, e frios os que deveria entregar quentes, ou não haveria
motivo para tanta pressa. Cria que, também dito motoqueiro, não fora vítima, na
ocasião, de uma educativa e merecida queda. Mas como diz aquele ditado: quem
procura, termina achando; portanto, melhor não abusar da sorte: vai que praga
rogada pegue.
Como a tarde se mostrasse
repleta de péssimos exemplos no trânsito, a mais um Sandoval assistiu; só que,
desse, finda sua paciência, participou, ativamente. Estava a uns três
quilômetros de sua residência; em certo momento, decidiu mudar da pista direita
em que circulavam, muito lentamente, alguns veículos, para a esquerda, na qual
deveria permanecer alguns segundos, tempo suficiente para ultrapassar os modorrentos
companheiros de banda de rodagem, e, talvez, à mesma retornar. Na pista
esquerda, entretanto, um veículo ainda mais lento que os do seu lado, não lhe
permitiu, de imediato, realizar o movimento desejado; tentou avisá-lo do
intento, a princípio, piscando; como não obtivesse sucesso, sutilmente, buzinou,
pedindo passagem. Diante da buzina, a lesma que conduzia o veículo bloqueador,
colocando o braço esquerdo para fora, sugeriu que ele o ultrapassasse pelo lado
errado, o direito, ou continuasse atrás dos colegas tartarugas; o que parecia
impensável àquele cidadão era abandonar sua aconchegante pista. Fez a bobagem,
conseguiu espaço à frente dos velhos companheiros e cruzou o condutor turrão pela
direita; mas, como não tivesse ficado satisfeito com a atitude daquele sujeito,
segundos depois, retornou à pista esquerda, postou-se atrás dele, piscou várias
vezes, buzinou outras tantas, e o cara resistindo; não desistiu, ligou o farol
de luz alta, e como seu veículo era mais alto que o dele, o facho refletiu
intensamente nos seus retrovisores, encandeando-o. O vingativo ato de
vandalismo surtiu efeito e ele sucumbiu: não demorou, mudou para a pista
direita, e Sandoval seguiu adiante, não sem antes colocar o braço esquerdo para
fora e fazer um irônico sinal de positivo com o polegar. Poucos metros depois,
convergia para o logradouro onde residia; naquele momento, já inteiramente desestressado.
Chegou em casa mal havia começado o clássico da rodada do campeonato brasileiro. Não era seu time que jogava, mas o, pelo qual decidiu torcer, ganhou de lavagem do adversário. A resenha que não havia feito, fê-la com a patroa, a quem, alegremente, contou suas aventuras – e da qual levaria as devidas broncas - enquanto dividiam um bom tinto português.
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