À SENSIBILIDADE DAS MULHERES
Alcione Pessoa Lima
A cada fim de ano há celebrações no ambiente de trabalho para comemorar/confraternizar grupos de colegas, e/ou comer e beber um pouco, pois ninguém é de ferro. E uma coisa me chama à atenção: as mulheres valorizam cada detalhe na arrumação da mesa, dos talheres, no “menu” a ser servido e, muitas vezes, em algumas dinâmicas para quebrar o gelo e tornar realmente festivo o momento.
Observo, assim, que a delicadeza feminina é algo magistral, pois, para nós homens, com raras exceções, quando estamos à frente de tais eventos o fazemos de qualquer jeito. O que muitas vezes desejamos é que sempre sejam comemorados com muita cerveja e churrasco, como se estivéssemos assistindo a uma boa partida de futebol.
Isso me remete a Machado de Assis, em um trecho de seu “Memorial de Aires”, em que um personagem dizia ao outro ter certeza de que foi uma mulher, e não o desembargador que também estava na cena, quem arrumou as flores no cemitério. Afinal, “a disposição, o arranjo, a combinação, tudo era mulher”. Além do mais, ensina Machado, “há dessas cousas que mão de homem não faz: mão de homem é pesada ou trapalhona, e mais se é de desembargador”. E, para fulminar a questão, explica que se fosse um homem a arrumar, “chegava ali, pegava as flores e espalhava-as à toa.”
Tal característica feminina impõe distância, na comparação com os homens, posto que lhe é peculiar, e daí revelar-se como um ser único na terra.
E por falar nos homens, calha um momento em que uma colega de trabalho, ao tomar cafezinho, sujou seu vestido branco e, sentindo-se desconfortável com a situação, pois a mancha era ostensiva, falou ao chefe que precisaria ir em casa para se trocar. E ele, totalmente desatento à situação, achou que aquela mancha se tratava de uma mera estampa, razão por que não entendeu as razões do pedido.
Hoje mesmo, ao participar da despedida de outra colega/amiga que deixava uma função de confiança, mesmo sendo um momento simples, sem pompas, percebi que estava recheado de emoção, principalmente porque foi organizado por suas amigas mulheres. Apesar do discurso ter sido elaborado por um homem, uma dessas flores o leu e deu à referida peça um aroma que somente delas poderia exalar. Sem falar na própria homenageada, que mesmo sempre se fazendo de forte não se conteve e deixou-nos ver um momento raro para todos: derramar algumas lágrimas.
Assim, diante de tudo isso, talvez esteja a grande diferença entre um mero homem e um filósofo, pois este está sempre observando os seres e a própria vida, que é bela exatamente por ser vivida. Bilac tinha razão: "Deus criou as mulheres e as rosas / Para os beijos do sol e os beijos dos poetas!"
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