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EM REGENERAÇÃO, AO PÔR DO SOL
Elmar Carvalho
Ontem, ao sair do trabalho, de tardezinha, estava um tanto
melancólico. Por isso mesmo, resolvi dar uma volta de carro até o início da
Chapada Grande, seguindo pela estrada que vai de Regeneração para Oeiras. O
entardecer, na zona rural, em que se percebe com mais intensidade o cair da
noite, sempre me entristece um pouco. Acho o amanhecer sempre mais alegre; até
o cantar das aves me parece mais festivo, com a luz surgindo e fazendo tudo
ressurgir.
O cair das trevas é quase como se fosse um aniquilamento de
tudo, com as coisas e a paisagem desaparecendo na escuridão. É como se fosse a
antecipação ou o ensaio da morte. Dizem que o sono é uma pequena morte, mas o
sono nunca me causou tristeza. Ao contrário, a falta dele é que causa uma certa
ansiedade e até mesmo graves problemas psicológicos nas pessoas que têm
dificuldade em dormir. Isso porque sentimos vontade e mesmo necessidade de
dormir.
Bandeira, num de seus poemas, fala que quando fora dormir, em
certa noite de São João, havia conversa, risos, luzes, mas quando acordou, alta
madrugada, já nada disso havia, porquanto estavam todos dormindo, dormindo
profundamente. Há o dormir mais profundo, o dormir da noite eterna, o dormir da
morte, de que jamais se acorda.
Suponho que essa nostalgia ao entardecer é um sentimento
atávico, ancestral, entranhado na alma e numa espécie de memória genética, se é
que assim me posso exprimir, que aparentemente surge sem razão e para o qual
não se encontra fácil e instantânea justificativa. Contudo, creio que o tombar
da noite, nos lugares em que não existe luz elétrica, lembra o caos primordial
em que nada existia, mas do qual tudo surgiu.
Um caos primordial às avessas, que tudo vai destruindo, que
tudo vai reduzindo a nada, porque as coisas vão desaparecendo de nossa vista,
como se deixassem de existir de fato, e não apenas para a nossa percepção
visual. Embora tenhamos fé numa outra vida, a morte nos entristece pela saudade
que sentimos da pessoa que não mais veremos. A separação pela distância nos
deixa triste, mas acalentamos a esperança de que sempre poderemos rever a
pessoa amada.
Talvez fiquemos tristes ao crepúsculo porque é como se as
coisas morressem ao desaparecer nas trevas, e a noite se nos afigurasse como
uma espécie de antecipação da morte; da morte de nós mesmos, e da morte do
mundo que perderemos com a nossa morte. Mas, parafraseando a letra viniciana,
chega de tristeza, chega de saudade.
6 de abril de 2010
Elmar é um poeta. E quer por onde anda, o poeta deixa seu perfume. O cronista Elmar, tenho dito, é um poeta em prosa.
ResponderExcluirElmar é um poeta. E quer por onde anda, o poeta deixa seu perfume. O cronista Elmar, tenho dito, é um poeta em prosa. Weliton Carvalho.
ExcluirAmigo Weliton, suas palavras são um refrigério, nesses tempos áridos e ácidos, de muita insensibilidade e indiferença.
ExcluirPor do sol de nuvens acobreadas, algumas ainda em fogo, outras já defumadas; todas em cenário de pura beleza.
ResponderExcluirLindas palavras, caro professor Marcelino, que nos dão a certeza de que devemos persistir na literatura, apesar de tudo, apesar da quase indiferença geral.
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