terça-feira, 1 de novembro de 2022

A SORTE ESTÁ LANÇADA

Fonte: Google

 

A SORTE ESTÁ LANÇADA


Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

 

                Em dois mil e dezoito, condenado pelas cortes superiores da justiça brasileira, e preso, em consequência de crimes apurados pela Operação Lava Jato, após aguardar muito tempo por algum tipo de beneplácito judicial que lhe pudesse permitir concorrer em eleição presidencial, benesse que não veio, seu partido, quase no fechamento de prazo para registro de candidaturas, indicou, ou melhor, efetivou o candidato substituto, que não era um novo poste, como titular; como já se mostrava tardia essa opção, o nome indicado não deslanchou; mas não só por isso: paralelamente, fato de grande repercussão política, uma tentativa de assassinato ao principal adversário, influenciaria bastante na condução e execução da campanha desse;  aliado à situação constrangedora do ex-adversário – alijado do processo eleitoral pelo poder judiciário - , tal fato, contribuiria para que o candidato-vítima se sagrasse o novo presidente eleito da república federativa do Brasil.

                Ano seguinte, dois mil e dezenove, a mesma Justiça que havia impedido o ex-presidente, condenado e preso, de concorrer na última eleição, reexaminando os processos decorrentes da Operação Lava Jato – reitere-se, os mesmos  cujos crimes neles elencados, previstos e inscritos, uma vez julgados, condenariam o ex-presidente - , revendo seus conceitos, dessa feita, considerou ditos processos, no que tangia a seu rito, mas não no tocante aos delitos cometidos, que foram mantidos, formalmente, inválidos, anuláveis e canceláveis; portanto, insuficientes para mantê-lo preso e cassada a intenção do ex-presidente de concorrer em novo pleito eleitoral.

                Com os direitos políticos restaurados e devolvidos pela suprema corte do poder judiciário, lançar-se-ia o ex-presidente, ex-condenado, desde então, em missão política visando recuperar o cargo em relação ao qual lhe fora negada a possibilidade de disputar na eleição anterior: presidente da república.

                Graças, em grande parte, às ações de intransigente teimosia, irascibilidade e desinteligência, enquanto ocupante do cargo, infelizmente, arregimentou o presidente, para seu governo, não há como negar, uma sucessão de fatos que prejudicariam, gravemente, o desempenho de sua gestão. As más decisões em relação à pandemia pelo coronavírus, as espúrias coligações político-partidárias engendradas, o abandono das promessas de campanha, principalmente, daquelas em que se comprometia fazer um governo  sem os ranços do passado, preferencialmente, sem se submeter à velha política, o que, certamente, de fato, lhe fariam diferente de muitos de seus antecessores, obliteraram algumas das razoáveis atitudes governamentais tomadas e o colocaram no rol dos comuns; disso se aproveitaria o principal opositor. Consequência desse acumulado de ingerências: uma grande rejeição popular – à qual o maior adversário também esteve sujeito, registre-se -, que não conseguiu anular nem diminuir, e levaria sua intenção de reeleger-se a não ser aceita pela maioria dos eleitores; a tal ponto essa rejeição, claro que aliada a outras idiossincrasias e dicotomias, lhe prejudicaria eleitoralmente, que, para muitos, não soaria estranho se ele fosse vencido pelo ex-presidente já no primeiro turno, o que não aconteceu.

                Enfim, é possível que a história política do país passe a registrar os seguintes fatos: ainda que estivesse de posse das chaves do erário -  e das quais, obviamente, faria uso sem moderação -, com grandes e poderosos nomes da câmara e senado federal à sua disposição, mesmo assim, não evitaria a pecha de ser considerado o primeiro presidente, após a criação do malsinado instituto da reeleição, a não conseguir ser reeleito; e algo mais iria para os anais da história contemporânea tupiniquim: que quem o teria derrotado, na primeira eleição em que, pessoalmente, estiveram frente a frente concorrendo, seria o primeiro a conseguir um terceiro mandato presidencial, até então. Se isso tem alguma importância, já é outra história. 

                O que assistiremos a partir de janeiro de dois mil e vinte e três, tomara não seja um péssimo filme reprisado; quanto ao que veremos até final de dois mil e vinte e dois, dificilmente, nos eximirá daquela sensação de déjà vu.

Alea jacta est e, a menos que cataclismos de diversas ordens e potências transformem esse interregno histórico, com caráter de irreversibilidade.

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