A SORTE ESTÁ LANÇADA
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Em dois
mil e dezoito, condenado pelas cortes superiores da justiça brasileira, e
preso, em consequência de crimes apurados pela Operação Lava Jato, após
aguardar muito tempo por algum tipo de beneplácito judicial que lhe pudesse
permitir concorrer em eleição presidencial, benesse que não veio, seu partido,
quase no fechamento de prazo para registro de candidaturas, indicou, ou melhor,
efetivou o candidato substituto, que não era um novo poste, como titular; como
já se mostrava tardia essa opção, o nome indicado não deslanchou; mas não só
por isso: paralelamente, fato de grande repercussão política, uma tentativa de
assassinato ao principal adversário, influenciaria bastante na condução e
execução da campanha desse; aliado à
situação constrangedora do ex-adversário – alijado do processo eleitoral pelo
poder judiciário - , tal fato, contribuiria para que o candidato-vítima se
sagrasse o novo presidente eleito da república federativa do Brasil.
Ano seguinte,
dois mil e dezenove, a mesma Justiça que havia impedido o ex-presidente,
condenado e preso, de concorrer na última eleição, reexaminando os processos
decorrentes da Operação Lava Jato – reitere-se, os mesmos cujos crimes neles elencados, previstos e
inscritos, uma vez julgados, condenariam o ex-presidente - , revendo seus
conceitos, dessa feita, considerou ditos processos, no que tangia a seu rito,
mas não no tocante aos delitos cometidos, que foram mantidos, formalmente,
inválidos, anuláveis e canceláveis; portanto, insuficientes para mantê-lo preso
e cassada a intenção do ex-presidente de concorrer em novo pleito eleitoral.
Com os
direitos políticos restaurados e devolvidos pela suprema corte do poder
judiciário, lançar-se-ia o ex-presidente, ex-condenado, desde então, em missão
política visando recuperar o cargo em relação ao qual lhe fora negada a
possibilidade de disputar na eleição anterior: presidente da república.
Graças,
em grande parte, às ações de intransigente teimosia, irascibilidade e desinteligência,
enquanto ocupante do cargo, infelizmente, arregimentou o presidente, para seu
governo, não há como negar, uma sucessão de fatos que prejudicariam,
gravemente, o desempenho de sua gestão. As más decisões em relação à pandemia
pelo coronavírus, as espúrias coligações político-partidárias engendradas, o
abandono das promessas de campanha, principalmente, daquelas em que se
comprometia fazer um governo sem os
ranços do passado, preferencialmente, sem se submeter à velha política, o que,
certamente, de fato, lhe fariam diferente de muitos de seus antecessores,
obliteraram algumas das razoáveis atitudes governamentais tomadas e o colocaram
no rol dos comuns; disso se aproveitaria o principal opositor. Consequência
desse acumulado de ingerências: uma grande rejeição popular – à qual o maior
adversário também esteve sujeito, registre-se -, que não conseguiu anular nem
diminuir, e levaria sua intenção de reeleger-se a não ser aceita pela maioria
dos eleitores; a tal ponto essa rejeição, claro que aliada a outras
idiossincrasias e dicotomias, lhe prejudicaria eleitoralmente, que, para
muitos, não soaria estranho se ele fosse vencido pelo ex-presidente já no
primeiro turno, o que não aconteceu.
Enfim,
é possível que a história política do país passe a registrar os seguintes
fatos: ainda que estivesse de posse das chaves do erário - e das quais, obviamente, faria uso sem
moderação -, com grandes e poderosos nomes da câmara e senado federal à sua
disposição, mesmo assim, não evitaria a pecha de ser considerado o primeiro
presidente, após a criação do malsinado instituto da reeleição, a não conseguir
ser reeleito; e algo mais iria para os anais da história contemporânea
tupiniquim: que quem o teria derrotado, na primeira eleição em que,
pessoalmente, estiveram frente a frente concorrendo, seria o primeiro a
conseguir um terceiro mandato presidencial, até então. Se isso tem alguma
importância, já é outra história.
O que
assistiremos a partir de janeiro de dois mil e vinte e três, tomara não seja um
péssimo filme reprisado; quanto ao que veremos até final de dois mil e vinte e
dois, dificilmente, nos eximirá daquela sensação de déjà vu.
Alea jacta est e, a menos que cataclismos de diversas ordens e potências transformem esse interregno histórico, com caráter de irreversibilidade.
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