domingo, 28 de janeiro de 2024

7 DE SETEMBRO

 

Foto meramente ilustrativa    Fonte: Google

7 DE SETEMBRO (*)

 

Elmar Carvalho


           I ATO

 

Na parada de 7 de setembro

            de 1981

            os patriopanças

            ladrões da finança pública

            com suas estufadas panças

discursam sobre heroísmo,

patriotismo e civismo.

Na parada de 7 de setembro

            de 1981

            criancinhas pobres

            cheias de vermes

            e vazias de esperanças

            desfilam famintas

sob a ironia de um

Sol escaldante e indiferente

            de-                      cam-

                        sem-                  ba-

            fi-                   le-

lam                                     an-

                        tes

de cansaço

            de sede

            e de fome.

            O sorriso

            é lindo

mas o olhar é triste.

            E os pequenos infantes

            sem reinado

            sem rei nada

nada sabem

do heroísmo

            do patriotismo

                   do civismo

dos patriopanças

de panças cheias

            de tripas corruptas.

            E a criança

sob o sol causticante

de nossa pátria tropical,

com os dentes cariados

e a barriga faminta

cheia de vermes,

carregando faixas sobre

SAÚDE           EDUCAÇÃO          ALIMENTAÇÃO

            fica triste e chora

            e não sabe o que

            faz ali.

 

           II ATO

 

Mas na parada de 7 de setembro

            de 1981

trabalhadores não convidados

pelos donos do poder

desfilaram armados

de picaretas, foices,

machados, enxadas e

reticências.

            Era um mar

            era um Marte

            era um martelo

os trabalhadores conscientes

da força de seu trabalho

da força de seu cutelo.

            Não precisavam

            de cartazes:

os instrumentos falavam

que eles construíam

no dia a dia

            a Independência do Brasil!

            Mas os carrascos

                           os ascos

            da repressão

dispersaram os manifestantes

alegando subversão.

 

            Ai! Guernica. Ai! Picasso

            Ai! Grito explodindo

            em forma de cogumelo

            de uma grande dor

                    atômica

                    atônita

                    agônica

                    e sem

                    sentido.

            Parnaíba, 20.01.81

(*) Este poema foi publicado no jornal Inovação, em solidariedade ao padre Ladislau João da Silva, que havia sofrido, se não estou enganado, um espancamento por parte de um latifundiário, por causa de uma manifestação que ele havia organizado, com a participação de trabalhadores rurais de Esperantina.

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