Elmar Carvalho
Acabo de ler o item 16, titulado
Landri Sales, do depoimento que Luís Mendes Ribeiro Gonçalves prestou ao
sociólogo Manuel Domingos Neto, e que se encontra inserto no seu livro “O que
os netos dos vaqueiros me contaram”. Landri Sales Gonçalves nasceu em Acaraú –
CE, em 19.07.1904, e iniciou o seu governo no Piauí em 21.05.1931; portanto,
esse jovem tenente tinha menos de 27 anos de idade.
Governou o estado, como
interventor federal, até 03.05.1935, faltando poucos dias para completar um
quadriênio. Pelo que tenho lido e pela leitura do depoimento de Ribeiro
Gonçalves, homem sério, honrado, também administrador competente e probo, que
ocupou o primeiro escalão do governo do Piauí, nas pastas da Fazenda e de Obras
Públicas, por aproximadamente 20 anos, creio, vez que serviu a vários gestores,
além de ter sido senador em duas legislaturas, a administração de Landri foi
exemplar, por suas obras e austeridade inatacável.
Conta-se que certa vez uma mulher
do povo quis presenteá-lo com algumas frutas de seu quintal, mas já foi se
desculpando ao ressalvar que sabia que ele não recebia presentes. O interventor
respondeu-lhe que dela recebia, pois tinha certeza de que ela nada desejava em
troca.
Logo no início de sua gestão
houve a revolta dos cabos, que o prendeu, assumiu a administração da Delegacia
Fiscal do Tesouro Nacional e do Banco do Brasil, e tomou os quartéis do
Exército e da Polícia, mas sem que se saiba ao certo qual o seu verdadeiro
objetivo. Esse movimento foi de curta duração, e logo Landri reassumiu suas
funções.
Deu novo formato à estrutura
administrativa do Estado, na busca de torná-la mais eficiente, com novos
regulamentos e departamentalização mais específica. Era um administrador nato,
porquanto dava muita importância à escolha de seus auxiliares, auscultando
pessoas na busca de encontrar o homem certo para o lugar exato.
Tanto que designou Ribeiro
Gonçalves para a Diretoria de Obras Públicas, que na época abrangia
fornecimento de água, de energia elétrica, construção de obras e estradas,
fomento agropecuário, etc.; Martins Napoleão para a Secretaria de Educação e
João Bastos para a Secretaria da Fazenda. Foi seu secretário-geral e amigo de
confiança Antônio Martins de Almeida, que lhe acompanhou na vinda para assumir
a interventoria.
Saneou as finanças do estado, que
estavam debilitadas, e com isso conseguiu executar várias obras importantes,
diretamente ou através de parcerias com os municípios. Procurou desenvolver a
agricultura e a pecuária, com aquisição de melhores sementes, com a criação de
uma espécie de campo experimental no Pirajá e com a compra de reprodutores
bovinos, no intuito de melhorar a qualidade do rebanho piauiense, o que nem
sempre teve o indispensável apoio dos produtores.
Conseguiu reativar a famosa
fábrica de laticínios de Campos, hoje Campinas do Piauí, do sonho megalomaníaco
do engenheiro Sampaio, mas não teve o necessário interesse dos fazendeiros da
região, como fazia parte do projeto, o que terminou por desativá-la novamente,
desta feita para sempre. Procurou, em seus contatos, incutir nos prefeitos a
importância da construção de escolas, mercados públicos e outras obras
utilitárias, e não apenas de praças e jardins, de finalidade voltada mais para
o prazer.
Quando do imbróglio entre o Ceará
e o Piauí, por causa da questão do limite dos dois estados em relação à
localidade Oiticica, sabendo que essa terra estava registrada no cartório de
Castelo do Piauí, embora ele fosse cearense, tomou o partido do nosso estado, e
instalou um posto fiscal com guarnição policial na área em litígio, o que
demonstra que ele era um verdadeiro estadista, e não apenas um politiqueiro
miúdo e de campanário, movido apenas pelo interesse próprio e eleitoreiro.
Não obstante muito novo, quando
assumiu a governança estadual, Ribeiro Gonçalves lhe notou ter um caráter
repousado, um espírito sereno, pois sabia conter os seus impulsos, e que,
apesar de austero e sisudo, era amável. Quando ia tomar decisão de maior envergadura,
sondava a opinião de várias pessoas, como se à procura do pensamento médio, na
busca de encontrar o ponto de equilíbrio e mais benéfico.
Quando lhe denunciaram que um
desses “coronéis de macambira” do semiárido fechara a sua aguada, mandou que a
guarnição policial do município fosse abri-la à população. Segundo o depoimento
de Luís Mendes Ribeiro Gonçalves era ele um homem forrado de bom-senso, e que
nada fazia sem pensar bem, sem sopesar as alternativas e possibilidades.
Admirava-se o nosso escritor,
membro da Academia Piauiense de Letras, de que Landri, em plena mocidade,
revelasse tantas qualidades, como prudência, moderação, desejo de fazer obras
duráveis em benefício dos outros, e nunca de si mesmo; qualidades que geralmente
só se manifestam na velhice, segundo o depoente. Quando esse administrador
paradigmático encerrou sua administração, deixou vinte escolas concluídas ou em
construção, inclusive o Liceu Piauiense, cujas obras já estavam bem avançadas.
Ribeiro Gonçalves chegou a
afirmar que “acredito mesmo que foi o chefe de Executivo que promoveu maior
número de realizações”. Consultado sobre se desejava ser candidato para o
mandato seguinte, preferiu, em prova de seu desapego ao poder pelo poder, seguir
sua carreira militar.
Entretanto, concorreu para a
eleição de seu sucessor, o médico Leônidas de Castro Melo. Posteriormente,
exerceu altos cargos no Exército e na administração federal, inclusive o de
presidente da Companhia Telefônica Brasileira e o de diretor-geral do Departamento
de Correios e Telégrafos – DCT. Reformou-se como general de divisão.
7 de julho de 2010
Como é bom ler uma biografia de gente nossa q exerceu o mandato representativo com tanta coerência, lisura e competência.
ResponderExcluirNão conhecia as qualidades desse administrador, Poeta. De fato, comparado com os políticos que temos hoje, era um estadista que deveria ter o seu nome exposto ao conhecimento dos nossos coestaduanos.
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