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A Casa que Só, Ri
Fabrício
Carvalho Amorim Leite (*)
A
imagem de um passarinho cuidando do ninho, uma lâmpada apagada, uma casa
abandonada. Ela vive sem mim, carregando seus temores e ardores.
Vive
sem mim, com seus tijolos derretidos, guardiões de recordações — boas, ruins,
esquecidas, despedaçadas — daqueles que um dia a habitaram.
A
velha casa abriga ninhos de certos ratos, serpentes, baratas, morcegos e
formigas que se nutrem sem medo.... Assim como as minhas memórias, que ali
ainda se mexem e dormem no escuro.
O
chão, corroído por cupins embriagados, azulejos manchados pelos cuspes de
bebidas amargas, feridas fétidas e nunca cicatrizadas, testemunha de brigas
desalmadas e o eco da solidão de uma família desfeita.
O
cheiro de velho, de museu esquecido, daquilo que um dia foi útil e agora jaz em
escombros, pairava pelos cômodos como um mau assombro. O Tempo, devorava
tudo de dentro para fora, em sua lenta e inevitável transformação.
Mas,
numa noite qualquer, a casa, antes morta, voltou a sorrir. Tanto que as telhas,
antes deitadas, caíram de pé ao chão como lágrimas de alívio: do ovo do
passarinho, nasceu um filhote. A luz se acendeu.
A
Casa, Só, Ri, (s)em mim.
(*) contista e cronista.
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