Foto vista no livro Poemágico |
É DOS CARECAS QUE ELAS GOSTAM
MAIS?
Elmar Carvalho
No cruzamento das ruas Lizando
Nogueira com David Caldas, encontrei o Nonato Teixeira, dedicado servidor da
Caixa Econômica Federal. Como ele quebrasse um chapéu de lado, como diz a
canção popular, disse-lhe que voltaria a fazer uso dos meus. Respondeu-me que
usava chapéu por necessidade, uma vez que os raios solares já lhe estavam
prejudicando a pele.
Contei-lhe que, no dia da
eleição, a presidente da seção comentou, ao ver minha carteira de identidade,
que eu estava muito novo na fotografia. Disse-lhe, a título de curiosidade, que
eu molhara bem os cabelos, para que parecessem curtos, pois na época eu usava
uma avantajada e encaracolada cabeleira. Em resposta, ela me disse que hoje eu
quase já não os tinha, como se eu próprio não o soubesse. Retruquei-lhe: “E o
tempo levou”, em trocadilhesca alusão ao filme “E o vento levou...”.
Nessa já remota época, após o
banho, eu não queria saber de pente, nem de escova; sacudia com força os
cabelos, para um lado e para o outro, para cima e para baixo, para que eles
ficassem ondulados ao secar. O Nonato, no seu estilo bonachão, aduziu que o
tempo nos roubara a juba, ou algo semelhante. Isso me inspirou a fazer estes
versos cretinos, sem nenhum valor literário: “Já fui senhor de cabeleira basta,
/ mas o tempo que todo me devasta, /a vasta madeixa me desbasta.”
O poeta Castro Alves, que tinha
boa aparência física e teve vários amores, usava uma volumosa cabeleira
encaracolada. Conta a história literária que quando ele ia sair para uma de
suas noitadas boêmias ou à caça de alguma conquista amorosa, quase sempre vestido
de preto, penteava cuidadosamente os cabelos, frente ao espelho, e advertia,
embora apenas para si mesmo: “Tremei pais de família! Don Juan vai sair.”
Apesar da imponente juba, o poeta aparece, em algumas fotografias, usando
também um chapéu.
O uso de chapéu não deve ser
entendido apenas como sinal de vaidade; ao contrário, pode servir como símbolo
e advertência de que existe algo ou alguém acima de nós. Apesar da afirmativa
peremptória da antiga marchinha carnavalesca, não tenho certeza se é dos
carecas que as mulheres gostam mais. De qualquer sorte, pelo menos a minha, foi
contra eu fizesse implante capilar. O meu bolso, penhorado, agradece.
Não resta nenhuma dúvida, estou
mesmo decidido: voltarei a usar chapéu, seja como proteção contra a devastação
dos raios solares, seja por vaidade, que já me é quase finda.
2 de novembro de 2010