segunda-feira, 30 de novembro de 2020

CAMPO MAIOR PROMOVEU SEU PRIMEIRO CAFÉ LITERÁRIO







O Café Santo Expedito, localizado na Rua Coronel Eulálio Filho, próximo ao Ministério Público, realizou neste último sábado o  1º Café Literário, que tem como objetivo valorizar a literatura campo-maiorense, apresentando seus escritores e produções. O Café Literário surgiu da parceria entre o proprietário Gilson Lima, o historiador Celson Chaves e a professora de Letras Glaziane Soares.

 

O Café Literário (CL) realiza-se uma vez por semana. O autor homenageado do 1º encontro foi o juiz aposentado, poeta, cronista e romancista Elmar Carvalho, nascido em Campo Maior e residente em Teresina.

 

Além de estimular o interesse pela literatura campo-maiorense e piauiense, o CL promove o encontro entre escritores e leitores, num momento em que leitura e música, café e bate papo, transformam o ambiente num prazeroso e lúdico reencontro.

 

O 2º CL realizar-se-á na quinta-feira (3/12), a homenageada será a empresária e jornalista Edilene Motta, momento em que a escritora lançará seu primeiro livro infantil A MENINA, A AVÓ, O GATO E A LUPA.



Fonte: Portal de Olho

domingo, 29 de novembro de 2020

Café Literário com Elmar Carvalho

Adicionar legenda



Extasiado, este é o sentimento que me consome nesse momento. Que evento lindo e organizado, mesmo com um pequeno público de 22 pessoas, entre médicos, empresários, professores, escritores e a vizinhança, nas suas portas prestigiando o evento isso é muito prazeroso. 

Quero agradecer a Deus, por nos permitir fazer a cultura acontecer em nossa cidade, por que somos carentes de eventos culturais.

Ao Dr. Elmar Carvalho por abrilhantar o evento com suas histórias. 

Ao meu amigo, lutador pelas boas causas, Celson Chaves.

À Glaziane Soares,  apresentadora, por conduzir com brilhantismo a cada pergunta ao convidado, deixando-o à vontade. 

Ao querido e prestativo Josué, que nos abraçou de uma forma genial, acreditando na potencialidade do evento. Minha  eterna gratidão! 

Aos músicos, que deram um show à parte. Parabéns e muito obrigado!         

Gilson Lima    

sábado, 28 de novembro de 2020

PoeMitos e outras mi(s)tificações




DIÁRIO

[PoeMitos e outras mi(s)tificações]

Elmar Carvalho

28/11/2020

Quando o Zé Ataide estava no processo de publicação de seu livro Reminiscências de Minha Vida, no formato impresso, de que tive a honra de ser o prefaciador, lhe recomendei, com muita ênfase, para que não deixasse de o publicar na Amazon/KDP. Ele me pediu algumas informações sobre o procedimento a ser adotado. Disse-lhe o que sabia, mas lhe deixei claro que as minhas postagens eram da forma mais simples, e não tinham índice ativado e nem ilustrações.

O filho do meu amigo, o Athayde Neto, expertise nos mistérios da informática, que está literalmente com a cabeça nas nuvens virtuais de que tanto se fala, fez uma bela postagem, no capricho, no mesmo nível dos e-books das grandes editoras, que tenho em meu dispositivo Kindle.

Faz algum tempo, venho publicando livros através dessa ferramenta, mas, como disse, sem ilustrações e sem links. E eu tinha grande vontade de publicar meus PoeMitos com todas as lindas charges feitas pelo grande Gervásio Castro. Por isso, através do Zé Ataide, solicitei umas “dicas” ao seu filho. O Athayde foi solícito, prestativo, e me repassou por WhatsApp umas preciosas informações.

Assim, ontem, eu pude publicar PoeMitos e outras mi(s)tificações, com todas as charges especialmente elaboradas pelo Gervásio para uma edição impressa do opúsculo PoeMitos da Parnaíba, e mais duas que ilustram os textos do poema sobre o Bar do Augusto e da crônica sobre o Professor Amstein. Acrescentei outras matérias correlatas ou afins, e publiquei essa nova obra virtual.

Como parte integrante desta anotação diarística, acrescento abaixo os pré-textos desse referido e-book:

 

“O mito é o nada que é tudo”

Fernando Pessoa

 

O conjunto de 25 PoeMitos da Parnaíba retrata figuras populares, pitorescas, excêntricas e jocosas da cidade, mas sempre no que elas tinham de mais comovente e de mais humano. Essas personagens entraram para a história porque fizeram parte da paisagem da velha urbe. Muitas ainda vivem no imaginário popular, quase como figuras lendárias, mitológicas.

Os PoeMitos foram publicados no Inovação, jornal que marcou época pela sua bravura e colaboradores, no início dos anos 80, com ilustrações do legendário Flamarion Mesquita, o velho Flama, flamejante de talento.

Ressurgem agora com as geniais charges de Gervásio Castro, carioca PHB e flamenguista inveterado e irredutível.

 

*            *            *

 

BREVE EXPLICAÇÃO

Creio seja justificada a publicação de PoeMitos da Parnaíba, nesta plataforma virtual, como um novo livro, pelos seguintes motivos: traz o poema Amstein, que se transformou no último poema de meus PoeMitos, e lhe foi adicionado um anexo, com um outro poema e alguns textos em prosa, contendo assuntos afins ou correlatos.

Ademais (e principalmente) contém as charges de Gervásio Castro, que são quase um pequeno livro de gravuras, que transmitem um valor agregado enorme aos meus textos e, sobretudo, ao livro em si.

Amstein, claro, sempre povoou a minha imaginação, desde os meus primeiros tempos parnaibanos, mas, a não ser por uma placa, que nomeava uma pequena rua, que se tornava um beco sem saída ao desembocar na Praça da Graça, e o seu túmulo no Cemitério da Igualdade, eu dele só tinha vagas informações.

Assim, eu construí sobre ele e sua figura mítica de suíço grandalhão e bigodudo, uma biografia, que não condizia bem com a realidade. E a própria realidade de Amstein fora por ele próprio mitificada e mistificada, com as suas fantasias, com as suas meias verdades e com a sua imaginação fabulosa, propensa a exageros e transfigurações.

Por vários anos morei ao lado da Rua Professor Amstein, no apartamento que ficava no prédio dos Correios, em plena e esplêndida Praça da Graça.         

Será hoje, às 18 horas, o Café Literário com Elmar Carvalho

 




O e-book PoeMitos da Parnaíba e outras mi(s)tificações disponível na Amazon

 

Capa produzida sobre charge de Gervásio Castro

Já se encontra à venda na Amazon o livro virtual (e-book) PoeMitos da Parnaíba e outras mi(s)tificações. A obra contém as charges de Gervásio Castro, os PoeMitos e vários outros textos correlatos ou afins, entre os quais um sobre o mítico bar Recanto da Saudade, do saudoso dom Augusto da Munguba, e outro sobre o "místico" e mistificador professor Amstein.


O mito é o nada que é tudo

Fernando Pessoa

O conjunto de 25 PoeMitos da Parnaíba retrata figuras populares, pitorescas, excêntricas e jocosas da cidade, mas sempre no que elas tinham de mais comovente e de mais humano. Essas personagens entraram para a história porque fizeram parte da paisagem da velha urbe. Muitas ainda vivem no imaginário popular, quase como figuras lendárias, mitológicas.

 

Os PoeMitos foram publicados no Inovação, jornal que marcou época pela sua bravura e colaboradores, no início dos anos 80, com ilustrações do legendário Flamarion Mesquita, o velho Flama, flamejante de talento.

 

Ressurgem agora com as geniais charges de Gervásio Castro, carioca PHB e flamenguista inveterado e irredutível.


*            *            *


BREVE EXPLICAÇÃO

Creio seja justificada a publicação de PoeMitos da Parnaíba, nesta plataforma virtual, como um novo livro, pelos seguintes motivos: traz o poema Amstein, que se transformou no último poema de meus PoeMitos, e lhe foi adicionado um anexo, com um outro poema e alguns textos em prosa, contendo assuntos afins ou correlatos.

Ademais (e principalmente) contém as charges de Gervásio Castro, que são quase um pequeno livro de gravuras, que transmitem um valor agregado enorme aos meus textos e, sobretudo, ao livro em si.

Amstein, claro, sempre povoou a minha imaginação, desde os meus primeiros tempos parnaibanos, mas, a não ser por uma placa, que nomeava uma pequena rua, que se tornava um beco sem saída ao desembocar na Praça da Graça, e o seu túmulo no Cemitério da Igualdade, eu dele só tinha vagas informações.

Assim, eu construí sobre ele e sua figura mítica de suíço grandalhão e bigodudo, uma biografia, que não condizia bem com a realidade. E a própria realidade de Amstein fora por ele próprio mitificada e mistificada, com as suas fantasias, com as suas meias verdades e com a sua imaginação fabulosa, propensa a exageros e transfigurações.

Por vários anos morei ao lado da Rua Professor Amstein, no apartamento que ficava no prédio dos Correios, em plena e esplêndida Praça da Graça.       

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Literatura Piauiense entra no Novo Currículo Escolar

Foto meramente ilustrativa

O ensino de Literatura Piauiense passa a ser ministrado nas escolas das redes pública e privada a partir do próximo ano.

 

É que estabelece a Resolução do Conselho Estadual de Educação para o Novo Ensino Médio no Piauí.

 

O documento, com mais de 30 artigos, institui as Diretrizes Curriculares para a Implementação da Etapa do Ensino Médio como Etapa Final da Educação Básica e foi apresentado hoje (24/11) em audiência pública do CEE, transmitida de forma virtual.

 

O Artigo 7º da Resolução, que trata especificamente Formação Geral Básica, define, em seu parágrafo 4º:

 

“Os estudos de Língua Portuguesa devem incluir o ensino de literatura brasileira de expressão piauiense, nas escolas das redes pública estadual e privada, no Estado do Piauí, em obediência à Lei Estadual nº 5.464/2005 e Resolução CEE/PI nº 11/2009”.

 

A presidente em exercício do Conselho Estadual de Educação, professora Margareth Santos, esclareceu que a escola terá autonomia para definir seu projeto pedagógico, mas o CEE editará regulamentação visando ao cumprimento dessa norma.

 

A audiência pública contou com a participação de representantes de várias instituições, como o próprio Conselho, a Universidade Estadual do Piauí, a Secretaria de Educação, IFPI, Senai, Sesi e Senac, além do Sindicato das Escolas Particulares do Piauí.

 

A Academia Piauiense de Letras foi representada pelo seu presidente, jornalista Zózimo Tavares, que desde a sua posse vem cobrando a inclusão do ensino de literatura piauiense nas escolas.  

Fonte: site da Academia Piauiense de Letras

terça-feira, 24 de novembro de 2020

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

A Fábrica de Laticínios e o Centro Cultural de Campinas

 

Estado atual do prédio, em foto do dia 20/11/2020
Como a sede da fábrica já foi no passado
Algumas das pessoas presentes ao evento



DIÁRIO

[A Fábrica de Laticínios e o Centro Cultural de Campinas]

Elmar Carvalho

 22/11/2020

Confesso que, às vezes, sou mesmo meio hiperativo e, outras vezes, sou hiperativo e meio. Hoje foi um dos dias em que amanheci muito entusiasmado e ativo, e com a pá um tanto virada. De modo que acordei cedo, e já a partir das cinco horas comecei a escrever a crônica, que abaixo se vê.

Talvez o embrião dela seja uma outra, que titulei Expedição ao Sertão Colonial, e, agora, é o seu estopim a forte perspectiva de restauração da Fábrica de Laticínios do Engenheiro Sampaio, com a subsequente instalação de um Centro Cultural da Fecomércio.  

O meu entusiasmo se deve à satisfação de concebê-la em meu cérebro e de escrevê-la, bem como o fato de que tenho fortes esperanças de que essa obra será realizada, por motivo que nela será exposto. Mas deixemos de tanta conversa e de tanto blá-blá-blá, e passemos à transcrição da aludida crônica, que passa a integrar este Diário.

 

A Fábrica de Laticínios e o Centro Cultural de Campinas

 

1

 

Três meses atrás, Valdeci Cavalcante, dinâmico e empreendedor presidente da Fecomércio/PI, através de WhatsApp e telefonemas, me manifestou o seu interesse em restaurar a antiga Fábrica de Laticínios de Campos, hoje Campinas do Piauí, para nela instaurar um Centro Cultural, que prestaria relevantes serviços àquela região.

A fábrica de laticínios, sobre a qual prestarei breves informações mais adiante, foi fundada e instalada no final do século XIX, pelo engenheiro Antônio José de Sampaio, nascido na Fazenda Ininga, em José de Freitas. Por motivos diversos, o empreendimento funcionou apenas durante poucos anos, vindo a falir.

Posteriormente, segundo informação que me foi repassada por Carlos Rubem, a fábrica e as terras teriam sido arrendadas pelo coronel Ângelo Acelino de Miranda, oriundo da região de São Raimundo Nonato, que administrou esse empreendimento entre os anos de 1917 e 1922, período em que a fábrica ainda teria funcionado. 

O interventor federal Landri Sales Gonçalves, homem probo, exemplo de administrador público, operoso e dedicado, voltou a reativar essa indústria de laticínios, que se manteve em funcionamento, nessa terceira fase, também por um curto período. A seguir, o imponente prédio serviu para que nele funcionassem uma escola e serviço da Prefeitura Municipal.

Não sei se foram feitas algumas adaptações internas. Se foram, não percebi. Sei que quase todas as peças do maquinário, sobretudo as mais nobres, foram surrupiadas por diferentes administradores das antigas fazendas nacionais. O que importa dizer agora é que esse lindo e suntuoso prédio  hoje se encontra inservível, sem nenhum uso, em completo abandono, sujo, e em estado de ruínas.  

Após sua correta restauração, nos moldes exigidos pelo IPHAN, já que se trata de um edifício tombado, o Dr. Valdeci Cavalcante, através do Sistema Fecomércio/SESC/SENAC, nele pretende instalar, como disse acima, um Centro Cultural, no qual poderão ser criados vários espaços. O maior, poderia ser um pequeno cineteatro e/ou auditório; nos demais, após estudos e adaptações, poderão ser instalados um museu/memorial da própria fábrica, uma biblioteca e salas para cursos e oficinas, etc.

 

2

 

Para atender o presidente Valdeci, que me solicitara informações, recorri ao Carlos Rubem, que durante muitos anos, como cidadão e na qualidade de Promotor de Justiça, defendeu a restauração desse prédio, como uma espécie de novo Dom Quixote e profeta, a clamar no deserto da indiferença quase geral das chamadas autoridades competentes. O Carlos Rubem, com presteza e solicitude, me repassou as informações que tinha e outras que conseguiu instigado por mim. Incontinenti, as repassei ao solicitante.

Nesse ínterim veio o período eleitoral, que se somou às dificuldades causadas pela pandemia. As informações colhidas e sabidas pelo Carlos Rubem, que foi representante do Ministério Público na Comarca de Campinas, diziam que o imóvel, no qual se encontrava o prédio da antiga fábrica de laticínios, pertencia ao município de Campinas, por doação do Estado do Piauí.

Para que a Fecomércio possa fazer a restauração do prédio, com a subsequente criação e instalação do Centro Cultural, é necessário que o município lhe faça a cessão do direito real de uso.

Na segunda-feira, dia 16, o Valdeci Cavalcante, após conversar com o Dr. Felipe Mendes, ex-deputado federal e ex-vice-governador do Piauí (fora outros luminosos títulos que possui), sobre um outro assunto, lhe pediu o ajudasse a conseguir a cessão acima referida.

Felipe Mendes, meu confrade e do Valdeci na Academia Piauiense de Letras, lhe explicou que o prefeito eleito de Campinas, o médico Jomario Ferreira dos Santos, genro do ex-prefeito Alencar Moura, pessoa de sua amizade, era amigo de um seu sobrinho, residente em Simplício Mendes.

Dinâmico, interessado e experiente, fez de imediato os contatos necessários, e já na sexta-feira, cedo da manhã, em minha companhia, partiu para cumprir essa importante missão, no interesse da cultura e da promoção social e educativa da região de Campinas. Para encurtar a história, em Oeiras já nos aguardava o Carlos Rubem, que formaria conosco os três mosqueteiros dessa importante missão, uma espécie de embaixada do Sistema Fecomércio e de seu presidente, Valdeci Cavalcante, que conhece esse prédio desde a sua juventude, ainda nos idos de 1978.

 

3

 

A viagem não teve nenhum acidente e nenhum incidente digno de registro, a não ser duas ou três paradas previstas na logística, para merenda dos tripulantes e abastecimento do carro, de modo que um pouco antes de uma da tarde chegamos a Campinas. Fomos acolhidos pelo prefeito eleito Dr. Jomario e sua esposa Andrea Moura, pelo ex-prefeito Avelar Moura, pela vice-prefeita eleita Ana Maria, pelo vereador Ruy Costa, pelo professor Maivan Ibiapina e por Neta Gonçalves.

Apesar de certo cansaço e início de fome, fizemos questão de ver logo a sede do antigo laticínio e o seu entorno. O Dr. Felipe Mendes, que havia conversado dias antes com o diretor do IPHAN, logo reparou que uma construção e um “puxadinho” ficavam muito perto do prédio, o que lhe prejudicaria a visibilidade e mesmo as obras de construção de muro, estacionamento (se for o caso) e de restauração, bem como a visibilidade do edifício.

De imediato constatamos que o monumento da arquitetura piauiense se encontra excessivamente deteriorado, podendo ser tido como estando em estado de ruína. Mesmo assim, a gente pode sentir a imponência da obra de engenharia de Alfredo Modrach, a excelência dos tijolos e das telhas, dos detalhes e ornatos no contorno das portas, dos beirais, da fachada e da chaminé; esta foi feita com todo esmero, quase como se fora uma escultura moderna, devendo por isso mesmo ser preservada a qualquer custo. Ervas daninhas e mesmo arbustos já infestam a edificação e o seu entorno.

Em seguida, o nosso comandante Felipe Mendes tratou de expor ao prefeito eleito as exigências do IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e a necessidade de que o imóvel seja desmembrado e individualizado no registro cartorário, para que a cessão do direito real de uso possa ser feita de forma adequada. Eu e o Carlos Rubem coadjuvamos nessas tratativas, adicionando uma ou outra explicação.  

O que importa acrescentar é que o prefeito eleito ficou entusiasmado, e se comprometeu a adotar as providências necessárias tão logo tome posse de seu cargo. Em seguida, fomos nos refestelar e nos deliciar com um farto e variado almoço, na verdade um verdadeiro banquete, a que se seguiu uma não menos deliciosa sobremesa.

A missão foi documentada por algumas fotos, nas quais se percebe o estado de deterioração do imóvel a ser restaurado. Para dar um tom solene à missão e embaixada, após o almoço, discursamos o Dr. Felipe Mendes, o Dr. Carlos Rubem, este escriba, que fui proclamado escrivão da viagem missionária e diria cívica, já que os três mosqueteiros agimos por devoção e vocação, e o médico Jomario, prefeito eleito.

 

4

 

Felipe Mendes, com a sua larga experiência de professor do Curso de   Economia na UFPI, de secretário de estado da Fazenda e do Planejamento, além de deputado federal e vice-governador, fez uma rápida explanação das exigências do IPHAN, com relação ao entorno do prédio, da necessidade de requalificação e ressignificação da praça situada em frente, adaptando-a para as atividades do futuro Centro Cultural e da importância social e turística que ele terá, fazendo uma integração entre os dois espaços de beleza e fruição social. Enfim, além de explicações administrativas e técnicas, enfatizou a importância social e cultural da restauração do imóvel e de sua destinação a Centro Cultural da Fecomércio.

O Dr. Carlos Rubem, que foi Promotor de Justiça em Campinas do Piauí, discursou de modo lírico e telúrico, ressaltando as suas ligações sentimentais, afetivas e atávicas com a comunidade local. Falou, com simplicidade e verdade, de suas lutas antigas, de algumas décadas, desde o início de sua atuação no Ministério Público, quando empreendeu campanhas pela conservação e restauração da vetusta sede da fábrica, bem como pela divulgação de sua importância histórica e arquitetônica. Eu mesmo posso dar o meu testemunho de que ele muito se empenhou para que esse prédio se mantivesse de pé, como ainda se encontra, a despeito de toda desídia e descaso do Poder Público, embora um tanto trôpego, cheio de estrias e achaques, e algo capenga. E esse trabalho rendeu os frutos que agora começa a render.

Em minha fala, ressaltei que o magnífico prédio da vetusta Fábrica de Laticínios do engenheiro Antônio José de Sampaio, há muitos anos de fogo morto, e hoje quase transformado em escombros, era um símbolo da história do Piauí, porque o seu imóvel e o seu gado remontavam aos tempos coloniais da Casa da Torre da Bahia, depois aos Jesuítas, tendo posteriormente passado a integrar as fazendas reais e em seguida as nacionais, com o advento da República, para, enfim, passar ao domínio estadual, e recentemente se tornarem do município; já então não havia gado e as peças valiosas do maquinário haviam sido desviadas, para não usar um outro vocábulo.

Disse que era uma obra arquitetônica de portentosa beleza, construída com esmero, com fino acabamento e detalhes ornamentais, e que por essa razão era uma obra de arte em si mesma, podendo ser considerada um dos mais notáveis marcos da arquitetura piauiense. E que, por haver abrigado uma fábrica montada com os mais modernos maquinários e equipamentos da época, trazidos da Europa, através do oceano e do rio Parnaíba até a cidade de Floriano, é também um símbolo da industrialização piauiense.

Acrescentei que só o transporte dessas pesadas peças e equipamentos,  através de estradas e picadas em terra nua, em carros de bois ou em lombos de animais, de Floriano para Campinas, fora uma verdadeira epopeia, que daria um filme épico. Finalizando, disse que tinha muita confiança de que a obra de restauração seria realizada, porque o Dr. Valdeci Cavalcante tem o hábito de cumprir as suas promessas. E citei algumas de suas obras mais notáveis e recentes.

Coroando a parte solene, falou o prefeito eleito, Dr. Jomario Ferreira dos Santos, reiterando o seu desejo em fazer a cessão do direito real de uso do imóvel em favor da Fecomércio, e que fará todo o possível para que as exigências do IPHAN sejam atendidas, e, assim, essa importante obra possa ser realizada da melhor forma possível.     

domingo, 22 de novembro de 2020

Seleta Piauiense - Rogério Newton

 

Fonte: Google

cigarra


Rogério Newton (1959)

 

farpas de canto

na estaca da cerca

 

. . .

 

vagalume

na escuridão

me ascende

 

. . .

 

o vento age

na folhagem

sábado, 21 de novembro de 2020

Arca de Noé V (Epílogo)

 

Fonte: Google

Arca de Noé V (Epílogo)

 

Vitor de Athayde Couto

Cronista e ensaísta

 

O envelope contém um manuscrito, com pouquíssimas palavras. Edwiges, único bicho alfabetizado em inglês, por ter frequentado a escola de uma ONG ambientalista, lê a carta de mãe Divina, e traduz com dificuldade para a assembleia silente:

 

“Cinzas é o que nos resta

 

deste mundo inerte

 

e cremado.

 

Não se ouve um pio.

 

Os polos e a energia da Terra

 

estão invertidos.

 

Gravitamos

 

em torno da Lua.

 

A Terra é a lua da Lua,

 

filha da Lua,

 

com o mesmo solo da Lua.

 

Sem água, sem bio.

 

Cinzas é o que nos resta.

 

Divina cruz, na testa.”

  

Após 190 dias na água, conclui-se a expedição hidroviária “Anime”, sob o comando mono crático de Ching. Os bichos desembarcam sobre a cinza do chão sem vida. O solo ficou desequilibrado, pelo excesso de potássio. Ouvindo o silêncio eloquente das almas, buscam a terra prometida que o mico-leão havia anunciado. Caminham um dia e uma noite. Em meio às trevas, vislumbram alguma luz. Confiante e inspirado na sua experiência bíblico-escatológica, Cam sugere um caminho e sua proposta é acolhida:

  

– Transportei reis que seguiam a luz. Sigamos também a nossa luz interior.

  

As decisões mono cráticas do chimpanzé já não operam mais em terra firme.

  

Na madrugada ainda tenebrosa, o Sol começa a nascer por trás da miragem de um gramado verde. Cada vez mais próxima, a luz transfigura-se em aura, contornando um espectro com aparência humana. Alto, usando uma batina escura, o halo gênio não assusta os bichos. Pelo contrário, dele parece exalar uma afinidade eletrônica que atrai todos os animais, sem discriminação. Mais alguns passos e já se percebe que é apenas um homem muito simples, de barba. Segura cuidadosamente um objeto com as mãos. Sobre os seus ombros repousa um casal de arapongas-brancas-da-amazônia.

  

Ao verem os animais que sobreviveram à expedição, reunidos em volta da luz, as arapongas anunciam o milagre de São Francisco. Com suas mãos, o santo protetor dos animais protege um ninho recuperado de uma Muiracatiara centenária, carbonizada pelas queimadas sem controle na floresta primária. Os ovos no ninho simbolizam o recomeço da vida na Terra, mas o santo homem está triste e chora lágrimas de mistério.

  

Mais de perto, a miragem verde é, na verdade, uma mega plantação de soja transgênica, padronizada e tecnificada, que se estende até o horizonte. Devido à irrigação contínua e ao seu desenho genético artificial, a soja é o único vegetal que resiste a incêndios.

  

Equipado com placas solares, o cultivo é robotizado e autônomo em todas as suas etapas. Acionado por algoritmos de inteligência artificial, mostra-se infalível e durável. Monitorado por sensores de umidade do ar, e alimentado por energia fotovoltaica acumulada em grandes baterias, o sistema de irrigação permaneceu ligado e ativo durante todo o período dos incêndios, inclusive à noite.

  

Ocupando a plantação, movidos pelo instinto de sobrevivência, os bichos começam a comer folhas verdes, com sabor acrílico. Imediatamente o detector automático de pragas é acionado. Em poucos minutos, uma família de drones, terrivelmente de bem, ataca e lança veneno agrotóxico industrial sobre todos os bichos.

  

A Terra agoniza. Inverte-se a energia e os polos norte e sul são trocados. O exoplaneta passa a gravitar em torno da Lua. Agora, a Terra é a lua da Lua, com o mesmo solo cinzento da Lua. Sem água limpa, sem fertilidade, mas sobretudo sem vida reprodutiva. Vida que “até um dia, até talvez, até quem sabe” recomece em águas recicladas, com o que restar dos hidróbios. Se restar. O sistema solar ascende ao zênite da Era de Peixes. Seu fim, profetizado para o ano 2600, encerra mais um desses ciclos curtos do universo.

  

Mãe Divina bem que alertou:

  

– “Meus filhos… não haverá solução para os humanos, se depender das atuais gerações.”

  

Dissipa-se a aura e o halo do santo protetor dos animais. O príncipe das trevas refaz, lentamente, o teatro da primeira guerra do fogo. Mas já não restam humanóides. Sequer um australopiteco, terrivelmente fanático, a repetir aqueles mantras-mais-do-mesmo, que ecoavam nos templos antigos tornados pó: “glória a deus, aleluia, irmãos!”

  

Segundo José, o Saramago, “a morte é o não ser”, portanto, dízimo com quem andas que eu te direi quem não és.

  

E quem não viver, verá.

 

 (The End, como nos filmes antigos)

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Expedição ao Sertão Colonial


Na foto, vê-se, entre outros: Márcio Freitas e seu filho, Dilson Tavares, Elmar Carvalho, Rubens Luna e o prefeito de Amarante, Diego Lamartine Teixeira

Componente da Expedição Sertão Colonial  Fonte: Portal 180 Graus
A fábrica de laticínios do Engenheiro Sampaio, quando ainda estava bem preservada. Fonte: Google



Expedição ao Sertão Colonial

Elmar Carvalho


1.      AMARANTE

Na quinta-feira, dia 17, recebi telefonema do des. Carlos Brandão, em que me convidava a participar da “Expedição Sertão Colonial”, a ser iniciada no dia seguinte, pela manhã. Me falou do cronograma e objetivos da viagem. Ao final de seus argumentos, com que procurou me convencer a aderir à empreitada, disse-lhe: “Temo não poder participar, vez que vendi minha picape ao meu filho, que mora em Manaus”. Mas ele me respondeu que me conseguiria uma carona, pelo que fiquei sem motivo para dela não participar. Em virtude de eu lhe ter falado sobre um antigo projeto meu para a cidade de Amarante, ele me disse que me facultaria a palavra, no momento das falações.

Quando cheguei ao parque da Floresta Fóssil (ponto de encontro para a saída), conduzia um exemplar de meu pequeno romance Histórias de Évora, para ofertar a algum amigo. Logo fui abordado por uma pessoa que ficou interessada e curiosa sobre o livro e seu conteúdo. Em rápidas palavras, lhe expliquei que a Évora de minha ficção era uma cidade fictícia, misto de Parnaíba e Campo Maior dos anos 1960/1980, bem como, em menor escala, de outras urbes de nosso estado.

Acrescentei que, como pano de fundo, ele tratava um pouco da história recente, econômica e social do Piauí, sobretudo da decadência do extrativismo econômico e da agonia, paixão e morte dos velhos cabarés, que outrora incendiavam o imaginário dos adolescentes e jovens. Como propaganda, afirmei que se ele superasse os três capítulos iniciais, leria todo o romance. De fato, alguns minutos depois, o professor universitário Samuel Pontes do Nascimento (era este o nome de meu potencial leitor), me falou haver lido o primeiro capítulo, e me asseverou que prosseguiria em sua leitura. Numa época de escassos leitores, isso me soou como um elogio.

Após o café na Floresta Fóssil de Teresina, e depois de uma elucidativa palestra sobre o projeto de revitalização desse ponto turístico e de pesquisa, inclusive com a construção de novos e importantes equipamentos para essa finalidade, seguimos para a cidade de Amarante, com parada inicial no parque ecológico e turístico da Cachaça Lira, onde poderíamos sorver dois ou três tragos dessa deliciosa pinga. Em seu restaurante degustamos um saboroso jantar.

No passeio e jardim da margem piauiense do Parnaíba, houve vários e pertinentes pronunciamentos, entre os quais o do médico e intelectual Francisco (Tatá) Almeida, que é meu velho conhecido. Em seu consultório ele tem uma bela e enorme escultura do excelso poeta Da Costa e Silva em postura declamatória. Tem na cabeça minuciosa biografia de Da Costa, um verdadeiro livro virtual, que espero seja publicado na internet e no formato impresso. Discorreu sobre aspectos interessantes e pitorescos da vida do grande vate, e lhe recitou de cor alguns poemas, em mais de uma ocasião de nosso périplo amarantino.

Quando terminaram os pronunciamentos, previamente programados, o des. Brandão abriu espaço para que eu falasse do que há várias décadas eu havia idealizado. Subi à tribuna improvisada, no caso a borda de um canteiro da pracinha, e de forma muito sucinta disse que estivera em Amarante várias vezes, desde a primeira metade dos anos 1980, tanto a serviço da extinta Sunab, como para participar de eventos culturais. (Inclusive, acrescento agora, em minha gestão como presidente da União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE-PI promovi um encontro de escritores nessa bela terra azul do nosso poeta maior, quase uma ilha, na verdade um jardim incrustado nas confluências do Mulato, do Canindé e do Parnaíba, cercado pela beleza azul das serras e colinas, que o grande bardo tanto exaltou em magníficos versos.)

Falei que, no período 1988/1990, na qualidade de presidente da UBE-PI, encetei uma campanha para que os restos mortais de Antônio Francisco da Costa e Silva (1885 – 1950) fossem sepultados em Amarante, sua terra natal; que no cemitério do Rio de Janeiro, por maior que ele tenha sido, e ele de fato é um dos maiores poetas brasileiros, seu túmulo é apenas mais um túmulo entre milhares, mas que em seu torrão seria visitado e reverenciado por milhares de piauienses e amarantinos. Usei, trinta anos atrás, como fundamento de minha campanha, o seu próprio desejo, expresso no segundo terceto do soneto Amarante: “Terra para se amar com o grande amor que tenho! / Terra onde tive o berço e de onde espero ainda / sete palmos de gleba e os dois braços de um lenho!”

Portanto, defendi a ideia de que seja construído em Amarante um mausoléu e memorial, de preferência com auditório, estátua e placas modernas, com ilustrações, em que seriam estampados alguns de seus poemas antológicos, bem como poemas de outros autores sobre ele e sobre a sua bucólica cidade. Como alguém aparteou, lembrando que o embaixador e poeta Alberto da Costa e Silva é contra esse traslado, o escritor e historiador Reginaldo Miranda, de forma certeira, concisa, precisa e incisiva disse que não haveria problema; que o mausoléu ficaria como um símbolo. Então, retomando a palavra, disse que o monumento ficaria com um espaço reservado, à espera de que, no futuro, fosse possível a vinda das cinzas do grande bardo, para o cumprimento de seu desejo.

Estivemos ainda na frente do Museu Odilon Nunes, que foi um dos maiores historiadores do Piauí e do Brasil, para homenageá-lo e para abraçar, simbolicamente, o vetusto casarão. Nele não pudemos entrar, pois suas portas se encontravam fechadas. Tivemos a informação, não sei se verídica, de que os trabalhos de pintura, limpeza e restauração já estavam concluídos, mas que, mesmo assim, por motivos não informados, essa casa cultural não fora reaberta.

A seguir, fomos nos postar aos pés da escadaria do Morro da Saudade (é assim que o chamo em homenagem a Da Costa e Silva e a seu poema Saudade), onde foram tiradas algumas fotografias dos expedicionários. Conforme constava na programação, um dos coordenadores nos convidou a subirmos os degraus, mas sem olharmos para trás, como foi bem enfatizado. Assim fizemos. Contudo, quando eu estava na metade da escalada, recebi recado de que o professor e advogado Valdeci Cavalcante, presidente do sistema FECOMÉRCIO, desejava falar comigo. Mesmo correndo o risco de virar uma estátua de sal, como no episódio bíblico da mulher de Ló, resolvi olhar para trás, para atender o pedido, pois acreditava tratar-se de algo importante.

E realmente foi algo muito, muito importante. Quando cheguei, o Valdeci, que conversava com o advogado Márcio Freitas, apontando para um terreno que havia no sopé do morro, exclamou: “Bem aí, nesse terreno desocupado, vou construir o mausoléu e memorial em homenagem ao grande poeta Da Costa e Silva”. Não posso dizer o quanto fiquei feliz e emocionado, ainda mais porque Valdeci Cavalcante sempre cumpre as suas promessas, ao contrário de muitos políticos e falastrões. O dr. Tatá, após retornar da subida ao mirante, disse que iria pedir ao artista plástico Hostyano Machado que fizesse o projeto, para entregar ao grande mecenas da cultura piauiense. Pedi-lhe que o fizesse o mais rápido possível, para aproveitarmos a boa vontade de Valdeci e a disponibilidade orçamentária e financeira da FECOMÉRCIO.

Quando olhei o velho casarão que existe na esquina, perto do início da escadaria, ensombrado por grande oitizeiro, recordei da primeira vez em que estive em Amarante, ainda jovem e entusiasmado, com a vida e com a poesia, que então, estuante, me borbulhava no cérebro, como o gênio em Castro Alves. Três décadas atrás, havia um hotel instalado nesse prédio solarengo. E eu imaginava que nele havia fantasmas de poetas mortos, e gorgolejos e golfadas de afogados nas águas traiçoeiras das enchentes do Velho Monge.

Não pude deixar de lembrar um episódio que vivi nesse casarão. Numa fria e silenciosa madrugada acordei com forte vontade de urinar. Com medo desses fantasmas, tentei me conter, chegando mesmo ao cúmulo de ainda procurar um urinol. Apesar do heroico esforço, não pude resistir, e mesmo com medo enfrentei o longo corredor fantasmagórico, até encontrar o mictório. Durante o ato fisiológico, comecei a ouvir uns penosos gemidos. Pensei, de início, fossem de algum moribundo ou doente, mas logo os associei a almas penadas de poetas ou de afogados, como nos poemas de Argila da Memória, do amarantino Clóvis Moura, notável poeta e sociólogo dos melhores.

Incontinenti, tratei de retornar ao meu dormitório, em passos apressados, fustigado pelo sobrosso. De manhã, na hora do café, o mistério foi desfeito. Soube, então, que no quarto próximo ao banheiro dormira (ou melhor, passara a noite) um casal em plena lua de mel. Logo vi que não se tratava de almas penadas, mas de almas “penando” nos entreveros do amor e da paixão.

Quando estive na ribanceira do Parnaíba, me lembrei de longínqua tarde em que lá estive, a degustar umas talagadas de pinga com água tônica, em companhia de meu amigo e poeta Virgílio Queiroz, a conversar sobre cultura e poesia, a que não faltaram as indefectíveis anedotas, de preferência amarantinas. Nenhuma folha se mexia naquela tarde morna e parada. Mas, de repente, veio um pé de vento, que farfalhou na frondosa árvore, sob cuja sombra estávamos, e sacudiu as faveiras da proximidade, que passaram a emitir uma toada de chocalhos e guizos.

Em minha mente surgiram os índios alegres da região, que cantavam e dançavam ao som dos maracás, e que outrora perlongaram as barrancas sinuosas do Velho Monge. Talvez esse momento de insight ou mesmo epifania tenha sido a gênese de meu poema Amarante, em que perpassa o farfalhar do vento nas faveiras e nos ciprestes, em que a água gorgoleja e “boceja nas bocas de lobo dos esgotos” e “gargareja nas gargantas gosmentas dos gargalos”, e deriva singular para as águas plurais do Parnaíba.

E eu não pude deixar de sentir saudade do rapaz que eu fui, algumas vezes ingênuo, mas sempre tão cheio de sonhos, tão sentimental e emotivo, em que a poesia, a me arder na alma, parecia me consumir. E como terapia e catarse, eu tive que escrever os versos que escrevi. 


2.      OEIRAS

Chegamos a Oeiras na boca da noite do dia 18. Fomos conhecer o museu do Sobrado Major Selemérico, no qual estive em outras ocasiões culturais. Estava restaurado e limpo. Vi antigos móveis e sua ambientação, que me fez viajar ao Piauí colonial. Estavam expostos vários quadros e a galeria dos governadores republicanos. Em outro ambiente havia a pintura de quase todos os governadores provinciais (mas não os coloniais ou da velha Capitania). A partir do operoso Zacarias de Gois, seu construtor, eles governaram o Piauí provincial, tendo como palácio esse vetusto sobrado, rústico e sem luxo. Sem traumas e sem preconceitos, ali estava o retrato do Conselheiro Saraiva, o fundador de Teresina, a nova capital. Mas, também, dominava o recinto, entronado na moldura, o Visconde da Parnaíba, oeirense que governou a província por dezesseis anos.

Fui abordado na calçada do sobrado pelos vereadores José Alberto Pinheiro de Araújo, presidente da Câmara Municipal, e Francisco Espedito Nunes Martins. Me comunicaram que meu Título de Cidadão Oeirense, concedido em 2013, me seria entregue neste ano. Fiquei muito satisfeito com a notícia, e disse que o mais difícil, a concessão, já estava feito, ao que Espedito Martins retrucou: “O mais fácil... a votação foi por unanimidade”. Sou agradecido a todos os parlamentares oeirenses por essa alta honraria, que consagra a minha condição de oeirense por devoção e vocação.

Assisti com muita atenção à magnifica palestra do professor e secretário municipal de Cultura Stefano Ferreira, titulada “Interpretação do Patrimônio Cultural”. Em voz de correta dicção e pronúncia, com frases claras e bem construídas, com riqueza de detalhes e denso conteúdo, o palestrante discorreu, com notável poder de síntese, sobre diversos aspectos da cultura oeirense, tais como patrimônio arquitetônico, música, literatura, religiosidade, artesanato e costumes. Após ter visto a linda Praça das Vitórias e os bem-conservados solares e sobrados coloniais, a conferência de Stefano me fez ressurgir a Oeiras colonial, que insiste em permanecer, mesmo ante a insolência e iconoclastia dos dias atuais.

Sem dúvida foi uma das melhores palestras a que tive a oportunidade de assistir, ilustrada ainda por oportunos e elucidativos slides, e com certeza a melhor na temática abordada. E para minha maior satisfação, uma das telas projetadas estampava estes versos de meu Noturno de Oeiras: “Oeiras navega na noite / de um tempo que não termina”. Stefano teceu rápidas considerações elogiosas a esse poema. Também fez referência ao Noturno do Cemitério Velho de Oeiras.

Uma voz, não sei se do Carlos Rubem, defensor perpétuo das coisas oeirenses, ou se do Alcide Filho, exímio fotógrafo e cinegrafista, disse que eu estava presente. Como o Stefano tentasse me localizar no meio da multidão, lhe acenei, sentado em minha cadeira. Não tendo ele me visto, pediram que me levantasse. Para minha honra e contentamento, tive a alma afagada por uma forte saraivada de palmas. Obrigado a todos os oeirenses e expedicionários por esse momento ímpar na vida de um poeta menor e provinciano.

Sinto-me quase forçado a esclarecer que Noturno de Oeiras já foi entoado em diferentes ocasiões e locais da velha capital. Na solenidade de restauração do antigo fórum, na gestão do des. José Luís Martins de Carvalho, foi interpretado pelo ator Bonifácio Lima no Cine Teatro Oeiras; em certo 24 de janeiro, data magna oeirense, foi recitado entre as naves da tricentenária catedral, assim como também em seu adro. Foi declamado em rodas de poesia, documentários e em lançamento de livros. Existem clipes dele no You Tube.

Tendo escrito vários textos sobre Oeiras, além dos dois poemas citados, resolvi enfeixá-los no livro “Noturno de Oeiras e outras evocações”, que o IBENS lançou em memorável acontecimento cultural, em que foram apresentados números de dança, música e uma performance de Noturno. Um aluno do Instituto Barros de Ensino - IBENS musicou o Noturno do Cemitério Velho de Oeiras e o apresentou nessa ocasião. Essa obra foi apresentada nessa solenidade pelo advogado e escritor Moisés Reis. Sobre esse livro disse o médico Elisabeto Ribeiro Gonçalves, um dos maiores oftalmologistas do Brasil, em bela missiva: “Além das virtudes próprias do livro, que são tantas, ele me dá, de lambujem, mais uma satisfação e um encantamento: rememorar Oeiras, retornar a Oeiras, reviver Oeiras. // O livro é Oeiras encadernada, viva, palpitante. Ele me levou a Oeiras, de onde saí ainda bem jovem em busca do conhecimento que ela não poderia mais me dar. Mas não sei, não sei...”    

Após essa digressão, retomo a trilha expedicionária, para dizer que por volta das 23 horas fomos ao Hotel do SESC, onde ficamos hospedados, em cuja recepção, tempos atrás, Valdeci Cavalcante mandou afixar uma grande e bela placa de metal, na qual consta o meu poema Noturno de Oeiras. Degustamos um lauto e delicioso jantar. No dia seguinte, tivemos um farto café interativo, em que o engenheiro Avelino Neiva, presidente da Codevasf, proferiu uma palestra sobre o projeto de restauração da navegabilidade do Parnaíba, inicialmente de Uruçuí até Teresina, e, em segunda etapa, se o porto for construído, até Luís Correia.

Segundo o palestrante e outros técnicos da companhia a navegabilidade é viável e pode ser restaurada, e já existe um empresário interessado e com recurso suficiente para essa empreitada. Para mim, que tenho denunciado a degradação do Velho Monge em diferentes ocasiões, bem como apontado soluções, tanto por escrito como através de minha voz, achei uma notícia auspiciosa, inclusive em termos econômicos, pois o transporte dos produtos seria barateado consideravelmente. Oxalá esse projeto se torne uma realidade. Navegar é preciso, mas salvar o Parnaíba é mais preciso ainda. Esse rio é o mais importante e imprescindível patrimônio natural do Piauí.

Após a palestra, fomos em demanda da “Fábrica dos Sonhos”, perdida num dos confins dos sertões de Cabrobó.


3.      SANTO INÁCIO E CAMPINAS DO PIAUÍ

Seguindo a orientação de Carlos Rubem, nos deslocamos para Santo Inácio do Piauí, que outrora teve o bucólico nome de Brejo de Santo Inácio. Iríamos visitar o degradado olho-d’água. Nesse brejo, em pleno Piauí colonial, a partir de 1711, os jesuítas nele tomavam banho. Pelo que se observa em seu derredor, e pelo que se sabe da história da região, nessa época deveria ser um local totalmente isolado.

Os padres construíram a casa e a ermida em local sobranceiro, um verdadeiro mirante, de onde se observa a longa distância toda a paisagem circundante, e as faldas de morros em seu derredor. A casa foi restaurada, embora com algumas restrições apontadas pelo grande arquiteto Olavo Pereira da Silva Filho, um dos maiores peritos na área de restauração. Segundo ele me informou, três imagens de santos da igrejinha são do período colonial. Fui vê-las e deu para que eu percebesse a sua antiguidade, observável em sua textura cromática e desgastes naturais. Também observei, seguindo informação do Olavo, que o altar, em certos pontos, apresentava resquício de sua construção inicial.

Aliás, ouvi comentários de que até a década de 1960, a igrejinha dos padres da Companhia de Jesus de Santo Inácio de Loiola ainda apresentava a sua feição colonial, mas que teria sido demolida (a pretexto de reforma, ampliação e melhoramentos) para que homens gananciosos tentassem encontrar supostos tesouros enterrados pelos jesuítas, quando da ordem de confisco e expulsão da época do Marquês de Pombal. Também os comentários que me chegaram diziam que o banheiro dos padres, com as pedras formando uma espécie de caracol, também existia até cinquenta ou sessenta anos atrás; todavia, pelo mesmo motivo, foi destruído, dele só restando algumas pedras. Não sei se se trata apenas de histórias um tanto lendárias sobre os tesouros de jesuítas, que também ocorrem em outros lugares, nem tampouco se é mesmo verdade o motivo da destruição da igreja e do banheiro, que deveriam ter sido preservados como testemunhas e fontes da história do Piauí Colonial.

O banheiro dos padres fica a uma boa distância. A ida até lá foi sem problema. Mas a volta, com o sol a pino, e com a trilha em constante e implacável subida, extenuou alguns expedicionários, que tiveram de fazer paradas estratégicas, à sombra de duas ou três arvores que se destacavam no descampado. No local da vertente, houve alguns pronunciamentos, em que foi pedida a sua recuperação, através de drenagem e reflorestamento, sobretudo. Restou, ao menos, a esperança naquele sertão adusto e esquecido de que algo pode ser feito.

Seguimos para Campinas do Piauí.

Outrora, denominada Campos, ao tempo da instalação da fábrica de laticínios. De mulheres idosas, nas quais ainda remanesce um pouco da antiga e gloriosa beleza, dizem os ironistas e sarcastas, entre os quais não me incluo, que são uma bela ruína. Mas a fábrica de laticínios do engenheiro Sampaio, bastante deteriorada, é mesmo uma bela e imponente ruína, a um passo de se tornar escombros, quase uma imensa tapera, no meio de construções novas e de uma quadra esportiva, que lhe encobre a fachada, ainda majestosa apesar da incúria do poder público.

Segundo afirma e pergunta Fernando Pessoa, “Sem a loucura que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria?” Loucura no sentido, talvez, de sonho utópico ou de difícil realização. Nessa acepção, pelo que tenho lido e meditado, ao longo de alguns anos, o engenheiro Antônio José de Sampaio foi um sonhador e um louco. Mas foi também um realizador e empreendedor, que não soube, talvez, calcular todas as consequências de sua obra magna. Esse engenheiro, cientista, professor, escritor e poliglota, nasceu na Fazenda Ininga, hoje cidade de José de Freitas, em 9 de abril de 1857. Vejo que nasci no mesmo dia que ele, 99 anos depois. Morreu em 1906.

No meio do nada, como hoje se costuma dizer (embora, segundo muitos acreditam, o nada sequer exista) construiu o seu sonho. Para esse fim, em 26/04/1889 firmou vultoso contrato de arrendamento com o governo imperial. Nesse mesmo ano sobreveio a proclamação da República, que lhe trouxe ônus adicionais, sob alegações diversas, inclusive supostos descumprimentos de cláusulas. Comprou modernos, caros e pesados maquinários, que tiveram de ser levados até o porto de Floriano, pelo rio Parnaíba.

Levar esses pesados equipamentos e peças, no final do século XIX, de Floriano até Campos (hoje Campinas do Piauí) foi um trabalho hercúleo e uma verdadeira epopeia, como bem disseram os escritores Luís Mendes Ribeiro Gonçalves e Reginaldo Miranda, ambos da Academia Piauiense de Letras. Sem dúvida, os entraves burocráticos, as dificuldades financeiras enfrentadas pelo engenheiro Sampaio, e a condução das partes desmontadas da fábrica, em longo trecho de precárias estradas carroçáveis, enfrentando atoleiros de lama e areais, atravessando rios e riachos, dariam um belo filme épico. Para que fossem vencidos esses atoleiros usavam peles bovinas, sobre as quais passavam as ringidoras rodas de madeira. Em alguns trechos teve de abrir estradas, quebrar morros e construir pontes e pontilhões. Dezenas de bois morreram, extenuados, nessa penosa jornada.

O contrato de arrendamento previa vários ônus dispendiosos a serem custeados por Sampaio, entre os quais manter o Estabelecimento Rural São Pedro de Alcântara, construir frigorífico, fábrica de gelo, estação meteorológica; introduzir melhores raças de gado vacum, lanígero, cavalar e muar; adquirir maquinaria moderna para fabricação de manteiga, queijo, leite condensado e outros produtos,  sobre os quais não pretendo me estender, porquanto a sua simples enumeração não exaustiva é suficiente para o que pretendo concluir.

Com o arrendamento, o engenheiro Sampaio passou a administrar imensas glebas de terras e um grande rebanho de gado bovino “pé duro”, que pertenceram a Domingos Afonso Sertão e depois aos jesuítas, dos quais foram confiscados e passaram a constituir as Fazendas Nacionais. Trouxe alguns colonos italianos e suas famílias (cerca de quarenta), que por esse simples fato lhe acarretaram grandes despesas, além das salariais que adviriam. Teve que adquirir reses propícias à produção de leite, mas certamente em pequena quantidade. Como se sabe, as vacas nativas ou curraleiras produzem pouco leite, e por isso não são adequadas ao laticínio.

Mas, além de todos esses percalços econômicos, financeiros, de transporte, de pessoal, e burocráticos, que tiveram de ser enfrentados, como dito acima, a meu ver o maior problema foi o da logística. Ora, havia a imensidão de terra e o gado pé duro, adaptado à criação extensiva. Mas para o leiteiro talvez houvesse a necessidade de ração, medicamentos e outros insumos, que teriam de vir de muito longe. Teria que haver consumidores para os produtos da fábrica, que não estavam na região, que então era deserta ou de desprezível densidade demográfica, como ainda hoje o é.

Esses consumidores estavam em locais muito distantes. O porto fluvial mais perto se localizava no Estabelecimento Rural São Pedro de Alcântara, que deu origem à cidade de Floriano. Portanto, teria que ser percorrida uma distância de mais de mais de duzentos quilômetros. E os produtos teriam que ser levados em lombos de animais ou em veículos de tração animal, por trilhas rústicas, ou estradas carroçáveis, talvez impossíveis de serem percorridas no período chuvoso. De Floriano teriam que ser levados, por via aquática, até os longínquos centros consumidores. Ademais, o preço dessas mercadorias teria competitividade com as produzidas na região em que se encontrava o público consumidor?

Daí, sem querer tirar o mérito e a glória do engenheiro Sampaio, creio poder afirmar que esse lindo e grande sonho, não levou na devida conta a logística de transporte, distribuição e mercado consumidor, e os custos e despesas a que fiz referência. Por conseguinte, teria mesmo que fracassar, mais cedo ou mais tarde, quando os recursos financeiros se exaurissem e as dívidas se acumulassem. Foi um sonho megalomaníaco que malogrou, e cujo belo e imponente prédio se transformou em um magnífico ocaso, que ainda hoje ilumina a pequena urbe que nasceu em seu derredor. Contudo, parafraseando o poeta já citado, sonhar é preciso, viver não é preciso.

O edifício recebeu o abraço simbólico de todos os expedicionários. Visitamos as suas entranhas, os seus sótãos e porões, os seus alçapões mais recônditos, as suas vísceras mais esconsas, e vimos que está muito mal, como um moribundo em seu leito de morte, como um paciente em estado terminal. Houve vários pronunciamentos. O Carlos Rubem relembrou os velhos tempos em que iniciou a campanha pela sua restauração. O des. Carlos Brandão falou da importância de sua preservação. O senador Elmano Ferrer e a deputada federal Margarete Coelho prometeram envidar esforços em prol de sua restauração. O senador prometeu propor uma emenda, salvo engano, no valor de R$ 500.000,00 para esse objetivo. O prefeito Valdinei Carvalho de Macedo estava presente e também fez uso da palavra, na mesma toada e refrão.

A professora Socorro Alves, campinense, que estudou e lecionou nesse vetusto prédio industrial, falou de sua história e de suas lembranças, já que ele é parte integrante e indissociável da história e da paisagem arquitetônica e sentimental da cidade. Olhando os detalhes esmerados e ornamentais de sua arquitetura, que muito deve ao engenheiro alemão Alfredo Modrack e seus auxiliares, e, sobretudo, vendo a sua fragilizada chaminé, já sem o orgulhoso penacho de fumaça, que ostentou na época de seu fastígio, senti que o apito saudoso de sua caldeira ainda parece ecoar nesse sertão esquecido, a implorar por socorro.

Socorro que tanto tarda, e que talvez não venha, ou venha demasiado tarde, quando já nada mais possa ser feito.