sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Meus tempos de editor na FCMC


 


Meus tempos de editor na FCMC

Elmar Carvalho

Esta madrugada, sonhei com a minha gestão à frente da presidência do Conselho Editorial da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, quando fui o coordenador de Editoração dessa entidade. Aproveitei para dar uma olhada em algumas das obras de que fui editor. Fui indicado pelo poeta e escritor Francisco Miguel de Moura à dona Eugênia Ferraz, que era a presidente da FCMC, acredito que por causa de minha atuação como presidente da União Brasileira de Escritores do Piau´- UBE-PI.

Para escrever esta nota, não fui atrás de datas na Fundação, de modo que não serei preciso quanto a isso. Assumi as funções editoriais no ano de 1994, quando o prefeito era o professor Wall Ferraz, e as deixei no final de 1997, quando tomei posse de minhas funções magistraturais perante o Tribunal de Justiça do Piauí. Com a morte de Wall Ferraz, assumiu o cargo de prefeito Francisco Gerardo, que foi sucedido por Firmino Filho.

No primeiro mandato deste, presidiu a FCMC a professora Cecília Mendes, a cuja administração servi durante quase um ano. Tive a sorte de exercer minhas funções durante um período em que a editoração foi prioridade no órgão municipal de cultura. Para administrar com impessoalidade, logo que assumi a presidência do Conselho elaborei os regulamentos de editoração e do Conselho Editorial, que foram aprovados por este e pela presidente da Fundação, que assinou as portarias respectivas, e também passei a fazer a distribuição de obras para análise dos conselheiros através de rodízio, fazendo constar em ata tanto a distribuição como a aprovação ou rejeição.

Foi, na época a que me refiro, sem a menor sombra de dúvida, o mais importante e arrojado plano editorial do Estado do Piauí, bastando que se diga que a cada quatro meses, regularmente, eram publicados a revista Cadernos de Teresina e mais quatro a seis livros. Por isso, posso afirmar que durante o meu período foram publicadas aproximadamente 60 (sessenta) obras.

Foram gestoras da FCMC, como já disse, as senhoras Eugênia Ferraz e Cecília Mendes, das quais tive total apoio, sem nenhuma interferência autoritária no Conselho, uma vez que ambas acatavam as decisões do colegiado. Devo acrescentar que a FCMC tinha uma equipe “enxuta”, mas dedicada, motivada, e que realmente vestia a camisa da cultura. Tive um bom relacionamento com todos, e de todos guardo boas lembranças.

Fora as cerca de quinze revistas Cadernos de Teresina, editadas no período em debate, foram publicados, aproximadamente, 45 livros, todos aprovados pelo Conselho, e muitos deles da mais alta significação para a cultura e a literatura do Piauí. De cabeça, sem consulta a anotações ou registros burocráticos, cito alguns, como uma pálida demonstração do que afirmo:

Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí, de Cláudio Bastos, Os Literatos e a República: Clodoaldo Freitas, Higino Cunha e as Tiranias do Tempo, de Teresinha Queiroz, Literatura Piauiense – escorço histórico, de João Pinheiro, com posfácio de atualização de Francisco Miguel de Moura, A Harpa do Caçador, de Teodoro Castelo Branco, Crônicas de Sempre, org. de Adrião Neto, A Poesia Piauiense no Século XX, em parceria com a Imago, org. de Assis Brasil, várias obras de Mons. Chaves, Escravos do Sertão, de Miridan Brito Knox Falci, O Ofício da Palavra, de Elizabeth Oliveira, Mulheres Plurais, de Pedro Vilarinho Castelo Branco, Balaios e Bem-te-vis – a guerrilha sertaneja, de Claudete Maria Miranda Dias, Anos 70: Por que essa Lâmina nas Palavras?, de José Pereira Bezerra etc. Na revista, foram publicadas memoráveis entrevistas, como as em que foram entrevistados Mons. Chaves, Alcenor Candeira Filho, Cineas Santos, Assis Brasil, Celso Barros Coelho, Raimundo Nonato Monteiro de Santana e Pe. Raimundo José Airemoraes, cujos entrevistadores éramos eu e o jornalista Domingos Bezerra Filho, além de textos de contistas, cronistas, poetas e historiadores.

Além disso, foram editadas obras vencedoras de concursos literários, inclusive volume de textos de literatura de cordel. Com o impacto da morte de Wall Ferraz, que comoveu a população teresinense, idealizei o livro Wall Ferraz – o homem e o estadista (coletânea de crônicas e artigos), que também foi editado. Após esse infausto acontecimento, o Dicionário Histórico e Geográfico do Piauí, que havia sido acolhido com entusiasmo pelo falecido prefeito, recebeu o Prêmio Clio, concedido pela Academia Paulistana de História, que fui receber na Paulicéia, por designação de dona Eugênia Ferraz.

Na minha gestão, foram conselheiros Francisco Hardi Filho, João Bosco da Silva, José Airton Ferreira de Sousa, Marcelino Leal Barroso de Carvalho, Silvana Maria Santana de Oliveira, Rubervam Maciel do Nascimento e Francisco Miguel de Moura. Sugeri muitas capas ao artista plástico Radamés, enquanto outras foram concepções de Áureo Tupinambá Júnior e Gabriel Arcanjo, além de outros artistas.

Nas solenidades de lançamento da revista e dos livros, usávamos da palavra o prefeito, um representante dos autores e eu, representando a FCMC, em que comentava e analisava as obras. Aproveitando o apoio da administração superior da Fundação, envidei todos os meus esforços para que o plano editorial fosse bem-sucedido, e, sem cabotinismo, devo admitir que assim foi.


26 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Francisco Miguel de Moura em Dose Dupla

Fonte: Google


Francisco Miguel de Moura em Dose Dupla

A FLOR E O LIVRO
  
Acordei cedinho. Uma flor me viu,
flor que me dera seu primeiro beijo.

O sol ia alto. Apressei pra livrar-me
dos raios, e a flor dos meus dedos caiu.
“Eu sou uma flor, esqueça meu cheiro”.
mas ao lugar do crime a gente volta.

Na seguinte manhã, a mesma flor!
pra meu espanto, solitária e triste.
então a apanhei da beira do caminho
e a beijei, e o fiz sem reconhecer.
  
Ah! Que maldade a natureza trouxe!
Enquanto os vegetais nos fazem o bem,
nós animais – “tidos por perfeitos” –
tudo esquecemos... Até a flor e o beijo!

Ela chorou, chorou, lembrei seu cheiro
e me voltei em lágrimas e enleios.
E agora a guardo, para o meu carinho,
quando voltar às páginas que leio.
  
Oh! Guardarei o livro para sempre
e o grande amor que a florzinha me deu!

Agora, todo dia, eu abro aquela página
e ela está me olhando. E lá estou eu.


BALADA DO ESQUECIMENTO

Esquece, por enquanto o mundo não te conhece,
Não há razões para abraçá-lo com tanta força.

Esquece que nasceste como milhões por dia,
Esquece quem te amou perdidamente um instante,
Pra depois esquecer-te e dizer: “para sempre”.

Esquece que te quero, mas não sei até quando,
Esquece tudo que cantaste e que o outro chorou:
Lágrimas não valem nada, nem o rosto que molha.

Senta-te no batente de tua casa e vê nascer o sol,
Quando levanta quente e forte, com força e luz.

Senta-te à tarde e vê que ele se põe no horizonte
E, ao contrário da vinda, nem te viu... Ofuscou.

Mas não te esqueças da lua quando vem cheia
Apaga tua sonolência e depois enche-te os olhos...
Com a madrugada fria, quando pela primeira vez
Bebeste um gole de tristeza, de saudade e dor,
Por aquela que te disse: “Amo-te eternamente”!...
E depois desapareceu... Morta ou viva, que importa?

Não importa: O tempo não corrói, o tempo corre
E é sempre o mesmo que te assanha a cabeleira
E sibila ao teu ouvido: - “Esquece, esquece tudo,
Que eu não volto mais”!...      

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

A lagarta e as formigas

Fonte: Google


A lagarta e as formigas

Pádua Marques
Escritor e jornalista

Nesta manhã de domingo eu estava acabando de regar as plantas de nosso jardim, quando de repente, olhando pra o chão de cimento encontrei uma lagarta ainda viva se debatendo, se bulindo, coberta por um monte de formigas. Uma cena deprimente e que logo depois me inspirou a escrever sobre o destino das coisas e das pessoas. Principalmente aquelas que estão de certa forma no serviço público.

Alguém de casa, que até pode ter sido eu, pisou sem ver a lagarta enquanto ela tentava com sua lentidão contumaz atravessar o pátio em direção às plantas do jardim de minhas irmãs. Lá certamente encontraria o sossego e o alimento pra sua vida toda, aquela lagarta estranha e que agora quase morta lutava contra a força de centenas de agitadas e pequeninas formigas vermelhas, quase pretas.

Conheço o jardim de minha casa. Sei onde moram aquelas formigas e sei também que até hoje não houve quem fizesse acabar com aquela moradia delas, incômoda entre as lajes do pátio. Vez por outra eu fico a observar as formigas trabalhando. Vão e voltam várias e várias vezes. Entram e saem carregando pedaços triturados de folhas pra dentro do buraco.

De cá de onde estou olho e vejo as mais habilidosas e gentis ajudando outras quando o pedaço de folha é muito grande e não dá pra entrar no formigueiro. Feito pobre entrando com o guarda roupa em casa pequena em dia de mudança. As formigas trabalham muito. Nem sei e nunca procurei saber se dormem direito, se têm direito a férias, décimo terceiro, insalubridade, à licença maternidade, se assistem televisão. Se fazem crochê, jogam videogame ou conversam com os parentes pelo whatsapp.

A vida das formigas deve ser muito dura. Devem viver trocando de formigueiro tão logo se sentem ameaçadas por uma pisada de chinelo, um esguicho de água, uma vassoura, essas coisas que as donas de casa fazem todos os dias sem olharem a quem estão incomodando. Mas voltando ao jardim, às formigas e à lagarta quase morta tentando se livrar da morte certa dentro de um túnel escuro, fico pensando como deve ser triste a vida das lagartas de prefeituras e câmaras de vereadores.

Essas lagartas, fantasmas, esses funcionários de cargos comissionados, amigos de prefeitos, cabos eleitorais de vereadores, puxa sacos de toda linha, gente sem experiência, estudo, qualificação nenhuma que está ali ganhando um bom salário e em algumas situações nunca colocam ou colocaram o pé dentro da repartição. Até porque o cargo pro qual estão nomeadas nem sequer existe.

E assim eles ficam quatro anos seguidos. Se tiverem sorte do patrão ser reeleito serão oito anos de vida fácil. Carro do ano todo ano, viagens pra dentro e pra fora do Brasil, bons colégios pros filhos, rodada de cerveja e uísque pra quem quiser.  Enquanto isso as formigas estão lá dando o sangue pra que as atividades do serviço público sejam o menos deficientes. Até que um dia alguém pisa a lagarta por descuido e então ela vai servir de comida pra formigas.   

domingo, 25 de novembro de 2018

Seleta Piauiense - Israel Correia

Fonte: Google


Insônia

Israel Correia (1955)

Com certeza, se comigo for
Encontrarás a terra prometida
Nesta angústia, amargo fogo
É impossível doce amiga

Não te debatas. A noite tarda.
Dói muito o mal de amor
O suor encharca tua cama
Puro desespero. Consultas Tarot?

Não há brilho na bola de cristal
Nem velhas ciganas. Que tal suicídio?
Creio não perceberes o Nepal

Sobre o qual constróis tua vida
Apaga o passado. Busca o olvido
Confia em mim. Serás feliz, querida!


Fonte: A poesia Parnaibana, Fundec/Comepi, 2001

sábado, 24 de novembro de 2018

UM OU DOIS CAVALOS PUXANDO MAIS DE CEM



UM OU DOIS CAVALOS PUXANDO MAIS DE CEM

 Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                Com meu amigo Sandoval, ainda não, mas com minha família, sim. Nas próximas viagens, rumo ao norte do estado – ao sul, não sei se estradas e cidades são do mesmo modo sinalizadas -, pela BR 343, pretendo levar grossas cordas ou correntes, com as quais amarrarei o veículo que estiver conduzindo quando me aproximar de Altos, povoado D. Luiz, Brasileira e Parnaíba, e que, como nos tempos de criança fazia com carrinhos de lata ou madeira, com a ajuda dos familiares, puxaremos. Que bobagem é essa? Questionariam alguns. É que, não tenho dúvidas de que deslocando, manualmente o automóvel, obterei a tração que me permitirá trafegar, aí sim, dentro dos diminutos, ínfimos, desprezíveis, limites de velocidade permitida em muitos dos municípios e nichos populacionais naquela direção.

                Trinta, quarenta, raramente cinquenta ou mais quilômetros por hora, é a velocidade de que estou falando, permitida dentro ou nas proximidades de tais conglomerados habitacionais.

                Se fôssemos medir o grau ou nível de cultura da população de alguns municípios, tomando por base a velocidade que admitem como passível de ser desenvolvida em suas vias e logradouros, Piracuruca e Buriti dos Lopes, seriam os mais educados: neles, há permissão legal para transitar-se a, surpreendentes, setenta quilômetros por hora. Campo Maior, por sua vez, na área urbana cuja BR 343 atravessa, dispensa qualquer placa indicativa de velocidade acima de trinta quilômetros horários: dada a desorganização promovida por veículos e pedestres, ninguém consegue atingir vinte quilômetros no trecho.

E os pardais, não esses como são denominados os famosos guardas eletrônicos, os verdadeiros, as aves, tão abundantes décadas atrás, alguém tem visto? Já os falsos - caixas de metal com câmeras fotográficas, radares - que nos flagram quando transitamos a mais de trinta quilômetros, de Teresina até o litoral, esses, ao contrário, proliferam, mas ficam bem escondidos dentro das copas de árvores que margeiam a rodovia já citada, prontos para nos denunciarem ou multarem.

                Fato é – dicotômico até – que, ou você cuida de observar a sinalização que determina a velocidade legal permitida naquelas zonas urbanas, de modo a não ser penalizado no ato, ou surpreendentemente, no conforto de seu lar, quando toma conhecimento de que foi multado por excesso de velocidade, dias depois de haver feito a viagem; ou você presta atenção nos companheiros de estrada, veículos que, ou lhe seguem, ultrapassam ou cruzam com o seu. As duas ações, concomitantemente, só com ajuda ou assistência, por vezes, nervosa, de outros que viajarem com você.

                Vai me dizer que estou exagerando, mas saiba que vou apelar, recorrer, tentar provar que não. Parece absurdo o número de armadilhas que colocam à nossa disposição nas estradas, rodovias ou vias urbanas federais, estaduais e municipais.  Ninguém está negando que as leis de trânsito são elaboradas pensando no pedestre. Todavia, dão-nos a impressão governantes e demais autoridades que cuidam do assunto, que todos somos idiotas, inconsequentes, incapazes de tomar decisões sábias e sérias visando a própria segurança e a de nossa família, no trânsito; que só na marra, garroteados ou agrilhoados legalmente, aprenderemos a nos comportar, tanto no trânsito quanto na vida em sociedade.

                Voltando à história de puxar o veículo, quando me dirigir ao litoral mafrensino. Há um logradouro seminovo em Parnaíba, avenida S. Sebastião, no sentido de Luís Correia, em que é impossível saber em que pista se trafega; as marcações no solo, quase invisíveis, não dão margem a que entendamos qualquer tipo de divisão entre elas, qual a da esquerda, qual a da direita. Mais à frente, já na BR 343, na entrada do aeroporto, à altura da estação fiscalizatória do departamento de polícia rodoviária federal, próximo ao inacabado shopping das dunas e de uma faculdade; antiquados, senão irregulares quebra-molas cimentados no leito da via, por si sós, seriam suficientes para nos impedirem qualquer tipo de aceleração segura. Entretanto, placas afixadas nas margens da rodovia, em um espaço que não chega a quinhentos metros, vão de vinte a cinquenta quilômetros por hora, praticamente, uma ao lado de outra. Acho, na verdade, penso e creio, só me resta comprovar, o que, talvez venha a fazê-lo proximamente, que puxando meu possante, eu, a mulher, a filha e o filho, por uma corda ou corrente, naquele trecho, é provável que não seja multado por excesso de velocidade; porque aproveitando apenas aceleração natural do motor engatado em alguma marcha, é difícil, muito difícil não exceder a ali permitida.

                Meu velho amigo Sandoval, que tal, na próxima viagem que empreendermos rumo ao norte do estado, pela BR 343, amarrarmos os veículos – como fazíamos com barbantes nossos carrinhos na infância – com cordas ou correntes, e os puxarmos, manualmente? Pode até ser que ultrapassemos os vinte ou trinta quilômetros, legalmente permitidos dentro de muitas zonas populacionais que cruzaremos, em razão de aclives ou declives ali existentes, mas, certamente, ficaremos dentro da margem legal, se excluirmos os dez por cento que a legislação de trânsito nos permite descontar da velocidade desenvolvida. E o que é melhor: ainda estaremos praticando exercício pesado, como fazem os atletas do crossfit, haja vista que serão, no máximo, dois ou quatro cavalos, puxando mais cem. É ou não uma interessante ideia, meu velho? Topa?          

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Dr. Alfredo Nunes e meu distintivo da CBF


José Nunes Neto (atual presidente), Reinaldo Torres, Alfredo Nunes, Celso Carvalho e Herculano Moraes (falecido), membros da Academia Piauiense de Futebol. Fonte: Google

Dr. Alfredo Nunes e meu distintivo da CBF

Elmar Carvalho

Esteve no fórum, tratando de assunto processual, o Dr. Alfredo Nunes, ex-prefeito de Regeneração, ex-deputado estadual, em várias legislaturas, e procurador de Justiça em inatividade. É o atual venerável da Loja Maçônica Tabelião Manoel Isaac Teixeira. Seu pai, Gonçalo Nunes, empresário, também foi prefeito e deputado à Assembleia Estadual. É casado com a professora Teresinha Nunes, que foi reitora da Universidade Federal do Piauí, há 57 anos.

Segundo me foi revelado, em outra ocasião, recusou-se a ficar recebendo proventos, como parlamentar aposentado, o que é um fato raro em nosso meio. Também ouvi falar que, em sua época, teria sido o único prefeito a receber honraria do Tribunal de Contas do Estado, em virtude de haver tido todas as suas contas aprovadas. Não tive tempo de conferir essas informações. Deixo que o leitor diligente o faça.

Foi dirigente esportivo no Piauí durante vários anos. Quando era prefeito de sua terra natal, foi convidado pelo ministro da pasta do Esporte a ir a Brasília, com a finalidade de assumir, interinamente, a presidência da Confederação Brasileira de Futebol, no impedimento do titular, Ricardo Teixeira, que estava de licença médica. Disse não ter interesse, em virtude de seu cargo de chefe do Poder Executivo local. O ministro insistiu, e disse tratar-se de um pedido pessoal do presidente da República, que estava preocupado com a classificação da Seleção Brasileira na etapa eliminatória da Copa do Mundo. Conversou com Fernando Henrique Cardoso e terminou aceitando a missão.

Por recomendação pessoal sua ao técnico, um jogador renomado, mas que não estava atuando bem, não foi escalado, e o certo é que em sua gestão o Brasil terminou obtendo a classificação. Quando ele me brindou com um distintivo da CBF, que muitas vezes tenho usado na lapela do terno, disse-me que me ofertava o mimo em virtude de eu haver sido um bom goleiro do futebol amador. Como não sou cabotino, não direi se concordo com o que ele disse.

Em 1957/1958, estando residindo no então povoado de Papagaio, hoje cidade de Francinópolis, em virtude de nomeação para cargo do antigo Departamento de Correios e Telégrafos, com raríssimo meio de transporte para Teresina na época, meu pai “pegou” uma carona no jeep do Dr. Alfredo, que era deputado estadual, até a localidade Estaca Zero, onde era mais fácil conseguir transporte rodoviário para a capital.

Meu pai, que na época era guarda-fio, sozinho, no lombo de um cavalo, percorreu, várias vezes, a solidão formidável da Chapada Grande, de Papagaio ao Alto Sério, já no município de Regeneração, a contemplar os soberbos pequizeiros, vergados de frutos, e as floradas luminosas dos paus-d'arco, a balouçarem à brisa, como lustres dourados de imponentes catedrais.

24 de fevereiro de 2010  

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

3 Poemas de Francisco Miguel de Moura

Fonte: Google

3 Poemas de Francisco Miguel de Moura


A FLOR, AS FLORES
Face em ângulos e triângulos,
ocultas, não cansa de mostrar-se,
encantada em curvas de espírito e luz.

Por que, enfim, nasceu pétalas,
entrâncias e reentrâncias,
lagos, luas, protuberâncias,
se o futuro está distante?

Sóis iluminam suas formas:
pistilos, talos e raízes.
Cada raio de sol dá força
tão estranha e incomum!
Dia avante, passo-mágico,
mais estrelas para a noite
vertical. Vem plácido o dia.

Cabelos d’ouro ou de carmim,
do preto até um branco sem fim.
Perfume abelhudo, voo-borboleta,
tudo esplende entre você e mim.
Uma cicia a outra, conversando:
- Você já sentiu alguma dor?
- Jamais! Nem quando nasci.

Ai!... dores dos mortais de carne e osso,
areia e pedra e vento e ar! Nada podemos
do presente, só olhar. O futuro está em nós.

 A FLOR E O PERFUME
  
a flor se guarda para o fruto
o fruto se guarda para a boca
a boca... perde-se no beijo

o beijo é monte que se move
em calor tórrido
seja manhã ou fim de tarde
nos janeiros:
 indo e vindo, em cócegas
brinca com os vírus alados
e cochicha com os deuses

a flor se guarda no perfume
o perfume, pelo frasco
(sem fiasco)
em si se resume:
volátil, volúvel, venal...

e amanhã se apagará no ar sensual
tudo então se tornará em fumo
a alma das coisas tem cor de fumaça.

AMOR E VIRTUDE
(romance)

De repente aparece o sinal,
irisam-se os rostos,
lágrimas fluem rio-acima e
desejos reprimidos rio-abaixo.

Cai! É um corpo de mulher,
rola joelhos em terra,
reza uma prece, Deus não ouve.

Ele, o santo novo padre,
que ninguém sabia
no amor ferido.
Ela, a freirinha linda,
ninguém lhe adivinhando
a que vinha.

A vez primeira foi tão natural
na mata cheia de intempéries!
As almas se caindo em quatro
na cama que os corpos não esperam.

Depois, muitas vezes, muitas horas...
Merda para a vizinha e o vizinho!
O prazer reprimido gargalha
por distantes canais e vinhas.

Do medo – serem ouvidos
aos berros, matando a sede
sem mando, e lambuzados
da luz das estrelas,
na noite dos espinhos...
Agora, sim, se calam.

De "manhãzinha" correm
enquanto muitos dormem,
e o mundo os desconhece,
voltam da lua e das estrelas,
que não aparecerem.


Ela - toda sedução,
viço, beleza e glória.
– "O mundo, que importa"?
Ele – todo paixão, poder e amor.
– "E se tudo souberem amanhã"?


Ela - a mulher que borda a prece,
do estômago à roupa,
do beijo ao coito,
nos carinhos, na dor.

A noite vem salgada e vigorosa.
Desavergonhadamente, o escuro
entra no quarto
sem janelas, sem luas,
na nudez sem-olhos do “seu” povo.

Por vezes bate a dona solidão,
no descampado dos dias:
Da igreja ao púlpito, do sermão
às novenas ou
às silentes grades do convento.

Passam verões, chuvas e primaveras,
outonos e tempestades, nada temem.
Quando o mundo os descobre,
são mancebos-amancebados, amém.

“Cruzes, credo! Que juventude!
Só podem lhes fazer o mal.
- Ninguém cruze a soleira
daquela porta, senão
para o inferno vai!"

E ai! que um dia descobrem
dos dois – o antes e o depois:
Ele era padre noutra freguesia;
ela era freira noutro convento.
- “E para que fugira?”

Quebraram-se os contratos,
cada um para o outro lado,
o lado do amor sem convenção.
Anos, muitos anos...
A figueira secou.
O quintal caiu.
A casa foi engolida pela intendência.

Depois de muitas “lutas” e luas
o casal é reconhecido pelo Papa
e as virtudes antigas todas se salvam.

Mas era tarde demais
para o de(sc)ente amor.

As almas não se levantam pacientes:
Mentem e gritam levemente
ou se vão como o suspiro de quem morre.