quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O DENTE DE OURO


31 de outubro   Diário Incontínuo

O DENTE DE OURO

Elmar Carvalho

Um dos companheiros de tratamento da radioterapia do Hospital São Marcos me narrou uma história, que é um verdadeiro conto, sem necessidade de nenhum enfeite e torneio literário. A narrativa segue abaixo, do jeito que a recordo neste instante; apenas tomarei a precaução de alterar os nomes dos personagens citados, a fim de evitar fuxicos e eventuais retaliações, inclusive judiciais.

O coronel Ozildo Bezerra, pouco tempo depois de enviuvar, se casou com uma cabocla nova, bonita, com todo jeito de fogosa, de nome Maria das Graças. Todos a chamavam apenas de Gracinha, o que era muito justo, uma vez que ela, com efeito, era uma gracinha, por sua formosura e alegria contagiante. Não tardou muito, a moça passou a enfeitar a fronte do sexagenário coronel com duas belas e formidáveis aspas.

Os murmúrios foram se espalhando, e terminaram chegando aos ouvidos do coronel, que já vinha desconfiando dos modos ariscos e furtivos da mulher. Ela, em alguns momentos, se tornava muito alegre e em outros, um tanto amuada, e por vezes lhe negaceava certos agrados nas horas das camaradagens. Parecia estar enojada e enfastiada do fazendeiro, que tudo percebia, mas ainda sem querer acreditar no que já se anunciava, de forma quase escancarada.

Ozildo chamou a mulher às falas, e ela, embora negando traí-lo, respondeu com certa insolência e leve zombaria. Ferido em seu brio de marido e macho, o coronel desferiu um forte soco em Gracinha, que não tentou revidar. Entretanto, passada a raiva, e seguindo velha filosofia, preferiu continuar compartilhando seu doce de leite a comer sozinho titica de galinha.

A fazenda contígua à de Ozildo pertencia ao coronel Lucas Soares Pereira, que mantinha na parede de seu alpendre doze armadores, nos quais cochilavam, dependurados, doze rifles, que eram periodicamente limpos e lubrificados. Comentava-se que Lucas, ao longo de décadas, acoitara alguns fugitivos do Ceará, que supostamente teriam cometido um ou outro homicídio, geralmente por vingança a alguma desfeita ou injustiça ou para lavagem da honra, em virtude de infidelidade conjugal. Fora os cearenses, o coronel tinha seus próprios agregados, que não se negariam a cometer uma ou outra “missão de sangue”, que ele lhes determinasse.

Contudo, não se pense que Lucas fosse um homem brabo, violento, de maus bofes. Muito pelo contrário; parecia a própria mansidão em figura de gente. Falava baixo e de forma pausada. De extrema gentileza quando recebia algum visitante, ofertava a sua melhor comida e a sua rede mais confortável. Ostentava sempre notável bom-humor, e estimava inventar as suas próprias anedotas e “pegadinhas”. Não gostando de banguelas e nem de que seus agregados sentissem dores desnecessárias, mantinha um dentista prático ou protético em sua fazenda, mestre em arrancar dentes de forma indolor e em preparar belas dentaduras.

Exatamente por causa da existência do dentista protético, como se dizia nos velhos tempos, Gracinha chegou à casa-grande do coronel Lucas, que lhe indagou sobre o motivo da visita. Ela explicou que Ozildo lhe arrancara um dente da parte frontal de sua boca, e por isso desejava colocar em seu lugar um dente de ouro. Não explicou a causa da agressão, e nada lhe foi perguntado a esse respeito, até porque Lucas era um amigo fraterno de seu marido. O serviço foi feito, tendo Gracinha exibido o seu melhor sorriso, em que se via o brilho dourado da prótese, feita com todo esmero e capricho.

O coronel Lucas mandou que seu motorista levasse em seu jeep a jovem mulher e um bilhete ao seu amigo Ozildo Bezerra das Areias, como era mais conhecido. O positivo deveria aguardar a resposta. O destinatário imediatamente leu a missiva, sem maiores dificuldades, posto que a letra era graúda, bonita e bem delineada. Nela estava dito: “Devolvo sua mulher mais bonita do que quando a recebi, uma vez que ela agora tem um dente de ouro. Peço que me mande o valor do serviço, que custou a importância de ...”

Prontamente, Ozildo entregou o valor solicitado ao mensageiro, dizendo:
O Lucas não tem jeito mesmo; sempre fazendo as suas brincadeiras!

Em seguida, de mãos dadas, levou Gracinha para a alcova, para melhor apreciar o dente de ouro.    

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

AUTO-APRESENTAÇÃO

Elmar visto por Gervásio Castro

AUTO-APRESENTAÇÃO

Elmar Carvalho

eis como sou
       neste instante único
       (após o qual já
       serei um outro):

um homem que rema
       no seco contra
       a corrente das águas

um homem que usa
       a gravata como
       se fora um baraço
       nas horas de opressão

um homem que escreve
       torto por
       linhas certas

um homem que sobe
       e teima contra
       a lei da gravidade

       eu sou aquele
que aprendeu
a pecar para
ter a humildade
de não ter uma
virtude

       eu sou aquele
que jogou roleta
russa com o tambor
cheio de balas e
apostou contra a
sorte

       eu sou aquele
       que lutou para
       não ser      

Café Literário


terça-feira, 29 de outubro de 2013

A crítica literária: um polêmica entre dois críticos

Álvaro Lins
Afrânio Coutinho

Cunha e Silva Filho

                    Nos anos de  1940  a 1960, sem  querer  pretender  imprimir rigores cronológicos a datas, a crítica literária no  país  alcançou  uma fase  de apogeu, de alta na “Bolsa” das Letras. De apogeu  e ao mesmo  tempo  de turbulência,  porquanto  naquele  recorte de tempo  travava-se uma luta  incessante  de duas  principais correntes  críticas, uma  representando  a estabilidade de seu domínio de influência, outra  que pretendia desbancar a primeira. As duas,  respectivamente, eram o impressionismo    e  o new criticism. Aliás,  observa Adélia Bezerra, que escreveu uma arguta dissertação de mestrado orientada por Antonio Candido, A obra crítica de Álvaro Lins e sua função  histórica (MENESES BOLLE, Adélia. Bezerra de. A obra crítica de Álvaro Lins e sua função histórica. Petróplis,RJ.: Vozes, 1979, p.47).   notou   que  os anos  40 do século passado  foram  pródigos em  polêmicas no país, afirmação  confirmada por um a citação  da ensaísta extraída da revista Careta (1944).
                O   desentendimento  entre Álvaro  Lins (1912-1970) e Afrânio Coutinho (1911-2000) virou  uma ‘briga  feia” como ouvi há pouco   de um famoso  crítico brasileiro. Essa   pendenga em jornais cariocas sobre crítica literária fez história nos arraiais da vida cultural brasileira. Polêmica  feroz,  implacável  nos ataques, sobretudo ou quase tudo  da parte  de Coutinho que, me parece,  entrou na arena para   tentar  desbancar  o prestígio  já consolidado  do crítico  mais  influente  daquela  época,  ou seja,  na segunda fase  do  Modernismo, levando-se  em conta aqui   a divisão  proposta  por  Alceu Amoroso Lima ( 1893-1983), quer dizer,  a fase de nossa  história literária  que vai de 1930 a 1945.(apud  COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura  brasileira, 5 ed.. Rio de Janeiro:  Editora Distribuidora de Livros Escolares toda., 1968, p.277).
Conquanto a polêmica  tivesse  como seu vetor  principal  as diferenças  de visões  e formas de fazer crítica dos  dois  estudiosos,   ela ainda  tinha  precedentes ligados à vida  profissional  e  à atividade  intelectual de ambos,  primeiro  um artigo de Lins,  Um segundo Afrânio: um 'exercício  literário acerca de Machado de Assis', de 1940, posteriormente  publicado em livro  (LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca (1940-1960). 1 ed. Rio de Janeiro:  Civilização Brasileira, 1963, p.348-354)  foi, em alguns aspectos, desfavorável à obra de Coutinho, A filosofia de Machado de Assis (1940); segundo,  o concurso  para o qual ambos se inscreveram, em 1951,  a fim de disputar a cátedra  de Literatura do   tradicional  Colégio  Pedro II, do Rio de Janeiro. Recordemos que não foi só Lins que censurou o  ensaio de Coutinho. Sérgio Buarque de Holanda, no mesmo ano de 1940, também em artigo de 1940, de título “A filosofia de Machado de Assis” estampado no Diário de Notícias, depois publicado em livro (BUARQUE DE HOLANDA,  SérgioCobra de Vidro. São Paulo: Perspectiva/Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia de São Pulo. s.d., p.53-58) ) fez sérias  restrições ao ensaio de  Coutinho.
É bom lembrar  que  Coutinho  foi quem  mais  atacou   seu  oponente, Álvaro Lins,   que o  respondia  de forma      menos dura  e, ao que me consta,  sem  citar o nome de Coutinho. Os artigos, depois,  de parte a parte,  foram  publicados em livros.   Já se falou que  Coutinho,  desde 1943, vinha  fazendo ataques ferinos  ou achincalhantes   contra o impressionismo e tendo  por alvo  principal  Lins. Os seus ataques incluíam  também  as criticas que fazia ao uso  do  rodapé de jornal  no qual os críticos da época   escreviam. Coutinho se opunha a essa forma de usar o jornal  para fazer crítica literária.
Esquecia, porém,  Coutinho que ele mesmo  se utilizava do rodapé  na sua  conhecida  coluna “Correntes cruzadas”,  editada no Suplemento   Literário do Diário  de Notícias por largo tempo.Ademais,  o que mais atraiu  a opinião dos leitores  interessados em literatura  era que Coutinho, além de doutrinador  da nova crítica sobre a qual, mais adiante comento, escrevia  artigos detratando  as mazelas  da vida literária no país,  cheia   de mediocridades e de  capadócios  despreparados  e formadora de  igrejinhas,  grupelhos, compadrios,  lideranças   inatingíveis, mandonismo literário,  favores  políticos e influências   num  espaço    em que mais tinha  valor a vida literária do que as obras  publicadas. Para ele o ambiente literário  da época  mantinha-se numa deplorável   inércia  de autêntico  e  atuante  dinâmica  de vida literária.
Esse quadro negativo e anacrônico de fazer  literatura,  segundo Coutinho,  tinha que ser passado a limpo por interesses sérios  de  atualizar  os hábitos  anacrônicos  dos estudos literários feitos em geral de “achismos”(termo frequentemente  empregado  por Coutinho) em análises  e julgamentos  da produção brasileira, numa crítica   sem sistematização nem padrões   técnicos  e fundamentação   objetiva   de preparo  para a vida  literária e para o ensino  e didática  de Literatura no país. Coutinho  fez-se portador  dessa mudança   que ele deveria  empreender a ferro e fogo. Por volta dos anos 1950, e mesmo antes,  já contava com novos  críticos  usando instrumentais  semelhantes aos de Coutinho  a fim de  derrubar  as lideranças. já  estabelecidas   e no comando   da atividade  crítica  brasileira.
 Fausto Cunha (1923-2004),  Darcy Damasceno (1922-1988), de Afonso Félix de Sousa (1925-2002) que, ainda bem jovens,  escreviam, já sob novas óticas de métodos  analíticos do fenômeno literário. Isso na revista Ensaio, como outros  companheiros de Fausto Cunha  já se mostravam, anos antes,  através da Revista Branca. opositores  da liderança  e sentido de  perpetuidade da judicatura  crítica  de Álvaro Lins (CUNHA, Fausto.  A luta literária. Rio de Janeiro: Editora  Lidador,  1964). 
Ocorre,  contudo,  que  Lins, pelo  elevado nível da obra legada  por ele  era um crítico  de esmerada  formação  cultural  que  desenvolvia um crítica  independente,  original  nos moldes  dos  críticos  franceses, “... pelo gosto  da análise psicológica e moral,’  como  lembrou    Alfredo  Bosi ( Bosi,   Alfredo. História concisa da literatura brasileira.  38 . ed.,. São Paulo: Cultrix. 2001, p. 492).   
 Desde os tempos  de província, em  Recife (nascera  em Caruaru, Pernambuco), onde se formara em direito, já tinha  ganhado  fama  de  intelectual  precoce  interessado  na  crítica,   no magistério e no jornalismo  político. Tanto que no Rio de Janeiro logo  galgou  lugar  de relevo na imprensa,  tornando-se redator-chefe do Correio da Manhã durante bom tempo, dividindo-se entre o jornalismo  político e a crítica literária onde fez sucesso  nacional.Chegou a ser  Embaixador em Portugal no governo de Juscelino  Kubitscheck e lecionou Estudos  Brasileiros.na Universidade de Lisboa.
Naqueles tempos idos,  para simplificar, dois  nomes  estavam  em evidência.Álvaro Lins,  com o seu   impressionismo e  Afrânio Coutinho, nascido em Salvador,  Bahia, formara-se em medicina, mas logo dela  desistira e foi dar   aula em escola  da capital e escrever em jornais sobre  assuntos vários, sobretudo  literatura. Foi para os Estados Unidos  onde passou cinco anos  estudando  Letras na Universidade  de Colúmbia e em outras  universidades americanas.
                  Ao voltar para o  Brasil,  procurou logo   pôr em prática  a sua formação  e saber  no domínio  da crítica, quando  iniciou  seu  projeto de  lançar as primeiras   sementes   de renovação  do ensino e estudos   de Literatura no país  através de  doutrinação teórica e da divulgação, pela imprensa do Rio de Janeiro, onde passa  a morar,  do new criticism anglo-americano, ou melhor, da  “nova crítica”, e aqui coloco  a expressão em português  para ser coerente  com  a visão de Afrânio Coutinho, que preferia  essa denominação, porque ela não era  a única corrente crítica de renovação  de métodos  e abordagens do fenômeno literario   mas era uma dentro outros “movimentos  teóricos” que estavam  surgindo no Ocidente ( expressão de Jonathan Culler), como a  nouvelle critique francesa, a estilística espanhola,o  formalismo  russo ou eslavo, a  fenomenologia, a Escola de Zurich,  para não citar outros que surgiram posteriormente.
                  O que Coutinho  sublinhava  era o  fato de que  a “nova crítica”  fazia parte de um  vasto  movimento  teórico  universal que ia surgindo, segundo   frisei atrás,   com  novos  métodos  de abordagens do fenômeno  literario e artístico, com  fundamentação  em  estudos  literários de feição científica,  objetiva, dando  ênfase  maior aos elementos  intrínsecos da obra  em si,  centralizando sua atenção na linguagem  literária considerada na sua autonomia,  aportando variados  modos  de se  analisar,  interpretar e julgar  obras literárias, deixando para trás  o componente da subjetividade,   das impressões   e  do bom  ou mau gosto  do  impressionismo.
                .Deixava de lado  aquilo   que  dois autores  franceses   identificavam em síntese conclusiva  sobre  o impressionismo  na crítica: “O impressionismo possui  o grande mérito  de conservar na crítica  um charme, um prazer, os quais os  ‘críticos  sérios’ não mais logram   transmitir-nos. Além do quê,  todavia,  segundo vimos,  a sua  posição  é insustentável e dela   amiúde  somos,  aos poucos ou  de vez, impelidos a nos   afastar, não raro  nos  passa uma visão  rápida e superficial  das obras. Um estudo  paciente, atento, enfim,  erudito, não parece, por conseguinte,  tão inútil quanto  dele se diz.”( CARLONI, J.C. FILLOUX, Jean-C.  La critique littéraire Jean-C.  6ème édtion, 1969, p.64.  Paris: Presses  Universitaires de France – Que sais-je?).
Lins, por sua vez,  se manteve no magistério e nos jornal escrevendo  artigos e publicando  livros.Crítico  rigoroso, polígrafo notável, com  estofo de  pensador,  seus julgamentos   não tinham compromisso  com as amizades  pessoais, mas  com  a obra literária, com  o valor  de um escritor. Era difícil, ao criticar uma obra, não lhe apontar as qualidades e  os defeitos, não para  destruir  gratuitamente  um autor,  mas  para  fazer-lhe  sugestões  ou mostrar  formas  de um escritor  melhorar  a sua forma   de elaboração  ficcional, ou, quando não houvesse jeito,  não estimular  a obra de alguém  que não demonstrasse  talento para  produzir  literatura. Isso o fazia fosse um livro  de ficção,  de poesia,  de teatro, de história, de filosofia, não importasse o gênero.
 Grande parte dos escritores de maior grandeza  passaram por seu julgamento nos anos áureos de militância  deste “Imperador da Crítica”: Graciliano Ramos,  Guimarães Rosa,  Clarice Lispector, só para nomear uns poucos  de tantos outros  talentos criadores.
 Valorizando na obra  tanto  a personalidade  literária do autor quanto  a qualidade  da linguagem literária, sobretudo  o componente do estilo,   da imaginação e  da estrutura   de composição, da  unidade estética em que o artefato   literário   se torna   uma  forma  coerente  quanto  à correspondência  e adequação  a  determinado  gênero   a que se propôs o  autor, Lins  não dispensa  outros elementos   de estruturação  da obra, dando especial   realce  ao sentimento   de  vida  e verossimilhança  gerada  pelos meios  e técnicas  criativos  que se transformam   numa realidade  humana  possível com  personagens,   enredo, ações, espaço e tempo prenhes de vida  própria na sua autenticidade  e na sua  condição de seres  que pensam, agem,  choram e vivem a humana condição no  universo  ficcional, nas imagens e metáforas  de um poema ou  na dinâmica  viva  das cenas da dramaturgia  de vidas  criadas  pelo imaginário  do artista.
 E tal  procedimento  na militância critica e nos livros  vale também e em alto nível  de conhecimento  de literatura  universal , alicerçado  em  bibliografia  atualizada. Sua competência  crítica  e teórica  cresceram , reconhecia os novos marcos  de abordagens  críticas que vinham surgindo  nos grandes centros   do Ocidente. Seus últimos ensaios   testemunham  e confirmam  que o seu impressionismo  humanístico  não se mede por  meros  rótulos, muitos  deles injustos e parciais . Antigos  adversários lhe reconhecem,  anos depois,   o talento  e  a capacidade, além do valor  de sua  obra  grande para o tempo  que  viveu, que não foi muito. 
Os tempos  passam,  a polêmica continua até pelo menos a década de  60.Tem   simpatizantes  dos  dois lados. Lins, sempre  atento ao desenvolvimentos  dos estudos literários,   publica  seus  últimos  estudos   com  forte sinais de que  se modernizou. Seu pensamento crítico  tem  é d e  largo  espectro e dele faz umas vozes  críticas mais   importantes  surgidas no pais. Antonio Candido com muita exatidão o define como o mais “puro “ dos críticos  brasileiros.  
Descontada a fase  polêmica  de Afrânio Coutinho, e isso  é  oportunamente  lembrado  por Eduardo Portella (Dimensões I. 3 ed. Rio de JaneiroTempo Brasileiro/MEC,p. 32-33 ), Coutinho  passou   à fase das realizações,  do amadurecimento  que os anos  favorecem, vê  concretizados   tudo que  há tempos   perseguia com  sofreguidão,  com determinação. Sobretudo no meio acadêmico   a sua  doutrinação    se tornou   realidade. Sua pregação  por  uma mentalidade  atualizada nos estudos  literários  do pais,  no ensino superior  de Letras bem com no ensino médio,   mostrava seus  bons resultados. O meio acadêmico lhe deve isso.
Os estudos  de Letras se puseram em sintonia  com o que lá fora, nos grandes centros,  se tem feito para aperfeiçoar  o nível  dos estudantes e a qualidade de nossos  cursos de Letras, com a implantação da pós-graduação, nos níveis de atualização e  especialização   lato sensu e de  progressivos e  mais complexos   níveis de pesquisa  stricto sensu de produção acadêmica,  o mestrado,  o  doutorado,  o  pós-doutorado. No Rio de Janeiro,  tudo isso tem o dedo de Coutinho que, tendo  ingressado  na Universidade do Brasil, primeiro como  professor  interino e, depois, como  professor catedrático  por concurso, de  literatura brasileira do  curso de  Letras daquela universidade, sucedendo ao grande  crítico  Tristão de Athayde, que se aposentara.
Faz um ano um  jovem ensaísta, Miguel Conde, que escreve periodicamente  para o  Prosa & Verso, do jornal O Globo,  retomou  em artigo de título  “O dever de agredir”(20/10/2012) bastante lúcido a questão da polêmica entre Lins e Coutinho mas tocou em alguns pontos  de ordem opinativa  de leitor ao afirmar  que não  lhe parece    serem  mais  motivadores   os textos  de Lins  e muito menos os  de Coutinho, ainda que  tenha  equacionado sua  discussão sobre o tema da polêmica   de forma  equilibrada,  isto e,    sob perspectivas  de leitor  da atualidade. Entretanto,   não vejo  como   matéria  de importância secundária   a releitura  tanto de Lins quanto de Coutinho,  sobretudo se tenho  em vista  uma pesquisa de  revisão e  resgate  das obras dos  dois críticos  e ainda mais quando tenho  por objetivo  uma visada daquilo de bom  ou ótimo ou mesmo  de ruim  na produção legada por  ambos.
 Ao contrário,  ao pesquisador  da história literária  discutir o nível os vários aspectos dos atores que, ao longo  dos tempos formaram o corpus  da  história da crítica literária brasileira  é oportuno,  notadamente  com  o distanciamento  que temos  dos anos  40, 50 e  60,  e é  o  que venho fazendo em  pesquisa no momento.

Desta reavaliação poderemos   verificar até que ponto  dois críticos  tão diferentes e com  poucas  semelhanças   de vida  intelectual e de interesses  de  aperfeiçoamento de formação cultural nos  instigam a releituras que, pelo menos  para quem,  escreve  este artigo ainda tem muito a  dizer e a ensinar. Não,  talvez ,a  quem  se  prende  ao canto de sereia   da aventura  intelectual do primado   do presente,  que julgo ser   um dos  exageros  da gerações  mais novas.Lembro,  por sinal, neste fecho  de artigo, as palavras do velho  crítico  expressionista  Tristão de Ataíde; “Tudo é novo debaixo do sol, ao contrário do que considerava o pessimismo do velho  Salomão, exceto a escala intrínseca dos valores” LIMA, Alceu Amoroso.Quadro sintético da literatura brasileira. 3 ed revista e ampliada,  Rio de Janeiro: Edições de Ouro, p.152).

domingo, 27 de outubro de 2013

Seleta Piauiense - Jonas Fontenele da Silva


Paisagens da carne

Jonas Fontenele da Silva (1880 - 1947)

O teu corpo lirial, do alvor do Sete-estrelo,
é uma verde floresta em cuja sombra e solo
passam deusas pagãs de aljava a tiracolo;
há rouxinóis de aroma em teu loiro cabelo.

Muita vez sob a ação de infernal pesadelo
se transforma o teu vulto em paisagens do polo
e cuido ver na alvura hibernal do teu colo
a refração do luar nas montanhas de gelo.

E, na alucinação de apaixonado, creio
ver dois ursos, do Sol aos mortiços lampejos,
dois ursos de rubis nos botões do teu seio.

E do gelo polar entre as pratas e espelhos
vejo ao longe os viris esquimaus dos meus beijos,
lança em punho, em caçada - a esses ursos vermelhos...  

sábado, 26 de outubro de 2013

Tradição cívica inventada


Fonseca Neto

Muitos temas interessantes estudados em chave historiográfica por gente de nossas universidades. E a educação é assunto entre os que mais aparecem como objeto de monografias em geral, sobretudo dissertações e teses. Em sua atribuição institucional, a Ufpi tem publicado alguns desses estudos. 
Um deles clama atenção, com especial pertinência, neste momento em que se fala muito sobre educação e ensino públicos e pouco se discute sobre as raízes do impasse multissecular que impede cumpram eles um papel mais decisivo na melhor qualidade da vida social. Refiro-me ao livro “A construção da memória cívica – espetáculos de civilidade no Piauí (1930-1945)”, tese doutoral, de autoria da professora Salânia Maria Barbosa de Melo. Uma obra que examina o mundo da vida escolar nos estabelecimentos públicos estaduais, com foco numa variável que, por agitar as nervuras das “trocas simbólicas”, deixaram as chamadas marcas indeléveis na memória pessoal-coletiva de mais de uma geração. Quem estudou em escola pública, e até nas particulares, no tempo acima indicado e nas duas décadas seguintes, lembra com certa nostalgia as festas cívicas, com muito impacto comunitário.
E quem não lembraria do cotidiano ritualizado das escolas? Da formação diária nos pátios ou átrios do prédio escolar, para cantar hinos, ouvir preleções, rezar? As visitas das “autoridades constituídas” e até a comemoração de seus aniversários? As datas cívicas, propriamente, ou que fossem as datas festivas tipo “dia do trabalho”, aniversário da diretora/diretor, “dia da árvore”?  
Salânia examina como isso se deu no Piauí, emulando as sensações dos signos  ideológicos e políticos alçados ao poder a partir de 1930, particularmente o furor nacional-estadonovista, desde 1937. Educar o povo no sentimento de amor à Pátria se tornara um significante a permear o processo educativo escolar, como condição de colocar o Brasil sob o farol de certa modernidade. Generalizou-se nesse tempo, quanto possível, o uso cerimonial do “pavilhão” nacional, o aprendizado prático do hinário brasileiro: do Nacional, à Bandeira, à Independência, etc. As celebrações do Sete de Setembro incorporaram, de vez, a estética marcial dos desfiles militares.
As pessoas, em geral – e a autora trabalha também com falas-fontes orais –, puxam da memória emocionais referências de apreço a tais espetáculos, como se eles fossem algo inerente à vida escolar em seu processo historicamente dado. Mas ela analisa essas manifestações e ritualizações enquanto “tradições inventadas”, no sentido delineado por Eric Hobsbawm, de “práticas, de natureza ritual ou simbólica, visando inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição [implicando] uma continuidade em relação ao passado”. Aliás, colha-se aqui uma aparente contradição nesse protagonismo do tempo: o Estado era “novo”, mas fabricando tradições e esculpindo o tão ideologicamente acariciado marco-mico-mito fundador dos manés venturosos. Valeu a invenção? Ganhou o getulismo: ficou a impressão de uma escola melhor. Era? 
Configurando o quadro da vida social piauiense do tempo, Salânia examina nele o processo educacional-escolar, identificando celebrações escolares com forte impactação comunitária, tornando-se referências muito especiais da cultura local – aliás, faz questão de acentuar que seu estudo se insere na perspectiva da chamada História Cultural. Com suporte em registros hemerográficos dessas festas de colégio, também muito utilizados na pesquisa, várias delas vêm descritas, em detalhes. E há variado repertório fotográfico de cenas festivas de rua e de inaugurações de prédios escolares, na capital e no interior – alguns tão familiares a quem conhece, por exemplo, Buriti dos Lopes, Floriano, Regeneração.
O esforço de ampliação do ensino e de acabar com o analfabetismo animou os planos da “revolução” de 30, daí a quase federalização do ensino básico. Mas não avançaram as ideias de alguns formuladores sobre a escola necessária ao Brasil. De 64 em diante, ressignificaram as comemorações e restaram diminuídas as festas, por incompatíveis as aglomerações com a tirania silenciadora da ditadura, que feriu o mundo escolar.
Está fixada, pois, uma contribuição valiosa da doutora Salânia (anfíbia de Ufpi, Uespi e Uema), para se compreenda, passes, impasses e permeações que assinalam o percurso acidentado da educação escolar no Brasil. Livro bom de ler; claro, enquanto se degusta a capa, uma emanação artística direta da memória hipocâmpica do genial Antonio Amaral. 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Terceiro segredo de Fátima cumpriu-se?


José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

       A mensagem do padre, na internet, louvava Nossa Senhora de Fátima e seus milagres, no festejado dia 13 de outubro. Algumas pessoas responderam com simples amém. Perguntei-lhe no que resultou a famosa profecia conhecida como Terceiro Segredo de Fátima. O sacerdote, presumindo uma polêmica, não me respondeu. Eu precisava de uma informação. Só.
       Três crianças, Lúcia, Francisco e Jacinta, em Portugal, tiveram uma visão da Virgem, enquanto cuidavam das ovelhas da família, num descampado perto da cidade de Fátima. Segundo os videntes, a Senhora apareceu-lhes no dia 13 de maio de 1917, pedindo-lhes se dirigissem àquele local, durante seis meses, sempre no dia 13 e mesmo horário. “Depois disso, dir-lhes-ei quem sou”.
        A Senhora prometeu-lhes um sinal que seria presenciado pela multidão de curiosos, “para que acreditassem”. A notícia atraiu muita gente e a imprensa, reunindo 70 mil curiosos na última aparição. Fotógrafos e repórteres da época informavam: “O Sol dançou no espaço e pareceu precipitar-se sobre a Terra”. O fenômeno foi visto num raio de 40 km.
        Autoridades da época chegaram a prender os videntes, ameaçando-os de açoites, se divulgassem os segredos revelados nas visões. Que segredos? Em 13 de junho, a Senhora avisou-lhes que Jacinta e Francisco morreriam em breve, o que aconteceu. “Lúcia permanecerá para servir a Jesus e testemunhar as profecias”. A Senhora pedia orações para acalmar as convulsões sociais que adviriam: uma Segunda Guerra, pior que a Primeira, desvios do clero, comunismo russo, que espalharia o ateísmo pelo mundo, atentados ao Papa, turbulência na Igreja. Praticamente, o Terceiro Segredo de Fátima constitui-se dessas angústias. Papas evitaram a exploração das profecias para não ocorrer sensacionalismo e histeria coletiva.
        Lúcia, em 1925, recolheu-se à vida monástica e evitou o estrelismo. A Virgem Maria apareceu-lhe outras vezes com orientações. O Papa solicitou-lhe que redigisse um documento com todos os detalhes, entregue em 1941. O Terceiro Segredo de Fátima foi envelopado e entregue ao Vaticano, para ser aberto depois de 1960. A freira faleceu aos 98 anos.
        Verdade ou não, o mundo, depois da Segunda Guerra, já experimenta conflitos sociais nunca vistos, “crescimento das iniquidades e perda do sentimento do amor”- conforme predissera Jesus para final dos tempos (Mateus, 24, 12).
        Santuário de Fátima, finalzinho da fria tarde, multidão de gente na imensa praça. Fui tomado de rara sensação, que me roubou algumas lágrimas. Só faltou o Sol dançar para minha câmera registrar.   

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Vereador homenageia escritor piauiense

Vereador Inácio Pinto - autor do requerimento de concessão do título

O vereador Inácio Pinto (PCdoB) de Amarante, reconhecendo a importância do escritor José Elmar de Carvalho para a literatura piauiense, entrou com requerimento junto à Mesa Diretora da Câmara Municipal de Amarante para a concessão de Título de Cidadão para o renomado homem das letras do Estado d Piauí.
Inácio, em sua justificativa para o requerimento, disse: "Dr. Elmar é uma pessoa muita ligada à nossa cidade. Sempre se faz presente aos acontecimentos culturais em nosso município. Ele já produziu vários poemas sobre Amarante e construiu um grande círculo de amizade com nós, amarantinos".
A data da entrega da honraria ainda não está marcada, mas o homenageado disse que está ansioso para receber o título. "Eu já me sinto amarantino. Sempre me identifiquei com a "Terra de Da Costa e Silva". Estou bastante emocionado com a homenagem que os vereadores de Amarante estão me prestando, principalmente o vereador Inácio Pinto, autor do requerimento", concluiu Elmar Carvalho.     
Fonte: Portal Meio Norte/Blog Amarante

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Cunha e Silva : um jornalista militante e humanista


Cunha e Silva Filho

Ontem estive umas boas horas examinando meus modestos arquivos procurando organizá-los melhor com o objetivo de torná-los mais facilmente acessíveis às minha próprias pesquisas. O leitor bem sabe o quanto é trabalhosa a tarefa de distribuição de matérias impressas de acordo com a área do conhecimento, ou melhor dizendo, com os assuntos guardados há tantos anos. No entanto, há um dado delicado que não se pode perder de vista: o extremo cuidado de manusear uma quantidade de velhos artigos de meu pai, o jornalista, professor, membro da Academia Piauiense de Letras (1975) e escritor Cunha e Silva (1905-1990). 
                  Além disso, pertenceu ao antigo Cenáculo Piauiense de Letras, ao Instituto Histórico e Geográfico do Piauí, à União Brasileira de Escritores e ao Sindicato do Jornalistas do Piauí. Foi ficcionista, historiador, poeta, orador eloquente, polemista ferino de grandes recursos, cronista literário. Tinha vocação para a crítica literária, embora tenha sempre negado essa dimensão do seu talento polimorfo. Escrevia com facilidade sobre vários assuntos e era um espírito de intelectual sempre ativo e antenado aos grandes problemas e temas da humanidade.
                  Fervoroso admirador das conquistas tecnológicas e científicas, sem, contudo, deixar-se contaminar pelo materialismo e pelas delícias terrenas, visto que seu mundo se direcionava para a dimensão da espiritualidade, para um cristianismo puro, sem formalismos eclesiais nem suntuosidades do catolicismo. Era um crente em Deus. Sua visão do Criador, exposta em artigos, está presente num soneto de sua autoria sob o título “Deus”: Deus é a inteligência infinita/Increada, mas criadora e eterna/Em torno da qual o Cosmo se agita/Se move em ordem em harmonia terna//Deus é a fonte de toda a energia,/`É a causa primeira do que existe,/Neste mundo imensurável e de magia,/Em tudo que de belo nele consiste.//Deus é a raiz de toda sabedoria,/A razão de ser de toda grandeza,/Que nos conforta mais do que na alegria.//Deus está presente em todos os seres/,/Mais próximo do homem em sua tristeza/Em suas mágoas mais do que em seus prazeres.
                        Passando os olhos em artigos do veterano jornalista piauiense, nascido em Amarante e onde está sepultado, comprovo, mais uma vez, a operosidade de sua atividade na imprensa. É muito extensa, espantosa mesmo, tomou-lhe toda a vida útil e posso afirmar com orgulho que provavelmente tenha sido em vida um dos jornalistas brasileiros que mais tenha escrito no tocante a número de artigos para a imprensa principalmente.
                        Era da velha geração dos jornalistas que não passaram pelo curso de Comunicação Social, na sub-área de jornalismo, que só surgiriam com a fundação das nossas universidades alargando os estudos das áreas humanas, que não mais se restringiriam ao curso de direito e de filosofia. Os jornalistas da geração de meu pai tinham que ter talento para escrever bem e com a necessária velocidade de publicar artigos quase diariamente e, em alguns casos, diariamente nos jornais, sobretudo das capitais e de algumas cidades mais desenvolvidas do interior do país. Quem não se enquadrasse nesse perfil seria mais difícil manter-se como colaborador da imprensa.
                      Do jornalista os leitores exigiam cultura geral, visão abrangente e atenta aos fatos acontecidos diariamente na cidade do profissional da imprensa, no país e no mundo. Mas, o tipo de jornalista que mais se distinguia na época era aquele que mantinha coluna versando sobre política. Meu pai se encaixava neste perfil: era um apaixonado pelos temas políticos e sociais.Acredito que tenha tido interesse pela política desde a infância e a adolescência em Amarante, pois uma vez me relatou algumas discussões calorosas que teve com colegas em posições políticas de oposição. Amarante, nas primeiras décadas do século passado, era cenário de acirradas competições políticas envolvendo sobretudo o governo municipal e os partidos de então. 
              Era tão intensa a atividade política local que famílias se dividiam em campos antagônicos disputando as eleições municipais e se posicionando quanto às suas preferências por candidatos a deputados, vereadores, governadores, senadores e presidentes da República nos períodos, é claro, de vigência democrática.(1) Foi a partir dessa convivência provinciana que Cunha e Silva se foi formando, preparando-se para futuros dias em que, já como jornalista, mergulharia fundo nessa atividade até os últimos dias de sua existência. Culturalmente, tinha a seu favor acumulado uma sólida formação humanística, adquirida quando aluno do Colégio Salesiano “Santa Rosa” em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, no qual ficou de 1920 a 1922, cursando humanidades, mas sem terminar o último ano.
                No entanto, repetiu o último ano do secundário no Colégio Salesiano “São Manuel,” em Lavrinhas (São Paulo) e o concluiu.   Segundo ele mesmo declarou em artigo muitos anos depois, isso lhe serviu para “adiantar-se mais no estudo do latim e grego.”(2) Em 1923, meu pai terminou o Noviciado, cursando, depois, filosofia sem porém, concluí-lo, visto que desistira da carreira eclesiástica. Se tivesse dado continuidade aos estudo de seminarista, de Lavrinhas iria para Turim, na Itália, a fim de fazer o curso de Teologia, ordenando-se sacerdote.(3) Em 1926, volta ao Piauí para rever seus familiares e, logo, retorna ao Rio de Janeiro, onde casa em 1927, ano em que regressa definitivamente para o Piauí, indo morar na sua terra natal, Amarante. Antes dos trinta anos, torna-se professor do Ginásio Amarantino, dirigido por Odilon Nunes, futuro grande historiador piauiense 
                    Tornou-se competente em várias disciplinas, filosofia, latim, nas línguas latina, francesa, italiana, conhecia regularmente inglês, era profundo em geografia, filosofia e história, da última das quais se tornaria professor catedrático em Teresina. Em seguida, tendo Odilon Nunes dirigido o Ginásio Amarantino, em cuja direção ficou durante uns quatro anos, “passa" a direção desse colégio para o professor Joca Vieira (4).
                  Depois, meu pai adquire suas instalações e funda o seu Ateneu “Rui Barbosa’, onde vai lecionar, sozinho, os cursos primário, de admissão e complementar. Em entrevista memorável (5), já bem idoso, meu pai afirmou que era um professor nato e, por isso mesmo é que seu colégio se tornou um educandário famoso pela competência provada de Cunha e Silva. Lá o aluno aprendia de tudo, num leque de disciplinas que ia do estudo de português, matemática (aritmética, álgebra, geometria), geografia, história e até francês e inglês.O Ateneu “Rui Barbosa” durou quinze anos e só foi extinto porque meu pai, em 1947, foi estabelecer-se em Teresina, onde ficaria definitivamente.
                    Na capital daria continuidade à sua carreira no magistério e à sua atividade jornalística durante longos anos. O maior orgulho de Cunha e Silva era porque por sua escola, por sua orientação pedagógica, séria e rigorosa, passaram diversos alunos que se tornariam nomes conhecidos em várias áreas do conhecimento e de profissões, como altos funcionários do Banco do Brasil, governadores, senadores, deputados, engenheiros, militares de alta patente.(6) Enquanto dava aulas no Ateneu “Rui Barbosa”começara a escrever para jornais de Teresina e de Floriano, interior do Piauí. Tornou-se bem conhecido como jornalista talentoso e respeitado ainda bem moço.
                   Seus artigos eram originais, destemidos e criticavam a “mentalidade reacionária e fascista do momento”.(7) Na Intentona Comunista, em 1935, é injustamente acusado, processado e condenado pelo extinto Tribunal de Segurança Nacional (8), tendo cumprido pena durante um ano em quartel de polícia de Teresina. por motivos políticos e sob a alegação de que era comunista e dispunha na biblioteca de sua casa, em Amarante, de livros marxistas, além de estar ligado à Aliança Renovadora Nacional. Foi denunciado à Polícia em Amarante, que lhe vasculhou a casa e, por ordem do Cel. Delfino Vaz (9), figura sinistra que, infelizmente, não sei por que motivo, virou até nome de Praça em Teresina.
                     Um intelectual piauiense, cujo nome desejo resguardar, uma vez, em Teresina, me apontou, de carro, um lugar privilegiado, no coração de Teresina Era uma praça que leva o nome do responsável pela prisão de meu pai, Fez-me a seguinte observação: “Veja, Cunha, esta praça deveria levar o nome de seu pai, não do seu verdugo.” O jovem jornalista, em Amarante, ao receber a “visita” da polícia, entrou em luta corporal com os policiais,, que lhe tomaram um revólver, com muito custo, pois meu pai era homem forte e corajoso, embora de estatura baixa.(10) Confessara-me meu pai que realmente tinha alguns livros de orientação marxista de uma pessoa que aparecera de passagem por Amarante, e lhe pedira que ficasse com eles. 
                   Ora, para um jovem intelectual com tantos projetos de vida no campo cultural, não pode haver discriminação de tipos de leituras e autores sob pena de deformar sua própria formação cultural. Durante toda a vida, meu pai lia intensamente livros das áreas de sua predileção, ciências políticas, filosofia, sociologia, economia, geografia e história. Após deixar a prisão, voltara para Amarante dando continuidade às suas aulas de professor até 1947 quando, segundo salientamos antes, mudou-se para Teresina. Foi nos anos de permanência em Teresina que meu pai viveu provavelmente os anos mais duros de sua vida, quer como professor , quer como jornalista. 
                   Porém, foi nessa cidade que contraditoriamente também experimentou alegrias e conquistas no magistério e no jornalismo. Neste artigo, me limitarei a comentar esquematicamente o seu papel de jornalista na vida política piauiense, ainda que jornalismo e magistério estão sempre interligados na vida desse escritor. O jornalismo de Cunha e Silva possui uma característica inconfundível e exponencial e pode-se dividir em três fases: 1) a que vai dos meados de 1940 à década de 1960, antes da ditadura militar; a segunda fase abrange sobretudo todo o período da ditadura militar e a terceira fase vai do final da ditadura militar ao período de redemocratização.
                  Pelo visto, é um longo período de militância ininterrupta e qualitativamente fecunda, visto que praticamente escreveu para todos os jornais do Piauí e uma vez, teve publicados artigos seus no Diário de Notícias do Rio de Janeiro, e no jornal O Imparcial, de São Luís, Maranhão,citando-se, para ilustração, os seguintes jornais piauienses em que colaborou como colunista, redator ou editorialista, praticamente sem remuneração: O Floriano, O Piauí,Resistência ( diretor), A Gazeta, O Tempo, O Dia, Jornal do Piauí, A Luta, O Pirralho, O Liberal,Estado do Piauí, entre outros, a par de publicações de artigos em revistas diversas do Piauí:
                     Na primeira fase, que se inicia ainda em Amarante e já com expressiva participação no jornal, seu jornalismo já despontava com uma marca de uma pena ágil, clara, objetiva e destemida a serviço da defesa de causas sociais, e de repúdio a quaisquer regimes autoritários, fosse em Amarante, fosse na política estadual e federal, fosse no mundo com as suas grandes, complexas e desafiadoras questões nos anos trinta e quarenta do século XX. Da mesma maneira, nessa fase o jornalista aprofunda cada vez mais as sua militância, acompanhando de perto os sucessivos governos do Estado do Piauí, quase sempre na oposição contra os desmandos dos governantes, Fez campanha a favor da UDN que elegeu o governador Rocha Furtado. 
                Como estivesse ao lado da UDN, o governador lhe conseguiu uma cadeira de geografia no Colégio Estadual do Piauí (antigo Liceu Piauiense). Desentendo-se com a UDN, passou a fazer acerbas críticas ao governador Rocha Furtado que, como retaliação, o destituiu da cadeira de geografia, deixando-o desempregado e curtindo as privações financeiras além de ameaças contra ele seguramente vindas de setores do governo estadual.(11)
                 Foram dias de grandes atribulações financeiras, pois como professor em escolas particulares, conquanto desse aulas da manhã à noite, não conseguia sustentar dignamente a família e dos artigos que escrevi para os jornais nada recebia, artigos cada vez mais corrosivos e virulentos contra o governador e seus auxiliares (11). Meu  pai recebia ajuda de alguns amigos e colegas. O escritor A.Tito Filho, em artigo por ocasião, do falecimento de meu pai, escreveu-lhe um comovido e importante artigo-homenagem. Num trecho resume a agressividade que era a norma da política daquela época: “ política da época não aceitava rebeldias, A punição se fazia necessária e rigorosa. Os que se rebelavam perdiam o emprego público, tivessem ou não responsabilidade de família.” (12) Ao romper com a UDN, passou para o Partido Social Democrático. Com a eleição de Pedro Freitas, candidato da oposição a Rocha Furtado, meu pai recuperou um pouco o abalo financeiro, conseguindo do novo governador duas cadeiras no magistério, no Colégio Estadual do Piauí e na Escola Normal “Antonino Freire”. Nos jornais, continuava na defesa do PSD e verberando contra a oposição.
                  Foram anos de intensas lutas político-partidárias.  Veio o governo de Petrônio Portella e do governador ganhou o cargo de diretor da Casa Anísio Britto que englobava administrativamente o Arquivo Público, a Biblioteca e o Museu do Piauí.(13) Fora nesse período que teve oportunidade de aprofundar ainda mais seus conhecimentos, sobretudo no campo da História do Brasil, quando aproveitou para se preparar a uma prova para a cátedra de História do Brasil da Escola Normal “Antonino Freire.” Escreveu, então, a tese, A odisseia do cativeiro no Brasil.(14) Realizou-se o concurso e dele saiu aprovado não sem ter enfrentado alguns obstáculos decorrentes de suas posições políticas e da sua veia crítica. Escrevera ainda outra tese de títuloO papel de Floriano Peixoto na obra de proclamação e consolidação da República (1957), apresentada à cátedra de História do Brasil do Colégio Estadual do Piauí. Não me consta que tenha sido realizado o concurso de defesa dessa tese.
             Deixou, por último, uma obra, de título Gatos de Palácio, sátira política, ainda inédita. Desejo acentuar que meu pai sempre encontrou algumas pedras no caminho que procuravam prejudicá-lo. Da função de diretor da Casa Anísio Britto pediu demissão simplesmente para solidarizar-se com um amigo desafeto do governador.(15) Era assim meu pai, um espírito elevado, que colocava a dignidade pessoal em primeiro lugar ainda que isso lhe custasse dissabores de toda ordem. No governo de Chagas Rodrigues, foi nomeado diretor do Colégio Estadual do Piauí, função na qual pouco demorou, pois, tendo punido um professor que saiu da linha de seus critérios de administração, o professor recorreu à Justiça e o juiz de direito da capital concedeu-lhe mandado de segurança.
           Considerando-se desprestigiado, deixou o cargo.(16) Na segunda fase, houve um longo e tumultuado caminho de sua militância jornalística. Era o tempo de uma fase delicada do governo federal que, em última análise, resultou na tomada do poder pelos militares. Foram longos anos de autoritarismo, de ausência de liberdade e de partidos de fachada, de prefeitos e governadores biônicos. Vieram os anos de chumbo. Nesses anos, meu pai prosseguia escrevendo no meio do vendaval de profundas mudanças na estrutura política do país, tendo, além disso, a presença atuante da censura à imprensa. Veio o AI-5, o exílio de políticos de projeção, de professores, de cientistas, de artistas e intelectuais que combatiam a ditadura. Cunha e Silva não se deixou intimidar, mostrava os erros dos governantes, defendia o seu credo político, a democracia social.
                    Combatia sempre os regimes discricionários, quer no país , quer no exterior. Seu jornalismo já o encontrava na fase de grande amadurecimento e equilíbrio e sabia como criticar sem se expor ingenuamente. Até mesmo na sua produção fora do jornalismo, suas ideias de esperança na democracia e na vontade de ver seu país um dia vivendo sob um regime de democracia social nunca arrefecera de seu espírito e e de suas preocupações constantes. Tal se refletiu em dois livros que publicou, A república dos mendigos (17),do qual tive o privilégio de fazer uma pequena introdução e do seu livro Copa e cozinha(17). Em ambos, ainda que, no primeiro tenha utilizado o gênero ficcional, há o viés político, a crítica aos regimes fechados e a defesa da democracia social.
                Na terceira fase, sua forte vocação de jornalista político, malgré lui, não consegue se desprender da notação ideológica por ele cultivada, ou seja, há na sua visão de escritor um elemento jamais descartável, o proselitismo de um espírito para quem a única saída para os problemas sociais do mundo é o exercício da democracia social, implantada na sua plenitude desde que o homem político e o ser humano em geral se transformem pela humanização e desprendimento dos bens materiais, tal como se pode ver encarnado no protagonista – e seguramente o alter-ego do autor -, Simão Lopes, da novela A república dos mendigos, já citada. Simão Lopes não é apenas uma mera construção ficcional.
             É, antes, símbolo, com sua matriz na República de Platão, de um mundo de harmonia e paz social, de justiça e de humanidade entre as pessoas, mundo para alguns utópico, mas que, na verdade, é real na possibilidade da arte de ficção. 

À guisa de conclusão: 

             O presente estudo está longe de ser desenvolvido em maior profundidade, inclusive em virtude de falhas de pesquisas, que demandariam deslocamentos do autor para consultas em Arquivos e Bibliotecas de Teresina, Amarante, Floriano, Niterói e Lavrinhas,  além de testemunhos de pessoas que o conheceram na melhores fases de sua atuação jornalística. No tocante a leituras e releituras dos artigos e da produção existente de meu pai visando a um trabalho de envergadura de análises dos seus textos e de seu pensamento político e intelectual,  minha pretensão, por enquanto, fica apenas na vontade  de ver um estudo realizado neste nível. Desejo acrescentar que a bibliografia passiva de  meu pai ainda não foi levantada com todo o cuidado que a relevância do jornalista piauiense merece da parte de estudiosos.

 Notas bibliográficas:

 (1) Grande parte dos dados informativos de caráter biográfico deveram-se a diversas conversas que com meu pai mantive na adolescência em Teresina, Piauí, depois confirmadas por alguns artigos de cunho memorialístico que publicou ao longo da vida. Devo acrescentar que sentia que  tinha prazer de contar-me alguns aspectos de sua vida passada, tanto no Piauí quanto no Rio de Janeiro e em Lavrinhas, Estado de São Paulo.
 (2) SILVA, Cunha e. A virtude está no meio. Só tenho o recorte do jornal, mas provavelmente foi publicado em O Liberal, Teresina( PI). Só uma indicação : encontro no verso do recorte: Teresina, Dom./Seg. 26/27 de Setembro de 1988. 
(3) Em conversa com meu pai nas condições indicadas na nota “1” acima.
4) SILVA, Cunha e. Omissão injusta. Jornal Estado do Piauí, Teresina, 22 de julho de 1983. Tais informações se encontram igualmente em outros artigos memorialísticos de Cunha e Silva
(5) Entrevista: Prof. Cunha e Silva. In: EDUCAÇÃO. Ano III, Nº 06 – Revista Trimestral – 15/10/1986., p. 17-22. Órgão Oficial da Secretaria de Educação do Estado do Piauí.
(6) SILVA, Cunha e. Amarantinos ilustres. Recorte do artigo provavelmente publicado no jornal Estado do Piauí, Teresina,
(7) SILVA, Cunha e. Profissão de fé. Jornal Estado do Piauí, Teresina, PI., publicado em duas partes, a primeira em 24/06/1980, a segunda, em 27/06/1980. (8) TITO FILHO, A. Op. cit.
(8) TITO FILHO, A. Cunha e Silva. In: Crônicas de A. Tito Filho. Teresina, PI.: Gráfica do Jornal O Dia, 1990, p. 65-66. Texto conseguido em cópia-xerox. Antes, tinha do mesmo outra cópia-xerox que um amigo piauiense há muito tempo me ofertou, mas não apresentava a fornece a imprenta correspondente anotada à mão e à tinta. Este texto, assim como outro de autoria de José Maria Soares Ribeiro, Elogio da sombra, com extensão de um ensaio de 5 páginas, constitui parte do capítulo “Perfis”. Vale enfatizar que ambos, a meu ver, de tudo que pude ler sobre Cunha e Silva, me parecem o que há de melhor sobre o entendimento da personalidade intelectual e do pensamento e ideias de meu pai. A  obra de José Maria Soares Ribeiro,  também um cópia-xerox  presenteada pelo mesmo amigo piauiense, não contém tampouco dados da imprenta.
 (9) Idem, ibidem.
(10) Informação a mim transmitido por um amigo de Cunha e Silva.
(11 )TITO FILHO, A. Op. cit.
(12) Idem, ibidem.
 (13) Ide, ibidem.
(14) SILVA, Cunha e. A odisseia do  cativeiro no Brasil. Teresina: Imprensa Oficial, 1952. 61 p. ( Tese apresentada à Escola Normal “Antonino Freire” no concurso para catedrático de História do Brasil).
(15) TITO FILHO, A. Op. cit.
(16) Idem, ibidem.
(17) A república dos mendigos (novela) . Rio de Janeiro, RJ.: Folha Carioca Editora Ltd., 1984, 135 p. Introdução de Cunha e Silva Filho.
 (18) SILVA, Cunha e. Copa e cozinha. Teresina: Academia Piauiense de Letras/Projeto Petrônio Portella, 1988, 127 p. 

  Artigos do autor deste Blog sobre Cunha e Silva: 

1. Esboço biobibliográfico e crítico. Estado do Piauí, Teresina, 29/07/1974.
 2. Em defesa de um autor. Jornal do Piauí, Teresina, PI., 22/01/1982.
 3. Cunha e Silva: oitenta anos. Jornal do Piauí, 07/08/1984.
 4. A ausência presente. In: SILVA FILHO, Cunha e. As ideias no tempo: crônicas, artigos, resenhas e ensaios. Teresina: Academia Piauiense de Letras/Gráfica do Senado, Brasília, DF., 2010, p. 47-48. Artigo anteriormente em jornal de Teresina,PI. 
5. Três encontros com meu pai. Idem, ibidem, p. 262-264.
 6. Relendo Copa e cozinha. Jornal da Manhã, Teresina, PI., 1988. Posteriormente publicado na obra As ideias no tempo, op. cit.
 7. Um ano sem Cunha e Silva. Jornal da Manhã, Teresina, PI., 17/02/1991
8. Nas estantes de Cunha e Silva. Meio-Norte, Teresina, PI., 03/10/2004
9. Cunha e Silva: centenário, fotos e saudades (em duas partes). Meio-Norte, 20/01/2006. Seção Presença da Academia. 
10. Recordando Papai (duas partes). Diário do Povo, Teresina, PI., 30/10/2007. 
11. Cartas a meu pai (1). Diário do Povo. Teresina, PI., 14/08/2008 
12. Cartas a meu pai (Conclusão). Diário do Povo. Teresina, PI., 14/08/2008.
13 O menino, o pai e a garapa.
14.Memórias de Papai: sede de sabedoria.Ver Arquivo deste Blog.

15. Cunha e Silva, enfim, a consagração.Ver Arquivo  deste Blog.

domingo, 20 de outubro de 2013

Seleta Piauiense - Félix Pacheco


SE SOUBESSES...

Félix Pacheco (1879 - 1935)

Ah se soubesses quanto choro ao vê-las,
Estas lembranças do passado extinto!...
São visões de necrópole que sinto.
Fugiu-me o sol, fugiram-me as estrelas.

Estes cartões terníssimos; aquelas
Cartas cheias de amor, nas quais não minto
E onde infantil e ingenuamente pinto
Inventadas, fantásticas querelas;

Se tu soubesses com que dor enorme
Estes papéis amarelados leio,
A mágoa que me oprime ao ver que dorme

Toda a antiga paixão de que te esqueces;
Se imaginasses o meu duro anseio
E visses o que sofro, ah! se soubesses...   

sábado, 19 de outubro de 2013

Faleceu o comerciante Chagas Leite

Fontes: blogs Bitorocara e Zanzando na Rede

João Alves Filho

Faleceu e foi sepultado ontem no cemitério São João,às 17 horas -  FRANCISCO DAS CHAGAS LEITE. Com a sua morte desapareceu também a simpatia, o sorriso largo e descontraído, o cidadão farto, o homem de mais de dois mil afilhados, o comerciante do ramo farmacêutico e instrutor dos seus funcionários na histórica FARMÁCIA SÃO GERALDO. Faleceu também o espírito progressista que tanto colaborou com as causas sociais de Campo Maior. Colaborador  do Comercial Atlético Clube e  do Caiçara Esporte Clube, aplicado estudante do Ginásio Santo Antônio, o católico que levou mais de 2.000 crianças à PIA BATISMAL para ser padrinho. O destacadíssimo funcionário da histórica CASA INGLESA - década de 1950; sócio fundador do Campo Maior Clube, do Iate Clube Laguna, do Rotary Clube de Campo Maior e maçom virtuoso de reconhecida conduta e de espírito fraternal da Loja Maçônica Fraternidade Campomaiorense.

CHAGAS LEITE, deixou viúva a sua fiel companheira  que lhe assistiu até o minuto final MARIA DOS REMÉDIOS PASSOS DE CARVALHO LEITE. Deixou dois filhos Francisco das Chagas Leite Júnior (advogado) e Aline Leite, esposa do empresário ADIM (Piripiri). Era apaixonado pelos netos.

A sociedade campomaiorense participou do último adeus ao CHAGAS LEITE, com um grande cortejo fúnebre.

Eu, que fui um dos beneficiados com seus gestos de solidariedade, posso afirmar que comigo e meus familiares ficou a permanente marca da bondade, daquele homem especial, que saiu do nosso meio à busca do REINO DA GLÓRIA. Adeus meu amigo, meu irmão e meu compadre CHAGAS LEITE. Os seus feitos serão por mim, sempre lembrados.