domingo, 30 de junho de 2019

Manhã prestes a abrir

Fonte: Gloogle


Manhã prestes a abrir

Celso Pinheiro (1887 – 1950)

Manhã prestes a abrir o cálice doirado!
Na casinha de palha andam todos alerta.
Pois antes que a manhã seja uma rosa aberta,
Há de este amor surgir o fruto iluminado!...

Dona Flor com o semblante heril transfigurado,
Tem anseios de mãe... A parteira desperta,
Pitando o seu cachimbo, aguarda a hora certa,
E me diz que não tenha o mínimo cuidado!...

De súbito, porém, a sombra de um perigo...
Eu, pálido, a tremer, minha alegria tolho,
E vou ver o Dr. — velho médico amigo!

Mas ao volver ao lar me comovo e confundo:
Ela, ingênua, a sorrir, mostrando-me o pimpolho,
Sugere-me votivo o seu nome — Raimundo!...  

Fonte: site Escritas

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Simplício Dias à espera de Napoleão Bonaparte na praia da Pedra do Sal

Fonte: Google


Simplício Dias à espera de Napoleão Bonaparte na praia da Pedra do Sal

Pádua Marques
Jornalista e escritor

Se pudessem dizer pelo menos alguma coisa, um nome feio por menor que fosse e não parecesse ofensa e insubordinação, aqueles soldados famintos, com sede e os pés cheios de bolhas certamente diriam que o capitão Simplício Dias da Silva, aos trinta e cinco anos, estava fazendo papel de palhaço em cima daquelas pedras e com os olhos vidrados pra dentro do mar, na praia imensa e sem vida da Pedra do Sal, naquela manhã de fevereiro de 1808.

Tudo porque o governador da capitania do Piauí, Carlos César Burlamaqui, que passava o dia lá na distante Oeiras limpando as unhas com a ponta de um punhal e de vez em quando fumava um cigarro filado de um cabo puxa saco, cismou de mandar pra Parnaíba um estafeta, instruindo o capitão Simplício Dias da Silva de que ficasse com os olhos bem abertos porque o Piauí corria o risco de ser invadido pelo general e imperador Napoleão Bonaparte, à época com trinta e nove anos.

Burlamaqui recebeu notícias de que a França havia riscado Portugal do mapa da Europa e tudo indicava que o príncipe dom João corria risco de ser preso e até morto em Lisboa, se não desse a qualquer hora com a família nas costas da Bahia, o que realmente acabou acontecendo. Vinha de mala e cuia com um monte de ministros e de assessores. Instruía o governador ao comandante militar sobre a defesa do litoral piauiense e confiava na perícia do parnaibano. Simplício se encheu de moral e armou logo de manhã uma confusão na cozinha porque a criada não havia cozido os ovos e o leite não havia chegado.

Depois de calçar as botas lustradas a esmero, fardado e medalhado, descendo pra frente da casa de morada, reuniu a tropa, nada mais que uns trinta soldados rasos, dois oficiais e uns cinco escravos como pessoal da logística. Marchar até a distante praia da Pedra do Sal, umas quatro léguas e meia de Ilha Grande de Santa Isabel pra dentro, esperar que aparecessem os franceses, que segundo alguns fofoqueiros da praça da Graça, seriam comandados pelo próprio imperador, que ao que constava, muito queria conhecer o delta do Parnaíba e principalmente o porto dos Tatus.

Simplício Dias da Silva naquela manhã estava com a cachorra! Mandou perfilar a tropa e a banda executar o hino de Portugal e aquela música do Airton Senna. Depois subiu as escadas à procura de dona Isabel Thomásia pra dar algumas instruções, em caso de ocorrer algum infausto na campanha. Os negros iam levando em grandes caixas de madeira, a farinha, a carne seca e nas ancoretas a água pra beber. Só e não tinha outra coisa não. Os soldados armados com espingardas velhas de encher pela boca, estavam um aqui e outro ali reclamando porque não haviam recebido as diárias.

Foi emocionante e ao mesmo tempo triste a expedição dos voluntários da Parnaíba que iriam enfrentar Napoleão Bonaparte e os seus soldados naquela que se chamaria a Batalha da Pedra do Sal. Choro e ranger de dentes. Ranger de dentes mesmo era pra os escravos tendo que levar na cabeça e nos ombros todos aqueles apetrechos, aquela arrumação toda sabendo que iriam voltar com a cara calçada de vergonha. Atravessaram o Igaraçu e entraram de ilha adentro. Simplício e os oficiais montados a cavalo e os soldados a pé e ainda cantando, que era pra ninguém ficar mangando ou reclamando uns dos outros. Castigo era meia dúzia de bolo de palmatória de número dois, aquela que tem um furo no meio.

Depois de cinco horas de marcha batida havia gente arrenegando de ter deixado o bem bom da caserna! Um sol de rachar os miolos. Carnaúba pra tudo que era lado e depois as enormes dunas de areia quente queimando o solado dos pés. Levaram um dia inteiro nessa arrumação. Simplício de vez em quando olhava pra trás pra ver se alguém estava fazendo corpo mole ou querendo correr no rumo do Labino. Ao final da tarde avistaram as pedras enormes. Os animais, os soldados e os negros estavam enfadados, mas ninguém reclamou ou deu um piu! O pessoal da logística foi logo tratando de montar as barracas onde iriam dormir o capitão Simplício Dias e os oficiais.

Passaram dez dias esperando um sinal que fosse vindo do mar. Comendo carne seca com farinha branca e bebendo água racionada. Ninguém tomava banho. Nos três primeiros dias os soldados passavam o dia marchando e recebendo instruções de combate. Mas do quarto dia em diante, como ninguém era de ferro e nem via e nem ouvia um sinal de vida, uns foram saindo e ganhando as pedras, outros pescando, outros fazendo poesia.

E outros se danaram a escrever os nomes de esposas, namoradas, amantes e casos nas pedras. Era letra de tudo quanto era jeito e tamanho. Anita, Solange, Marilda, Pretinha, Diane, Lucineide, Socorrinha, Angélica, Bruna, Fransquinha, Lurdinha, Patrícia, Rebeca. Encheram as pedras de declarações de amor, corações e de nomes. Simplício fazia que não estava vendo nada. Passava o dia riscando o chão de areia fofa com um graveto e mandando os oficiais menores procurarem o que fazer ou indo até a parte da cozinha de campanha olhar pra dentro das panelas.

A água e a paciência dos soldados estavam acabando, mas ninguém reclamava de nada. Tinha soldado que estava achando aquilo uma beleza que não iria nunca mais se repetir tão cedo. Simplício Dias da Silva começou a ficar impaciente e desmotivado. Olhava pra aquele mundo de água salgada e não via um sinal de nada. Já começava a criar uma escuma nos cantos da boca quando chamou todo mundo e mandou que debandassem. Napoleão deve ter desistido com medo. Só podia ser!  

quinta-feira, 27 de junho de 2019

O calango à francesa

Fonte: Google



O calango à francesa

Pádua Marques
Jornalista e escritor

Simplício estava feliz, embora por dentro com o coração aos pedaços. Havia tempos que sentia e via sua fortuna e opulência saindo de dentro de casa e indo parar na mão de agiotas em São Luiz. Tudo por conta das investidas que achou de dar nas tramas da política, as intrigas com vizinhos por causa do irmão Raimundo, assassinado quase na porta de casa e de brigar por terras que não eram suas e nem seriam de seus descendentes.

Constance e Apolinaire Dabreux chegaram numa canoa larga puxada a remos por doze negros, vindos da Tutoia, no distante Maranhão. Era por volta do meio dia quando subiram o barranco que dava para a casa de Simplício Dias da Silva e sua família. A francesa subiu numa liteira carregada por dois criados enquanto o marido foi montado num cavalo pequeno.

Simplício e dona Isabel receberam os visitantes ainda na parte de baixo do sobrado de paredes encardidas, de dois andares, no meio entre um outro de esquina e a igreja, de frente para um campo de areia onde a vista mal alcançava. A mulher do anfitrião brasileiro estava vestida sem muita ostentação. Não era bonita. Morena, baixa, rosto latino e tinha uma verruga embaixo do lábio. Em Constance causou uma certa repugnância, mas se conteve. A filha, uma menina de seus onze anos, de pouca presença.

Era o que se esperava de uma criança nascida e criada naquele lugar de pouca gente civilizada, com as poucas ruas cheias de soldados, homens rudes e negros suados, embarcadiços e negras nos mais diferentes ofícios. Constance tão logo subiu as robustas escadas de madeira para acomodar a bagagem, trouxe na volta uma caixa. Chamou a menina e entregou pedindo que abrisse o presente. Uma bonita boneca de porcelana, olhos pintados de azul e cabelos humanos.

Uma joia na frente daquelas suas de pano ou de sabugo de milho feitas pelas criadas. Recebeu e tratou de se retirar sem agradecer. Era acanhada demais e mais ainda com estranhos. Para dona Isabel Thomásia, um xale negro de renda espanhola e um corte de seda azul turquesa. Simplício havia ganhado de presente de Apolinaire Dabreux um rico estojo de escrita com tinteiro de prata e cuja tampa era de cristal da Boêmia.

Os dois homens agora conversavam na janela de cima do segundo piso enquanto olhavam o serviço dos negros lá embaixo no cais. Olhando em volta, nada era verdade do que Constance ouviu pela boca de outros franceses encantados com a América do Sul. Simplício e sua família estavam arruinados. A pobreza começava a bater na sua casa pela porta dos fundos e a cozinha era testemunha. Mas com o casal estrangeiro, Simplício quis fazer bonito.

Na missa de domingo, Constance e Apolinaire Dabreux, Simplício Dias e dona Isabel Thomásia ficaram na parte reservada aos principais. Após a demorada celebração foi ordenado que entrassem três negros, todos jovens, entre quinze e vinte anos. Era a orquestra de que tanto Constance e o marido ouviram falar ainda no porto de Marselle, de que um rico comerciante no Piauí mantinha às suas custas. Executaram duas peças sacras curtas e saíram silenciosos. Estavam vestidos com roupas ordinárias e mal cortadas. Mas um detalhe chamou a atenção, estavam descalços.

Apolinaire Dabreux acompanhava a música dos escravos com os olhos fechados, a mão na boca escondendo uma certa surpresa e reprovação. Como podia numa terra daquela, distante da sua França e da civilização, alguém à custa de muita teimosia e violência meter na cabeça daqueles negros um rasgo de arte, uma arte que só era possível e vinda da Europa? Simplício olhava para o casal francês como que procurando aprovação. Estava radiante.

No almoço, servido na parte de baixo do sobrado, a mesa estava farta. Fazia muito tempo que isso não acontecia. A louça estava limpa, os talheres lustrados à custa de muita areia lavada e sabão de coco. Bananas, mangas e laranjas vindas do distante Maranhão, carne de gado ensopada, perus e galinhas assados, vinho do Porto e água de coco. Constance ficou admirada com aquela bebida. Apolinaire não demonstrou muito gosto pela novidade. Mas bebeu um copo.

De repente, assim do nada, todos sentados em volta da mesa enquanto a criadagem trazia e retirava pratos, entra um calango. Simplício, que vinha convalescendo de umas bolhas nos pés, foi o primeiro a dar sentido. O lagarto feio, pele entre o negro e o cinzento e que quando parado ficava balançando a cabeça, atarantado, correu para debaixo da mesa e quase se perde embaixo dos vestidos das mulheres. Gritos e mais gritos se ouviram. Os criados vieram com pedaços de pau e cabos de vassoura tentando achar e espantar o bicho.

Já nesse instante as duas mulheres haviam subido as escadas e estavam muito aflitas. Um calango. Simplício se pôs a dizer para Apolinaire Dabreux como era viver numa terra ainda cheia de animais venenosos e até de vez por outros selvagens. O francês ia ouvindo tudo, concordando e consigo pensando. Não, aquela terra perdida da América do Sul iria apenas ser outra Jamaica, Haiti e Cuba. Não e nunca seria como a França! Na sua França jamais se teriam calangos à mesa.    

terça-feira, 25 de junho de 2019

UM NOVO FICCIONISTA PIAUIENSE: JOSÉ DE RIBAMAR NUNES




UM NOVO FICCIONISTA PIAUIENSE: JOSÉ DE RIBAMAR NUNES

Cunha e Silva Filho

           Professor formado em Letras (UFPI), com especialização  em Teoria do Texto e  em  Literatura de Língua Portuguesa, além de  ser advogado e ex-funcionário do Banco do Brasil,  José  de Ribamar Nunes,  já maduro,   lança um  livro   de ficção, uma novela   para ser mais específico, cujo  titulo  logo   espicaça a curiosidade do leitor  pelo seu nome pitoresco  e sugestivo, caracterizando,   de início,  uma  narrativa  definidora  de um  determinado  espaço social e cultural  de Teresina, capital  Estado  do Piauí: Morro do Querosene, Prefácio de Celso Barros Coelho (Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2019. 206 p. Coleção Século XXI, nº 24. Capa e Revisão de Adriano Lobão Aragão.

     Por coincidência,    conheço  o autor  e sei  que é uma pessoa  muito   dedicada e  envolvida  com  a vida literária e cultural   piauiense e, por  essas razões, seria de se esperar que,  a qualquer  tempo,   viesse  a  publicar   uma obra  de estreia  que,  por suas  qualidades   de texto fluente  limpo, correto,  revela um  novo  ficcionista    com domínio  da história a ser contada,  com   perfeita harmonia  no desenvolvimento  de seus capítulos,  de resto,   muito bem  divididos e ainda mais agradáveis à leitura  por serem   curtos na maioria, o mais extenso  não ultrapassando  umas três páginas.

      Ora, uma estratégia  dessas  adotada pelo autor não é fácil de   contentar o leitor   a menos que  o capítulo  concentre em si  bem relatadas  células narrativas,   nos dando a sensação  da unidade  de cada    peripécia e nos impelindo  a ler com prazer os  relatos seguintes do livro.

   Nesse diapasão  de expor  seus vivíssimos, dinâmicos    e saborosos   relatos, perfazendo ao todo  cinquenta e um capítulos,  o narrador nos instiga a conhecer  a vida de bairros pobres teresinenses, alguns meus  velhos conhecidos do  tempo de menino  em Teresina,   como  o Porenquanto a Vermelha, a Piçarra quando partia  com amiguinhos da minha infância e  começo da adolescência em direção  aos banhos do rio Poti,  ou  quando passava  pelos  trilhos  da velha Estação  Ferroviária, ou pelo  velhusco  25 BC.        

     O enredo do Morro do Querosene  se desenvolve  em torno  da vida de aperturas  financeiras da família  de dona Joana que, primeiro, morava  no bairro  pobre do Porenquanto,  depois, sendo obrigada,   por não poder pagar o aluguel,  a fazer mudança para um novo   bairro,  a Piçarra.

     Dona   Joana, mãe dedicada  aos filhos, empregada  doméstica,   ainda  se virava em outras atividades   a fim  de prover  o sustento da família  e ainda mais porque  o marido  a deixara   sozinha à procura    de trabalho em outra terra.   Dos filhos pequenos, em número de quatro,  um deles, o João Luís, vai  desempenhar papel  decisivo na  história,  peça humana de menino a fazer girar a história  e a mostrar o quanto   a memória infantil-juvenil   é capaz de guardar  o bom  e o ruim  da existência humana e, se possível,  tentar  superar  as vicissitudes.   O movimento dos capítulos é acelerado, não havendo nem tempo  para   o leitor  se sentir  entediado, já que  a narrativa  o empurra para a frente  e satisfaz  o leitor  curioso  de conhecer novos e  palpitantes episódios  da novela.   
  
    Pode-se afirmar que  o personagem João Luís,  tão bem elaborado pelo autor, está fadado a ser uma  criação literária   que seguramente    comporá  a galeria de figuras  infanto-juvenis  da história da ficção piauiense (como aconteceu com Pedrinho,  em Ternura (1993),  romance de Francisco Miguel de  Moura). Sem tal grandeza de  personagem, a narrativa  não teria o bom resultado  que, a meu ver, teve em termos  de composição   ficcional. João Luís é  um personagem  que  salta do texto à vida  pelo convencimento de atributos  humanos   que o autor nele infunde com naturalidade,  sem artifícios  nem jogos de marionetes. Outros  na narrativa até podem  ser  rotulados  como apenas  figurações  sem  suporte   ficcional.

     A ficção de autores piauienses tem  tido razoável fortuna  crítica  em  romances  ou novelas   vivenciados  na cidade de Teresina. De autores do Piauí, posso bem lembrar aqui, no passado mais remoto ou menos remoto, ou mesmo atual, O Manicaca (1909), de Abdias Neve (1876-1928),  narrativa  ambientada na Teresina dos derradeiros anos do século XIX, ou menos remoto,  parte de Ulisses entre o amor e a morte (Teresina, Meridiano,1986),  de  O.G. Rego de Carvalho, Rio Subterrâneo (Teresina: Meridiano, 8ª edição,1888 ),  parte em Teresina, também de O. G. Rego de Carvalho, ou mais atual, Entardecer (2007),  de José Ribamar Garcia,  Meia-vida (1999),  enfocando  principalmente a área do troca-troca de Teresina, de Oton Lustosa, o excelente romance Vozes da  Ribanceira, no qual o cenário principal é o Poti (2003), também de  Oton  Lustosa,   Sabor de vingança (2015),  centrado no espaço da crescente  violência urbana  teresinense de Milton Borges.

    O narrador do  Morro do Querosene, em terceira pessoa,    apresenta um traço  singular:  dando voz ao  pensamento  da  perspectiva   de um personagem,  emprega, aqui e ali,  o discurso indireto livre,  o que  reforça uma forma  multifocal de  narrativa.  Mesmo quando  falando  de João Luís,   a voz do narrador  se orienta  pela perspectiva  ou  ângulo de visão  do pequeno   João Luís. Sendo assim, é    através sobretudo das aventuras infanto-juvenis desse personagem encantador   que a novela  propicia  uma visão por dentro  e por fora  da  realidade social e cultural  daquele  entorno   da Piçarra chamado Morro do Querosene – lugar tão  badalado nas suas    peculiaridades   de ser  o espaço da  prostituição e ao mesmo tempo  de residências  populares  das ruas  circunvizinhas.

      Duas observações  farei ao autor a seguir. Uma, de ordem de construção  textual do primeiro parágrafo   da narrativa, na qual separaria com um  ponto final a frase “Era um dia de domingo” e começaria com  maiúscula  a frase seguinte: “Pela manhã, de um mês de junho amenizava o calor  abrasador de Teresina que só atingiria  o ponto mais alto dali a dois ou três meses.”  A segunda observação  seria    de ordem técnico-narrativa e  se refere ao próprio narrador que se trai e se transforma, por um segundo de tempo de leitura,  em autor, através do uso de um dêitico, na expressão adverbial de lugar “aqui no Piauí” (p. 170). Desse modo,  ele sai da condição de  narrador (elemento interno do enunciado ) e passa à condição de autor (elemento  externo à narrativa )  no fluxo narrativo  em terceira pessoa. Bastaria para contornar   isso,  eliminar  o dêitico e a contração  “no.”

    O Morro seria um espécie de  centro nevrálgico da narrativa  -  uma espécie de personagem   inanimado   dos acontecimentos,   das alegrias, das tristezas, das tragédias,  dores, das desventuras, dos  incidentes  hilariantes    daquela  população  pobre  que ali residia. Para trás, ficara  definitivamente   o bairro Porenquanto, ao qual, malgrado a pobreza,  já estavam  habituados. Deixaram   um travo   de saudades de amizades e  brincadeiras  infantis.

     Por ouro lado,  o novo bairro da Piçarra começava a despertar no  pequeno João, porque  oferecia mais espaço aberto,  a antevisão  do principal  divertimento  da  sua fase da infância e adolescência   - o futebol  - símbolo de outros meninos  de várias gerações  de brasileirinhos   apaixonados por esse esporte, esse  “grande catalizador” assim definido pelo pensador e crítico literário  Tristão de Athayde ( Alceu Amoroso Lima, 1893-1983).

       A novela é igualmente uma  história  que, se não fosse exemplo de  honestidade   e de dignidade  de alguns de seus personagens despossuídos,  caso houvesse descambado  para  uma dimensão de personagens  desprovidas  de dignidade,  bem poderia ser um  prato cheio para uma novela  neopicaresca   tendo como  protagonista  as aventuras  do menino  João Luís. Entretanto,  o autor  perfilou  um personagem   da envergadura moral   desse menino  que, pelo comportamento   reto,  bem poderia   se enquadrar  numa novela de formação (Bildungsroman) se a continuidade do tempo  dos  episódios atingisse a maturidade  do herói.

      A novela  faz um recorte  temporal  que, grosso modo,  a situaria entre  os meados dos anos 1950 à primeira  metade dos anos 1960, numa Teresina ainda não  tomada  pelos anos  de modernização  mais  intensa  e de formação de novos bairros  com vida urbana    frenética    acossada pela violência. É nessa  Teresina  que  a vida de João Luís se vai consolidando  pelas diversas experiências  e mudanças  físicas, psicológicas, sociais e      culturais, em especial a passagem delicada de criança a rapazinho,  a descoberta do sexo, o onanismo,   as motivações,  ainda que  pueris,  amorosas,   o aprendizado do  sexo com marafonas e outras experiências  com  vícios  incentivados por más companhias.

       Da mesma forma, a visão social cedo despertada   pela frequência do protagonista na fase de crescimento  a outros ambientes sociais  mais   elevados  vai-se alargando  na consciência do João Luís, mas sem que a narrativa  entre no limiar da problematização  das relações de classe.

      Não há esse intenção  pelo menos abertamente declarada. No entanto,    o que  a narrativa  exibir são realidades estratificadas,  a dos despossuídos, dos remediados,  dos ricos. Duas saídas se vislumbram  para a mobilidade social:  a) por inciativa própria  e grande determinação  que possa  elevar   alguém a uma posição socialmente melhor. Poderia ser aqui  o caso de João Luís;  b) pela via de um casamento melhor (Maria Antônia, irmã de João Luís)  para um filha de pais  humildes.

      A importância da obra Morro do Querosene se reveste nas descrições  e narrações   precisas  e documentais  de uma ficção de costumes   de um bairro  periférico   de Teresina, de  situações  da realidade  vivida e presenciada  pela população  que ali  vivia  à sombra  protetora ou não do Morro. O quotidiano desse enclave social  radiografa, com mão de  mestre,   o pequeno mundo de seus habitantes  sujeito  às intempéries do dinamismo   social avassalador. . A família da  laboriosa  e honesta  dona Joana é apenas  uma   amostra do que seja  um fiel  retrato social  de uma dada fase passada   da vida teresinense.

    Julgo que, com essa obra inicial,   José  de Ribamar Nunes   se insere  de fato e de direito,   sem alardes nem   apadrinhamentos,   na história da ficção  atual do Piauí.       

domingo, 23 de junho de 2019

BARRAS DAS SETE BARRAS


Fonte: Acesse Piauí/Glogle

BARRAS DAS SETE BARRAS

Elmar Carvalho

                                   Ao historiador e amigo
                                   Dr. Wilson Carvalho Gonçalves

Barras ...
Barras do Marataoan ...
Dos cânticos de pássaros
e cântaros e címbalos de águas
em cantatas e cascatas
no rocio róseo-violáceo da manhã.
Barras das sete barras
– candelabro de sete braços de prata
líquida a escorregar macia
no dorso duro das pedras.
Barras do Longá alongando-se
e se estilhaçando em rondas de lãs
                                em rendas de espumas
nos bilros das pedras tecelãs.
Terra dos Governadores,
            do desgoverno das dores
das ciliciadas paixões
deliciadas na Ilha dos Amores.
Terra de uns olhos fluidos,
feitos de mágoas, magia e garrice,
embebidos na ciganice das águas.
Terra dos milagres da Alda,
a que morreu virgem,
na vertigem de um sonho
que num átimo se fez e desfez.
Barras da barragem
– miragem verdoenga
de minha origem/aragem avoenga.
Barras de risos e de ais
             de sempre e de jamais.
Barras das sete barras
Barras dos sete punhais
 de rios que se tecem pavios
e desvarios de réquiens
e exaltações, lembranças
e exalações ... 

sexta-feira, 21 de junho de 2019

No bar do Zé Lira

Foto antiga da sede da extinta Fazenda Estrela. Fonte: Luselene Macedo/Blog Super Campo Maior

No bar do Zé Lira

Elmar Carvalho

Estive ontem, no que eu chamo de “rápida circulação etílico-cultural periférica”, no bar do Zé Lira. Gosto de ir para lá porque fica perto da linha férrea, onde outrora passaram trens e locomotivas diversas, inclusive velha, negra e enfumaçada maria-fumaça, que passava bufando, resfolegando, enfeitada com o seu penacho de fuligem, a apitar saudosamente, como a dizer adeus a um tempo que não perduraria muito, e nas proximidades da casa grande da Fazenda Estrela, que ainda está de pé, embora quase em ruínas.

Mas vou, principalmente, porque de lá tenho uma bela visão da pequenina Serra Grande, na verdade morros isolados de Santo Antônio do Surubim, além de que, na ida e na volta, contemplo o pequeno, porém grande em beleza, Açude Grande. Ali perto, existiu um campo de futebol, chamado de rabo-da-gata, onde eu me transformava em verdadeiro gato, a fazer belas, elásticas e acrobáticas defesas, segundo dizem alguns amigos “pebolistas”.

Zé Lira é um cidadão sério e trabalhador, e que imprime respeito ao ambiente. Ontem, admirado com a qualidade das músicas que estavam sendo tocadas em seu aparelho de som, perguntei sobre quem as pedira. Com um sorriso traquina, respondeu-me que fora ele mesmo que as pedira. Tornou a repetir que gostava de pescarias e caçadas. Acredito que a afirmativa não é história de caçador e nem de pescador porque ele teve a humildade de dizer que era caçador de mocós, preás e outros pequenos animais, e não de onça.

Falou que é natural do município de Barras, de uma localidade situada entre Cabeceiras e a sede daquele município, porém depois foi residir num local perto do cruzamento da estrada que vai para Boqueirão com a BR.

Quando estava já quase de saída, em companhia do Zé Francisco Marques, chegaram o Sílvio Andrade e o Leni, meus velhos conhecidos. Sílvio é irmão de meu saudoso cunhado Zé Henrique, filho de dona Conceição e senhor Antônio Almeida, ambos falecidos. Fomos vizinhos na adolescência, quando nossos pais moraram perto, em casas que ficavam na rua do Estádio, a Capitão Félix.

Quando morei nessa rua, costumava jogar bola no campinho que ficava na beira do açude, numa praia de alvas e finas areias, em que perpetrei algumas “pontes” ornamentais, verdadeiras pontes estaiadas, na posição de goleiro. Esse campo ficava detrás da casa do tenente Jaime da Paz, ex-prefeito de Campo Maior, em cujo quintal verdejavam e se requebravam vários coqueiros, que me lembravam o mar que eu ainda não conhecia, a não ser por fotografias e pelos filmes exibidos no inesquecível Cine Nazareth.

Esse campo depois foi soterrado pela avenida de contorno da laguna, mas teima em existir na minha saudade. Nesse tempo ditoso, o açude praticamente não era poluído, e após o jogo tomávamos gostoso banho nas suas águas tépidas e de pequeninas ondas.

Depois, passei a jogar no campo do Grupo Escolar Leopoldo Pacheco, que era ingrato, áspero e intratável, como o cacto do poeta Bandeira, por causa da piçarra do terreno, que era uma verdadeira lixa a esfolar a pele dos atletas, principalmente goleiro, como era o meu caso. O imperador da época e do pedaço era o Otaviano, que até tem mesmo nome de imperador romano; era o dono da bola e do time.

Como não poderia deixar de ser, falamos do Zé Henrique, que, além de irmão do Sílvio, era amigo de nós três. Lembramos que, algumas vezes, quando tocado de leve pelo álcool, ele chegava a dar a própria camisa, quando se comovia com a pobreza de algum pedinte que o abordava. Foi bom rever esses amigos, e com eles ter confraternizado e conversado.   

15 de março de 2010  

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Areia suja de sangue na frente da igreja

Fonte: site da APAL


Areia suja de sangue na frente da igreja

Pádua Marques
Jornalista e escritor

Veio dos lados da cozinha um barulho de louça caindo. Dona Isabel já estava recolhida à camarinha e Simplício ainda sentado com os pés fora dos chinelos quando foi alertado de que alguém estanho estava dentro de casa. Correu a mão na vela e chamou Florindo que dormia nos fundos da casa. Antes, pegou o punhal em cima da mesa e apurou o ouvido.

Simplício era gago quando tomado por uma situação de perigo. Ao ver Florindo entrando pelo corredor mal iluminado, ficou ainda mais gago. Os dois homens foram caminhando na ponta dos pés no rumo da cozinha enquanto dona Isabel e as filhas ficaram na porta dos aposentos esperando saber do que se tratava. Não era coisa de rato mexendo nos trens da cozinha e na carne salgada. Era coisa de gente. E essa gente, se é que se podia dizer ser gente, era um escravo.

Pegaram o negro. Alto, de canela fina, nu da cintura pra cima, catinga de aguardente e cara bexiguenta. Uns trinta anos, se pouco. Os olhos vermelhos que nem postas de sangue. As palmas das mãos amarelas. Florindo mandou que cantasse o nome e de onde estava fugindo. O negro calado estava, calado ficou. Simplício estava mais atrás, segurando a vela na altura dos olhos. Outros criados chegaram e amarraram o negro.

Arrastaram pelos fundos da casa e lá no terreiro, Simplício desferiu uns dois golpes na cabeça com o cabo do relho. Não queria mancha de sangue dentro de sua casa. O mel desceu. Ferido, o negro disse que estava fugindo do Maranhão, onde era procurado porque matou um tio. Veio à procura de comida, um pouco de sal e farinha. Era conseguir a comida e ganhar o rumo do porto pra comer com os embarcadiços que subiriam pra Tutoia e depois São Luiz.

Foi retirada a faca que o negro trazia no cós da calça e entregue a Simplício. Pego com a mão no que era alheio, dentro da casa, agora iria arrenegar da hora que nasceu e de onde havia vindo. Mandou amarrar o negro num tronco ainda naquele início de madrugada. Voltou pra camarinha e tratou de acalmar a mulher e as filhas. No outro dia era mandar saber nas redondezas sobre um cativo assim e assim, como quem não quer nada. Ainda estava escuro quando Florindo e mais dois negros da casa grande começaram a surrar o fugitivo ladrão.

A ordem de Simplício era de que fosse antes do sair do sol. Pra não dar motivo que ninguém se acordasse. Surrou, fosse levado pra bem longe. Nada de compaixão com o diabo daquele negro! E sendo ladrão, pior ainda! Se não aguentasse e morresse, que jogassem o corpo bem longe pra os urubus comerem. Carne desgraçada! Nem valiam a fortuna que custavam no cais de Recife e de Salvador. Custavam mais que o gado pra tirar carne e leite.

Simplício, que não falava com negros cativos, não dormiu o resto da madrugada. Não que tivesse remorso pelo que Florindo estava fazendo com o escravo ladrão. Lembrou o irmão Raimundo, assassinado há vários anos pelos inimigos da sua família, na biqueira da casa. Aquela morte tão cruel e que até agora vinha acabando com sua saúde. E agora aquilo, ver sua casa invadida e todo o risco de perder o sossego com dona Isabel, a fortuna e as filhas naquela terra ingrata. Um negro dentro de casa. Um negro entrando pelos fundos da casa e já de posse de uns pratos! Pois que se morresse, que fosse enterrado com o produto do roubo! Servisse de lição! Lá pelas tantas ouviu de longe umas vozes no meio do largo. Eram de certo Florindo e os outros que haviam terminado o serviço.

O negro morreu de tanto levar punhaladas. Foi por isso que não se ouviram gritos naquela madrugada. Depois de darem muita aguardente foram matando aos poucos.  Seu corpo foi enterrado no meio do campo, um pouco afastado da igreja com os objetos roubados da cozinha de dona Maria Isabel Thomásia de Seixas e Silva. Pratos, talheres, um pouco de sal e de farinha dentro de um paneiro. Uma miséria. Até hoje, no lugar onde está enterrado existe um formigueiro.   

quarta-feira, 19 de junho de 2019

A data correta da construção da Igreja de Frecheiras

Fonte: Jornal da Parnaíba/Walter Fontenele/Google


A data correta da construção da Igreja de Frecheiras

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Frecheiras da Lama, no município de Cocal (PI), teria sido construída na segunda década do século XVII ou no terceiro quartel do século XVIII?

O e-book “História e Fé na Conquista do Sertão do Norte: A CAPELA DAS FRECHEIRAS”, da autoria do pesquisador e historiador Vicente Miranda, publicado pela Editora da Universidade Federal do Piauí, demonstra, através de documentação, de argumentação contextual lógica e da interpretação apropriada e harmônica dos algarismos e das letras (iniciais) das duas cruzes vistas em seu frontispício, qual a data correta de sua construção.

O livro virtual pode ser lido através do link:  http://www.ufpi.br/e-book-edufpi.  

terça-feira, 18 de junho de 2019

A existência de Deus e os seus planos


 
Fonte: Google
A existência de Deus e os seus planos

Elmar Carvalho

Releio, pela enésima vez, este texto de Epicuro: “Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto, nem sequer é Deus. Se pode e quer, o que é a única coisa compatível com Deus, donde provém então a existência dos males? Por que razão é que não os impede?”

Nunca me inquietei com essas indagações, e sempre tive resposta para elas. Apenas nunca externei o que sempre esteve em minhas convicções e fé. Enfrentarei a problematização da primeira parte da citação e tentarei encontrar uma resposta. Em momento algum Epicuro negou a existência de Deus. Portanto, a admitiu. Aliás, todas as perguntas partem do pressuposto de que Deus existe. Faz tempo venho adiando escrever uma crônica, que forceja em meu cérebro, louca para ser dada à luz da publicidade. Escrevê-la-ei agora, e com ela tentarei responder aos questionamentos epicurianos.

Quando fiz minhas primeiras viagens aéreas, tinha muito medo, e sequer olhava para as belezas que poderia ver da janela, fosse uma bela e verdejante colina ou uma caprichosa enseada marinha, ou fosse o celestial alumbramento das nuvens, nas quais gostaria de deitar e rolar. Entendi que esse medo de nada adiantava, já que eu era forçado a enfrentar a viagem. E se houvesse algum acidente, de nada me valeria essa inquietação. Portanto, era inútil, e apenas me incomodaria durante o voo.

Além do mais, considerando que avião é o meio de transporte mais seguro, exceto elevador, eu apenas sofreria por algo que dificilmente iria acontecer. Por outra parte, raciocinei que o avião fora construído por quem sabia o que estava fazendo, por quem tinha conhecimento, ciência, experiência, e a mais avançada tecnologia e os mais adequados e sofisticados materiais.

Também pensei com os meus botões: quem o pilotava sabia o que estava fazendo, estudara, tinha um plano de voo e igualmente seria vítima de eventual erro que cometesse, pelo agiria sempre com responsabilidade e prudência. Assim, decidi confiar, mesmo porque não poderia fazer outra coisa, uma vez que resolvi entrar na aeronave.

Da mesma forma, para responder às indagações do filósofo, direi que Deus, cuja existência ele admite no enunciado de seu silogismo, tinha e tem pleno conhecimento de sua obra e, certamente, tem um plano maravilhoso e perfeito, como só podem ser as obras divinas. O que sucede é que nossa inteligência e nossos conhecimentos são diminutos, para que possamos entender a mente e a inteligência infinita de Deus, como igualmente não conhecemos os pormenores de seu plano.

Ora, quanto mais o homem tenta perscrutar os umbrais do infinito, do infinitamente grande, mais novas grandezas ele descobre no espaço sideral. E, quanto mais se volta para o infinitamente pequeno das partículas e da mecânica quântica, mais se surpreende com subpartículas cada vez menores e cada vez mais sutis.

Até já disse, num de meus poemas, que atingi o infinito ao ficar infinitamente pequeno. Dessa forma, entendo que não devemos nos preocupar com as indagações do velho Epicuro. Confiemos no criador da aeronave, que é Deus, e confiemos no plano de voo do piloto, que também é Deus. Talvez Ele, que é perfeito, não tenha desejado criar uma obra pronta e acabada, mas uma em construção, em permanente marcha para a perfeição, apesar dos momentâneos e aparentes retrocessos.

E, no final dessa odisseia, que é a própria existência, chegaremos ao porto final, sãos e salvos, puros e redimidos, recolhidos ao corpo místico de Deus, como pequeninos agasalhados em colo aconchegante e protetor.

Para finalizar, considerando que Epicuro fez várias perguntas, seguindo as pegadas e as lições de Lavoisier, quero fazer apenas uma: será se algo ou alguém que obteve a existência poderia algum dia perdê-la, ou haverá apenas uma transformação existencial, uma nova dimensão do existir, do ser? Sem ansiedades, confiemos e esperemos. Em Deus.

10 de março de 2010