domingo, 30 de dezembro de 2018

Noturno de Oeiras

Fonte: Google/IPHAN


NOTURNO DE OEIRAS 

Elmar Carvalho

Meia-noite.
Metade silêncio,
metade solidão.

Atravesso a praça das Vitórias
na hora dolorosa das doze badaladas
punhaladas que também me atravessam.

Da casa de doze janelas
doze donzelas me espiam com olhares
que são setas de medo que
assustam e extasiam.

Passadas pesadas
nos assoalhos de tábuas
dos rugosos sobrados se confundem
com o batuque tuc-tuc e
com o atabaque tac-tac
de meu desengrenado coração.

A lua se esgueira e espreita
das frestas das nuvens.

Os fantasmas caminham
solenes, devagar,
visíveis e invisíveis,
seres que são e não são.

No horto do Pé de Deus
visagens rezam contritas.
No horto do Pé do Diabo
assombrações assombram
bichos e visitas.

À distância a casa da pólvora
vigia em sua solidez de pedra bruta.

Nos campanários de antigas igrejas
algum falecido sineiro repica
os sinos para si mesmo.

Uma sonata se evola
de piano que já não existe.
E persiste por pura teimosia.

O suicida se insinua
no vão da escada de vetusto sobrado.
Uma taça de prata tilinta e se despedaça ...

O relógio da catedral
parou no tempo que continua:
a pátina rói as bordas
da ferida do mostrador e
mostra a dor das doze badaladas.

Negros ainda esperam abolição
absolvição nas cercanias do Rosário
pelos pecados que não pecaram.

As pedras antigas do calçamento
são percorridas por sombras
feitas somente de alumbramento.

O vento que passa
não é vento: é fru-fru
de saia de pessoa morta
ou hálito de porta
de casa já demolida.

Da Madona lágrimas escorrem
e chovem sobre os telhados ...

Oeiras navega na noite
de um tempo que não termina.
De um tempo sem medida, fugitivo
de ampulhetas e relógios.   

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Dolores, esfinge e enigmas




Dolores, esfinge e enigmas

Elmar Carvalho

Encontrei há pouco, no restaurante Gula-Gula, em Regeneração, a professora Maria Dolores. Com o seu jeito alegre e expansivo, disse que estava com saudades de mim, mas do poeta, e não do juiz. É que estive de recesso e de férias, e fazia meses que não nos víamos. Tempos atrás, num ato falho, chamei-a de professora Maria da Cruz. Pareceu-me que ela não me ouviu, o que me causou estranheza.

Quando a abordei, explicou-me haver pensado que eu não estava falando com ela, uma vez que seu nome era outro. Imediatamente, respondi-lhe, em tom de blague, que Cristo morrera na Cruz, mas que certamente sentira muitas “dolores”, e fora por isso que eu a chamara de Maria da Cruz, e não, Dolores. De qualquer modo, a cruz tornou-se o símbolo da Fé em Cristo e mesmo do cristianismo (e não propriamente de um instrumento de tortura e morte).

*        *         *

Soube, por uma nota do Simão Pedro, publicada no blog Bitorocara, que falecera em Campo Maior o decano dos comerciantes. Vendia miudezas, como equipamentos de pesca, tubos de linha, balas, guloseimas etc., no centro comercial da cidade. Morava num pequeno apartamento, no fundo de sua loja. Pelo que interpretei do texto e da conversa que mantive com Simão Pedro, ao telefone, ele era um celibatário, de hábitos um tanto esquisitos.

Embora fosse comerciante, e como tal tivesse que manter contatos com seus clientes e fornecedores, levava uma vida reclusa, quase um ermitão, fechado em si mesmo e no seu pequeno aposento. Tempos atrás, saía a noite, para passear em sua Rural, provavelmente no intuito de se desanuviar de suas tristezas e preocupações. Criava, no quintal, mais de duas centenas de gatos, o que, só pela quantidade, já era uma excentricidade.

Por que ele criava tantos gatos? Dois ou três não lhe seriam o bastante? Seria uma maneira de driblar e compensar a tristeza e a depressão, se é que as tinha? Gato é um animal que aguça e excita o imaginário popular, inclinado a acreditar em crendices, lendas e superstições. Diz-se que o gato tem sete vidas e que vê e pressente coisas, que ninguém mais percebe.

Esse comerciante, de nome Moisés, não recebia visitas, não tinha amizades íntimas. Era recluso, calado, sem expansões emotivas, embora fosse educado e tratasse bem os seus clientes. Sentia-se uma nota de tristeza, escondida em seu olhar. Fico imaginando em que pensaria ele, na solidão de seu quarto, à noite, morando num local que era movimentado durante o dia, mas que, nas madrugadas, transformava-se numa cidade morta, num quase cemitério.

Que emoções sentiria ele? Que segredos guardaria? Seria infenso às emoções humanas? Seu segredo seria não ter nenhum segredo, e levar a vida comum de um homem simples e bom, mas que optou em viver sozinho? Não sei. Talvez ninguém saiba. E ele, para sempre, levou as respostas consigo.

Respostas que – quem sabe? – nem mesmo ele as tivesse, posto que, muitas vezes, o homem é a esfinge e o enigma de si mesmo.    

3 de março de 2010

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

O NATAL FELIZ NA MINHA ALDEIA

Fonte: Canção Nova Notícias


O NATAL FELIZ NA MINHA ALDEIA

José Pedro Araújo
Cronista, contista, romancista e historiador

Em outra oportunidade já descrevi como comemorávamos o Natal na minha pequena cidade, em épocas passadas. Com o título “O Natal Sertanejo”, relatei as dificuldades em organizar uma ceia nos moldes da que vemos hoje em dia. Descrevi como erigíamos uma belíssima árvore de natal a partir de um exuberante galho de Pitombeira, de preferência com alguns cachos do fruto redondinho bem maduro, e que depois recebia toda a decoração nas cores vermelha, branca e verde, que são alusivas à festividade maior dos cristão. Depois da arrumação toda, incluindo-se ai uma instalação elétrica bem rústica, com lâmpadas multicoloridas, mas apagadas, posto não termos energia elétrica ainda. Tudo era arrematado com uma Estrela de Belém bem no alto da folhagem. Bela e natural árvore natalina caipira.

Depois de pronta e decorada, muitas vezes ela excedia aos três metros de altura, e recebia os presentes simples que os pais depositavam ali para serem entregues aos filhos no final da apresentação do Auto de Natal. Por que justamente a escolha da árvore da Pitombeira? Porque possuía folhas pequenas, volumosas e muito verdes, além de resistentes a perda da sua vivacidade! Assim, demorava dias sem murchar. Do mesmo modo, porque seria fácil encontrar um galho bem enfolhado e cônico, idêntico a um pinheiro. Pelo menos em tese.

 Toda essa arrumação acontecia na Igreja Cristã Evangélica, local onde se acomodava uma multidão nas noites de 25 de dezembro para acompanhar a festiva comemoração que já se tornara tradição na cidade. Gente de todas as regiões da cidade se aglomerava para assistirem à apresentação das peças natalinas, a ponto de não caber mais ninguém no templo. Era um espetáculo muito bonito e cheio de significância e emoção. Enleava-nos e nos envolvia em uma aura de ternura e amor.

Por sua vez, a Ceia também não tinha o glamour das atuais, por razões de fáceis compreensão: o comércio, ainda incipiente, também não oferecia muitas oportunidades para aquisição dos incensados perus de mais de dez quilos de hoje em dia; nem as castanhas, os Panetones e os chocolates tão à mão nas sortidas casas comerciais que hoje tínhamos à disposição. Tudo era substituído pelos Perus, além dos tradicionais leitões, criados, e engordados nos chiqueiros existentes nos próprios quintais, que aliados aos patos e frangos caipiras, compunham uma gostosíssima Ceia para várias dezenas de pessoas. Portanto, a comemoração era coletiva, não apenas com os nossos familiares. E era festiva. Muito festiva. Como esquecer?

Depois que nos dispersamos e fomos morar em lugares diferentes, minha mãe exigia que nos encontrássemos nessa data para relembrar o nascimento de Jesus dentro dos melhores moldes que a data exige. Agora que ela se foi, perdemos o hábito, e cada um de seus filhos se arranja da forma que mais lhe convêm para não deixar passar em brancas nuvens a data mais importante da cristandade. Como agora, quando contarei apenas com a minha própria família(esposa, filhos, noras e netas), no jantar festivo que organizaremos em nossa casa. E ao pensar nisso, bateu uma saudade incrível dos velhos tempos em que a nossa árvore natalina gigante, construída a partir de uma Pitombeira robusta, enfeitava tudo ao seu redor; iluminava e estimulava o auto natalino e transformava a ocasião em uma festa cristã das mais bonitas, e para muitas famílias amigas.  FELIZ NATAL!   

domingo, 23 de dezembro de 2018

FLAGRANTES DE TERESINA

Fonte: Google


FLAGRANTES DE TERESINA

Elmar Carvalho
     
           I

À meia-noite
percorria a praça.
A noite era silente e fria
e nenhuma estrela luzia ...
O manto escuro tudo
envolvia e ninguém existia.
Apenas o olhar cego
do Conselheiro, ao longe,
indiferente, me via.

           II

Em criança
a carranca do Barão
em seu assombro me fascinava.
Seu bigode recurvo espetava o ar
a ceifar a brisa como às nuvens
e ao céu o alfanje lunar.
Um besouro inoportuno
bolinou o bigode do Barão
e o bigode de bronze
imperceptivelmente se moveu.


           III

Na praça Saraiva
uma flor fez-se borboleta
e desferiu um voo rasante
sobre a cabeça do Conselheiro
que permaneceu
impassivo e contemplativo
em sua dura
postura de escultura:
hierático e estático.   

sábado, 22 de dezembro de 2018

ALMANAQUE DA PARNAÍBA 2018 E FLOR DO DESASSOSSEGO



ALMANAQUE DA PARNAÍBA 2018 E FLOR DO DESASSOSSEGO

O Almanaque da Parnaíba 2018 – Revista da Academia Parnaibana de Letras, em sua septuagésima primeira edição já está pronto para o seu lançamento no dia 28 do corrente mês em solenidade que acontecerá no Castelo de Eventos (Castelo do Thó) na Praça Mandu Landino.
  
Durante o evento,   a APAL (Academia Parnaibana de Letras ),  estará celebrando seu trigésimo quinto aniversário de fundação,  ocorrido em julho passado,  e também haverá a confraternização natalina entre os seus membros.



Ainda nesta mesma solenidade,  o advogado, escritor e acadêmico Paulo de Tarso Mendes Souza estará também fazendo o lançamento do livro de sua autoria intitulado “Flor do Desassossego” cuja apresentação ficará a cargo do poeta e escritor Alcenor Candeira Filho.

O Almanaque da Parnaíba 2018 foi uma cortesia da FECOMERCIO - Federação do Comércio do Estado do Piauí  /Sesc/Senai através de seu presidente, empresário e acadêmico Valdeci Cavalcante, enquanto que o livro "Flor do Desassossego" de autoria do parnaibano Paulo de Tarso Mendes de Souza faz parte da Coleção Século XXI editada pela Academia Piauiense de Letras. "Flor do Desassossego estará sendo lançado em primeira mão em Parnaíba tendo em vista que somete no próximo ano referido livro será lançado em Teresina.   

Fonte: Blogue do Professor Gallas

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

¡ VIVA EL FÚTBOL ARGENTINO!

Fonte: Google


¡ VIVA EL FÚTBOL ARGENTINO!

Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

  

                Era, quero dizer, fui, até oito de dezembro passado, dia em que comemoram, principalmente, os católicos, Nossa Senhora Imaculada Conceição de Maria – que ela me perdoe tão radical conversão -, inteiramente, avesso e antipático ao futebol argentino; melhor dizendo, a quase tudo que provinha daquele país, à exceção dos malbec – vinho e perfume -, pelos quais, infelizmente, sempre tive certo apreço. Cheguei a concordar com um velho e querido amigo, Sandoval: até às mulheres portenhas, já preferia as uruguaias, chilenas, peruanas, venezuelanas.

                O que me fez mudar de opinião a ponto de transformar antipatia cruenta em simpatia experimental, concretizou-se com a realização do jogo final da copa libertadores da América dois mil e dezoito, entre os rivais Boca Juniors e River Plate, no estádio Santiago Bernabéu, em Madri, capital espanhola, lotado; mas começou bem antes da peleja e redundou de um acumulado de situações disparatadas envolvendo as equipes de futebol argentino, a confederação sul-americana (COMENBOL) e a FIFA; estas, desde o início das fases decisivas, claramente coniventes com os clubes portenhos em desfavor, principalmente, dos brasileiros. Houve quem dissesse que essa estranha preferência da COMENBOL por equipes não brasileiras viu-se embasada no ato canalha e covarde promovido pelo presidente da confederação brasileira de futebol ao votar, abertamente, não pela realização da copa do mundo de dois mil e vinte e seis na América do Norte, como havia sido combinado entre as confederações do continente, mas em Marrocos, no noroeste da África.

                Depois disso, o que se viu foi uma sequência patente e clara de proteção da COMENBOL a clubes do restante da América do Sul em detrimento dos tupiniquins; parcialidade manifestada dentro e fora dos gramados, com a participação intensa das arbitragens e um submisso “lava mãos”, à la Pilatos, da FIFA, quanto a assuntos em que poderia intervir.

                Quem não lembra da marmelada envolvendo o próprio River Plate, que, soube-se, em determinada partida, entrou em campo com vários atletas considerados irregulares e, mesmo assim, não teve os pontos disputados confiscados, como fez a COMENBOL ao Santos Futebol Clube que, com um craque em condição, supostamente, irregular, perdeu três pontos referentes à partida em que esse atuou, e ainda foi punido, exemplarmente, com um placar de três a zero, contra? Segundo foi ventilado à época, no que tangeu à equipe brasileira, ocorreu uma acusação, um julgamento e uma condenação; quanto à agremiação argentina, como não houve acusação contra ninguém, não aconteceu julgamento, condenação nem, claro, perda de pontos. Ou seja, para a COMENBOL, infração devidamente apurada, registrada, anotada, se não houver contra ela manifestação ou contestação, não há punição. Alguém já falou e a instituição aceitou: o direito não acolhe aos que dormem.

                O Santos não conseguiu reverter tão absurdo placar, na volta, e ficou pela estrada. Outros times brasileiros também se viram prejudicados: o Cruzeiro, que teve seu melhor jogador em campo expulso de maneira que envergonhou meio mundo, por uma arbitragem obtusa, durante jogo que não perdia até a expulsão; como empatou o segundo jogo, deixou o torneio. O Grêmio, reclamou de irregularidade cometida pelo treinador do argentino River Plate, que, não somente admitiu a infração cometida, como disse que não se arrependia do que havia feito e, ainda assim, não viu sua equipe ser punida pela COMENBOL, mas sim, disputar e ganhar a mais longa e controversa copa Libertadores da América.

                Outra bagunça veio a público antes da final do torneio entre River Plate e Boca Juniors: torcedores do primeiro impediram que jogadores do segundo pudessem atuar na partida decisiva na casa de “los milonarios”, que não foi realizada por estrita falta de segurança; desse imbróglio, a única punição aplicada foi a transferência do jogo para a capital espanhola.

                Em razão da força, da moral e do prestígio da federação argentina de futebol, que ganhou como conivente insidiosa, irresponsável e benevolente a COMENBOL e contou com a muda, surda e cega atuação da FIFA, é que, a partir de agora, tentarei torcer pelo futebol argentino, campeão da mais longa e tumultuada decisão da taça libertadores da América.

Antes de concluir este texto, a primeira decepção como neófito torcedor. Sem poder contar com a mamata da COMENBOL, o River Plate, campeão das Américas, perdeu para um desconhecido time dos Emirados Árabes e deu adeus à disputa pelo título mundial de dois mil e dezoito. Não joguei a toalha, resistirei até quando der. ¡Viva el fútbol argentino!   

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

O poeta João Carvalho na ágora do Ágora

Kenard Kruel, Emerson Araújo e João Carvalho, numa das "edições" do Sarau Ágora


O poeta João Carvalho na ágora do Ágora

Elmar Carvalho

Neste sábado, na Academia, foi-me entregue o opúsculo do “XXVIII Sarau Lítero-Musical Ágora”, evento que vem sendo organizado, mensalmente (última quinta-feira de cada mês), por João Carvalho, há um ano e meio, como a numeração indica. Seu organizador é um médico humanitário, que realiza um trabalho social relevante, voltado especialmente para os portadores do mal de Alzheimer, de cuja Associação Brasileira [de Alzheimer] – Regional do Piauí é ele presidente.

Tem promovido constantes palestras sobre essa devastadora doença. Quando fui juiz em Capitão de Campos, já ouvia falar no João Carvalho, que havia sido médico nessa cidade, como um cidadão bem-humorado e cordato. Depois, o conheci pessoalmente e atesto essa opinião. O Sarau Ágora conta com o apoio decisivo dele, que gasta um bom dinheiro em sua realização, embora tenha o apoio de algumas entidades.

Ajudam-no a levar adiante essa difícil empreitada os poetas William Melo Soares, velho amigo, desde meus tempos parnaibanos, Kátia Paulo, Graça Vilhena, e mais Ilza Bezerra e Dionísio Neto. No evento são recitados poemas, intercalados por belas apresentações musicais, com músicos e cantores especialmente convidados. Em cada mês é homenageado um poeta diferente.

No sarau de dezembro todos esses poetas são homenageados conjuntamente, como apoteose dessa sequência lítero-musical. As pessoas presentes podem recitar poemas de sua autoria ou da lavra de outros poetas. Além de bardo traquejado, de muita sensibilidade e sutileza, João Carvalho também é músico competente, seja manejando um teclado ou empunhando um sonoro pinho.

Para gáudio meu, já tive a ventura de ser um dos poetas homenageados, numa das edições do sarau, com direito à publicação de uma bela plaqueta, que coligia uma seleta de meus poemas preferidos. Vida longa ao sarau de nosso bravo e boa-praça João Carvalho!   

1º de março de 2010

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

COLÉGIO ALMEIDA GALHARDO - 54 ANOS EDUCANDO


Já está tudo pronto para a grande festa que irá comemorar os 54 anos de fundação do Ginásio Almeida Galhardo em Tutóia, no Estado do Maranhão.

O evento, organizado pela professora Maria José Brandão Ramos  - a Zezé do Zé Carlos,  e mais um grupo de ex-alunos/alunas da primeira turma de concludentes do ginásio, acontecerá nos dias 21 e 22 deste mês e reunirá em uma grande confraternização galhardenses residentes em Tutóia e também os residentes em outas partes do país que já começaram  chegar para esta grande festa, como foi o caso do advogado Sérgio Ramos que viajou de automóvel percorrendo quase 5 mil quilômetros  de Rondônia ao Maranhão na companhia de sua esposa a sra. Ursula.  De Tutóia no Maranhão, o  casal aproveitou para dar uma esticadinha até a cidade de Parnaíba no Estado do Piauí para as devidas revisões em seu automóvel.


Na Praça da Graça da esquerda para direita: Sérgio Ramos, sua esposa Ursula, Eu e o Clodomir da Penha Reis (o Mimico)
 

O evento constará de um Sarau na noite do dia 21, ocasião em que será lançado a coletânea "Pioneiros Galhardenses" - 54 anos de História.  Já no sábado acontecerá o Grande Baile Baile da Saudade com a tradicional banda "Os Dragões" da cidada de Piripiri, do Estado do Piauí.
Todas as solenidades acontecerão nos salões da antiga Associação Atlética Banco do Brasil - AABB  hoje Jhony Bar e Restaurante.


A coletânea Primeiro Encontro Galhardense foi organizada pelas professoras Maria José Brandão Ramos e Josykarla Ramos de Medeiros  da Academia de Ciências Artes e Letras de Tutóia - ACALT e conta a história da fundação do colégio pioneiro na educação ginasial em Tutóia.
Além dos galhardenses que participam da referida coletânea , tem também um artigo do do poeta e escritor Elmar Carvalho sobre o livro  "Almeida Galhardo" - o poeta das gaivotas.
Elmar Carvalho é juiz aposentado e pertence a diversas academias de letras piauienses dentre as quais Academia Piauiense de Letras - APL e  Academia Parnaibana de Letras - APAL.   

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Recife



RECIFE 

Elmar Carvalho

           (Fragmento de um poema perdido,
           escrito no Recife, início de 1975.)

teus lampadários
multicores
ilusórios e utópicos
como os primeiros amores
cheios de mágoas
parecem peixes fosfóreos
em tuas águas:
caleidoscópicos
aquários.

(versão modificada)

---------------------------------------------

tuas luzes multicores
ilusórias como os primeiros amores
cheios de mágoas
parecem peixes fosfóreos
em tuas águas.

(versão original)

domingo, 16 de dezembro de 2018

Seleta Piauiense - Raimundo Alves de Lima – RAL



Menino

Raimundo Alves de Lima – RAL (1956)

Ronaldo era um menino triste:
colecionava figurinhas
e histórias em quadrinhos.
Contava nos dedos magros os dias
da semana, na espera dos sábados.
Quando lia as histórias em quadrinhos,
sonhava com os voos do super-homem.
Ronaldo saiu numa terça-feira, dizem,
à caça de aventuras.
Virou manchete,
andou na boca do povo.
Foi encontrado morto, numa manhã comum,
solitário, no necrotério do HGV.   

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

PROFESSOR FREITAS E O GIGANTE ADAMASTOR





PROFESSOR FREITAS E O GIGANTE ADAMASTOR

Elmar Carvalho

Ontem à tarde estive no apartamento do professor José de Ribamar Freitas. Muitas vezes o tenho visitado, seja para conversarmos, seja para receber alguma orientação sua, mormente na área de literatura. Ele é um homem sério, para alguns circunspecto, mas para mim foi sempre uma pessoa de fácil convívio e de bom-humor. Admiro a sua avantajada e bela biblioteca.

Muitos de seus livros são, hoje, obras raras, e muitos já não são reeditados há muitos anos. A maioria é composta de clássicos da literatura universal. Ribamar Freitas é, ele próprio, um clássico, e eu o chamo de o último dos helenos. Tem considerável conhecimento de grego e de latim. Lê, no original, os poetas do classicismo greco-romano. É um erudito e grande orador. Está, no momento, às voltas com um livro de ficção, que está preparando para publicar, já tendo escrito vários de seus contos.

Fui seu aluno de Direito Penal, na Universidade Federal do Piauí, na primeira metade da década de 80. Recordo que no primeiro dia de aula cheguei um pouquinho atrasado. Ele estava dizendo que já ninguém lia os clássicos, que ninguém queria mais saber desses grandes mestres do classicismo. Para provar o que dizia, perguntou se alguém já ouvira falar em Adamastor, exatamente no momento em que eu me sentava numa das cadeiras.

Devo dizer que o silêncio foi sepulcral. Então, levantei o braço, e disse que Adamastor era o gigante de Os Lusíadas, de Camões, que ameaçou de males formidáveis os navegadores portugueses, ao dizer que lançaria maldições de toda sorte, e que o menor mal seria a morte. O mestre ficou perplexo, e levemente contrafeito, porque eu quebrara o mote e o fundamento de sua peroração.



Duas décadas depois, encontrei na apresentação ao livro Reflexões sobre a Vaidade dos Homens e Carta sobre a Fortuna, de Mathias Aires, uma passagem que me fez recordar o episódio, algo anedótico, que contei. Consta que Ariano Suassuna, ao ministrar aula em São Paulo, dissera que as universidades brasileiras ensinam de costas para o país. Para provar o que afirmava perguntou se alguns dos alunos já ouvira falar em Kant. Todos levantaram a mão, afirmativamente.

Em seguida, perguntou se eles já tinham ouvido falar em Mathias Aires. Ninguém levantou a mão, exceto um único aluno. Suassuna perguntou a esse aluno se ele já lera esse clássico de nossa literatura, ao que ele respondeu que não. Disse que só conhecia o nome do grande escritor e pensador porque, por coincidência, morava numa rua que tinha o seu nome.

Contudo, se fosse nos dias de hoje, à pergunta de mestre Ribamar Freitas, todas as mãos levantar-se-iam e todas as vozes responderiam sim, em uníssono. Sucede que hoje é sobejamente conhecido o palhaço televisivo Adamastor Pitaco.   

28 de fevereiro de 2010

domingo, 9 de dezembro de 2018

Seleta Piauiense - Elmar Carvalho

Montagem com fotos colhidas no Google


O BÚZIO

Elmar Carvalho (1956)
                                  
o búzio
- pequeno castelo
ou gótica catedral -
sobre a mesa avança
envolto em ondas e vendaval

anda ondulante
onda cavalgante
onda ante onda

atraído pelo chamado
do mar avança
chamado que carrega
nas espirais e labirintos
de sua concha côncava
     
avança e
lança sobre mim
a tessitura exata
de sua arquitetura
abstrata e surreal

avança
unicórnio lendário
protuberante
rinoceronte bizarro
surfista extravagante
em forma de chapéu

lentamente
avança co-movido
pelo chamado das ondas
que em si encerra
em seu ventre vazio
onde o vento em voluteios
é a própria voz do mar

oh, búzio caprichoso
como as curvas e volutas
de um corpo de mulher...

           Inhuma, 29.07.98 – 06:00h  

sábado, 8 de dezembro de 2018

PAPAI NOEL EXISTE, ELVIS PRESLEY E MICHAEL JACKSON NÃO MORRERAM

Fonte: Google 


PAPAI NOEL EXISTE, ELVIS PRESLEY E MICHAEL JACKSON NÃO MORRERAM

                Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
 
                Depois de, finalmente, a superintendência municipal de transporte e trânsito vir a público para informar aos folgados condutores locais que transitam pelas pistas da esquerda das vias públicas em velocidade inferior à metade da que ali é permitida, como fazem incontáveis motoristas teresinenses, diuturnamente – bom que se diga que trafegar pelas faixas direitas é quase impossível, em razão de, não raro, na maioria dos logradouros locais, servirem elas de áreas de estacionamento preferencial de outros tantos donos das ruas -, que aquilo é uma infração, pode-se imaginar que quem continuar infringindo a lei será punido com multa pecuniária e, administrativamente, mediante anotação de pontos/faltas em seus prontuários;

                Depois que a disputa pela presidência, quase vitalícia, do parlamento estadual piauiense passou a ser um ato teatral, a despeito das falsas querelas, antes das eleições, envolvendo os parlamentares que, de fato, elegem, ou melhor, têm reelegido o presidente, e a minoria que precisa se mostrar contrária para evitar que digam, ao final, que apenas houve uma aclamação;

                Após dicotômicas medidas tomadas pelo presidente da França e outros governantes mundo afora, e que vêm irritando os governados, como as que reajustam o preço dos combustíveis tentando fazer com que cidadãos se sintam desestimulados a sair de casa em seus veículos, preferindo o transporte público - o que soaria agradável aos xiitas do meio ambiente: menos veículos trafegando nos centros urbanos, menos gases nocivos e, claro, menos poluição – enquanto outras inflam as montadoras de automóveis com incentivos fiscais, trabalhistas, como o objetivo de incrementar a produção e, obviamente, a venda dos mesmos veículos que deveriam ficar nas garagens; além de aumento na arrecadação tributária;

                A propósito de arrecadação, depois de mais uma recorrente edição do malsinado programa de refinanciamento de dívidas tributárias, segundo o  fisco, visando facilitar a vida de contribuintes inadimplentes – mesmo objetivo dos anteriores -, na quitação, com redução - ou sem eles - de multas e juros e parcelamento camarada, de débitos tributários que aquela turma não pôde ou não quis recolher, o que não aconteceu aos contribuintes cumpridores de suas obrigações, prejudicados, aliás, pelo pacote de facilidades e bondades, uma vez que, também esses, poderiam, poupando ou investindo os valores que pagaram a título de tributos, como devem haver feito os inadimplentes ou sonegadores, ter aguardado o próximo REFIS para, então, negociarem sua dívida tributária para com o erário. Esperam fisco e governo que, dessa feita, tal benesse se materialize em incremento na arrecadação, folga no caixa, com a qual o estado poderia honrar compromissos que, sem a receita recuperada, tornar-se-iam de difícil, senão, impossível solução. Fato interessante não levado em consideração, ou melhor, escamoteado, de modo a dar entender que, agora, sim, estaria havendo maior preocupação do governo estadual com os contribuintes inadimplentes, seria a sequência lógica que, invariavelmente, ocorre com esses repetitivos programas de refinanciamento tributário: depois do pagamento da entrada e de duas ou três parcelas do parcelamento negociado, os recalcitrantes contribuintes, geralmente, voltam ao velho status quo de maus pagadores, devedores contumazes, e o círculo vicioso recomeça: a corja passa a esperar pela próxima edição da benesse fiscal para rolar, tanto a dívida remanescente dos velhos REFIS como a referente ao calote dado ao último, ou melhor, ao atual, vigente;

                Depois da inclusão da Felicidade(?), não na condição de materialização do estado de espírito que tantos desejam, mas como disciplina integrante da grade curricular de alguns cursos de graduação em engenharia, garantindo com isso, claro, um “plus”, uma alavancagem nas vendas de livros de mentores ou de “entendidos” na nova matéria curricular – seriam eles, os livros, catalogados ou não como de autoajuda? -, que, provavelmente, serão adotados por seus professores;
               
Complementaremos a fartura de situações aqui citadas, como que para reforçar a comprovação de que tudo pode ser crível e que ceticismo estaria com os dias contados, com este exemplo, não admitido pelo autor como tal, de surto psicótico ou esquizofrênico – dizem que, por lá, casos semelhantes ocorrem com muita frequência – produzido por um holandês de sessenta e nove anos que resolveu pleitear, judicialmente – esquecendo-se de que seria impossível, para esse lapso de tempo, apagarem-se, deletarem-se, formal e/ou, oficialmente, todos os registros históricos e de sua biografia – , a diminuição de sua idade cronológica em vinte anos, haja vista sentir-se fisicamente tão bem - ainda que, mentalmente, desequilibrado –, quanto um indivíduo de quarenta e nove anos. Claro que a Justiça holandesa ignorou tão disparatada pretensão.

                Depois da penúltima bobagem, quedou-nos a certeza de que pouca margem há para duvidarmos do que quer que seja. Assim, acreditamos que, tanto o supremo tribunal federal logo, logo encontrará um meio de recolocar o auxílio-moradia nos vencimentos dos magistrados, como o ministro daquele tribunal, o que pediu vista do processo referente a habeas corpus impetrado por advogados do ex-presidente preso, pedindo sua libertação, somente devolverá a peça jurídica retida quando tiver certeza de que, no plenário daquela corte, estarão reunidos ministros que votariam, majoritariamente, pelo acatamento de tal expediente jurídico. A propósito, estamos muito próximos de voltar a crer em Papai Noel; quanto a Elvis Presley e Michael Jackson, esses não morreram. Afinal, mais que nós, muitos acreditam que essa história de morte é pura balela.