sexta-feira, 30 de junho de 2017

Francisco Dias de Siqueira - O Apuçá


Francisco Dias de Siqueira - O Apuçá

Reginaldo Miranda
Historiador e membro da APL

Foi Francisco Dias de Siqueira, por muitos anos, o mais antigo colonizador do Piauí, aonde chegara no verão de 1662, como um dos líderes de uma bandeira paulista que devassou a bacia do Poti, fundando um arraial com o nome de Santa Catarina, que deu origem à cidade de Valença do Piauí, e onde permaneceu por largos anos.
Era ele natural da vila de São Paulo, onde nascera provavelmente no ano de 1641, filho primogênito de Francisco Pires de Siqueira, cidadão de São Paulo, onde ocupou importantes cargos públicos, falecido com testamento em 8 de abril de 1671 e de sua esposa Helena Dias (f. 1669), com que casara na matriz de São Paulo, em 6 de fevereiro de 1640; era neto paterno do português Francisco de Siqueira, natural da vila de Caminha e de sua esposa Ana Pires de Medeiros, falecida em São Paulo, com testamento, em 4 de maio de 1668; neto materno do casal paulista Custódia Gonçalves e Francisco Dias, este filho de Pedro Dias, que foi jesuíta leigo, e de sua segunda esposa, Antônia Gomes da Silva, natural de Braga, em Portugal. Francisco Dias de Siqueira possuía duas irmãs, Ana Maria de Siqueira e Ana Pires (LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Nobiliarquia Paulistana. São Pauli: USP, 1980).
Desde cedo Francisco Dias de Siqueira, abraçou o mesmo sonho de seu conterrâneo Domingos Jorge Velho, ingressando ambos nas mesmas bandeiras e, mais tarde, seja por morte do capitão de uma delas, seja por vontade própria, se fizeram líderes de uma partida de paulistas, trilhando os íngremes sertões, até atingirem a bacia do Poti, ou do rio dos Camarões, nos Sertões de Dentro. Ali esses bandeirantes fundaram o poderoso arraial já mencionado e que, denunciando a origem de seus moradores, ficara mais conhecido como “Arraial dos Paulistas”. Também, o maior rio desse território, que antes possuía os nomes indígenas de Pará, Paraguaçu ou Punaré, sendo também chamado por europeus, que o desconheciam, de Rio Grande dos Tapuias, foi por esses bandeirantes denominado de Parnaíba, em homenagem à vila de onde partiram.
Francisco Dias de Siqueira e seu sócio Domingos Jorge Velho, viveram por largos anos caçando índios para venderem-nos como escravos na faixa litorânea de Pernambuco e Bahia. Porém, parece que, com o tempo, foram se distanciando, atuando Jorge Velho mais para os sertões do Poti, Longá, Ibiapaba e nas extensas áreas da Paraíba e Pernambuco, ao passo que Dias de Siqueira passou a atuar no sul do Piauí e Maranhão, inclusive nos sertões de Parnaguá, onde depois de alguma luta e despesa conseguiu fazer as pazes com as nações Guacupês e Ananás, abrindo, assim, a possibilidade de comunicação entre S. Luís do Maranhão e a Bahia. Em face desse e de outros serviços úteis à Coroa, por ele praticados nos últimos quatorze anos em que atuara no território piauiense, durante o verão de 1676 foi pedir favores na Bahia. Então, a Junta Trina de Governo Provisório do Estado do Brasil, com sede na Bahia, antevendo a possibilidade do descobrimento de minas auríferas, inclusive da lendária lagoa dourada, além da implantação de fazendas no novo território, louva seu feito pelas “grandes utilidades que se podiam seguir ao serviço de Deus, na redução daquelas almas, e no de Sua Alteza, na comunicação dos Estados do Maranhão e Brasil”. E, por essa razão, a 1º de fevereiro de 1677, concede-lhe a patente de capitão-mor e administrador dos índios, cuja amizade conquistara. Juntamente, conseguiu as patentes de capitão de infantaria da ordenança para seus imediatos João Costa e Francisco Dias Peres, além de três arrobas de pólvora e oito de balas.
Por esse tempo, Francisco Dias de Siqueira se destacava pelos inumeráveis serviços prestados à Coroa nos Sertões de Dentro, tendo, inclusive, feito incursões pelo vale do rio Tocantins, em perseguição a indígenas. Esses feitos de repercussão surpreenderam o governo do Maranhão, que, em represália, promoveu as entradas de Afonso Rui(1676) e Vital Maciel Parente(1679), ambas de quase nenhum resultado prático.
Prosseguindo nessa atividade incessante, Francisco Dias de Siqueira, conhecido entre os seus por “Apuçá”, que significa “surdo”, na língua tupi, foi nomeado pelas autoridades baianas, em 1692, como imediato de João Raposo Bocardo para, no Ceará, Rio Grande e adjacências, buscar pérolas, prata e outros minerais. Contudo, porque Bocardo desaparecera, será esse “legítimo piratiningano da era seiscentista”, sempre incansável quem vai executar a incumbência, sem muito proveito. Porém, mais tarde, já desiludido dessa missão, retorna por S. Luís do Maranhão, onde obtém munições e mantimentos do governador Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho, para reprimir índios de corso e abrir caminho para a Bahia. Todavia, não demora a ser denunciado por extorsão a fazendeiros e índios catequizados. De outra feita, já havia prestado serviços ao governo do Maranhão, no frustrado combate aos Caiscaís.
Em 1697, há registro do padre Miguel de Carvalho, de que o capitão-mor Francisco Dias de Siqueira residia num arraial de tapuias, com os quais fazia entrada ao gentio bravo, possuindo algumas plantas de mandioca, arroz, milho, feijão, batatas e bananeiras voltados para o próprio sustento. Era o mencionado “Arraial dos Paulistas”, a única povoação existente no Piauí, naquele tempo. Em 11 de fevereiro desse ano esteve presente na fazenda Tranqueira, residência de Antônio Soares Touquia, na reunião que elegeu o lugar para a construção da nova matriz do Piauí, hoje cidade de Oeiras. Odilon Nunes se refere à sua presença nessa reunião como sendo “provavelmente o mais antigo morador do Piauí e o homem mais poderoso daquelas redondezas” (Pesquisas... p. 60).
Algum tempo depois, durante o governo de D. João de Lencastre, são remetidos alguns paulistas do S. Francisco para subjugarem os índios rebeldes do Maranhão, a pedido de seu governo e sob autorização do Conselho Ultramarino. Entre eles, mais uma vez parte Francisco Dias de Siqueira, ajudado por João Pires de Brito e Amaro Velho, no combate ao ameríndio.
Depois dessa entrada, já sexagenário, retira-se para a Bahia, onde falece, deixando rico cabedal, viúva e uma única filha: Joana Corrêa de Siqueira(3ª do nome), natural de São Paulo, que fora casada com Garcia Rodrigues Paes Betim, falecido em 1719, em Pitangui, deixando quatro filhos. A esposa de Francisco Dias de Siqueira, também era chamada Joana Corrêa (2ª), falecida 20 de abril de 1714, natural da vila de Santos, filha de Simão Rodrigues Henriques (f. 1656) e de Joana Corrêa (1ª), natural da Bahia.
É provável que o óbito do capitão-mor Francisco Dias de Siqueira, na Bahia, tenha se dado antes de 1704, porque em dezembro desse ano, quando Jerônima Cardim Fróis, viúva de Domingos Jorge Velho, e mais treze signatários, requerem, em forma de extensa sesmaria, as terras da bacia do Poti, não firma ele o requerimento. Também, na exposição de motivos que justificam o direito dos signatários não há referência ao seu trabalho no lugar – testemunhado pelo padre Miguel de Carvalho –, forte indício de que se indispusera com o antigo companheiro Domingos Jorge Velho, dividindo a liderança e a tropa dos paulistas. Assim pensamos porque, mesmo falecido, seus atos de posse poderiam reforçar o pleito dos requerentes, embora gerassem direitos à viúva e a herdeira única, que retornaram para São Paulo, depois do óbito do patriarca da família.
Enfim, foi esse paulista o principal devassador do sul do Piauí, com larga folha de serviços prestados à Coroa Lusitana, tendo chegado ainda no alvorecer da juventude e permanecido até às vizinhanças da morte. Seus feitos não foram devidamente reconhecidos, embora maiores do que o de outros que figuram com maior grandeza nas páginas de nossa história.   

quarta-feira, 28 de junho de 2017

DEPOIMENTO SOBRE JOSÉ GUIMARÃES CASTELLO BRANCO

Fonte: Google

DEPOIMENTO SOBRE JOSÉ GUIMARÃES CASTELLO BRANCO
                                     
Alcenor Candeira Filho

     Conheci o primo José Castello em 1954, quando ele, contando dois anos de idade, visitou Parnaíba em companhia dos pais e irmã, todos hóspedes de meus avós paternos e de minha mãe.
     Conservo até hoje fotografias batidas nessa viagem. Mostrei-lhas quando ele visitou novamente Parnaíba em 2008, já na condição de jornalista e escritor consagrado nacionalmente,  com o propósito de colher informações e vivenciar emoções a partir do passado de  seu pai José Ribamar Castello Branco, que aqui morou na mocidade e que é personagem central do livro que estava escrevendo – RIBAMAR, com que viria a ganhar o prêmio Jabuti de 2011 na categoria de romance.
     RIBAMAR é uma fusão de ficção e de memórias biográficas que focaliza o conturbado relacionamento entre pai e  filho.
     Uma das fotos mostradas a José Castelo e na qual aparecem o futuro escritor, seu pai, sua mãe e sua irmã é tão reveladora que foi evidenciada no livro. Examinando atentamente o velho retrato, o escritor descobre que já existia ali o conflito entre pai e filho:

            “A fotografia está fosca, as cores fraquejam, as imagens
            se dissolvem. Ainda assim,  ela lateja em minhas mãos. Emite
            outro tipo de luz: aquela em que o passado resiste, como  um destino.
            Aos dois anos de idade, magro e desconfiado, já sou o
            estranho que você conheceu e de quem se afastou. Está tudo
            ali,  para que  mais? Para que escrever um livro?”(p. 163/164).

     Essa penosa busca de reconciliação por meio de um mergulho no passado do falecido pai é que levou José Castello a voltar a Parnaíba, trazendo o “projeto insano” de recuperar o passado do pai, “uma loucura, uma estupidez, um livro” (p. 47), não um livro “sobre” o pai, mas um livro “através” do pai (p. 136).
     A falta de sintonia entre pai e filho, principal fio condutor da narrativa, já existia entre pai e avô do autor, Lívio Ferreira Castelo Branco, apontado no romance como intelectual  medíocre não só pelo neto escritor mas também pelo próprio filho Ribamar, que declara ao entregar a José Castello um velho caderno com poemas publicados na imprensa de Parnaíba nos anos 20: “São bobagens de meu pai. Por mim, vão para o lixo”(p.119).
     Quer dizer, o autor se vê de repente diante de uma herança maldita, “diante de uma duplicação. Mais uma.  Um segundo abismo, agora entre você e seu pai, repete o desfiladeiro que nos separa. Um destino grafado no sangue, uma herança genética – algo de que não conseguimos escapar” (p. 119).
     Desconhecendo o fato acima, aqui em Parnaíba mostrei a José Castello uns poemas de seu avô, e ele de forma direta, curta e grossa como se diz no Piauí: “Péssimo poeta, já sabia disso desde criança, quando meu pai me entregou velhos papéis com poemas do vovô Lívio, com a recomendação de que os jogasse no lixo”.
     O duro e azedo julgamento do neto sobre os escritos do avô paterno se manifesta ostensivamente em várias páginas do livro:

            “Não me interesso pelos sonetos de meu avô, pomposos,
            com rimas odiosas, estúpidas exaltações de civismo. Um deles se
            chama ‘Progressos’, mas a linguagem do passado destrói tudo”
                                    (p.120).

            “Dois pseudônimos: João do Mato e Sabino Ferreira.
            Dois mantos que meu avô (...) usou para se esconder. Suas
            crônicas na imprensa, assinadas com os nomes falsos eram
            medíocres” (p. 267).

     Essa história de pseudônimos usados pelo avô do romancista não é ficção, como prova o ALMANAQUE DA PARNAÍBA de 1929, que registra o falecimento de Lívio em 05.02.1929 durante um baile de carnaval no Cassino 24 de Janeiro e traça-lhe o perfil moral, político e intelectual, ressaltando ter sido ele “como literato, um poeta espontâneo  e gracioso, que com os apelativos de João do Mato e Sabino Ferreira deixou crônicas que marcaram época no nosso meio intelectual”.
     Confesso que as opiniões críticas apresentadas no romance RIBAMAR, embora sinceras e verdadeiras, me fizeram ter pena de meu bisavô, que sempre considerei um poeta tolerável para leitores de boa vontade e que indiquei para patrono da cadeira nº 28 da Academia Parnaibana de Letras.
     Algumas pessoas da família Castelo Branco não gostaram do premiado romance, achando-o amargo e ofensivo ao pai do autor e à família. Atribuo esse julgamento, com o qual não concordo por entender que das 278 páginas do livro o personagem central sai é engrandecido,  a uma impressão apressada e superficial de leitura.
     Também foi vítima desse mal entendido familiar o publicitário e escritor Renato Pires Castelo Branco por causa de seu romance TEODORO BICANCA, em que se confundiu um tipo sociológico genérico, o Coronel, fruto de um quadro histórico, com a pessoa de seu tio – coronel Belarmino Pires.
     No Salão do Livro do Piauí – SALIPI, em 2011 ou 2012, fui a Teresina para ouvir a palestra de José Castello sobre o romance RIBAMAR. Após a palestra e com a palavra dirigi-me ao palestrante não com uma pergunta como seria natural, mas com um depoimento que talvez naquele momento só eu pudesse dar entre os presentes. Reportei-me ao fato de que alguns membros da família Castelo Branco detestaram o romance. E como parente e sobretudo por ter conhecido pai e filho, concluí: “Acho que RIBAMAR é o tipo de romance de que eu como pai e personagem muito me orgulharia”.
     No livro INVENTÁRIO DAS SOMBRAS, José Castello conta que no Rio de Janeiro, novembro de 1974, vinte e três anos de idade, enviou um conto para Clarice Lispector, com endereço e telefone juntos na esperança de que ela viesse a retornar. Passado um bom tempo de silêncio, eis que “o telefone toca e uma voz arranhada, grave, se identifica: ‘Clarrrice Lispectorrr’, diz. Ela entra logo no assunto: ‘Estou ligando para falar de  teu conto’, continua )...) ‘Só tenho uma coisa para dizer: você é um homem muito medrrroso (...). E com medo ninguém consegue escrever’” (p. 19). Que grande conselho!
     É provável que RIBAMAR seja o tipo de livro de ficção que Clarice Lispector gostaria que José Castello escrevesse. Nele ou através dele percebe-se que  o autor realizou uma grande obra porque a escreveu após libertar-se das amarras do medo a que se refere a autora de LAÇOS DE FAMÍLIA.
     A exemplo de Mário de Andrade, que, à falta de melhor classificação para a extraordinária obra MACUNAÍMA, chamou-a de rapsódia. José Castello classifica seu livro como romance, “porque não sei o que ele é”, conforme declarou na dedicatória do exemplar a mim destinado. Transcrevo toda a dedicatória por ser bastante esclarecedora do que pensa o escritor sobre a própria obra em que trabalhou exaustivamente durante quatro anos:

           Querido Alcenor,
           Curitiba, 15-set.-10
           Vai aqui o livro que consegui escrever. Não procure  a
           verdade nele, porque ela só aparece de forma esmaecida.
           Não é uma biografia, não é um ensaio, não é uma
           confissão, não é um livro de viagens.
           Eu o chamo de ‘romance’ porque não sei o que ele é.
           Você aparece escondido na figura do tio Antônio.
           Minha gratidão.
                José Castello”

     RIBAMAR é uma obra fortemente influenciada pelo escritor tcheco Franz Kafka, como se vê nas páginas iniciais: “Meu mal tem uma origem precisa: sou obcecado por Franz Kafka. Não que eu o inveje ou deseje ser como ele. Também não o odeio e, com algum esforço, reconheço sua grandeza. Meu problema é que não consigo parar de pensar em Kafka” )p.11).
     O livro de Kafka tão presente no romance não é o mais  famoso dos que escreveu – METAMORFOSE – mas talvez o mais profundo de todos – CARTA AO PAI – que Ribamar no Dia dos Pais do ano de 1973 recebeu com esta dedicatória: “Para o  papai com um beijo e o amor do filho José” (p.21).
     Assim como o pai do genial escritor tcheco jamais leu a  CARTA AO PAI, “livro que,  refém do medo, Franz preferiu entregar à mãe, Julie, e não ao pai” (p. 22/23), também o exemplar dessa carta adquirida por acaso numa papelaria de Copacabana e dado pelo filho ao pai no Dia dos Pais nunca foi lida, tendo sido encontrada muito tempo depois num sebo do Rio de Janeiro.
     E como as cartas que não chegam a seu destino são as “que se perpetuam” (p. 276), na hora de deixar Parnaíba e de fechar as malas, pagar a conta do hotel e voltar para casa, o escritor fecha o grande romance:

         “Antes de pegar a estrada, preciso passar no correio.
         Tenho uma carta a despachar. Esta carta, a você, meu pai.
         A atendente me olha perplexa: ‘Falta o endereço’.
         Eu respondo: ‘Ponha aí um destino qualquer’” (p. 278).

     José Castello, carioca, radicado em Curitiba, é crítico literário, biógrafo, jornalista e romancista. Como cronista já trabalhou em diversos jornais e revistas: O Globo, O Estado de São Paulo, Isto É, Veja , etc..
     Autor de vários livros, destacando-se RIBAMAR, VINÍCIUS DE MORAES: O POETA DA PAIXÃO: UMA BIOGRAFIA, INVENTÁRIO DAS SOMBRAS, DENTRO DE MIM NUNGUÉM ENTRA, NA COBERTURA DE RUBEM BRAGA, A LITERATURA NA POLTRONA.   

Café Literário


Data: 28 de junho
Horário: 18:30 horas
Local: Livraria Anchieta (Av. N. S. de Fátima, 1557)

terça-feira, 27 de junho de 2017

MOMENTO DE AMOR, NATUREZA E CRIANÇA


        
MOMENTO DE AMOR, NATUREZA E CRIANÇA

Valério Chaves – Des. inativo do TJPI


         A história da literatura piauiense viveu um de seus grandes momentos no dia 16 de junho deste ano quando do lançamento de dois livros de autores piauienses versando sobre temas ligados à saudade, à ficção, ao meio ambiente, a beleza da arte, da natureza e da infância.

         Trata-se de “Histórias de Évora” de autoria do juiz e poeta Elmar Carvalho“; e “A Menina do Bico de Ouro”, de autoria do também juiz de direito Raimundo Lima, cuja solenidade de apresentação ocorrida na Livraria Entrelivros, contou com a presença de expressivas figuras identificadas com a arte e a literatura do nosso Estado.

         “Histórias de Évora”, que recebi com muito agrado, é um livro bem escrito em cada frase - desses que agarram o leitor da primeira à última página porque tem começo, meio e fim mesclando ficção do erotismo, amor e saudade no sentimento  do autor e nas paisagens humanas do interior.

         Elmar Carvalho, pelas suas virtudes literárias, pelo acerto e ritmo no desenrolar das “Histórias de Évora”, utiliza aguçada sensibilidade de poeta para retratar sua amada dentro de uma paisagem cidadina de muitas 'histórias, fumaça e tradição”, e de tantos outros cenários com nomes rimados em “a”, sem contudo deixar escapar o cultivo da arte. Afinal, fazer literatura é também uma forma de refazer o mundo da realidade e da ficção sem desgarrar do indescritível espaço da criação artística, do senso crítico e da beleza.

         Da visita que fiz da primeira à última página de Histórias de Évora, tive como recompensa: a magia de histórias narradas de mãos dadas com lugares nos quais se inseriu o autor em passeio pelo território da delicadeza sob um céu aberto pela manhã do coração.

         Por sua vez,“A menina do Bico de Ouro” propiciou-me outra saborosa emoção.
     
       O autor, apesar de ser um estreante confesso no gênero da literatura infantojuvenil, soube manipular com leveza dialética dos clássicos, personagens como a criança, árvore, abelha, morcego, macaco, raposa e rato nos diálogos e nas experiências diretas com a natureza, e propicia através delas uma visão ecológica das relações que concebe o mundo como um todo integrado na teia da vida entre o real e o imaginário.

          Raimundo Lima, em seu livro, nos convida a uma reflexão sobre um dos aspectos mais importantes do processo transformador da infância e, ao mesmo tempo, nos adverte que ainda é tempo para que sacudamos a onda da ignorância diante da tendência equivocada a achar que a preservação ambiental não é uma responsabilidade nossa.

         Enfim, é um livro que eu gostei de  ler porque me transmitiu lições profundas e diretas com a natureza e com o mundo, como expresso nos versos do poeta Pedro Bandeira:


         Eu sei que aprendo nos livros
         Eu sei que aprendo no estudo
         Mas o mundo é variado
         E eu preciso saber tudo.

         Se eu me fecho lá em casa
         Numa tarde de calor
         Como eu vou ver  uma abelha
         A catar pólen na flor ?

         Mas se tudo o que fizeram
         Já fugiu de sua lembrança,
         fiquem sabendo o que eu quero:
         Mais respeito eu sou criança !
        

         Nada mais gratificando para o artista do que o aplauso da plateia.

         Por isso, Elmar Carvalho e Raimundo Lima, pela emoção que souberam transmitir aos seus leitores, merecem ser aplaudidos de pé.

         Fecho a cortina mandando parabéns para os dois encenadores da literatura piauiense.   

segunda-feira, 26 de junho de 2017

HISTÓRIAS DE ÉVORA LANÇADO EM PARNAIBA

Elmar Carvalho e Manuel Domingos Neto

Gallas, Elmar, Fátima e Freitas



Com a presença de autoridades, intelectuais, membros da Academia Parnaibana de Letras de religioso e da sociedade parnaibana foram lançados na última sexta-feira 27, no auditório do SESC Avenida o livros Histórias de Évora e A Menina do Bico de Ouro.  O primeiro de autoria do poeta Elmar Carvalho e o segundo de autoria do escritor  Raimundo Lima.


               
Histórias de Évora é um romance com personagens vividos em Évora uma cidade fictícia mas que muito se assemelha com Parnaíba, Campo Maior, Barras etc., enquanto que A Menina do Bico de Ouro  (infanto-juvenil) é um resgate à literatura infantil com fábulas, histórias originalmente brasileiras, (nordestinas)  hoje tão escassas na literatura nacional.

 Após composta a mesa de honra o presidente  do sistema FECOMÉRCIO, o advogado Valdeci Cavalcante fez a abertura da solenidade. Em seguida a apresentação das obras.  O sociólogo e historiador Manuel Domingos Neto fez a apresentação de Histórias de Évora e o escritor José Pedro de Araújo Filho representando na oportunidade o professor Jônathas Nunes, escritor e membro da Academia Piauiense de Letras apresentou A Menina do Bico de m Ouro.

                 Enquanto os autores autografavam os livros, um farto coquetel era servido aos convidados.


                 Revestiu-se de grande sucesso o lançamento em Parnaíba dos livros História de Évora e A Menina do Bico de Ouro.

Fonte: Blog do Professor Gallas

O Porto das Barcas, esse filho enjeitado da Parnaíba (*)

Fonte: Google

O Porto das Barcas, esse filho enjeitado da Parnaíba (*)

Pádua Marques

Estou pra ver história mais comprida e sem fim essa do complexo do Porto das Barcas, aquele amontoado de casas velhas, esfarinhando de podres ali na região do centro dito histórico, entre o bairro do Carmo e a avenida Presidente Getúlio Vargas, tido e havido como o lugar onde estava armada a rede que balançou a menina chamada Parnaíba e que não tem quem não saiba que mais dia menos dia está com os dias contados.

Agora o Governo do Estado do Piauí quer retomar pra si a administração do dito complexo depois de anos e mais anos sob a responsabilidade da Associação Comercial e Industrial de Parnaíba. Pelo que se sabe a associação já vinha há vários anos mantendo de forma precária, como diria, capengando mesmo, a administração daquele amontoado de prédios, mas segundo argumenta a diretoria da entidade, sem recursos pra promover uma restauração à altura. Tirando o exagero, sem dinheiro pra comprar uma vassoura.

Pouco ou quase nada foi feito que desse uma feição de coisa importante, segura, digna e que imprimisse aos olhos de turistas, autoridades e aos pouquíssimos comerciantes ali estabelecidos noção de coisa que preste pra ser chamado um, respeitadas as proporções, um centro cultural e de eventos. Realmente a cada dia que passa a situação no Porto das Barcas fica pior. Nesses anos todos o que houve e muito foi remendo novo em fundo de calça velha. E remendo novo em fundo de calça velha sempre corre o risco de se deixar um dia a bunda de fora.

Aquele, como diriam de boca cheia de farinha ou de cuscuz alguns parnaibanos mais metidos a importantes, complexo cultural do Porto das Barcas, nunca atendeu, no meu entendimento, às exigências de conforto, segurança e até mesmo estética a eventos de médio ou grande porte. E agora me vem a informação de que depois de ser em 2013 entregue à responsabilidade da ACIP por documento do então governador Wilson Martins, o governo de Wellington Dias quer retomar pra si a administração de toda a área. Que mal comparando é a nossa Pompeia e em alguns lugares parece mais o Coliseu.

Essa história de vai pra lá e vem pra cá me lembra aquela história de filho enjeitado. Aquele menino maluvido, duro de rédeas, rebelde até pra tomar um banho e que um dia vai pra casa da avó e semanas depois volta pra casa da mãe. Aquele menino que é criado na ponta do pé e do relho entre os outros irmãos. O chamado filho de criação. Passa um dia cá e dez lá. E quando volta de lá pra cá, volta pior do que estava cá. Lembra o personagem Banana, de meu livro A Rua das Flores, o primeiro a ser publicado graças à benevolência de alguns amigos.

Banana, o apelido de José Domingos, irmão de Antonio Francisco, este criado pelo quitandeiro Quintanilha, depois de todas as tentativas pra ser colocado nos trilhos da vida pelo irmão Tonico, que até o colocou numa escola, acabou se perdendo com as más companhias ali pelas bandas do bairro São José e entre os motoristas e engraxates da praça da Graça. Estava livre pra se perder no mundo.  Assim é o Porto das Barcas. Já aconteceu de um tudo naquela margem de rio e entre aqueles escombros. Nem é bom de recordar, pois é coisa de dar até arrepios. Deve ser praga de Mundoca, a personagem resmungona de Beira Rio Beira Vida.

Sinceramente a gente espera, mais uma vez, que tomando pra si uma responsabilidade que é sua, o Governo do Estado agora coloque gente responsável, aplique recursos e dê destinação através de um amplo e viável projeto de restauração praquele monte de prédios que estão a cada dia se deteriorando. Faz vergonha aquilo ali. Mete medo passar numa calçada daquelas.

E se o governador Wellington Dias deseja mesmo dar sentido a seu projeto de governo em relação à Parnaíba, que entregue este projeto e a administração pra alguém compromissado com coisa bem feita. Porque se é somente pra fazer fita e se aproveitando de um momento lembre ele que Parnaíba e mais precisamente aquele complexo do Porto das Barcas faz tempo que anda coçando as costas e o pé da barriga.

Porque se é pra retomar da Associação Comercial e Industrial de Parnaíba e depois colocar uma pedra em cima, melhor deixar do jeito que está caindo aos pedaços. Porque esse negócio de mandar menino passar dez dias na casa da vovó e um dia depois ele vem pra casa da mãe pior do que foi, melhor entregar pra, como se dizia antigamente, no tempo em que não havia esse negócio de Estatuto da Criança e do Adolescente, entregar pra o juiz. 

(*)( Pádua Marques é jornalista e escritor. Este artigo foi escrito e publicado em 30 de outubro de 2015.   

sábado, 24 de junho de 2017

Histórias de Évora em dois bilhetes internéticos


Após seu concorrido lançamento no Teatro do SESC Avenida, o romance Histórias de Évora já se encontra à venda em Parnaíba, na Livraria Harmonia e na Banca do Louro, ambas situadas na Praça da Graça, ao preço de apenas R$ 20,00.

Caríssimo poeta, acabei de devorar o seu ótimo "Histórias de Évora".

Com um senso de humor invejável e apurado erotismo, jamais imaginável em um homem presumivelmente pudico e recolhido à vivência exclusivamente matrimonial, vc me  fez reviver um passado bem parecido, cheio de brincadeiras, namoricos, cachaçadas, festas, incursões aos saudosos lupanares  e demais entretenimentos de nossos tempos de antanho.

Na verdade, vejo que o poeta guardou grande gama de conhecimentos práticos acumulados em uma vida muito bem vivida numa Évora bem real, kkkkkkk.  

Seu passeio por Carlos Gonzaga, Nelson Gonçalves, Márcio Greik, Vespasiano Ramos, Humberto de Campos, Castro Alves e o clássico Beethoven, nos deliciou com a mistura do clássico com o popular. Ao transcrever uma estrofe de Castro Alves sobre olhos negros, senti falta apenas e tão somente da menção a "Seus olhos", do meu conterrâneo e superior poeta romântico, Gonçalves Dias, que aliás, poderia também ter sido citado quando da descrição dos "Olhos verdes" da loira esbelta, retilínea que tanto encantou o nosso Marcos Azevedo, vista anos depois com uma filhinha de cinco anos de idade.

Lógico que este não é um comentário de um crítico literário, mas apenas de um leitor de pouca cultura, que se viu nas linhas dessa divertida novela, digna de encômios!  

Edison Rogério Leitão
Juiz de Direito

Resposta de Elmar Carvalho:  

Caro amigo Edison Rogério,

Fiquei deveras satisfeito com seu comentário acima, por que não dizer embevecido.
Foi no âmago e na essência do romancinho.

Você observou tudo muito bem, o que demonstra que de fato você vivenciou essa bela época, e fez "prosopopeias" parecidas com as do nosso bravo Marcos.

Você lembrou com muita propriedade o nosso imenso Gonçalves Dias. Tive que podar um pouco as citações e as intertextualidades para não ser acusado de excessos nesses aspectos.

Também reduzi o número de casos picantes que poderia ter contado, para que os "críticos" moralistas não dissessem que encharquei meu livro de erotismo, embora seja a sexualidade parte da vida, ou melhor, o estopim da própria vida.

Você deve ter notado que eu "castiguei" a lourinha linda e presunçosa do início do livro, que quis esnobar o nosso bravo Marcão.

Aliás, tive um amigo escritor que leu as páginas iniciais de Histórias, o qual me perguntou se eu não iria castigar a bela cachopa ou ninfa eborense. Ele falou isso quase me instigando a fazê-lo, cobrando mesmo.

Respondi-lhe que já estava pensando nisso. Na época eu pensava em fazê-la uma decadente prostituta de nossos exemplares congressistas.

Mas fiquei com pena dela, e mitiguei o castigo, da forma que o amigo deve ter visto.

Muito obrigado pelas suas belas palavras e por sua leitura atenta.

Abraço,


Elmar Carvalho

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Lançamento em Parnaíba de Histórias de Évora e A Menina do Bico de Ouro


SESC-PI e os autores Elmar Carvalho eRaimundo Lima convidam para o lançamento dos livros História de Évora (romance) e A Menina do Bico de Ouro (infanto-juvenil).

A abertura da solenidade será feita pelo presidente do sistema FECOMERCIO, Valdeci Cavalcante.

As obras literárias serão apresentadas, respectivamente, pelo escritor, sociólogo e historiador Manuel Domingos Neto, e pelo professor Jônathas Nunes, escritor e membro da Academia Piauiense de Letras.

Data: 23 de junho de 2017
Horário: 19 horas
Local: Teatro do SESC Avenida (Avenida Presidente Vargas)
Parnaíba - PI   
Jesualdo Cavalcanti Barros e sua esposa Socorro

MEMÓRIA DOS ANCESTRAIS

Jesualdo Cavalcanti Barros
Da Academia Piauiense de Letras

O acadêmico Reginaldo Miranda, que se vem impondo à admiração e acatamento de nosso mundo intelectual graças a uma robusta e diversificada produção literária, sobretudo no ramo da pesquisa historiográfica, brinda seu crescente público com mais uma alentada obra. Trata-se de MEMÓRIA DOS ANCESTRAIS, na qual registra a genealogia da família Miranda, a que pertence,  para cujo desiderato foi cavoucar as raízes mais recônditas do processo de colonização do Piauí. Bom que encontra a mancheias, entre os desbravadores e colonizadores pioneiros dos sertões de dentro, valorosos varões no seio dessa tradicional família, a partir do século XVII, justamente quando, no rastro do boi, começaram a fincar fazendas nos vales úmidos dos rios  Gurgueia,  Itaueira, Piauí e Canindé.

A meu ver, nada mais oportuno, posto que, desde cedo, passei a compreender que as carências atávicas do Piauí decorrem grandemente da falta de conhecimento de suas origens e vocações  e, a partir da identificação do DNA de sua formação, de serem formuladas políticas de desenvolvimento capazes de romper o círculo vicioso de seu atraso trissecular.  Tenho para mim, também, que jamais se identificará efetivamente esse DNA se se deixar  de lado o estudo das grandes famílias pioneiras, suas relações de compadrio e entrecruzamento e as implicações decorrentes da ocupação da terra escorada no grande latifúndio, isto devido ao seu parcelamento em sesmarias, distribuídas entre poucos e separadas entre si por uma légua de distância. Esse enclausuramento tenderia a formar aglomerados humanos dentro das próprias fazendas, que se converteriam nas futuras vilas, daí resultando a transformação dos donos das terras em detentores do poder político e provedores exclusivos de uma legião de agregados em suas necessidades básicas. Daí a lapidar lição de Abdias Neves segundo a qual "o piauiense fizera das fazendas o seu microcosmo."   

Por tudo isso, tomo as obras de cunho  genealógico como um suculento contributo ao conhecimento daquelas realidades que não presenciamos,  mas de cujas engrenagens  sentimos os efeitos. E por entender que não chegaremos a futuro promissor algum sem o correto conhecimento de nosso passado e a pedagogia dos bons e maus  exemplos, que nos proporciona  esse conjunto de biografias, que são as genealogias, sempre vibro  com elas. Ao contrário dos que as consideram meras exibições de enaltecimento familiar, dou-lhes inexcedível valor no complexo  das boas práticas de resgate e preservação de nossa memória. Garimpando nessa seara, talvez encontremos  o fio da meada, ou seja, a nossa história.

 Ademais,  nutro o mais profundo respeito pelos seus autores, dentre os quais eu destacaria o Dr. Sebastião Martins de Araújo Costa (Dados Genealógicos da Família Rocha),  Abimael Clementino Ferreira de Carvalho (Família Coelho Rodrigues), Edgardo Pires Ferreira (A Mística do Parentesco), Renato Castelo Branco (Os Castelo Branco d'aquém e d'além mar) e Socorro Rocha Cavalcanti Barros (Os Cavalcantes do Corrente), aos quais faço questão de juntar o competente Reginaldo Miranda (Apontamentos genealógicos da família Nunes e Memória dos Ancestrais).


O comprovado e reconhecido talento desse eminente ex-presidente da Academia Piauiense de Letras em resgatar fatos e episódios, por vezes perdidos nos desvãos de nosso passado remoto, são garantias suficientes da qualidade da obra. Daí recomendar sua leitura. 

quarta-feira, 21 de junho de 2017

UM PINGO NO OCEANO

Fonte: Google

UM PINGO NO OCEANO
                                       
Cunha e Silva Filho
           
       Muitas vezes tenho a sensação de que o mundo precisa de menos  livros. Será que estou  dizendo Uma heresia? Ou estou  exagerando? Ou estou, na condição de autor,    com  medo da competição diante de milhões de livros espalhados pelo mundo afora?        Como se poderia   fazer  uma   rigorosa  estatística dos livros que circulam globalmente? Em quantas línguas? Com quantos leitores? Em quantas editoras? Livros para todas as idades, gostos, assuntos, livros para isso, livros para aquilo. Seriam  ainda válidos os versos  magníficos, a seguir citados,  de Castro Alves (1847-1871) exaltando  o valor  dos livros:  Ó bendito o que semeia/ livros, livros à mancheia/ e manda o povo pensar./ E o livro caindo n'alma,/ é germe que faz a palma,/ é chuva que faz o mar." (...) Claro que seriam bem-vindos. Porém, o meu medo é que sejam  mal distribuídos,  mal lidos,  pouco lidos,  desprezados,  não reconhecidos, vistos com indiferença,  e o que é pior,  jogados no  lixo.
         Somos, globalmente,  uma ilha gigantesca cercada de livros. Isso é bom? E, para os bibliófilos, como ficará  esta questão geral  de publicações? Não precisamos de ir muito longe. Basta um Estado brasileiro. Quantos  autores temos num só Estado? Quantos nos chegam ao conhecimento? Quantos são conhecidos? Quantos são lidos? Quantos serão  impressos e jamais lidos  pela maioria dos leitores? Estamos afundados em livros que nunca haveremos de ler, principalmente porque não teremos  tempo de vida para fazê-lo. Que pena não podermos ler nem a milésima parte  desses livros difundidos num só país. É isso que me  incomodo  também como  leitor. E olhe que estou  me referindo a livros impressos,  não aos e-books, não aos que têm  existência apenas virtual e encontrados nos blogs, nos sites, os quais se contam aos milhares.
  São obras que não acabam mais. Seria necessário que tivéssemos várias  reencarnações a fim de que  pudéssemos dar conta da leitura  de muitos deles – milhares deles preciosos. E estou  pensando  só nos que  compõem   o número elevado no terreno  da literatura. Imagine-se nos outras  áreas do   conhecimento humano!
     Por outro lado,  existe algo que me inquieta: os livros ainda são caros, sobretudo os recém-lançados por editora  famosas. Até os dos sebos à moda  antiga, em espaço físico de uma livraria antiga, assim como os sebos  virtuais,   já têm preços elevados. Alguns, caso sejam  muito procurados,  viraram  produto  de luxo.
    Enquanto isso, os autores, muitíssimos,  estão no limbo, esquecidos quase que por completo a menos que haja um pesquisador  que,  voltando-se para o passado,   necessitem  de ler alguns desses volumes esquecidos a fim de completarem suas pesquisas acadêmicas.
    Já disse alhures que os críticos, por exemplo, hoje têm que limitar-se a períodos da história literária,  a fim de possam fazer seus recortes  de temas e de autores. O crítico militante de hoje é um  indivíduo  restrito  às  suas possibilidades de querer  estar acompanhando essa enorme  quantidade  de obras lançadas a público, nacional e mundialmente. Ou seja,  não terão tempo  suficiente nem terão tempo de vida  necessária a uma maior  dedicação às resenhas,   às análises dos livros saídos, lançados,   escritos e divulgados, quer impressos, quer  pelo  espaço virtual. Já se se foi o tempo das resenhas de rodapés das décadas de trinta,   quarenta, cinquenta, sessenta, a cargo, às vezes,  de um ou dois críticos militantes por jornal.
     O número de autores,  ruins, bons e ótimos  subiu vertiginosamente. Assim também o  número de editoras espalhadas pelo país. Levando em conta cada Estado da Federação,  com  o  aumento  do número de universidades e faculdades  privadas e o consequente número de estudantes  de todos os níveis,   proliferaram  livros e autores em todos os gêneros, didáticos,  não didáticos,  obras de referências,  obras de artes etc.
    O fato paradoxal  é que, num país com  graves problemas  financeiros e com altos índices de analfabetos  e analfabetos funcionais,  ainda assim é espantosa  a quantidade  de livros  lançados.
    Entretanto,  há dois aspectos curiosos   no meio dessa realidade  editorial:  os livros  de autores  nacionais  bem vendidos e em  edições de boa  tiragem  e  livros  igualmente de autores  nacionais  pouco vendidos e em edições  modestas. Para saber  quais  fatores  são determinantes na elucidação  desses  dois tipos de vendagem seria o  caso de ter que  se fazer um análise  aprofundada da  questão.   Some-se a isso  a circunstância de que  não sabemos ao certo se os livros bem vendidos são realmente lidos  pelos compradores, e bem assim  os poucos vendidos. 
    E o problema desse desequilíbrio ainda se agrava mais com a concorrência dos livros chamados best sellers, dos livros traduzidos,  ricamente  impressos, com  capas  chamativas,  e tendo  na retaguarda uma poderosa  logística  de  publicidade,  divulgação  e distribuição em grandes  livrarias    de potenciais   compradores   de classes mais elevadas. 
   Os autores não bafejados  por essa retaguarda de elite dificilmente  conseguirão  ter voz e vez e seus livros, em geral,  se transformam  em  encalhes  fragorosos ou  senão vão engrossar  os milhões de livros  dos grandes sebos  virtuais. 

  Os autores não muito lidos nem  muito conhecidos ou não conhecidos, por força do impulso  da criação, não desistem de escrever para se sentirem  úteis. Quem sabe, um dia  serão descobertos... Ou então, terão o destino  certo dos escritores, em vários gêneros,  que estão lá  nas prateleiras  de um velho sebo   ou nas estantes de uma biblioteca  imensa povoada de tantos outros autores  hibernando  por falta  de quem  os procure e lhes dê o prazer de um  leitura  só pelo amor  aos livros. Isso  pode acontecer numa cidade,  num Estado, num país e no mundo. Um pingo no oceano.     

terça-feira, 20 de junho de 2017

0709.01


0709.01

Walter Lima

Funcionário público inativo
Protesta no papel escritos
Em linguagem poética

“se sente entende”
Diz seu bordão típico
Abusado do ofício primeiro

Saiu literalmente pela tangente do muro
Pronunciando dia a dia
Antiga herdade das letras
Vindas incrustradas no sangue e suor

Segue seu caminhar
Mesmo que tenha de cavalgar
Cavalos, pular obstáculos do Nada
Compartilhar Peixes com Marco
Para angariar óbolo de Espólio.
   
W.Lima._
RP, SP, 07.09.2013.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Lançamento em Parnaíba de Histórias de Évora e A Menina do Bico de Ouro



O SESC-PI e os autores Elmar Carvalho e Raimundo Lima convidam para o lançamento dos livros História de Évora (romance) e A Menina do Bico de Ouro (infanto-juvenil).

A abertura da solenidade será feita pelo presidente do sistema FECOMERCIO, Valdeci Cavalcante.

As obras literárias serão apresentadas, respectivamente, pelo escritor, sociólogo e historiador Manuel Domingos Neto, e pelo professor Jônathas Nunes, escritor e membro da Academia Piauiense de Letras.

Data: 23 de junho de 2017
Horário: 19 horas
Local: Teatro do SESC Avenida (Avenida Presidente Vargas)
Parnaíba - PI   

domingo, 18 de junho de 2017

Diderot Mavignier lança livro sobre a província dos índios Tremembés


Diderot Mavignier lança livro sobre a província dos índios Tremembés

O historiador Diderot Mavignier lança no dia 27 o livro A Província dos Tremembés, onde trata da importância desta nação indígena na formação geopolítica e social do Piauí. É o segundo livro do parnaibano sobre o tema ao lado de No Piauhy, na Terra dos Tremembés, em 2005.

Formado em História pela Universidade Estadual do Piauí, UESPI, Mavignier é especialista em metodologia do ensino de História e membro do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba. Com a professora e escritora Aldenora Mendes Moreira escreveu e publicou Conhecendo História e Geografia do Piauí, em 2007.


Participou em 2008 com outros escritores da obra Parnaíba de A a Z. Em 2015 lançou  A Maçonaria e a História da Independência do Piauí. O lançamento de A Província dos Tremembés será às 19h30 no Espaço de Eventos na praça Mandu Ladino, no bairro de Fátima, zona norte em Parnaíba

Fonte: APM Notícias. Fotos web.

Seleta Piauiense - Dílson Lages

Fonte: Google

O GALOPE DAS ESTRELAS

Dílson Lages (1973)

Meus olhos tocam o campo
onde cavalgamos sonhos.

Ouço o mugido do gado
preservando o encanto da noite
e galopamos na tangente do açude
onde o céu se oferece para contemplação.

A madrugada corre ensandecida.
Minhas mãos alcançam as alturas
e degusto o oásis do sertão
onde cavalgamos sonhos.   

sábado, 17 de junho de 2017

Donald Trump é cria do bairro de Fátima


Donald Trump é cria do bairro de Fátima

Pádua Marques

Donald Trump, aquele fogoió que é agora presidente dos Estados Unidos, me faz lembrar um amigo de infância lá do bairro de Fátima que gostava muito de criar confusão toda vez que a gente inventava de criar uma brincadeira ou acertar um jogo de bola. Era coisinha de nada pra ele bater o pé e, se fosse o caso, como se costuma dizer, melar a empreitada. Não vou aqui e numa hora dessas dizer seu nome completo porque ainda de vez em quando nos encontramos.

Mas tirando esse defeito, o meu amigo de infância era leal e corajoso ao extremo de comprar uma briga de murro pra si quando tinha consciência de que um de nós estava em desvantagem. Todo bairro tinha seus valentões. Naquele tempo todo menino tinha que ter no currículo no mínimo uma briga de rua. Era passaporte pra ser respeitado e lá no futuro ser admirado pelas namoradas. Foi um tempo de grande depressão econômica e os jovens da Parnaíba, assim como os americanos dos anos 30, tinham quase como diversão brigar na rua.

No bairro de Fátima era assim. Mas antes vou fazer uma observação importante que é pra depois ninguém achar que andei errando na geografia. Bairro de Fátima antigamente era um bairro grande. Começava na chamada beira da linha de trem ali pela gameleira, onde hoje funciona uma boate, e acabava onde hoje é o Tiro de Guerra. Eram, portanto dois em um, a parte baixa e a parte alta. Na parte baixa, onde eu passei minha primeira infância e a parte alta. Na parte alta tinha uma turma que era de fechar quarteirão.

Tinha gente tida como valente e arruaceira. E nessa fama dada pela briga de rua acabava sobrando pras mães. Assim ficaram conhecidos no baixo bairro de Fátima os Cão da Doca e os Cão da Calô. Não tinha um jogo de futebol que fosse, no Bariri, São Tarcísio ou fora das fronteiras que não acabasse em briga. Algumas ainda hoje lembradas com muito orgulho pelos hoje veteranos. E se o jogo era pros lados do Catanduvas, no campo do Botafogo, a coisa era feito briga de americanos com o pessoal do Exército Islâmico.

Falando em americanos, em março o presidente Trump assinou uma ordem executiva revertendo a política ambiental do seu antecessor Barack Obama. Pelo que se sabe até o presente momento os Estados Unidos vão, na observação dos ambientalistas, marchar pra trás. Os Estados Unidos vão deixar de mão o objetivo de reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera. Pro presidente com cara de vendedor de seguros esse negócio da redução de emissão de gases e meio ambiente degradado é conversa pra bumba meu boi dormir.

Pra ele essa conversa mole de preservação ambiental é uma porta aberta pra desaquecer a economia, fechar empresas e deixar milhões de americanos sem emprego. Pela visão dos ambientalistas e dos governos que defendem essa política é uma forma de democratizar os recursos naturais entre países pobres, ricos e os remediados. Pra que no futuro a Terra não se transforme numa panela de feijoada fumegando de tão quente. 

Mas o presidente Trump vê de outra forma. Retardando o crescimento pra priorizar cuidados com o meio ambiente, a economia americana deixa de produzir bens de consumo. E bens de consumo, computadores, smartfones, fornos micro-ondas, televisores, automóveis, máquinas de calcular, roupas, processadores de alimentos, enfim, todas essas quinquilharias que deixam o mundo inteiro gritando na porta do Armazém Paraíba em dia de liquidação, são tudo que todo mundo quer ter em casa.

Porque esse negócio de desenvolvimento é complicado. A gente entende como aquela coisa de ter acesso aos bens de consumo pra uma melhor qualidade de vida, urbana ou rural. Mas qualidade de vida respeitando o meio ambiente presume deixar de lado alguns confortos tecnológicos. Isso ninguém abre mão. Duvido. Então o presidente Trump está nessa situação. Briga com todo mundo dizendo e mostrando que tem razão ou deixa todo mundo se lascar.