quinta-feira, 30 de junho de 2022

UM CANTO À BARRAS DO MARATAOÃ: DOS POETAS E DOS GOVERNADORES

 

Ilustração: Centro Histórico de Barras do Marataoã
(Ângela Rêgo)



 “Barras ...

Barras do Marataoan ...

Dos cânticos de pássaros

e cântaros e címbalos de águas

em cantatas e cascatas

no rocio róseo-violáceo da manhã.

Barras das sete barras

- candelabro de sete braços de prata

líquida a escorregar macia

no dorso duro das pedras (...)”

 

(Versos iniciais do poema “Barras das Sete Barras”

do poeta Elmar Carvalho).

 

 UM CANTO À BARRAS DO MARATAOÃ:

DOS POETAS E DOS GOVERNADORES

                                           

  Chico Acoram

Escritor e poeta

 

Minha terra tem matas abundantes;

 Paraíso das águas és, Oh Barras!

Tens a flora e uma fauna exuberantes.

Tens os cantos dos pássaros, cigarras

E as seis barras de rios deslumbrantes

Que desfilam nas matas em fanfarras

Escrevendo poesias e canções

Alegrando assim nossos corações!

 

 

Meu torrão tem poetas renomados

Como um David Caldas, os irmãos

João/Celso Pinheiro, ainda aclamados;

Tito Filho, o cronista, em cujas mãos  

Retratou Teresina em exaltados

Textos bem-feitos sobre os cidadãos,

Cantos desta cidade, seus encantos,

Suas ruas, e todos os recantos.

 

 

 

 

 

 

 

Outros vates ilustres das fazendas,

Das ribeiras do meu Marataoã

Se tornaram estrelas estupendas

Na seara das letras desta chã,

Como Hermínio, esse líder das contendas

Do repente e cordel, que d’uma sã                                        

Mente fez o corpóreo livro “Lira

Sertaneja”, que a gente o admira.

 

 

Desse clã dos Castelo Branco são

Excelentes poetas: o Leonardo

De Carvalho, o avô, de vocação

P’ra pelejas políticas, um bardo

Talentoso, foi homem de expressão;

Pai Miguel de Carvalho, felizardo

Em cultura, poeta, professor,

Bem versado em gramática, e orador.

 

 

Sua avó, por Judite conhecida,

 Mais algumas das filhas, poesias

Escreveram em carta dirigida

Ao pai preso e exilado, em covardias

Do governo do Rei, sem merecida

 Compaixão e quaisquer das garantias

Foi metido em prisões de Portugal

Por razão de não ser, ao Rei, leal.

 

 

 

Teodoro Castelo Branco, vate

Importante no seio da poesia

Popular, e homem do melhor quilate,

Nosso Hermínio puxou, em demasia,

O seu tio, que gostava do combate

Nas arenas de guerra, assim queria,

E depois retornar p’ra suas matas,

Pois gostava dos campos e cascatas.

 

 

Minha terra querida tem poetas

Importantes no rol dos imortais

Acadêmicos com suas seletas

Poesias, e escritores perenais

Dentre os quais, e segundo os exegetas,

São: Matias Olímpio, e seus iguais

Antenor Rêgo Filho, o professor

Dilson Lages que é um escritor.

 

 

Menciono, também, o antologista

Consagrado e escritor Wilson Carvalho

  (dos) Gonçalves, figura idealista

Da cultura e das letras, de trabalho

Invejável dum grande beletrista,

E longevo que nem o pau carvalho;

 O escritor Fenelon Castelo Branco,

Outro ilustre barrense de dom franco

 

 

 

E conceito bastante elogiado,

Seja um bom magistrado ou escritor,

Jornalista ou poeta renomado;

José “Lima Rebelo” foi cultor

Do Direito e um grande advogado,

Sobretudo, eminente educador,

Diretor da Instrução Parnaibana,

Catedrático em letras e de humana.

 

 

Mas não posso deixar de destacar

Um poeta e escritor d’alma barrense.

 “Barras das Sete Barras” – vem de Elmar

 (dos) Carvalho; contudo, há quem bem pense

Que o escriba nasceu neste lugar,

   Mas o ilustre é um campo-maiorense,

Pois o pai é de Barras Marataoã,

Seu Miguel (dos) Carvalho, alma cristã.

                                                                             

 

Ele próprio declara, por herança,

É barrense de todo coração,

Relembrando, ainda jovem, fez andança

Pelas Barras, e muita gratidão

O poeta tem por essa lembrança

Com o povo gentil deste torrão

E agradece a acolhida, a deferência

Recebida com muita reverência.

 

 

Minha terra, também, de lá nasceu

Um pintor, desenhista e professor,

É Lucílio Albuquerque, e mereceu

Elogios e aplauso e mui louvor,

Pois o mundo assim bem reconheceu

Como um grande barrense de valor

Das pinturas das telas, retratista,

Foi também excelente paisagista.

 

 

Barras é conhecida em todo canto

Como terra dos sete governantes

Espalhados por tudo que é recanto.

São ilustres barrenses tão brilhantes:

Taumaturgo Azevedo foi, portanto,

Um gestor de atuações bem conflitantes,

O primeiro barrense nomeado

Governar, na República, este Estado.

 

 

Taumaturgo, também, governador

Do Amazonas atuou por algum tempo

Nesse cargo importante com temor

Do inimigo cruel que a contratempo

O levou a perder, sem um clamor,

O comando do Estado, onde em meio-tempo

Deodoro ausentou da Presidência

Da República, é preso sem clemência.

 

 

 

 

Em razão de um robusto relatório

Que mandou publicar lá na cidade 

Do meu Rio de Janeiro, um “declatório”

Descrevendo com muita claridade

O que fez em Manaus, e do notório

Caso de falcatrua e iniquidade

De políticos “craques” em roubar,

Taumaturgo foi preso em conspirar.

 

 

Depois, foi nomeado Coriolano

De Carvalho pra ser governador

Do Piauí, mas no cargo além de um ano

Não ficou em razão do seu labor

Com a pública coisa, pois foi lhano,

Adotando medidas para por

As finanças do Estado equilibradas,

Entretanto, as ações são criticadas.

 

 

Foi Fileto (dos) Pires (e) Ferreira.

Militar, deputado federal,

Um barrense de ação bem altaneira,

Destacou-se   um político leal,

Foi amante das artes; sem canseira

Terminou a ereção monumental

Do Teatro Amazonas; com mandato

Encerrado, ao quartel volta imediato.

 

 

 

Sigismundo Gonçalves, um barrense

De destaque no campo do Direito

 Brasileiro, foi um piauiense

Magistrado, de muito bom conceito,

Que chegou a ministro, e que bem pense

Da Suprema Justiça, e foi eleito

Senador pelo Estado Pernambuco,

E Governo na terra de Nabuco.

 

 

Outros filhos de Barras atuantes

Deste Estado podemos destacar

Com orgulho os ilustres governantes

Artur de Vasconcelos, o exemplar

Mor Matias Olímpio, e o nunca dantes

E depois mandatário a governar

O Piauí, cerca de mais de dez anos,

Foi Leônidas Melo, o “Homem de Planos”.

 

 

Conhecida de terra de imortais

Bons poetas e muito senadores,

Barras já teve grandes marechais

De elevado conceito e com louvores

Na política como nos anais

Desse Exército de homens vencedores,

Dentre os quais se destacam Taumaturgo

De Azevedo, um “notável demiurgo”.

 

 

 

Foi Firmino (dos) Pires (e) Ferreira

Que na guerra lutou no Paraguai

Com bastante coragem na trincheira,

Nos combates mortais se sobressai;

Vencedor da batalha traiçoeira

E sangrenta é ferido, mas não sai

Da vanguarda, e que por essa razão

Se graduou General de Divisão

 

 

E os barrenses que foram senadores?

O Firmino (dos) Pires (dos) Ferreira,

Joaquim Pires, e os dois bons professores:

 O Matias Olímpio, de carreira

Ilibada, com atos promissores;

E Leônidas Melo, de altaneira

Profissão da área médica, político,

De avançada visão e senso crítico.

 

 

Destacados como homens imortais,

Barras é um celeiro de escritores

E poetas inscritos nos anais

Do importante “Sobrado” dos cultores

Beletristas, das artes culturais

Do Piauí, seja como precursores

Ocupantes/patronos de cadeiras

São quatorze daqui destas ribeiras:

 

 

 

1 – João Pinheiro (1877-1946). Fundador. Primeiro Ocupante da Cadeira nº 2 da APL);

2 – Celso Pinheiro – (1877-1950). “O milionário do verso”. Fundador. Primeiro Ocupante da Cadeira nº 10 da APL;

3 – Breno Pinheiro - (1899-1957). Segundo Ocupante da Cadeira nº 8 da APL;

4 – David Moreira Caldas - (1836-1879). Patrono da Cadeira nº 4 da APL;

5 – Dilson Lages Monteiro - (1973). Quarto e atual Ocupante da Cadeira nº 21 da APL;

6 – Fenelon Ferreira Castelo Branco - (1874-1925). Fundador. Primeiro Ocupante da Cadeira nº 3 da APL;

7 – Gregório Taumaturgo de Azevedo - (1853-1921). Patrono da Cadeira nº 29 da APL;

8 – Hermínio de Carvalho Castelo Branco – (1851-1889). Patrono da Cadeira nº 2 da APL;

9 – José de Arimathea Tito - (1887-1963). Primeiro Ocupante da Cadeira nº 29 da APL;

10 – José de Arimatéa Tito Filho – (1924-1992). Segundo Ocupante da Cadeira nº 29 da APL;

11 – José Pires de Lima Rebelo – (1885-1940). Segundo Ocupante da Cadeira nº 22 da APL;

12 – Matias Olímpio de Melo – (1882-1967). Primeiro Ocupante da Cadeira nº 20 da APL. Presidente da APL;

13 – Teodoro de Carvalho e Silva Castelo Branco – (1829-1891). “O poeta caçador”. Patrono da Cadeira nº 6 da APL;

14 – Wilson Carvalho Gonçalves – (1923-2021). Quinto Ocupante da Cadeira nº 12 da APL.

 

REFERÊNCIAS

 

ARAÚJO, Francisco Carlos. O menino, o rio e a cidade. Teresina: 2021.

CARVALHO, Elmar. Barras - terra dos governadores e de poetas e intelectuais (Crônica publicada no Blog do Elmar Carvalho). Teresina: 2014.

CHAVES, Monsenhor. Obra Completa. Teresina: 2013.

GONÇALVES, Wilson Carvalho. Antologia da Academia Piauiense de Letras. Teresina: 2018.

RÊGO FILHO, Antenor. Barras, histórias e saudades. Teresina: 2007.

São João de Sende




São João de Sende


Carlos Rubem 


Na manhã de hoje (29.06.2022 - Dia de São Pedro), tive a subida honra de receber em meu escritório particular a visita do prefeito de Tanque do Piauí, Natanael Sales, acompanhado de sua Secretária de Cultura, Raimunda Simone Nunes dos Santos, além do jornalista Rogério Silva, do Portal Integração, local.


O dito alcaide veio me entregar, pessoalmente, o convite para participar do IV Festival de Cultura de São João de Sende, localidade daquele município, que ocorrerá nos dias 15 a 17 do vindouro mês. Constará de vasta e importante programação.


Aquela região era antiga possessão de Oeiras, quando esta cidade era a sede da Capitania de São José do Piauí (1759).


Na cruenta luta pelo povoamento do nosso estado, foi erguido, em 1765, o Aldeamento Indígena de São João de Sende, que tinha, em apertada síntese, como objetivo, impor  — a ferro e fogo — a cultura dos desbravadores portugueses. O seu primeiro administrador foi o temido Tenente-coronel João do Rêgo Castelo Branco. Foi extinto em 1786.


Sabendo das referências históricas do aludido aldeamento, em 1997, fui conhecer “in loco” as suas taperas. Subi  — Deus sabe como! — uma íngreme ladeira. Falaram-me de uma igreja velha. No meu fraco entender, os escombros que vi me sugerem que aquela ruinaria serviu para outras atividades e não para fins religiosos.


Posteriormente, por lá estive em duas distintas ocasiões. A primeira, ciceroneie um grupo de professores, inclusive, o Cineas Santos. Na oportunidade, foi colhido um depoimento do poeta Paulo Machado que foi inserido no documentário áudio-visual “Nos Rastros dos Gueguês”. A outra vez, com o economista Felipe Mendes.


O certo é que o Piauí — e acima de tudo as universidades estadual (UESPI) e federal (UFPI) — teima em desconhecer aquele emblemático espaço territorial, o qual merece uma adequada prospecção. Os estudos especializados revelarão muita coisa, certamente. Um belo ponto turístico a ser descortinado!


Louvo os organizadores e participantes do citado evento. Resistem ao indiferentismo oficial e a ignorância de muitos!

terça-feira, 28 de junho de 2022

O essencial da Literatura Piauiense 13: Da Costa e Silva


https://open.spotify.com/episode/5JciHC7kwgJeWkL4x2SSxe?si=xa8UY5mwRIiTx5yjIkNCVw

Memória Almanaque (Edição 61, de 1994)



Memória Almanaque (Edição 61, de 1994)


Jailson Júnior 

Poeta e escritor


Introdução


O Almanaque é, sem sombra de qualquer dúvida, um dos veículos históricos mais importantes que Parnaíba possui a honra de ter como seu. Fundado em 1924, o referido documento teve, em seus primeiros 17 anos, os cuidados paternos de seu criador Benedito dos Santos Lima, o famoso Bembém. Contendo anúncios e agregando os mais diversos literatos de nossa cidade e região, o Almanaque se seguiu até o ano de 1941, quando Bembém transferiu seus cuidados a Ranulpho Torres Raposo, empresário de renome que prosseguiu a missão de continuar moldando a identidade do periódico. Raposo editou ininterruptas 40 edições, entre 1942 e 1982. Com o falecimento deste, no mesmo ano, a publicação sofreu um relativo hiato, na falta de alguém que assumisse o papel de dar continuidade ao trabalho já consagrado de Lima e Torres Raposo. No espaço dos próximos 12 anos, foi produzida uma única edição, editada pelo sociólogo Manoel Domingos Santos, neto de Raposo, em 1985.


Vendo a necessidade de se continuar o legado desse importante veículo cultural da cidade, os descendentes de Torres Raposo, herdeiros do Almanaque, transferiram sua titularidade sem nenhum ônus para a Academia Parnaibana de Letras no ano de 1994, que o ressuscitou, transformando-o em sua revista oficial. Desde então, o Almanaque ganhou mais 12 edições, estando em sua 72° edição (esta última, na data desta publicação, já finalizada e impressa).


No curso dessa coluna, farei, com humildade e afinco, uma análise de seu conteúdo a partir da edição 61, de 1994, já editada pela APAL e impressa pela Editora Gráfica da UFPI. Com humildade, pois, não sendo um longevo pesquisador, ainda me faltam os passos e os olhos de cientista que são apurados pelo exercício e lapidados pelo tempo. Com afinco, porque sei que tenho em mãos a própria história viva e escrita, que atravessa os tempos, as gerações de mulheres e homens que se dedicam a construir a literatura da cidade, mesmo que involuntariamente, e que deixam sua marca no fino riscar do tempo lhes concedido.


Almanaque 61°


Iniciando o volume 61, o então reitor da UFPI, Charles Camilo da Silveira, orgulha-se do avanço que a universidade, criada por lei em 1971, havia alcançado até aquele momento. A instituição apoiou a reimpressão do Almanaque produzindo os exemplares daquele ano em sua gráfica. Logo em seguida, o ressurgimento do Almanaque foi ufanizado pelo então presidente da APAL, Lauro de Andrade Correia, que, brilhantemente, comparou esse feito com a Fênix, ave mitológica que renasce das próprias cinzas, mais bela e mais forte.


Em seguida, merecem alusão os símbolos municipais: Hino, Armas, Bandeira e Selo, instituídos a partir de projetos do então prefeito Lauro Correia, contendo a íntegra das Leis que regulamentam cada um desses símbolos. Renato Castelo Branco cita quatro figuras singulares em sua crônica, o Padre Roberto, a humilde beata D. Gracinha, o místico intelectual Alarico da Cunha e a misteriosa candomblecista D. Ana Calango, que para ele seriam, cada um à sua maneira, “As quatro versões de Deus”, título de seu texto.


O renomado Assis Brasil figura logo após com seu conto “Uns dentes para Sarita”, decantando em miúdos mais um dia na vida de uma família sertaneja que vê na cidade grande uma oportunidade de mudar de vida. Manoel Domingos, o mesmo editor de 1985, neto de Torres Raposo, lembra o desprezo do avô pelo Beira Rio, Beira Vida de Assis Brasil, descobrindo, durante a furtiva leitura da obra, o porquê do rechaço daquele pelo romance mais conhecido de Assis.


Do já saudoso Fontes Ibiapina, foi incluído o capítulo Insurretos de seu livro Pedra Bruta, trazendo memórias de infância do pequeno Nonon com sua família e os Revoltosos Gaúchos. Na seara mais historiográfica, Pádua Ramos elenca vários argumentos que justificam o subdesenvolvimento secular do Piauí em relação a outros entes da Federação. Em seguida, entre as páginas 39 a 44, fotos do acervo particular da família Lima dos Santos e de Alcenor Candeira Filho trazem uma Parnaíba saudosa de lugares, memórias e prédios, alguns deles existentes até os dias de hoje. Fotos desse mesmo acervo retornarão a aparecer em outros momentos.


O mesmo Alcenor prossegue, relatando sua labuta em ler o complexo Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Lendo-o e versificando-o, descobre, em correspondência com o já citado Renato Castelo Branco, que trabalham, sem saber, na mesma sintonia, este também poetizando o magnum opus de Rosa. Por ocasião disso, publicam no mesmo ano de 1993 a obra Poemas do grande sertão, expondo seus versos. Alcenor completa o relato expondo seus 433 versos sobre o romance de Riobaldo Tatarana.


Novamente, Lauro Correia, em um artigo sobre Parnaíba, remonta há 30 anos antes, citando a época em que foi prefeito da cidade e abordando aspectos pertinentes ao seu mandato, e Vitor Couto segue a obra abordando em mais um artigo o necessário tema do Meio Ambiente, na época abordado pela camisa ECO-92, trazendo iniciativas que já ocorriam quanto à conscientização das pessoas ao tema e em como o desmatamento afetava/afeta diretamente o ecossistema do Delta do Parnaíba.


Pádua Ramos retorna com mais um conto, Era proibido fumar no Paraíso, onde remonta a uma saudosa Parnaíba de sua juventude, que se concentrava para ver os filmes no Cine Éden. Segue-se a este


12 poemas de nomes já falecidos, a saber: Luiza Amélia de Queiros, Alarico da Cunha, Oliveira Neto, Monsenhor Roberto Lopes, Thomaz Catunda, Jesus Martins, Berilo Neves, R. Petit, Jonas da Silva, Edson Cunha, Vincente Araújo e Paulo Veras.


No artigo do professor Francisco Filho, há uma passagem embasada em pesquisas pelos momentos econômicos os quais viveu a cidade. Logo após, um poema romântico e saudoso de autoria de Jorge Carvalho, intitulado Lila. Em Parnaíba e seus dogmas, Fernando Ferraz problematiza a velha retórica das elites locais, que sobrevivem do velho discurso de um lugar que tudo “já teve” e hoje estacionou-se no tempo. Em seguida, o jornalista Batista Leão remonta à origem das esquetes do que hoje são as Academias de Letras, passando pela Francesa, Brasileira, Piauiense e, finalmente, a Parnaibana.


Logo após, 16 fotos de pontos da Parnaíba são registrados na coluna Ensaio Fotográfico, de lugares que guardam em si a história da cidade e suas nuances. Em seguida, Reginaldo Santos Furtado destaca, em texto esclarecedor, a trajetória do engenheiro parnaibano José Mariotte de Lima Rebelo, secretário de Obras Públicas do governo piauiense (dentre muitos outros cargos ocupados), que ajudou a sonhar, projetar e idealizar obras como a barragem Boa Esperança, o Porto de Luis Correia, e que, em muitos artigos publicados, demonstrava amplo conhecimento de como colocar em prática tais obras citadas, primando pelo desenvolvimento de nossa cidade.


Em Parnaíba – Norte do Piauí, Danilo Melo Souza atenta para a estagnação sofrida pela cidade com a decadência no comércio fluvial sofrida no pós Segunda Guerra Mundial, e em como isso afetou diretamente a produção artística de até então, destacando alguns movimentos esparsos que ocorreram até aquela data. Israel Correia relata logo em seguida todo o contexto envolto em seu primeiro livro de poesias, intitulado Templário, em alusão à Ordem dos Templários, irmandade criada em Jerusalém, em 1119. Boa parte dos poemas de sua obra, segundo Correia, são odes a esses guerreiros, seus feitos e seu legado. Completa ainda com 4 poemas extraídos do livro, de títulos Templário, Viageiro, Gnose e Opsis.


O renomado médico Cândido Athayde ressalta a importância da Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba, hospital que, em 1994, contava com 98 anos de existência, relatando breve histórico desse que ainda é “O mais velho Hospital do Piauí” (título do artigo). Em seguida, mais 12 imagens integram o corpo dessa salutar obra, destacando outros pontos convergentes da história secular dessa terra. Em mais uma análise metalinguística de nosso país, Marc Jacob, em “Por que não nós”, põe sua ótica refinada em analisar aspectos de um Brasil atrasado e de escolhas duvidosas. Na página 123, Jeanete de Moraes Souza traz sua leve e bem talhada poesia, nos textos Pedra do Sal e Envelhecer.


Sólima Genuína, filha do já citado Bembém, traz um memorial da vida e trajetória do Cel. Epaminondas Castelo Branco, homem culto de seu tempo, político atuante e cidadão engajado por Parnaíba. Em seguida, o quadro social dos acadêmicos em 28/02/1994, que até então contava com os iniciais 35 assentos imortais. Elmar Carvalho, em seu texto, exalta a biografia e a poética de Alcenor Candeira Filho, seu confrade. Wilton Porto, após breve histórico sobre a obra aqui dissecada, publica seis breves artigos que publicou no jornal Tribuna do Litoral, em texto intitulado Conflitos Sociais – causas e efeitos.


Christina Moraes Souza prossegue destacando a inércia dos poderes públicos em investir em educação de qualidade e em como isso afeta as classes pobres, destacando o MOBRAL (1972) e o PROJETO PARNAÍBA (1989). O saudoso Rubem Freitas destaca a figura do lendário Cajueiro Humberto de Campos, eternizado por esse filho adotivo de Parnaíba em sua crônica Um amigo de infância, enxertada em parte no seu texto. Cita também o comemorado centenário de Humberto (1986) e o centenário da árvore, que ocorreria dali a dois anos (1996). Em seguida, 6 poemas ufanistas sobre nossa cidade são colocados, sendo Porto salgado, de Israel Correia, Terra Mater, de Jonas da Silva, XVIII.Parnaíba, de Alcenor Candeira, Parnahyba, de Danilo Souza, Praça de Santo Antônio, de Jorge Carvalho e Balada da Praça da Graça, de Elmar Carvalho.


A também saudosa Edmeé Rêgo de Castro relata um breve histórico e as qualificações técnicas da praia de Pedra do Sal. Dona Lígia Ferraz segue o Almanaque homenageando a também educadora, como ela, professora Maria da Penha Fonte e Silva, fundadora da APAL, que havia partido desta vida há pouco tempo. Carlos Araken, em um Certo Doutor Athayde, exalta a biografia, árvore genealógica e feitos do já citado dr. Cândido Athayde, renomado médico parnaibano.


Na crônica Virgenzinhas Dolarizadas, Vitor Couto destaca a figura de Benedito, pai de sete filhos que sofre um acidente após ser assustado por adolescentes que buzinaram sem ele perceber para assustá-lo. José da Guia Marques segue com seu artigo Uma Igreja a Serviço do Colonialismo, destacando como se deu a participação da Igreja Católica no processo de colonização de nosso país. A chegada do trem de ferro ao Piauí é mostrada em detalhes pela historiadora Maria Cecília Silva Nunes, ao mesmo tempo em que destaca como aquele acontecimento repercutiu no imaginário das pessoas mais simples que aqui moravam na primeira metade do século XX. Seguindo a série, mais 9 fotografias de pontos importantes de nossa cidade são colocadas.


Orfila Lima dos Santos contribui para o Almanaque com o discurso que realizou no lançamento do livro “Benedito dos Santos Lima – Intelectual Autodidata”, encabeçadopela Academia, homenageando seu pai, o criador do periódico aqui analisado. O secretário de educação da época, Canindé Correia, aproveita o espaço para esclarecer à população o que estava sendo feito pela gestão municipal pela educação pública parnaibana, citando objetivos, dados e diretrizes.


O padre Claudio Melo, ancorado em robusta bibliografia, traceja os caminhos que levaram os portugueses a privilegiar o povoamento do Norte piauiense em detrimento do Sul, levando em conta o potencial comercial e portuário do qual a região até então gozava.


E o material que encerra a primeira edição do Almanaque editado pela APAL foi o Anuário Parnaibano de 1993, periódico que funcionava como uma ficha técnica de cada ano da cidade de Parnaíba, trazendo um apanhado geral de tudo o que dispunha a cidade, entre quantidade de escolas, templos religiosos, quadro de prefeito e secretários, vereadores, órgãos de saúde, entre múltiplas outras informações pertinentes que devem ser de conhecimento público. O Anuário foi organizado e publicado pelo então professor da UFPI Campus Parnaíba e acadêmico da APAL, o saudoso professor Francisco Iweltman Mendes.


Texto publicado originalmente na edição 152 de O Piaguí, em janeiro de 2021.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

PIADA COM ASSUNTO SÉRIO NÃO TEM GRAÇA

 

Fonte: Google

 PIADA COM ASSUNTO SÉRIO NÃO TEM GRAÇA


Antônio Francisco das C. Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)


            Na Coluna Esplanada, daquele jornalista brasiliense – espalhada por jornais Brasil adentro –, ele publicou, dentre outras aberrações, como a derivada de aplicação da Medida Provisória vigente, que dá descontos de até noventa e nove por cento na dívida feita junto ao FIES (Fundo de Investimento Estudantil) por estudantes inadimplentes há mais de noventa dias, em que determinado aluno, beneficiário da norma legal, por ser inadimplente, poderia aproveitá-la para quitar, segundo o colunista, seu saldo devedor de sete mil reais, enquanto outro, adimplente, portanto, impedido de usufruir os benefícios do programa, teria que pagar seu empréstimo/financiamento, que a coluna declarou ser de oitenta e seis mil reais, parceladamente; também esta informação: que estaria quase certo para o governo reajustar, neste ano, os vencimentos dos servidores públicos, a princípio, militares, porém, se desse, poderia estendê-los aos civis, em miseráveis cinco por cento. Nem isso, foi o que restou consabido, quando, posteriormente, o ministro da economia – que até o Posto Ipiranga, o verdadeiro, obliterou, ao se lhe compararem a ele -; ministro da economia mesmo, não da Fazenda, como muitos que o antecederam, de fato, foram; pois é somente nela (Economia) que pensa e a ela que dedica todos os seus públicos esforços - os particulares, pessoais, certamente, saberemos para onde os teria direcionado, tão logo deixe a pasta – anunciaria, exatamente, às vésperas do dia em que se fechariam as janelas legais para concessão de reajustes salarias, que o montante reservado no orçamento com o fito de financiar os benditos cinco pontos percentuais, seria utilizado a fim de abater bloqueios em despesas discricionárias para cumprir o teto de gastos; ou seja, aquele irrisório um bilhão e setecentos milhões de reais, insuficiente para permitir o desprezível reajuste, serviria, não mais a esse, mas a outros fins: diminuir valores orçamentários contingenciados pelo poder executivo.

            Também ficou sabendo quem leu supracitada coluna jornalística, que o Tribunal de Contas da União (TCU) teria declarado que, aos seus servidores, com salários entre sete e vinte mil reais, pretendia dar reajustes que poderiam atingir treze e meio por cento. A justificativa dada pela Casa para tal percentual, absurdo, se comparado ao que, supostamente, seria atribuído ao grosso dos funcionários públicos, foi de que fazia jus a ele por ser uma das grandes contribuintes para o aprimoramento da gestão pública. Não disse o órgão, porque isso sim, certamente, seria verdadeiro, que a pretensa gestão de que se ufana, para se tornar excelente, precisa melhorar muito. Não saiu na mesma coluna, mas, sabe-se que a turma do Banco Central, que exigia um percentual de vinte e sete por cento, tão somente a fim de recuperar perdas salariais dos últimos três anos, já teria reduzido o percentual para vinte e dois; é possível que aceitem o mesmo índice pleiteado pelo TCU; tecnicamente, bons eles também são, resta saber se são mais discretos e humildes que aqueles.

            Antes de fechar o texto, passeando por outros veículos informativos, soubemos que intenção de um dos comandantes dos partidos que apoiam o presidente da república no seu projeto de reeleição – e que formam o famigerado Centrão – e do principal ajudante de ordem, é que o governo persuada ou autorize o ministro da economia a gastar o mais que puder, de modo a não deixar cofre cheio para o próximo plantonista do Palácio do Planalto, que pode nem ser o atual.

            Ainda bem, Receita Federal, que o país tem o TCU para, com a excelência de que se autovangloria, auxiliar, participar, compartilhar, senão, cogerir com os governantes de plantão, a gestão pública dos recursos oriundos dos tributos que o fisco - sugerindo, cobrando ou lançando, formalmente, contra contribuintes inadimplentes ou sonegadores - colabora para que cheguem aos cofres do estado, esses que querem esvaziar. Fazer piada, vá lá, mas não com assunto sério.  

domingo, 26 de junho de 2022

João Alves Filho, presidente da ACALE de Campo Maior, morre em Teresina.

 

Fonte: Google

João Alves Filho, presidente da ACALE de Campo Maior, morre em Teresina

 

O ex-vice-prefeito de Campo Maior, João Alves Filho, faleceu nas primeiras horas da manhã deste domingo (26), por volta das 6h, no Hospital São Marcos em Teresina, onde estava internado desde o dia 06 de junho, após um acidente doméstico que havia sofrido.

 

O político campomaiorense celebrou seu aniversário de 78 anos no último dia 05 de junho, em sua residência rodeado de familiares e amigos. Pouco depois veio a ser internado em regime de urgência com um quadro de hemorragia interna e uma série de outras complicações. João Alves precisou de uma UTI onde permaneceu sedado por vários dias.

 

O último boletim médico foi do dia 24 de junho, onde um filho do político mencionava um quadro de saúde bastante grave e instável. Pressão baixa, batimentos cardíacos acelerados, plaquetas baixas e sem condições de fazer hemodiálise.

 

João Alves Filho atuava como presidente do Partido Liberal (PL) em Campo Maior. Foi vice-prefeito durante o mandato de João Félix de 2005 a 2008, e candidatou-se ao mesmo cargo em 2020. Era escritor, presidente da ACALE, a Academia Campomaiorense de Artes e Letras, e tinha vários livros lançados.

 

O velório será em sua residência na chácara Alto da Olaria, Bairro Flor do Campo, a partir das 11h da manhã. Haverá missa de corpo presente na Catedral de Santo Antônio às 16h e em seguida o sepultamento será no cemitério  do Bairro São João.

Fonte: CMF. Foto: GG. Edição: APM Notícias.    

sexta-feira, 24 de junho de 2022

A GALLÁTICA TUTOIA

 

Assis Brasil e Antonio Gallas

   

A GALLÁTICA TUTOIA


Elmar Carvalho


Por ocasião da solenidade de lançamento de meu livro PoeMitos da Parnaíba, entre vários amigos, como o prefeito Zé Hamilton, os poetas Alcenor Candeira Filho e Wilton Porto, o jornalista Bernardo Silva, vários confrades da Academia, encontrei Antônio Gallas Pimentel, que conheço desde o início de minha chegada a Parnaíba, no começo da segunda metade da década de setenta. Ele era professor de inglês, jornalista e diariamente uma crônica sua era transmitida pela Rádio Educadora, a mais antiga do Piauí e, então, a única emissora da cidade, através da bela voz do locutor Gilvan Barbosa.

O professor Joaquim Furtado de Carvalho, primo de meu pai, que falava o inglês fluentemente e era um grande causeur, recomendou-me fizesse amizade com o Gallas. Um dia, vencendo a minha timidez de ainda adolescente, fui à sede do jornal Folha do Litoral perguntar se o hebdomadário aceitava colaborações literárias.

Estavam na redação o Gallas, B. Silva e o Xixinó, um grande compositor; bem entendido, compositor tipográfico. Tinha extraordinária habilidade de recolher cada tipo de sua respectiva caixa e colocá-lo no componer, na composição dos vocábulos e períodos. Gallas era professor de minhas irmãs Maria José, Josélia e Joserita. Em acidente automobilístico, em que, entre várias outras pessoas, eram passageiras minhas três irmãs, Josélia veio a falecer.

No dia do seu enterro, o diretor suspendeu as aulas para que os estudantes pudessem ir assistir à missa na catedral e acompanhar o sepultamento. Nesse dia, foi lida na Educadora uma crônica do amigo Gallas, sobre minha irmã, o que muito comoveu a nossa família.

Às vezes, na boca da noite, eu e o B. Silva íamos até a casa dele, para ouvirmos um tangos, pelo rádio, enquanto degustávamos umas três doses de boa pinga. Eram uns belos e vibrantes tangaços, como dizíamos. Um dia o Gallas me convidou a ir até sua residência ouvir uns tangos e tomar umas duas ou três talagadas de calibrina. Para me convencer, como se estivesse falando de uma raridade quase impossível disse: - Elmar, eu tenho até dinheiro!... Verdade que naqueles tempos inflacionários e de vacas magérrimas, dinheiro era um tanto difícil e arredio.

Certa feita, eu e ele fomos ao aniversário do Moreira, meu contemporâneo no Campus Reis Velloso - UFPI, hoje ocupante de importante cargo de carreira jurídica do governo federal. Fui convidado ou me autoconvidei a fazer uso da palavra. Entretanto, na empolgação do discurso terminei chamando o Moreira de Monteiro, ato falho provocado porque um meu colega de turma tinha este último nome.

A mulher do Moreira, me aparteou, e perguntou como é que eu, que me dizia amigo de seu marido, trocava o seu nome. Não me dei por achado, e respondi que o fizera de propósito, para saber se estavam prestando atenção a meu discurso, e, ao mesmo tempo, porque Monteiro se referia a monte, e o Moreira havia atingido a culminância da cultura e do saber. As palmas espocaram e preferi encerrar o discurso nesse momento estratégico.

Já estive com o Gallas na sua bela e histórica Tutoia, outrora importante cidade portuária da região do Delta do Parnaíba. Contemplei as suas lindas praias, como a de Andreza, e a sua exuberante lagoa, ornamentada de coqueiros e outras árvores. Nessas ocasiões, tomei agradáveis banhos nos córregos e rios do percurso.

Certa época correu a notícia de que Tutoia estava prestes a ser soterrada pelas dunas; mas, pelo visto, ela continua impávida e inabalável como a conheci. Sempre que vou a Parnaíba tenho encontrado o Gallas. E sempre na condição de bom amigo, e de mestre de sábias libações.

1º de abril de 2010

quarta-feira, 22 de junho de 2022

ACADEMIA PIAUIENSE DE CULTURA - NOTA DE REPÚDIO

 


ACADEMIA PIAUIENSE DE CULTURA

NOTA DE REPÚDIO

 

O Brasil precisa se reencontrar

 

  Recém-criada, a Academia Piauiense de Cultura – APC valoriza e defende a cultura piauiense nestes tempos difíceis por que passamos em nosso país, cuja política educacional e cultural vive momentos de grande provação, em decorrência das dificuldades resultantes da inconcebível política de desvalorização.

Esta Academia surge, assim, como uma manifestação de resistência social por entender que é através da cultura que o povo se liberta da opressão, do obscurantismo, fortalecendo o sentimento de identidade enquanto nação, em defesa de virtuosos valores próprios que o identifica.

Não cumprirá sua razão de existir se não for aberta ao tempo, que não defenda a liberdade de expressão cultural em que se priorize, e se valorize, a vida digna que se expressa através das diversas formas do conhecimento, seja através da arte, seja fotografia, artes plásticas, música, letras, folclore, e de tantas outras que nos identificam, nos aproximam.

  Não se constitui em uma Academia presa entre quatro paredes, a cultuar o ego de seus acadêmicos, com o propósito de enriquecer o currículo de muitos. Ela será aberta ao tempo, a dialogar com a população em sinergia, acolhendo as letras, as línguas, as artes e as ciências.

   Temos compromisso com a CULTURA e com a HISTÓRIA! Por esta razão, esta Academia Piauiense de Cultura vem a público para externar sua indignação contra o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips na região do Vale do Javari, no estado do Amazonas, cobrando punição exemplar para seus autores.

Este crime tem um claro propósito de intimidação daqueles que arriscam a própria vida em defesa da Floresta Amazônica e das nações indígenas que esta floresta abriga. Trata-se de uma conhecida premissa do modo de produção capitalista que pressupõe o domínio sem limites do homem sobre a natureza, esgotando-a no futuro, e levando junto a floresta, os índios, a fauna e a flora ali existentes. Possui, assim, todos os ingredientes de uma tragédia humanitária previamente anunciada!

Por considerar que a consciência democrática constitui um pilar da cultura de que precisamos, esta Academia considera que o assassinato perpetrado contra o indigenista e o jornalista fere a humanidade e compromete o futuro da Floresta Amazônica, que está sendo vilipendiada e queimada em grande escala sob o olhar complacente do poder público e com preocupação do mundo.

Ao reduzir os quadros efetivos da FUNAI e demais instituições naquela região, como vem se acentuando nos últimos anos, o Estado brasileiro dá preocupante sinais de uma inconcebível leniência com a ação impune de organizações criminosas, de traficantes de madeira e de peixes, das riquezas minerais existentes em terras indígenas.

              A quais interesses os gestores do Brasil defendem? Afinal, aparentam ignorar a Constituição Federal de 1988, que diz: são bens da União os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, os recursos minerais, inclusive os do subsolo[1]. À União compete assegurar a defesa nacional.[2]

            Ressalte-se que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público; proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; e preservar as florestas, a fauna e a flora.[3]

 

            Em nossa Carta Magna em vigor os direitos dos índios estão previstos em capítulo específico (Título VIII, da Ordem Social, Capítulo VIII, dos Índios). A lei nº 6001/73 trata do Estatuto do Índio.

 

            Todo este amparo legal em vigor não impede que o Estado brasileiro seja visto como um dos principais algozes dos Povos Indígenas, quando evidencia a omissão do Poder Executivo ao descumprir prazo para demarcação das terras indígenas (art. 67 do ADCT da CF/88); quando se percebe a atuação tendenciosa do Poder Legislativo ao barrar processos de demarcação de terras indígenas e promove a distribuição de terras para o agronegócio; quando interpretações do Poder Judiciário subvertem o sentido da norma constitucional (como é o caso da tese do “Marco Temporal e o Esbulho Renitente”).[4]

              Bruno da Cunha Araújo Pereira, servidor da Fundação Nacional do Índio – FUNAI por nove anos, foi exonerado em 2019 da Coordenadoria que cuida de índios isolados e de recente contato. Encontrava-se há um ano na função. “Era apontado como um defensor dos povos indígenas e atuante na fiscalização de invasores, como garimpeiros, pescadores e madeireiros”. Faz sentido o comentário feito por um pesquisador, de que “não tivesse estrangeiro, Bruno seria só mais um”. Sua vida não pode ter sido em vão, a exemplo do jornalista Dom Phillips.

O direito à vida, previsto no art. 5º da Constituição Federal de 1988, está situada no campo dos direitos e garantias fundamentais. Para que serve, se não for cumprida e punida para quem lhe dá fim? Ou a nossa Constituição escrita “tem suas raízes nos fatores do poder que regem o país”, segundo prevê Ferdinand Lassalle? Afinal, a Constituição do país nada mais é do que uma folha de papel que expressa a vontade dos detentores do poder, aplicando-a quando lhes convém?

            Mais pessoas têm sido covardemente assassinadas no Brasil por defenderem a nossa floresta amazônica, a exemplo de Chico Mendes, assassinado em dezembro de 1988 na porta de sua casa, em Xapuri, no Acre, por Darcy Alves da Silva, a mando de seu pai, o fazendeiro Darly Alves da Silva. Em 1987, Chico Mendes havia recebido da ONU condecoração por sua luta em defesa do meio ambiente.

            A religiosa Dorothy Mae Stand, conhecida como irmã Dorothy, líder que defendia reforma agrária no Brasil, quando se encontrava com 73 anos de idade, foi assassinada em Anapu, sudoeste do Pará, a mando de fazendeiros.

            Até hoje não foi esclarecido pela Polícia Federal do Amazonas o assassinato do indigenista Maxciel Pereira dos Santos, ocorrido em setembro de 2019, com dois tiros na nuca na avenida da Amizade, principal via pública de Tabatinga – AM.

            O Estado de Direito Democrático brasileiro precisa resistir a estes tempos sombrios em que campeia o radicalismo, a impunidade e a crescente sensação de abandono da União em defesa do povo que representa, de nossas riquezas nacionais, nelas incluindo os povos indígenas e a floresta amazônica.

Se um grande povo não acreditar que a verdade somente pode ser encontrada nele mesmo [...], se ele não crer que apenas ele está apto e destinado a se erguer e redimir a todos por meio de sua verdade, ele prontamente se rebaixa à condição de material etnográfico, e não de um grande povo. Um povo realmente grande jamais poderá aceitar uma parte secundária na história da humanidade, nem mesmo entre os primeiros, mas fará questão da primazia. Uma nação que perde essa crença deixa de ser uma nação. (Dostoievski. 1871)

            O Brasil precisa se reencontrar, com urgência, antes de ver destituído, em definitivo, de suas riquezas, de suas conquistas, de seus valores, de sua identidade, de sua cultura!

              

 

Parnaíba – PI, 17 de junho de 2022

 

Paulo Cesar Lima

Presidente da APC

                                          

                                               



[1] CF/88, art. 20, incisos III, IX e XI.

[2] CF/88, art. 21, inciso III.

[3] CF/88, art. 23, incisos I, V, VI e VII.

[4] CHAVES, Eduardo Deziderio. Os Direitos dos Povos Indígenas na Constituição de 1988. In:https://eduzirio.jusbrasil.com.r>. Acesso: 17.06.22.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Carta sem resposta




Carta sem resposta


Carlos Rubem 


Em julho de 1979, estudante da Faculdade de Direito do Ceará, vim, como de costume, gozar férias em Oeiras. Tempo bom!


Por essa época, a Vanúzia França, que reside (ou residia) em Anápolis, cá veio rever sua parentela, conhecer melhor a terra natal de seus pais.


Tratava-se de uma supimpa morena de longas madeixas. Esbanjava beleza, simpatia e cordialidade.


Muito desejada pela rapaziada. Quem abocanhou o troféu fui eu. Interessante: um preterido questionou-lhe a escolha. Tomei conhecimento ao vivo dessa irresignação, porém nada disse a este “mui amigo”. Não tinha tempo a perder. Marcantes dias juntos passamos. Fizemos maravilhosos passeios.


Bola prá frente! Retomei meus estudos em Fortaleza. Ela retornou para aquela cidade goiana. A partir de então, passamos a trocar amáveis missivas. A vida nos afastou. Nunca mais dela tive notícias.


Há quarto anos localizei uma epístola da Vanúzia. De posse do endereço dela constante no envelope correspondente, redigi-lhe uma carta sem obter resposta, adiante transcrita:


Oeiras, 28 de agosto de 2018


Caríssima Vanúzia


Mesmo correndo o risco dessa carta nem chegar à sua destinatária — afinal, faz 38 anos que trocamos as últimas correspondências — torço por isso e, mesmo, ouso esperar que você a receba...


É que, remexendo meus arquivos implacáveis, encontrei uma supersimpática cartinha datada de 28 de fevereiro de 1980. Falando francamente, nem sei dizer, ao certo, se a respondi na época... Espero que sim, mas isso não vem ao caso. O que importa, mesmo, é relatar a emoção que senti ao lê-la hoje à tarde. Várias memórias voltaram... a nossa amizade, o carinho e a admiração mutuamente confessados, as confidências. Lembrei-me, também, de como a achava bonita e como me sentia bem fazendo inveja aos colegas quando saia com você. Gostarei se puder compartilhar essas memórias com você e, para tanto, estou-lhe enviando cópia xerox daquela missiva.


Sua carta faz referência ao livro, por mim editado em 1979, do meu “tio–herói” Gerson Campos e tenho imenso prazer de lhe informar que realizei, em 2013, uma segunda edição – ampliada e revisada – dos “Sonetos e Retalhos”. Naquele ano fazia 40 anos a morte do tio Gerson. Estou-lhe enviando um exemplar, por mim autografado, daquela obra póstuma.


Ansioso por saber se recebeu essa encomenda, despeço-me, com um terno e fraternal abraço.