terça-feira, 17 de setembro de 2024

O céu, o rio e o mar

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O céu, o rio e o mar


Frederico A. Rebelo Torres

Poeta e escritor

 

Tempo, correnteza que leva consigo,

 No seu caminho eterno o que se ama

 As alegrias, a força, o encanto, os risos,

Limiar, derradeiro portal que se alarga.

 

A Vida: uma busca por sentido e abrigo,

Cujo percurso é onde o destino nos testa.

O amor, a esperança, o sonho, os amigos,

 São luzes no escuro que a vida nos oferta.

 

E nos tornamos nosso próprio engenho,

A remoer suas lembranças no crepúsculo,

Onde nosso passado revisita suas sombras.

 

Por fim, todos encontraremos nossa foz,

E mergulharemos sem peso, sem desalento,

Pois a vida é rio que ao mar se entrega.

domingo, 15 de setembro de 2024

AMARANTE

 

Fonte: Google

AMARANTE


Elmar Carvalho

 

doce amaro

         pródigo

         avaro amarante

         ante-amar-te

         anti-amar-te

antes sempre após

agora

sem agouro sem demora

sem pressa e sem presságio

        pé ante pé

        perante tuas casas sonolentas

diante das fráguas das serras

que descerras em cortinas de azuis

                        descortinas neblinas

na paisagem – plumagem/brumagem fixada

na retina retentiva redentora do poeta

                        amarante

                        amaranto de

memórias atávicas de catimbós

murmúrios ancestrais de urucongos

requebros lascivos de velhos congos

resquícios longínquos de quilombos

encravados em abissais cafundós

dos antepassados cativos altivos dos mimbós

            perante ti

            amarante

a água escorre lacrimal

pela sinuosidade do morro da saudade

deságua na desembargador amaral

            e de val em val

               de sal em sal

boceja nas bocas de lobo dos esgotos

gargareja nas gargantas gosmentas dos gargalos

            mergulha e deriva singular

nas águas plurais do parnaíba

            amarante

            perante ti

            imperante

o vento verdeja agreste nos ciprestes

rumoreja aguado nos aguapés

sacoleja sem leste oeste

a copa fagueira das faveiras

            tuas tardes tardas dolentes amaras

                        abres das janelas

                        debruçadas em melancolias

            e alicias e (re)velas

as moças nas modorras mormacentas macilentas

em que delicias cilicias e acalentas ...

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

O GRITO

Fonte: Google

                    

O GRITO


Elmar Carvalho

 

Atravessamos dias difíceis, conturbados, em que o egoísmo impera desabrido. Já tive ocasião de dizer que o egoísmo em excesso é o pai de todos os vícios, é a matriz de todos os pecados, é o estopim de crimes hediondos. Esse sentimento pode levar o indivíduo a cometer assalto, estupro e latrocínio. Por quê? Porque se o indivíduo não tiver outros sentimentos e virtudes, que freiem o seu egoísmo e egolatria, poderá cometer esses crimes e pecados, porquanto o que lhe interessa é a satisfação de seu desejo, de sua vontade.

 

Deseja ter uma mulher? A terá, ainda que para isso tenha que estuprá-la. Deseja ter dinheiro? Obtê-lo-á, ainda que para tal fim tenha que assaltar alguém ou tenha que matar o seu semelhante. Estamos numa época de muito hedonismo, em que o que interessa é o prazer, ainda que a altos custos, como o uso de drogas ou a agressão à suscetibilidade do outro.

 

Vemos a cada passo os intolerantes, os que não aceitam limites, nem mesmo de um simples semáforo ou o limite de velocidade ou regras de trânsito. São os que têm de passar de qualquer maneira, mesmo arriscando sua própria vida ou, o que é pior, pondo em risco a vida dos outros. Muitos começam dentro de casa, quando forçam seus pais a lhes dar sempre mais, quando ficam a exigir cada vez mais supostos direitos, sem dar a mínima atenção aos seus deveres, mesmo os mais primários.

 

Começam, muitas vezes, com pecadilhos que vão crescendo, que vão aumentando até que se tornam uma montanha de pecados cabeludos, que não raras vezes constituem crimes hediondos. Falei tudo isso como um prelúdio estridente para contar o que se segue.

 

Faz poucos dias minha mulher viu uma cena, quase diria dantesca, no estacionamento de um dos shoppings da capital. Um jovem, já adulto, insistia de forma intransigente para que sua mãe lhe fosse comprar um objeto, que ele dizia ser barato, posto que custava R$ 60,00. A mulher se recusava a ir, dizendo não ter dinheiro disponível.

 

Mas ele não aceitava um não como resposta, e continuava a insistir para que sua mãe fosse comprar o objeto de seu desejo consumista, sempre martelando na tecla de que era um produto barato, uma vez que custava “apenas” a bagatela de R$ 60,00, como se ele, ao considerar arbitrária e unilateralmente um objeto barato, passasse a ter automaticamente o direito de possuí-lo, ainda mais às expensas de sua mãe.

 

A senhora, já começando a gritar, disse-lhe que iria gritar. E como ele continuasse a persistir, a mulher, transtornada, completamente fora de controle, emitiu um grito agudo, estridente, um grito de desespero, de desamparo, um grito de socorro, um grito de dor espiritual e de revolta, que ecoou pelo estacionamento, que atroou pelos ares em busca de anjos e santos. Creio que o grito foi semelhante ao que o pintor Edvard Munch tentou expressar no quadro que leva esse título.

 

Ou seria mais semelhante ao que o sublime poeta Rainer Maria Rilke imaginou, quando disse na primeira das Elegias de Duíno: “Quem, se eu gritasse, entre as legiões dos Anjos me ouviria?” Suponho que algum anjo deve ter acolhido o grito dessa mãe desesperada, dessa mãe impotente ante a incompreensão do filho, que na verdade era o seu algoz.

31 de agosto de 2010

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

A MORTE DA BARATA


                    

A MORTE DA BARATA


Elmar Carvalho

 

Ontem uma barata, por várias vezes, tentou tocar-me os pés. Eu os batia, enxotando-a, mas logo ela investia novamente. A insistência desse inseto, pavor das mulheres em geral, acabou por me torrar a paciência. Devo dizer que faz alguns anos não gosto de eliminar nenhum tipo de ser vivo, nem mesmo baratas, moscas e grilos.

 

Aliás, já fiz uma crônica em que tratei de um grilo. Godofredo Rangel, antes de mim, escreveu um texto sobre o caso de um grilo, em que ele, para dar liberdade a esse impertinente e enfadonho cantor, o conduziu para o quintal. Seu gesto caridoso, porém, foi fatal ao inseto, porquanto ele terminou indo parar no papo de uma faminta e gulosa galinha.

 

As cigarras foram cantadas em verso e prosa; em fábulas, e em sonetos de Olegário Mariano. Um dos personagens de Kafka, como é sabido por todos, acabou por se metamorfosear num inseto. Tornou-se página antológica, recolhida em muitas seletas, o capítulo XXXI de Memórias Póstumas de Brás Cubas, no qual a personagem ficou incomodada com a presença de uma grande borboleta, pelo simples fato de ela ser negra. Um golpe de toalha encerrou sua vida. A personagem, em irônica autocomplacência, ainda se perguntou, como atenuante, por que não era ela azul.

 

Recentemente, ao vivo e em cores, como se dizia outrora, ou em tempo real, como se fala agora, viu-se o presidente Barack Obama, em piparote certeiro e fulminante, abater uma mosca que lhe importunava durante uma filmagem de televisão.

 

Mas, como eu dizia, faz muitos anos que não gosto de tirar a vida de nenhum ser, por menor que ele seja, mesmo nocivo, como aranhas e caranguejeiras. Não me sinto bem em fazê-lo. Contudo, como a personagem machadiana, terminei ficando aborrecido com a insistência da barata em querer lamber-me os pés. Resolvi fulminá-la com leve golpe de chinela japonesa. Brandi a arma sem raiva e a contragosto, sem muita vontade de eliminá-la. O inseto ficou completamente imóvel, de forma que o dei como morto. Em seguida, o afastei para um canto do compartimento, onde ficou de patas e papo para o ar.

 

Para minha surpresa, hoje à tarde, não mais vi o menor vestígio dele. Dizem que é um dos animais mais resistentes, e talvez seja o único espécime que sobreviveria à radiação de uma guerra nuclear. Sendo assim, é bem possível que tenha mesmo resistido ao golpe de minha alpargata. Melhor assim. Mas se assim não foi, que descanse em paz.  

25 de agosto de 2010

O professor Antônio José Melo dos Santos me mandou o seguinte comentário, por WhatsApp:

"Bom dia, caríssimo.


Li sua crônica.


Vc soube equilibrar muiito bem a sensação grotesca q um barata comumente nos faz sentir, combinado a um passeio literário deste e doutros insetos na literatura universal.


Não lembro o autor (poeta ou escritor) q ao sentar para escrever, veio-lhe o parovoso branco e nada conseguia redigir, até q apareceu uma simples formiga e aquilo foi produto de sua criação.


Parabéns por mostrar mais uma vez q a singularidade das coisas em estar em ser singular.


Despois desta, não verei mais os insetos como inoportunos, mas possíveis de criação literária.


Satisfação.


Antonio JMS"

Professor,

Acho que essa barata era o próprio Kafka.

Era uma barata cara; pelo menos não era barata.

domingo, 1 de setembro de 2024

BARRAS DAS SETE BARRAS

Foto: Elmar Carvalho


BARRAS DAS SETE BARRAS


Elmar Carvalho

 

          Ao historiador e amigo Dr. Wilson Carvalho Gonçalves

 

Barras ...

Barras do Marataoan ...

Dos cânticos de pássaros

e cântaros e címbalos de águas

em cantatas e cascatas

no rocio róseo-violáceo da manhã.

Barras das sete barras

– candelabro de sete braços de prata

líquida a escorregar macia

no dorso duro das pedras.

Barras do Longá alongando-se

e se estilhaçando em rondas de lãs

                                em rendas de espumas

nos bilros das pedras tecelãs.

Terra dos Governadores,

            do desgoverno das dores

das ciliciadas paixões

deliciadas na Ilha dos Amores.

Terra de uns olhos fluidos,

feitos de mágoas, magia e garridice,

embebidos na ciganice das águas.

Terra dos milagres da Alda,

a que morreu virgem,

na vertigem de um sonho

que num átimo se fez e desfez.

Barras da barragem

– miragem verdoenga

de minha origem/aragem avoenga.

Barras de risos e de ais

             de sempre e de jamais.

Barras das sete barras

Barras dos sete punhais

 de rios que se tecem pavios

e desvarios de réquiens

e exaltações, lembranças

e exalações ...

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Campo Maior - Retalhos da Memória

 


Proteus mirabilis

Fonte: Google


Proteus mirabilis


Fabrício Carvalho Amorim Leite (*)


O isolamento e o autoabandono tornaram-se o palco de meus delírios. Como um pajé hesitante diante de sua própria tribo, imerso em um estado dramático, sou objeto de uma meditação aristotélica sobre a natureza humana e a sociedade — tema que pretendo explorar.

O velho benzedor, confinado em um refúgio onde a vida foi reduzida aos seus aspectos mais primitivos, experimenta um isolamento que transcende o físico.

Mesmo cercado por outros seres, ele se sente desconectado, esquecido pela falsa conexão tecnológica e pela pressa da vida moderna, como se, em seu próprio universo — e somente nele —, fosse uma criatura superior.

Essa sensação de superioridade ecoa a ideia aristotélica de que alguém que vive fora da sociedade pode sentir-se como um Deus, autossuficiente e além das necessidades humanas.

Mas será que o universo que o curandeiro criou, afastado do convívio humano genuíno, pode realmente substituir a interação humana? Este é o fardo que ele carrega.

No entanto, uma companhia inesperada surge: uma bactéria... Proteus mirabilis. Essa pequena criatura torna-se sua parceira nessa tragédia simbiótica, corroendo suas entranhas e sua alma.

O curandeiro, que antes se via como uma entidade superior, começa a perceber a ironia dessa companhia. Ele se pergunta: “Será que, como besta ou como Deus, possuo uma alma? ” Sua interação com outras formas de vida no autoexílio, especialmente com Proteus, o leva a confrontar o peso de uma existência fragmentada e as decisões que o conduziram a esse lugar de abandono.

Agora, ele não é apenas um curandeiro, mas também o portador da moléstia — companheira inseparável e, ao mesmo tempo, ceifadora em potencial. Na tentativa de escapar dos julgamentos e do desprezo que o cercam, o curandeiro se isola ainda mais.

Gradualmente, a imagem/miragem do homem isolado se desintegra: ele descobre que não é nem besta, nem Deus, mas um ser humano frágil, preso entre o leito de um hospital e o papel de um velho curandeiro, enfrentando as complexidades e os absurdos da vida enquanto busca, desesperadamente, a própria cura.

Humano, demasiadamente humano.

(*) contista e cronista.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

ÁGUAS E PEDRAS: TRIBUTO A LUZ I(S)LÂNDIA

 

Fonte: Google

ÁGUAS E PEDRAS: TRIBUTO A LUZ I(S)LÂNDIA


Elmar Carvalho

 

                 Ao poeta e amigo Ivanildo Di Deus

 

As águas que rolam

pelas lombadas do morro

(bem) vindas das cercanias alvadias da igreja

            lavam os resíduos da cidade

            levam os rejeitos da saudade

e se afogam e se renovam

nas águas remansosas em novelo

do cotovelo recurvo do Parnaíba

bem ali onde as pedras

foram sufocadas

no manto cinzento do cimento

que lhes decepou a beleza

bem ali onde outrora

as lavadeiras estendiam

suas brutas labutas e canseiras

e tudo se fazia um encantado multicor

como se as roupas fossem

belas velas arriadas

enxaguadas e secando

sobre o lombo duro das pedras – agora

submersas na argamassa,

mas prenhes de lembranças

            e saudades.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

ROLINHA FOGO-APAGOU

Fonte: Google

                 

ROLINHA FOGO-APAGOU


Elmar Carvalho

 

Nos últimos dias, aqui em Regeneração, ou lá em Teresina, ao amanhecer, ou ao crepúsculo, tenho ouvido o cantar dolente de uma rolinha fogo-apagou. Muitos poetas têm cantado os passarinhos. Muitos têm se comparado a uma ave canora. Manuel Bandeira, em mais de um poema, falou nas andorinhas. O nosso H. Dobal fez versos às golondrinas e também ao sabiá. Este último foi cantado por Gonçalves Dias, que o colocou no alto de uma palmeira.

 

Alguns fazem crítica, alegando que sabiá não pousa nessa árvore. Não sei se a crítica procede; o que sei é que daria uma bela imagem: a plasticidade do sabiá agregada a uma linda palma de coco da praia ou mesmo de coco babaçu, e melhor ainda se fosse um imponente buritizeiro, pejado de brônzeos frutos. O cronista Rubem Braga também teve por tema esse passarinho de tão belo e aflautado canto.

 

Voltemos à fogo-apagou. Seu nome é a onomatopeia de sua cantiga. Pode ser entendido positivamente, como regozijo por um incêndio que tenha terminado; ou negativamente, como o fogo vital que se tenha transformado em cinzas e tristeza, como o facho emborcado do simbolismo das catacumbas e cemitérios. Seu canto, quase cantochão monocórdio, de timbre grave, sonoro, severo, solene, mesmo ao amanhecer, que é sempre alegre, traz certa ponta de tristeza.

 

Quando ouço esse canto ao pôr-do-sol, a melancolia me tomba na alma, me impregnando de suave tristeza, que aceito sem nenhum problema, pois todos temos os nossos momentos sombrios. Manuel Bandeira já advertia para que procurássemos amar a nossa tristeza, que um dia aprenderíamos a amá-la.

 

O canto dessa rolinha me fez recordar minha infância. Acostumado com o movimento e o burburinho da cidade, nas poucas vezes em que fui passar uns poucos dias de férias em Ameixas, zona rural de Barras, ao ouvir esse cantar tão dolente, tão melancólico, ficava saudoso de minha casa, sobretudo do aconchego de meus pais. Ao entardecer campestre de então, quando tudo parecia que se ia finando, esse canto tão sentido, tão magoado, me caía na alma como punhais, que me feriam de uma tristeza acachapante e de uma saudade avassaladora.

 

Mas esse canto, para mim tão tristonho, tão desconsolado, tem uma beleza inefável, como a beleza que persiste nas ruínas dos monumentos, nos escombros do que já foi belo, nas rugas das deusas envelhecidas.

24 de agosto de 2024

domingo, 18 de agosto de 2024

3 POSTAIS DE PARNAÍBA

Fonte: Google


3 POSTAIS DE PARNAÍBA


Elmar Carvalho


           POSTAL III

 

Hoje o Porto Salgado

                       sal’do nominal

                       do naufrágio

de uma barcaça de sal

é salamargo na lembrança

dos vareiros e embarcadiços.

E a água do Igaraçu

é uma lágrima de saudade

                        (ou sal’dade?)

do fastígio de outrora.

Os parcos barcos são

poemas de chegadas e partidas

e símbolos da decadência.

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

A POESIA DE ELMAR CARVALHO

 




A POESIA DE ELMAR CARVALHO


Carlos Evandro M. Eulálio

 

Minha estrada

é a esteira de luz

que o sol traça no mar.

Elmar Carvalho

                                                          

 Sobre o autor

 

José Elmar de Melo Carvalho nasceu em Campo Maior (9 de abril de 1956). Poeta, jornalista, cronista, romancista, contista e crítico literário. Juiz de Direito, Bacharel em Direito e Administração de Empresas. É autor modernista contemporâneo, egresso da geração mimeógrafo de 1970. O seu livro Rosa dos Ventos Gerais recebeu o prêmio Ribeiro Couto, conferido pela União Brasileira de Escritores (UBE) Rio de Janeiro. Nos anos 1970, foi um dos fundadores do jornal mimeografado Abertura. Quando residiu em Parnaíba – PI, em 1975, atuou em vários jornais alternativos. Como poeta, fez parte das antologias: Poesia Teresinense Hoje, Postais da Cidade Verde, Andarilhos da Palavra, Antologia dos Poetas Piauienses, Baião de Todos, Nordestes (SESC- SP), entre outras.

Presidiu a União Brasileira de Escritores Seção Piauí e o Conselho Editorial da Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Foi membro do Conselho Editorial da Universidade Federal do Piauí. Desde janeiro de 2010 é titular do blog poetaelmar.blogspot.com.br. Membro efetivo da Academia Piauiense de Letras (APL), cadeira nº 10.

 

Obras

 

1990. Cromos de Campo Maior

1994. Noturno de Oeiras

1996. Rosa dos Ventos Gerais

2000. Sete Cidades: Roteiro de um passeio poético e sentimental

2006. Parnaíba no Coração

2006. Lira dos Cinquentanos

2009. Noturno de Oeiras e outras invocações

2012. Bernardo de Carvalho: O fundador de Bitorocara

2013. Amar Amarante

2013. Retrato de minha mãe

2014. Confissões de um juiz

2016. Retrato de meu pai

2017. Histórias de Évora

2020. História e vida literária: atas da APL

2022. Oeiras na alma e no coração

2023. O poeta e seu labirinto.

 

Linguagem e estilo do autor

 

Embora deserdado de tradição poética, pela desagregação da série literária, traço peculiar dos anos 1970, Elmar Carvalho se impôs no contexto da literatura modernista contemporânea como notável poeta, mercê do próprio esforço e determinação. Pertence à chamada Geração Mimeógrafo, que atuou numa época pouco favorável à produção literária no Brasil, em virtude da ditatura militar. Assim conhecida, porque, era por meio do mimeógrafo (ferramenta hoje obsoleta, superada pelas máquinas xérox e impressoras acopladas aos computadores) que grupos de jovens, em geral estudantes universitários, encontravam uma saída para divulgar seus textos literários, sob a mira de fuzis e à margem do mercado editorial. Daí a designação Poesia ou Geração Mimeógrafo. Era uma literatura sincretista. Os poetas dessa geração empregavam em suas obras procedimentos, como a pluralidade estilística e a diversidade temática. É sobretudo uma poesia de resistência e de contestação que se identifica pela desvinculação do cânone literário brasileiro, sem qualquer tradição poética imediatamente anterior. Para que se tenha uma ideia da produção literária desse período, vejamos a seguir como o poeta a define: “Nós, filhos bastardos do AI-5, diante da agonia / euforia, entre a repressão e o ‘milagre’, confusamente buscávamos uma atualização possível e a revelação de uma realidade, prenhe de anseios e frustrações, mas com pitadas de lirismo, temperando o peso das metáforas. Até porque a antiestética Marginal, longe da ideia do sublime e exemplar da produção acadêmica, tendia, tendia para a adrenalina, o coloquial, o impulso tenso e controvertido.  [...] A minha geração aflorou literariamente durante o regime militar[...], numa época em que não podia haver reuniões de estudantes nas universidades. Isso fez com que houvesse em nossos textos uma forte carga social de denúncia, mas também fez com que exercitássemos a criatividade para driblarmos a censura”.

Atualmente, Elmar Carvalho é um dos melhores e mais representativos poetas de sua geração. É autor de uma obra em construção, como ele próprio afirma, sintonizado com a modernidade poética, sem descurar da tradição de onde retira sábias lições, por meio da leitura dos clássicos brasileiros e estrangeiros. Por esse motivo, na poesia de Elmar há que se ressaltar não uma atitude diluidora, nos termos de Ezra Pound, isto é, de imitação sem progresso em relação ao modelo tradicional, mas uma atitude inventiva e de descobertas inovadoras. Dessa forma, em Rosa dos ventos gerais, o poeta tece os poemas com savoir-faire empregando recursos linguísticos, plásticos e sonoros, nas mais diversas formas de expressão poética.

                Rosa dos Ventos Gerais, livro de poemas publicado em primeira edição no ano de 1996, é a obra mais estudada pela crítica e também difundida entre os leitores. Divide-se em quatro partes:

I - Cancioneiro do ar: poemas líricos e amorosos;

II - Cancioneiro do Fogo:  poesia social;

III - Cancioneiro da Terra e da Água: poemas voltados para a natureza;

IV – Cancioneiro dos Ventos Gerais: épicos modernos e outros temas.  

M. Paulo Nunes considera a quarta parte “aquela em que o autor reconstrói o universo conhecido para redefini-lo poética e sensualmente, numa visão ecumênica, através da qual ganha universalidade a sua rica poesia”. 

 

Coletânea de textos comentados

 

No livro, o autor emprega as mais diversas formas de expressão poemática, do clássico soneto aos poemas em estrofes de diferentes tipos de arranjos estruturais, combinando versos maiores com versos menores:

Escravo,

não sou escravo da submissão

e meu último adeus será uma corrida

com os pés fora da corda-bamba.

Escreverei

um manifesto assinado

com o sangue de cada um,

com o suor de todos,

todos mocinhos

de um filme sem mocinhos.

Escarnecerei

os muros e os tetos das prisões

porque são exceções de um regime de

exceção.

Escangalharei

as portas do céu

e os portões do inferno

e soltarei a liberdade.

                         (Moisés p.102)

 Moisés é o poema-manifesto de Elmar Carvalho, datado de 2 de abril de 1978. Exprime a atmosfera dos Negros verdes anos de 1970, expressão criada por Heloísa Buarque de Holanda, para caracterizar a década mais repressora da ditadura militar de 1964, que se iniciou com a edição do Ato Institucional n.º 5 (AI-5) de 13 de dezembro de 1968), revogado dez anos mais tarde, vigorando somente a partir de janeiro de 1979.

 O sujeito lírico de seus primeiros poemas faz-se presente no texto não só quando enunciado em primeira pessoa, mas também quando projetado com arranjos especiais, obtidos por meio do emprego da função emotiva da linguagem, associada à função poética, como constatamos nos versos anafóricos do poema Amad’amor:   

Eu te amo

Eu te (ch)amo

Eu sou tua (ch)ama

Eu te des’gosto.

Eu te ado(u)ro

Eu te douro.

Eu sou teu (m)ouro /mourão

Eu sou teu tes’ouro.

 

És minha ama’da

És minha d’ama.

E neste jogo de (d)ama

o xeque-mate é um Pirro / Pirrônico

em que o vencido é vencedor

e o escravo é senhor.

 

Somos um laço

Tu me (en)laças,

Eu te (en)laço.

Somos um cadafalso

Onde somos vítimas,

Carrasco e baraço.

 

A palavra-frase eu-te-amo metamorfoseia-se interna e anaforicamente, expandindo-se em construções sinonímicas que culminam com a erotização da mensagem na estrofe final do poema, quando então se fundem as duas pessoas do discurso:             

Somos um laço

Tu me (en)laças

Eu te (en) laço.

Somos um cadafalso

Onde somos vítimas,

Carrasco e baraço. 

 

Roland Barthes, nos Fragmentos de um discurso amoroso, assim esclarece acerca da expressão “eu te amo”: 

 

Eu-te-amo não tem empregos. Essa palavra, tanto quanto a de uma criança, não está submetida a nenhuma imposição social; pode ser uma palavra sublime, solene, frívola, pode ser uma palavra erótica, pornográfica (BARTHES, 1995). 

 

            Saliente-se que a vertente erótica da lírica brasileira pela qual opta Elmar Carvalho está mais relacionada àquela na acepção do Drummond de O amor natural, que supõe a exigência corpórea, que dirige o homem em busca da mulher (ANDRADE, 1994):

       A Ero Moça

A aeromoça

abre os braços

e mostra as saídas

de emergência...

 

E eu a sonhar

que ela abrisse

as pernas e mostrasse

as entradas de quintessências.

 

A função emotiva da linguagem, associada à poética, comparece quase em todos os poemas do Cancioneiro do Ar, primeira parte do livro, com temática que abrange o amor, a mulher, o poeta, o poema, o sexo, o tempo, a vida e a morte. A lírica não intimista, de conteúdo mais explicitamente social, constitui a tônica dos poemas cujo sujeito da enunciação identifica-se na e pela linguagem, isto é, pela dicção própria de cada texto. Neste caso, verifica-se um momento de tensão entre o individual e o coletivo, caracterizando a lírica moderna participante que, nos termos de Adorno, resulta da integração entre a emoção e o desejo de interpretar o mundo, como nesta estrofe do poema A fome:

           a fome

que come

e consome

o “home”

       mora

em sua víscera sonora

                           e o devora

          como uma flora

                    cancerosa

                           rosa carnívora

          que aflora e o deflora

          de dentro para fora

 

O aspecto emocional desses versos decorre do modo como o texto se organiza, pelo emprego paralelístico das rimas. Os semas fome, come, consome, home, num processo mais lúdico do que lógico, igualam-se e ao mesmo tempo se diferenciam poeticamente. A lírica faz com que a linguagem estabeleça um elo entre sujeito e sociedade, deixando de concentrar-se exclusivamente no poeta. A configuração do poema no espaço em branco da página é um recurso recorrente na poesia pós-concretista. Curioso neste texto é também a fluência das rimas (paralelas) constituídas de sons nasais e orais. O poema A fome, portanto, compõe a série de textos que abordam a temática social.                                                                                        

 Neste poema, a metalinguagem comparece na forma como o eu lírico reflete sobre o processo de construção da poesia no interior do próprio texto.

                                                                                                  

As meadas e as palavras    

são labirintos e teias.                                        

Nelas os poetas se elevam;                              

nelas as moscas se enleiam

e se debatem em vão.

Os poetas são,

As moscas, não.

                    (Metapoema - p.90)

 

No poema a seguir, a lírica funde-se ao épico e ao dramático para desvelar uma poesia de caráter mítico e histórico, não porque narra eventos históricos, mas porque dialoga com os homens de todas as épocas, por meio da intertextualidade. Assim é o diálogo com a mitologia grega no poema Na Noite, pelo qual o eu lírico, isto é, a voz que enuncia o poema, resgata um dos mitos gregos mais conhecidos: O labirinto de Creta, edificado por Dédalo, para nele encarcerar o monstro Minotauro, meio homem, meio touro, alimentado com jovens a ele oferecidas. E Teseu, guiado por Ariadne, marca o caminho com um fio de novelo, a fim de destruir Minotauro:

 

Na noite                                           

um sapo coaxa.                               

Uma puta triste                                

acha graça. Acha graça.                 

Um galo                                           

às desoras desfere um canto          

fora de hora. E chora.                      

Um cão ladra por nada:                   

nenhuma cadela no cio.                   

O silêncio                                         

 até a mais completa

grita como louco                                

absoluta exaustão.

na concha acústica                                          

dos labirintos dos ouvidos moucos                                                 

por onde um Teseu lasso caminha

em busca do Minotauro – perdido

sem o fio de Ariadne

conduzido por outro fio

que parte / se parte e

se reparte entre o ser                                                 

e o não ser.

E os gritos de Teseu

arrancam ecos

que já ecos de si mesmos

se repetem se repetem

                                (Na Noite, p. 71)

 

Neste fragmento do poema Eterno Retorno, o eu lírico reconstitui pela linguagem cenários, flagrantes da experiência existencial comuns a todos nós; imagens do passado que são ícones de uma época que já vai longe de todos, que impregnam a mente com o vigor da recordação liricamente recuperados.

 

[...] recordações de fantasmas

que já nos abandonaram

de amigos mortos

que nos acompanham

cada vez mais vivos

de sustos e gritos

de proscritos e malditos

de agouros e assombrações

de desdouros e sombras vãs, malsãs,

oriundos dos porões escavados

nos subterrâneos dos sobrados

subterfúgios e refúgios

       da memória. 

                        (Eterno retorno – p.68)

  

Nestes dois poemas de época, o sujeito lírico em terceira pessoa dirige o ponto de vista para o coletivo. O narrador converte a expressão objetiva do discurso épico em manifestação subjetiva de uma experiência individual, situação em que o poeta dá voz a um eu e com ele se confunde:

À meia-noite                        

percorria a praça

A noite era silente e fria                            

e nenhuma estrela luzia...                        

O manto escuro tudo                           

envolvia e ninguém existia.                  

Apenas o olhar cego                           

do Conselheiro, ao longe,

indiferente, me via.                                                     

[...]                                                                             

Na praça Saraiva                                                                                                                             

uma flor fez-se borboleta                                                                                

e desferiu um voo rasante

sobre a cabeça do Conselheiro            

que permaneceu                                                       

impassivo e contemplativo                                        

em sua dura                                                              

postura de escultura:                                                 

hierático e estático. 

                                                  

                        (Flagrantes de Teresina – p.130)

 

Na Paissandu e adjacências bêbados passeiam

equilibrados sobre a corda-bamba dos pés.

Velhas meretrizes sem freguesia

conversam e cospem na calçada.

Nas noites serenas de serenata

as luzes mortiças dos postes

espiam de pálpebras cansadas

os amores camuflados clandestinos (in)decentes.

Os amores puros sem rotas e rótulos.

A lua, velha safada, espreita a intimidade                                                                                         

das alcovas dos casais.

                               (Postais de Teresina I – p.131)

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POEMITOS DE PARNAÍBA

 

Nesta série, o poeta resgata pela memória flagrantes de Parnaíba, não a cidade cosmopolita de hoje, mas a cidade provinciana como cenário das aventuras e fantasias da infância cujos segredos são expostos com espontaneidade e humor: 

 

Situava-se entre o feio e o horrível                   

mas se dizia BG: bonito e gostoso

Metido a conquistador de mulheres

conseguia o inverso efeito:

as mulheres – lebres assustadas

de Alain Delon fugiam.

Se Alain Delon muito fosse

Alain Delonge seria.    

                               (Alain Delon, p.186) 

 

Passava com seu passo leve

- quase voo de pássaro                      

 com suave elegância

de uma cabra montês.

Rápida cortava as

avenidas e as praças

de uma cabra montês

até que a molecada gritava                                                   

          - Maria das Cabras!...                          

 Maria subia a saia:

- Taqui o chifre da cabra!...

Os moleques com as cabeças:                                

cheias de ideias e fantasias

em suas alcovas ou banheiros

se escondiam: Maria das Cabras

surgia como uma fada encantada

entre véus diáfanos que se

es     gar      ça      vam.                                      

                    (Maria das Cabras, p.191)    

                                                              

Se bem pesado não dava                                    

sequer meio-quilo. Pai de                                   

Cotinha, mulher bonita e                                    

namoradeira nos escuros

do velho Cine-Teatro Éden – paraíso                   

de estrepolias estrambóticas e eróticas.           

O pequenino Meio-Quilo, de lanterna em        

punho, a roubar Cotinha dos braços                                                 

do namorado, era um filme

à parte.                              

                     (Meio-Quilo, p.186)

                                                                                                    

 Opinião da crítica

 

Elmar Carvalho [...] canta uníssono a consciência da vida e dos compromissos humanos. Canta as desigualdades sociais, numa forma (poética) muito mais contundente do que um simples discurso de comício ou uma catilinária oca de deputado [...]. O lado emblemático e realista da sua linguagem se unem para que a poesia, mais uma vez, seja o corte profundo e quente e afiado da denúncia. (Assis Brasil, escritor e crítico literário)

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Uma análise da produção literária de Elmar Carvalho deve enfocar o livro Rosa dos Ventos Gerais. Sua poesia transpira criatividade, sonoridade, emoção e convencimento, características peculiares aos grandes literatos, cujas obras transcendem o presente e firmam-se na posteridade literária. Outra característica marcante do poeta é a construção de imagens sólidas e belas, onde as palavras viram verdadeiras fotografias gráficas. Ivanildo di Deus, poeta e professor da UESPI.

 

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Uma das peculiaridades marcantes da poesia de Elmar Carvalho são os recursos buscados na configuração do espaço branco da página [...] que, desde cedo, dele fizeram um poeta atualizado, com o pé na modernidade e outro na grande tradição poética. Na realidade, a tendência de utilizar-se de figurações, desenhos e aproveitamento do espaço branco da página para fins estéticos de comunicação do poético remonta à Antiguidade greco-latina e me parece, sem dúvida, ter chegado para ficar. Elmar é um exemplo inequívoco de uma voz poética atenta e lúcida da poesia brasileira contemporânea. Cunha e Silva Filho, mestre e doutor em Literatura Brasileira. Professor universitário no Rio de Janeiro.   

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O vate Elmar Carvalho pertence ao Modernismo Piauiense, precisamente à Geração Mimeógrafo, ou seja, a geração dos anos 70 à atualidade. O autor, com uma rosa dos ventos, nos conduz à leitura prazerosa de uma temática bem diversificada que enfatiza a paixão avassaladora pela mulher amada envolta de sensualidade e erotismo, a natureza, o telúrico, problemas sociais e a angústia existencial do homem moderno. Rossana Carvalho e Silva Aguiar, especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira – professora da UESPI.

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A densidade lírica de Rosa dos Ventos Gerais é também, em grande medida, associada ao erotismo, o que explica e justifica a igualmente forte presença feminina no livro. Em seu ato de criar e recriar a mulher, o poeta a evidencia como um completo e complexo objeto amoroso. Eis que emergem de seu livro olhos de lã e de lâminas, de céu e de inferno, verdes musgosos ou azuis fuzilantes; cabelos de lenços e de loiras algas; mãos que acariciam e esmurram; bocas sequiosas de beijos e bocas mudas; curvas femininas que transcendem as ondulações da terra e do mar. Teresinha Queiroz, professora e doutora em História Social. Pertence à APL, cadeira 23.

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                Rosa dos Ventos Gerais, de Elmar Carvalho, condensa mistérios, prazer e plurissignificância, haja vista a emoção latente nos jogos rítmicos e na elaboração das imagens instaurarem o sabor pelo inusitado e o desejo de plenitude, ambos manifestos a partir do título – leia-se rosa (o fascínio, a beleza), vento (o que agita, transforma) gerais (em todos os espaços. Leia-se metaforicamente, poesia. Ambos, o sabor pelo inusitado e o desejo de plenitude, consolidam o convite para mergulhar em seus versos. Dilson Lages Monteiro, professor de Português e Literatura. Membro da APL, dadeira 21.

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A poesia de Elmar Carvalho é marcada pelo ecletismo. Ele bebe no versejar de todas as escolas e movimentos literários do ocidente, percorrendo vários gêneros mistos e formas de poetar, como a lírica, a épica moderna ou o poema narrativo, a sátira, o soneto, a elegia, a poesia concreta. (Élio Ferreira, doutor em Teoria Literária pela UFPE).

 

CONCLUSÃO

 

Os poemas de Elmar Carvalho transmitem ao leitor não apenas emoção, mas também sábios conhecimentos que emanam de um vasto repertório de leitura sobre filosofia e arte poética. Nesse sentido, constata-se em sua obra um aspecto da mais alta importância: o propósito pedagógico de seus textos, nos termos daquele enunciado por Mário Faustino em Diálogos de Oficina, ao mencionar as qualidades indispensáveis aos poetas contemporâneos: 

“Os grandes poetas sempre se interessaram ativamente pela Filosofia, pelas ciências e pela política de sua época, encontrando-se em cada um deles o retrato mais ou menos fiel e minucioso do que se passava e do que se fazia na dinâmica social do tempo em que viveram. [...] Toda poesia verdadeira é didática. E nenhum meio de comunicação ensina tão profundamente e de modo tão inesquecível quanto a poesia” (FAUSTINO, 1977). 

Elmar Carvalho não se rende exclusivamente aos apelos da inspiração, porque concebe o poema como produto de um trabalho elaborado e planejado. Suas poesias não brotam de um momento circunstancial, como um Deus ex machina, isto é, como aparição do inesperado, mas do trabalho de oficina, eivado de reflexão e sabedoria. 

                            

*Carlos Evandro Martins Eulálio é membro da Academia Piauiense de Letras, ocupante da Cadeira 38. Crítico literário, professor de Português, Latim e Literatura. 

 

REFERÊNCIAS E BIBLIOGRÁFIA CONSULTADA

 

ADORNO, Theodor. Lírica e Sociedade in Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

 

ANDRADE, Carlos Drummond de. O amor natural. Rio de Janeiro: Record, 1994.

 

BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Ed. Forense-Universitária, 1981.

 

BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.

 

BAUDELAIRE, Charles. Sobre a modernidade. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 

BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994.

 

CAMPOS, Haroldo de. A arte no horizonte do provável. São Paulo: Perspectiva, 1977

----------------------------. Hegel, Marx, Lamartine. In Ruptura dos gêneros na literatura Latino-Americana. São Paulo: Perspectiva, coleção Elos, 1977. 

 

CARVALHO, Elmar. Lira dos cinquentanos. Teresina: FUNDAPI, 2006.

 

________________. Rosa dos ventos gerais. Teresina: SEGRAJUS, 2002

 

________________. O poeta e seu labirinto: poemas escolhidos. Teresina: APL, 2023.  

 

ECO, Umberto. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 1976.

 

EULÁLIO, Carlos Evandro M. Poesia contemporânea: possíveis causas de sua evolução. Teresina: Presença Ano VII, n. 14 janeiro / junho de 1985.

 

FAUSTINO, Mário. Diálogos de Oficina. Poesia-Experiência, org. Benedito Nunes, São Paulo: Perspectiva, 1977.

 

PAZ, Otávio. Signos em rotação. São Paulo: Perspectiva, 1976.

 

POUND, Ezra. A arte da poesia. São Paulo: Cultrix, 1976.

 

SILVA, Anazildo Vasconcelos da. Lírica modernista e percurso literário brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1978.

 

SOARES, Angélica. Gêneros literários. São Paulo: Ática, 1999.