sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Oeiras e as solidões insolentes



Fonseca Neto


... nascida nos sertões de dentro, com a bravura de suportar vácuos sem fim e solidões insolentes”.  

Assim, citando o professor A. Tito F.°, encerrei aqui a nota da semana passada, referindo-me às celebrações dos 250 anos de Oeiras-cidade e capital. Texto feito para apresentar a segunda edição do “Passeio a Oeiras”, de Dagoberto Carvalho, jr, no qual, adensando o fraseado, Tito F.° realça, da secular cidade, ser ela esculpida “no sertão bruto, de chão glorioso, onde jazem heróis verdadeiros” e assim “original” e “única”.

Fui a Oeiras participar das aludidas festas no dia 24 de setembro e na cabeça essas imagens do mestre Ari e seguindo o roteiro desse “livro-poema” que faz evocativamente “peça lírica do passado”, cada beco, calçada, portal, manuscrito, e, sobretudo, a humanidade ali vivente. Fui ver a cidade do presente e palestrar sobre as cidades que ela contem em sua multissecularidade.

Brava e suportando vácuos sem fim e solidões insolentes? Chega-se ali e encontra uma cidade de franjas fervilhando, com visíveis acelerações, muito parecida com qualquer cidade sertaneja de seu porte. Adentra-se o sítio urbano original e sentimo-la calma, silenciosa,a descortinar os elementos estéticos marcados no diverso porfiar de seus arteiros. Sugere que paremos para ouvir suas narrativas saindo de todo canto e cantaria, suas histórias, encanterias. No meio do largo maior, sagrado e profano, pulsa a Europa lusa, entre medieval e mercantil. É preciso apurar as vistas e afinar oiças para se perceber as matérias essenciais no vácuo aparente e se descobrir o insinuar insolente de suas solidões. 

O passeio festivo da semana passada, recordando a titulação da vila da Mocha em cidade de Oeiras, capital do Piauí, movido em vagas das mais significativas memórias da localidade, constituiu um exemplo disso tudo. 

Reunidos dentro e fora do antigo palácio dos presidentes provinciais – o Sobrado Major Selemérico de hoje – assistimos a entrega ao oficial do Instituto Histórico de Oeiras (IHO), pelo atual secretário de Governo, do decreto de cidade-capital, a ser relido por “bando”.Recebido pelo oficial-leitor, na forma da tradição de 1762, da janela-sacada do edifício, fez ele sua releitura solene,antecedida do canto/execução do hino da cidade. Decreto firmado pelo primeiro governador,o português João Pereira Caldas, com o “republique-se” do atual, o oeirense Wilson Nunes Martins. Num dos salões foi descortinado o quadro-documento com os textos setecentistas assinalados.

Feito isso, puxada pelos dobrados da banda Santa Cecília, partiu a procissão cívica em direção da antiga Casa de Câmara e Cadeia, hoje sede da Prefeitura, para um segundo “bando” ou pregão. Depois rumou-separa o adro da Igreja da Vitória, onde o terceiro e último “bando”. Aqui, ele se fez às seis horas da tarde em ponto, ante um poente completamente tomado de esplendor arroxeado – e tinha que ser roxo o fim desse outro passeio – deixando para trás uma tarde muito quente. Enquanto um grupo de devotos cantava o terço da hora do Ângelus no interior da catedral, a banda puxou a “Aquarela do Brasil” e um performático dançou no meio da grande roda dos comemorantes. 

Deslocaram-se logo todos para o interior do cineteatro. De novo a apresentação da Banda, depois os Bandolins de Oeiras; palestra; coquetel. Colheu-se a ocasião para a posse do bispo d. Juarez Sousa e do secretário Wilson Nunes Brandão como sócios efetivos do Instituto Histórico e Geográfico Piauiense (IHGP). O IHO anunciou as festividades alusivas de seus 40 anos. A Confraria entregou diploma. De tudo se fez muitas fotografias. E atas.

Com praticamente todos os sócios presentes, o IHO foi o organizador principal de tudo, junto com a Confraria Eça-Dagobertiana da cidade. O Governo do Estado e o IHGP, no nível das responsabilidades respectivas, também compartilharam a grandeza do evento. E sobretudo muitos estudantes e professores a tudo assistiram. Vereadores, o promotor da comarca, além do presidente da Fundação Nogueira Tapety.

Tal a velha Goiás, ex-capital enraizada em sertanias, Oeiras é invicta, cheia de charme. E não se entrega à insolência das solidões.

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